2019-12-05

DOS VENTOS DE LOUCURA e do INCONFORMISMO, do CANTO NEGRO até à desilusão de CONTRATEMPO…a poesia são-tomense de Alda do Espírito Santo foi o destaque na «Hora da Poesia» da Rádio Vizela. Conceição Lima deu ainda voz às Ilhas…chamando Albertino Bragança.


Das ilhas do chocolate que foram de escravidão, penso a cada instante e escrevo permanente, escutando quando dizem poemas de amor e dor.
Mais uma vez sintonizei as palavras ditas nas vozes de quem me toca, na ordem de quem escreve e de quem seleciona. Tudo tão doce quando se atravessa o oceano azul para ouvir a esperança, a certeza de um tempo novo ou a desilusão de promessas incumpridas. Duas Ilhas e um País que foram de Alda do Espírito Santo, combatente da liberdade, Poetisa maior de S. Tomé e Príncipe que a «Hora da Poesia», nas ondas da Rádio Vizela, trouxe à primeira fila desta emissão semanal.
         E foi bom ouvir de novo a Conceição Lima a viajar pelas palavras e pelo sentimento da língua portuguesa além do mar. E foi bom escutar a força com que a Alzira Santos e a Lourdes dos Anjos disseram e valorizaram os poemas. E como foi retemperador escutar a emoção de Albertino Bragança, companheiro de letras e de cidadania ativa de Alda Espírito Santo. Dois dos fundadores da UNEAS – União Nacional dos Escritores e Artistas de S. Tomé e Príncipe – militantes empenhados na construção do país novo até que os caminhos da «partidarite» divergiram e chegou a desilusão. Albertino em 2005 com o romance UM CLARÃO SOBRE A BAÍA, Alda em 2006 com o poema CONTRATEMPO:«Hoje, há oceanos em turbilhão/ nas mentes do luchan do meu país africano» (…).Este foi um dos que pudemos escutar na Hora da Poesia de ontem. Mas podemos recuar no tempo e chegar a 1953 – humilhação, tortura e morte, da Trindade a Fernão Dias, e reler ONDE ESTÃO OS HOMENS CAÇADOS NESTE VENTO DE LOUCURA: «O sangue caindo em gotas na terra/ homens morrendo no mato/ e o sangue caindo, caindo…/nas gentes lançadas no mar…(…)». Não foram ditos todos como é natural, pois o tempo é precioso, sobretudo na Rádio. A Rádio que Alda do Espírito Santo escutava em 1958 quando escreveu INCONFORMISMO: «Contemplando a criançada atirada aos caminhos/ Encostada ao burgo onde moro/ Acenando aos carros circulando pelas estradas poeirentas/ Ouvindo as notícias chegadas pela rádio/ Doutros mundos distantes/ De pugnas, lutas, invenções/ Do progresso da vida no mundo da ciência/ Das artes, das letras, da conquista do cosmos/ Da ânsia de resolver os problemas do planeta/ Sentimos a inutilidade das mesquinhices do dia-a-dia/ Dos complexos criados pelas nossas futilidades/ E analisando a vida vazia/ Um clima de angústia se levanta sobre as nossas cabeças/ Gritando a nossa inércia permanente/ Condensada em lugares comuns latentes» (…).
         Para vós, todos, que amais a Poesia, atentai na esperança deste «Inconformismo». 


Link: www.radiovizela.pt/programa-hora-da-poesia

António Bondoso
Jornalista
Dezembro de 2019

2 comentários:

Conceição Lima disse...

Obrigada pelas suas palavras, meu amigo...Sei que posso ( e é recíproco...) contar com a sua ajuda e a sua estima...A sensação com que fiquei depois de ler a sua reflexão , é que deveria começar , agora, a fazer o programa...Aprendi , percebi, vi....Percebi que estamos do mesmo "lado da canoa", face ao inconformismo...Vi esse olhar de saudade,entendi mais profundamente, a ligação a "esse chão sagrado"...OBRIGADA pela sua ajuda, estima e amizade...São mútuas e extensivas a ambos...A Albertino Bragança, a minha profunda gratidão...

António Bondoso disse...


Olá. Obg Conceição Lima pela atenção e pelo carinho. Gostei do programa. Falaremos depois. Bjs