O PODER E O POEMA - ANTÓNIO BONDOSO
Editora Edições Esgotadas.
Na Junta de
Freguesia de Lavra – Matosinhos.
1 de Maio 2013.
D.MANUEL MARTINS – BISPO EMÉRITO DE SETÚBAL.
"Qualquer poder corrompe. E todo o homem sonha Poder".
A “leitura” que D.Manuel Martins fez do meu livro mais
recente, poderei defini-la como “Uma lição de Cultura: democrática, filosófica
e político-social”, enquadrando o seu discurso nas circunstâncias do dia e do
tempo que vivemos.
Na sede da Junta de Freguesia começou por referir o “Poder
Local” como uma das grandes conquistas da revolução de Abril e caracterizou
Lavra como terra de gente sã, tendo em conta o contacto com a natureza, com a
verdade, com Deus. “Não obstante o progresso – respeita a sua memória e nela se
refresca para caminhar. Lavra é de facto uma família e uma terra com futuro”.
E no dia do trabalhador – 1 de Maio – D.Manuel Martins
frisou que “O homem é trabalho. Não pode
viver sem ele (Deus é trabalho)”. E aparece assim na nossa vida como “dever
natural” e, por isso, como “direito natural (Constitucional)”. Por ambição dos
homens – disse o Bispo Emérito de Setúbal – “em Portugal ronda o milhão os
cidadãos sem trabalho. Já imaginamos o que é isto? Já experimentamos o que é
isso? Malditas políticas que se constroem sem este alicerce social que garante
o pão na mesa e o progresso de um povo. O trabalho é realização pessoal; é
colaboração com o Criador, é gesto, é caminho de solidariedade familiar e social.
Sem trabalho, o homem nega-se e compromete-se
seriamente a sociedade. Então, que neste dia comece uma vida nova para Portugal”!
A beleza da Primavera foi o passo seguinte: “Na Primavera
tudo começa de novo. É o tempo que apela à esperança. É um Sacramento: manifesta
– é sinal de – vida nova e faz apelo a vida nova”. Por isso, D.Manuel considera
que, apesar do Acordo Ortográfico, Primavera merece ser escrita com letra
maiúscula.
Lembrou depois que “Maio é o mês de Maria, mês da Mãe,
Mãe que é carinho, respeito, preocupação, presença, sorriso...Mãe que é vida permanente
e rica junto de nós, Mãe que nos quer felizes a todos”.
E aparece o livro O
PODER E O POEMA, um título sugestivo que D.Manuel chama de “sacramental”!
“A leitura atenta e meditada do livro, aqui e além como
necessidade de algum jejum, fez nascer dentro de mim, mais que um comentário,
uma reflexão que anda à volta de ideias semeadas pelo livro”. Por onde começar
? – pergunta D.Manuel. “Pelo Poder ou pelo Poema? Antes: porquê o Poder e o
Poema? À primeira vista, não nos parecerão mais inimigos que amigos? ...Ao
menos, desconhecidos. O Poder,
normalmente, aparece frio, insensível, mas, ao mesmo tempo insaciável. O Poema,
pelo contrário, aparece-nos quente, sonhador, aventureiro, solto”.
Admitindo que um pode ser consequência do outro, D.Manuel
diz que “Sem Poema não haverá Poder e sem Poder, como aparece o Poema”? Concretizando
e falando de Poder, coloca algumas ideias em presença: a) Esforço que resultou
no êxito, numa nova condição e capacidade; b) Influência conseguida com vários
recursos (poderão coincidir com licenciatura sem exames) e que coloca o sujeito
em situação nova de «comando»; c) Energia interior que leva o homem à coragem
de não sucumbir perante qualquer força, subtil ou clara; d) Fortuna: o dinheiro
é o alfa e omega que comanda o cérebro e as pernas do homem; e) Exercício de
função política que convence o seu detentor que, com o rei na barriga, tudo
pode fazer. Para não falar do eclesiástico que, não sendo e só serviço, pode
tornar-se até, se mal usado, fonte de iniquidade. Qualquer poder corrompe, afirma D.Manuel Martins. E todo o homem sonha
Poder.
Pormenorizando em seguida o Poder Político “ o mais nobre dos Poderes” (lembrou Pio XII uma das
formas mais nobres da caridade), o Bispo Emérito de Setúbal frisou que ele pode, infelizmente, “dar em portas
abertas para corrupção, injustiças de toda a ordem, boyismo, vaidades pessoais e familiares. Porém é uma função
nobre. É uma das funções mais nobres. Exerce-se com autoridade confiada
(eleições) em vistas a realizar um serviço inteiro, competente, feliz, a toda a
Comunidade. «Eu sou tu». Político versus Sociedade”.
Volta a recordar que todo o homem sonha Poder já que o
sonho governa a vida. «Pelo sonho é que vamos» salienta, para indicar que “na
base dos feitos que levam ao Poder, normalmente está o Poema, isto é, o desejo
de ser capaz de, com sacrifício de todo o género e feitio, conseguir cantar o
Poema. O Poema também faz parte de nós.
Etimologicamente, significa acto de criar e é parente da palavra poeta e
poesia. Deus é o Poeta: criou tudo do nada. Criados à sua imagem somos
poetas, sem que disso tomemos consciência. O Poeta vê o mundo de maneira
diferente: O Poeta ouve uma flor que fala, um rio que canta, um oceano que espanta,
uma montanha que esmaga”.
Chegado aqui, confessou que um dia – não sabe quando – se
surpreendeu a lançar ao papel este voto encantado: “Que bom é ser Poeta. Sim,
que bom é ser poeta! O poeta ouve o silêncio, canta como ninguém a beleza da
natureza e da vida, chora a tristeza de tantos humanos. O poeta escuta o
murmúrio das correntes, as mensagens das flores, o chilreio dos passarinhos. O
poeta descobre luz onde os outros vêem treva, espalha esperança quando tantos
desesperam, abre infinito enquanto tantos se fecham. O poeta é um homem livre que anda por onde quer. Até por isso, se
exprime sem regras, as regras que impedem a simplicidade e, quantas vezes, a
verdade do pensamento. É corrente dizer-se que o poeta está fora do mundo. Não
é verdade. Acontece, sim, que ele mergulha na alma do mundo. Podemos
avançar e dizer que o poeta tem entrada certa nos segredos de Deus, o grande
Poeta do universo. Então, uma das
grandes condições para entender a vida é ser poeta”.
Por último, D. Manuel Martins focou o seu olhar no autor
de O PODER E O POEMA, perguntando: afinal, quem é António Bondoso? E
respondeu:- “ Se lhe perguntarem d’onde é, nem ele mesmo é capaz de saber,
porque deve ter nascido em terras que não escolheu, já que todo o mundo foi
seu. O Poder e o Poema que ele, afinal, é, deu-lhe sensibilidade e arrojo para
poder dominar e gritar os feitos de muita gente, também do nosso Portugal de
antanho. Refiro-me, já sem desenvolvimento, a três grandes feitos que se deixam
envolver no Poder e Poema. A) Descobrimentos (Poder e Poema; Poema e Poder); B)
Guerras Coloniais (Poema e Poder envergonhados); C) 25 de Abril ( Poder e Poema
que se monumentalizaram em grande Saudade”.
Maio de 2013.
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