ESTAMOS EM GUERRA…ou
de como, acompanhando os média nas últimas semanas – particularmente nos
últimos dias – começamos a perceber que as novas ameaças e os novos desafios
neste mundo não são apenas, ou sobretudo, as guerras ou os conflitos violentos
um pouco por todo o globo.
É
certo que muitas dessas novas ameaças resultam dos tais conflitos armados e
violentos, como é fácil imaginar os refugiados da Síria ou do Congo, do Iémen
ou do Sudão, do Equador ou da Nicarágua. Dos refugiados à pobreza, à fome e à
miséria o caminho é curto, dessa acumulação resultando igualmente doenças com
roupagem cada vez mais difícil de identificar. Consequentemente, de tratar e de
curar.
Muito
rapidamente, recordando apenas alguns dos mais recentes casos, temos os principais surtos do vírus ÉBOLA que ocorreram ao
longo dos anos de 1970, no meio da década de 1990, e entre 2000 e 2001.
Resultado = 1200 mortes; a SARS – uma epidemia de síndrome respiratória aguda grave
que assombrou o leste e o sudeste da Ásia em 2003, afetou mais de 8 milhões e 400
mil pessoas, causando mais de 900 mortes; entre 2003 e 2011 foi a vez da «gripe
aviária», traduzida no vírus H5N1. Tendo começado no Sudeste asiático,
espalhou-se pela Europa e pela América do Norte. Foram registados no mundo 555
casos da gripe, com 324 mortes; depois, em 2009, a pandemia da gripe suína: causada
pelo vírus influenza H1N1, a doença teve casos simultâneos de pessoas infetadas
nos cinco continentes. O H1N1 representou uma ameaça porque circulou com uma
velocidade elevada. E apesar de não ser extremamente letal, a gripe suína fez
centenas de vítimas, principalmente entre os mais idosos. Ainda há casos
isolados da doença, mas a Organização Mundial de Saúde classifica o atual
período como “pós-pandémico”. A doença causada por esse H1N1 acabou por não ter
elevada expressão numérica, o que levou a OMS a um arrependimento posterior
pelo facto de ter declarado então o surto como «pandemia».
Talvez por isso, já se ouviu recentemente essa explicação, a
OMS tenha desta vez hesitado e demorado tanto tempo a declarar a COVID-19 como
pandemia. Na minha perspetiva, foi determinante o facto de a doença – durante muito
tempo – se situar apenas na área geográfica da Ásia. Foi preciso a Itália
chegar ao ponto a que chegou para que a OMS alterasse a sua posição.
Tardiamente. E a hesitação da OMS levou atrás de si os responsáveis europeus. Veremos
o «preço» a pagar por todas essas hesitações. Portugal, apesar dos seus fracos
recursos, foi tentando antecipar medidas preventivas e foi tentando perceber a
dimensão do fenómeno e a melhor forma de com ele lidar, sem causar o inevitável
alarme social. De certa forma conseguiu, embora lutando e resistindo à por
vezes «baixa» atuação dos média e à habitual chicana politiqueira.
Aliás, e ao invés do verificado em outros países, deu-se o
caso feliz de se conseguir curar um dos primeiros doentes infetados – e já são
mais de 100 – sem se ter registado qualquer morte.
Mas estamos em guerra…e ela vai ser longa e dura! Como
escreveu o Gen. Loureiro dos Santos há 4 anos, a guerra está «No Meio de Nós»[1].
E porque a insegurança não tem apenas a ver com os referidos conflitos armados
ou com o novo terrorismo, é sempre bom recordar o que pensava o general sobre
os recursos estratégicos vitais e a sua relevância para as pessoas e para as
sociedades. Nomeadamente a água e os produtos alimentares são fundamentais para
garantir o funcionamento da saúde, circulação financeira, abastecimento e
distribuição de energia e a segurança. Por isso, dizia Loureiro dos Santos,
«Embora para o mundo de amanhã, a incerteza seja o que temos por mais certo e
devemos esperar pelo inesperado, não haverá grandes dúvidas sobre o aumento da
insegurança em todo o mundo, particularmente como consequência da facilidade
com que se tornou possível explorar as vulnerabilidades das sociedades modernas
organizadas em rede e com as suas infraestruturas críticas apoiadas no
ciberespaço, o que resulta especialmente da associação de dois fatores: a
escassez de recursos e o fator demográfico».
Tiremos alguns minutos ao nosso estádio de ansiedade e
angústia para refletir sobre isto. Basta pensar nos 50 mil milhões de dólares
que os EUA afetam ao problema, enquanto Portugal se deve ficar talvez pelos
quatro mil milhões de euros. Por isso…a «nossa guerra» deve contar com a
solidariedade de todos os portugueses.
António
Bondoso
Jornalista
e Mestre em R.I.
Março
de 2020
Sem comentários:
Enviar um comentário