Eu
sou Liberal…ou de como a demagogia tem entrado nas ações de combate à
exponencial ameaça da Covid-19.
Ontem
ouvi um médico dizer na TV (num dos canais a céu aberto…) que é, ou sempre foi,
um «liberal». Fiquei sem perceber o alcance da «tirada» (na altura confesso que
ainda não tinha aderido ao projeto Audição Ativa), pois me pareceu que o dito
não vinha mesmo nada a propósito do tema em discussão.
Talvez
o senhor estivesse sugestionado pelo facto de estarmos em ano de celebração do
200º aniversário da Revolução Liberal do Porto (podemos ler sobre o assunto em
qualquer manual de História ou na net e tenho pena que, devido às restrições da
Covid-19, vejamos adiadas pelo menos as primeiras ações do programa que pode
ser consultado em www.rotaportoliberal.pt).
Ou talvez tenha sido apenas um
desabafo, eventualmente frustrado – como me pareceu – pelo facto de, dirigindo
uma equipa especial no seu hospital privado, ainda não ter visto requisitado o
seu esforço pelas autoridades e entidades que têm vindo a gerir a evolução da
doença. Ficou-me a ideia de que se referia de forma crítica – embora não muito
direta – à Diretora Geral da Saúde e à Ministra da Saúde.
Não querendo cometer a mesma indelicadeza
com que o senhor doutor presenteou as referidas senhoras (infelizmente não caso
único), sempre recordo uma frase que Gabriel Garcia Márquez atribuiu ao
«libertador» da América do Sul – o general Simón Bolívar, de seu nome completo “Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y
Palacios Ponte-Andrade y Blanco” – no seu romance histórico «O general no seu
labirinto» que retrata a última viagem do herói, já doente e apenas acompanhado
pelos seus colaboradores mais diretos (depois de praticamente expulso da
Colômbia). Dizia o general, referindo-se ao seu rival Santander e partidários,
mencionados numa carta de um outro antigo companheiro, o marechal Sucre: - “Não sei donde é que os demagogos se
arrogaram o direito de se chamarem liberais. Roubaram a palavra, nem mais nem
menos, como roubaram tudo o que lhes cai nas mãos”. Relativizando situações,
épocas e outras circunstâncias, também eu me interrogo sobre o que é ser
liberal. Mais correto será, hoje e aqui, falarmos de neoliberais e do que as
suas políticas têm originado em todo o mundo a elas sujeito.
Reconheço a nossa pequenez e as nossas incapacidades,
reconheço as falhas dos nossos governantes – que não são poucas – mas também
sei, igualmente frustrado, a demagogia que corrói o país em que vivemos e vamos
sobrevivendo.
António Bondoso
Março de 2020.
Só mais 2 minutos...para completar.
Síntese perfeita de O Poder e o Poema. Um abraço de Saudade…Pedro
Barroso.
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