2020-03-17

Eu sou Liberal…ou de como a demagogia tem entrado nas ações de combate à exponencial ameaça da Covid-19.


Ontem ouvi um médico dizer na TV (num dos canais a céu aberto…) que é, ou sempre foi, um «liberal». Fiquei sem perceber o alcance da «tirada» (na altura confesso que ainda não tinha aderido ao projeto Audição Ativa), pois me pareceu que o dito não vinha mesmo nada a propósito do tema em discussão.
Talvez o senhor estivesse sugestionado pelo facto de estarmos em ano de celebração do 200º aniversário da Revolução Liberal do Porto (podemos ler sobre o assunto em qualquer manual de História ou na net e tenho pena que, devido às restrições da Covid-19, vejamos adiadas pelo menos as primeiras ações do programa que pode ser consultado em www.rotaportoliberal.pt).
         Ou talvez tenha sido apenas um desabafo, eventualmente frustrado – como me pareceu – pelo facto de, dirigindo uma equipa especial no seu hospital privado, ainda não ter visto requisitado o seu esforço pelas autoridades e entidades que têm vindo a gerir a evolução da doença. Ficou-me a ideia de que se referia de forma crítica – embora não muito direta – à Diretora Geral da Saúde e à Ministra da Saúde.
         Não querendo cometer a mesma indelicadeza com que o senhor doutor presenteou as referidas senhoras (infelizmente não caso único), sempre recordo uma frase que Gabriel Garcia Márquez atribuiu ao «libertador» da América do Sul – o general Simón Bolívar, de seu nome completo Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palacios Ponte-Andrade y Blanco” – no seu romance histórico «O general no seu labirinto» que retrata a última viagem do herói, já doente e apenas acompanhado pelos seus colaboradores mais diretos (depois de praticamente expulso da Colômbia). Dizia o general, referindo-se ao seu rival Santander e partidários, mencionados numa carta de um outro antigo companheiro, o marechal Sucre: - “Não sei donde é que os demagogos se arrogaram o direito de se chamarem liberais. Roubaram a palavra, nem mais nem menos, como roubaram tudo o que lhes cai nas mãos”. Relativizando situações, épocas e outras circunstâncias, também eu me interrogo sobre o que é ser liberal. Mais correto será, hoje e aqui, falarmos de neoliberais e do que as suas políticas têm originado em todo o mundo a elas sujeito.
         Reconheço a nossa pequenez e as nossas incapacidades, reconheço as falhas dos nossos governantes – que não são poucas – mas também sei, igualmente frustrado, a demagogia que corrói o país em que vivemos e vamos sobrevivendo.


António Bondoso
Março de 2020.  

Só mais 2 minutos...para completar. 

Síntese perfeita de O Poder e o Poema. Um abraço de Saudade…Pedro Barroso.

https://youtu.be/BKB9_2pUE-A



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