2014-02-21

A MINHA CRÓNICA DE HOJE NO JORNAL CORREIO BEIRÃO. RUMORES...


RUMORES…
… a propósito de políticos e de politiqueiros – coisa que não se estranha, mas entranha, nesta mui antiga periferia da Europa.
            Tomando por certa a ideia de que a política não é apenas uma arte, mas também uma ciência, não podemos deixar de estranhar a evidência da falta de uma sólida cultura política – quando os atores hodiernos praticamente nasceram nas cadeiras das “juventudes partidárias”. A “escola” é má, portanto, sendo imprescindível o recurso aos curricula universitários sérios na Ciência Política. E não me venham com a treta das chamadas “universidades de verão” promovidas exatamente por essa má escola, escorada nos feudos partidários. O que temos, perfeitamente visível nos últimos anos, é uma série inesgotável de pseudopolíticos, politiqueiros, demagogos, ignorantes – que falam de tudo e a propósito de tudo, ora pontificando no ministério dos submarinos, ora traçando orientações na diplomacia do pastel de nata, ora ainda ditando leis no ministério das cervejas.
            Vale a pena reler o Prof. Adriano Moreira sobre os limites éticos e sobre a “multiplicidade de convicções morais e posições éticas na Europa no que toca à variedade de essenciais problemas sociopolíticos que estamos a enfrentar”. É uma questão fundamental para olhar este “mundo sem bússola” como refere o Professor.
            Não pretendendo colocar à cabeça de Pedro Passos Coelho toda a gamela de críticas de que é merecedor, basta olhar para a miopia galopante e arrogante de Paulo Portas, que vê na incerteza das exportações – demasiados fatores a ter em conta – o seu porta aviões de salvação do país. Ora, se olharmos com a atenção devida para recentes declarações do austríaco Engelbert Stockhammer – professor na Universidade de Kingston – “cortar salários e tentar exportar não é uma estratégia para se sair da crise”. Também ele economista, mas mais do que isso – investigador em economia política na Universidade de Massachusetts – Stockhammer mostra a sua deceção pelo facto de os países do sul, nomeadamente a Grécia e Portugal, não unirem forças e arranjar alternativas ao poderio alemão. Tal como o economista chefe do Banco Central Europeu, quando afirma que o problema não foi demasiada Europa mas pouca Europa.
            Por outro lado, não deixa de ser preocupante ver as permanentes hesitações do maior partido da oposição. Seguramente motivadas pela impreparação da liderança. Pasme-se ao ler a mais recente tirada de António José: o que me separa do governo é a estratégia orçamental! Só? É muito pouco para se afirmar como alternativa. Seguro não se pode dar ao luxo de permitir que estas frases – invariavelmente, depois, retiradas do contexto – provoquem dúvidas no eleitorado. E é precisamente o que tem acontecido, de acordo com os rumores das consultas de opinião.  Mais uma vez, a questão da deficiente formação política e da falta de cultura política.
António Bondoso
Jornalista – CP 359.
   

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