DIA DE ÁFRICA.
CINQUENTA ANOS DEPOIS DA CRIAÇÃO DA OUA - JÁ NESTE SÉCULO TRANSFORMADA EM UNIÃO AFRICANA...HAVERÁ RAZÕES PARA "DESESPERAR DE ÁFRICA"?
“NÃO TEMOS RAZÃO PARA DESESPERAR DA ÁFRICA”
Elikia M’Bokolo, 2004[1]
Diariamente somos – continuamos a ser – confrontados com notícias e imagens
trágicas de África.
Fome, HIV-SIDA, paludismo, golpes militares, corrupção, conflitos étnicos.
Nos últimos tempos foram os casos de pirataria nos mares do Índico que se
estenderam ao delta do Níger; mais recentemente as imagens chegam do Mali e da
República Centro Africana.
Apesar das notícias, que Elikia M’Bokolo chama de imagens contraditórias, vistas do exterior – este historiador e
sociólogo de origem congolesa insiste em dizer que não temos razão para desesperar de África. As análises devem ser
feitas com tempo e através dos tempos.
Nesta perspectiva e recorrendo a
exemplos de grandes conflitos étnicos, endémicos e de grande violência muitos
deles – como o da Guerra do Biafra, na Nigéria, em finais da década de 60 do
século passado – o que é importante é pretende perceber as raizes da
sedimentação dos problemas que, por via de grandes fenómenos migratórios ao longo
de milénios[2],
da colonização e descolonização, e ainda de outros processos políticos e
sociológicos ao longo da História, conduziram o continente africano ao que é
hoje:- simultaneamente um berço de matérias-primas incomensurável e [talvez por
isso] um tabuleiro de xadrez altamente complexo em termos de geopolítica e
geoestratégia.
A questão essencial está, portanto,
relacionada com a “contradição” de que fala M’Bokolo. Como ter esperança,
perante as evidências? E as respostas, não sendo taxativas, podem também caber
no que ele chama de “aptidão constante para surpreender”.
Como diria o diplomata brasileiro
Antônio Olinto, na Nigéria – exatamente nos anos 60 – “Muitas são as Áfricas”.
Deixemo-nos , por isso, surpreender
diariamente! Pela diversidade cultural, pela diversa beleza, pela diversa
riqueza que, um dia, há de suplantar a pobreza. Continuemos a sentir que é
possível ter razões para não desesperar de África.
========NOTA:---
baseado na “introdução” a um trabalho académico que produzi em 2009.
[1] - África Negra, Elikia M’Bokolo, Colibri, Lisboa – edição portuguesa
2007.
[2] - Agora, de acordo com reportegem
da VISÃO, de 9 Abril 2009, já é possível determinar a nossa ancestralidade por meio de uma simples análise ao ADN. E
chegar à conclusão que, pessoas de origem tão distinta – como a sãotomense
Naide Gomes e a lisboeta Carolina Patrocínio – têm, afinal, a mesma
ancestralidade africana.
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