ENTREVISTEI PARA O "CORREIO BEIRÃO"...O PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE MOIMENTA DA BEIRA.
Foto de A.Bondoso.
MOIMENTA DA BEIRA RECLAMA MAIOR COESÃO
TERRITORIAL E O FIM DO “BLOQUEIO POLÍTICO-ADMINISTRATIVO”
Preocupações sociais permanentes para manter a paz social –
imprescindível a uma sociedade inclusiva e com futuro – poderá ser a maior “obra” deste segundo mandato de José Eduardo Ferreira como Presidente da
Câmara Municipal de Moimenta da Beira, numa altura em que aplaude o
investimento na ligação ferroviária Aveiro-Vilar Formoso, mas em que reclama
igualmente a prioridade na construção do IC26.
Na entrevista concedida ao Correio Beirão, José Eduardo
Ferreira começa por salientar os “desafios muito complexos que colocam uma
grande exigência a todos os atores, públicos e privados” – numa alusão à
capacidade de resposta que o município e a sociedade devem encontrar para
garantir o bom funcionamento das infraestruturas que o concelho de Moimenta da Beira tem vindo
a “receber” do poder central. Quer no âmbito da saúde e da educação, quer agora
no “caso da Justiça” o processo deixa entender quase que uma nova centralidade.
JEF - Temos vindo a preparar-nos para garantir uma
resposta de elevado nível, que apenas se consegue com a participação empenhada
de todos os atores e de todos os profissionais. A partilha dos meios, entre
instituições, sem olhar tanto às competências formais de cada uma delas, mas
mais à sua capacidade de contribuir para a resposta às necessidades da
população, seja apenas de Moimenta da Beira seja da região que serve é uma
condição essencial, para o sucesso das respostas. Nunca teremos, até pela
natureza evolutiva das exigências, toda a capacidade requerida, mas também não
desistiremos de a procurar afincadamente. A utilização racional de todas as
infra-estruturas é uma exigência até cívica, dos tempos que correm. Na saúde,
por exemplo, temos que ter o maior cuidado para não permitir uma degradação do
serviço público por todos os impactos negativos que teria, diretamente, na vida
das pessoas, nem permitir que se criem constrangimentos de acessibilidade à
referenciação para o Hospital de Viseu.
CB
- A que fatores atribui esta movimentação?
JEF - A centralidade sub-regional de Moimenta da Beira
não é assim tão nova, devendo-se a um grande esforço desenvolvido por muita
gente, ao longo de muitos anos. Por ventura haverá agora uma nova visão integradora.
O que nos compete fazer é trabalhar em conjunto com todos, dando corpo a um
novo conceito de desenvolvimento de base regional, onde todos temos uma
contribuição séria e indispensável, que será, do meu ponto de vista, o único
caminho para manter este interior vivo e viável.
“É preciso que
sejamos capazes, alguma vez, de resolver este bloqueio.”
CB - Poderá dizer-se que Moimenta da Beira está bem
inserida na Região do Douro Sul…ou o Presidente da Câmara
de Moimenta da Beira prefere uma outra situação, por exemplo ingressar na Dão
Lafões? É um problema antigo…dando quase a ideia de estarmos numa chamada
“terra de ninguém”.
JEF - Há muitos anos que Moimenta da Beira sofre o
chamado bloqueio político-administrativo, na medida em que, para além das
questões culturais que nos ligam a Viseu e ao Sul, temos afinidades de índole
política ao nosso círculo eleitoral – Viseu, que não podemos negligenciar, mas
ao mesmo tempo ligações administrativas, para quase todos os efeitos, ao Norte.
É preciso que sejamos capazes, alguma vez, de resolver este bloqueio. Foi nesse
sentido que recentemente a Assembleia Municipal aprovou, por uma expressiva
maioria, uma moção que pretendia resolver definitivamente este bloqueio. Como
sabemos, a Assembleia da República não integrou esta pretensão na reforma
administrativa, o que manteve inalterada a situação de Moimenta da Beira,
integrando a Comunidade Intermunicipal do Douro, onde se encontra num elevado
nível de partilha de projetos e preocupações, mas também de grande esperança no
futuro, tendo o maior apreço e respeito por todos os parceiros institucionais e
sentindo-se, igualmente, um município muito respeitado inter-pares.
“Estão redondamente enganados os que
acham que o investimento em infraestruturas, nomeadamente rodoviárias, está
concluído e não resultarão benefícios económicos, nomeadamente para as regiões
da coesão, deste tipo de investimento.”
CB - Moimenta
da Beira acompanhou a iniciativa de vários municípios das regiões de Viseu e de
Aveiro (no âmbito da CCRDN)...no sentido de reivindicar o reforço da ligação
ferroviária entre Aveiro e Vilar Formoso? E nessas reuniões não foi abordada a
construção do IC26? Ou já não é considerado vital para Moimenta da Beira e os
outros concelhos abrangidos?
JEF - Todas as ligações ferroviárias previstas são
positivas e podem ajudar a desenvolver a economia regional e nacional, disso
podendo beneficiar Moimenta da Beira e a região em que se insere. Posso até
compreender, e aceitar, os critérios utilizados pelo grupo de trabalho para as
Infraestruturas de Elevado Valor Acrescentado, se lhe tiver sido pedido um
estudo que apenas tenha em conta a competitividade da nossa economia. A minha
pena é que os resultados desse estudo esquecem completamente a coesão
territorial, e não havendo medidas neutras, o investimento previsto em
infraestruturas vai, uma vez mais, agravar as desigualdades já gritantes entre
o interior e o litoral.
Estão
redondamente enganados os que acham que o investimento em infraestruturas,
nomeadamente rodoviárias, está concluído e não resultarão benefícios
económicos, nomeadamente para as regiões da coesão, deste tipo de investimento.
O
IC 26 é um bom exemplo das prioridades que deviam manter-se no próximo Quadro
Estratégico Comum. Não se trata apenas de uma prioridade de Moimenta da Beira,
bastaria lembrar o documento que foi subscrito por todos os presidentes das
câmaras do Douro Sul onde se indica esse investimento como sendo, para todos, o
prioritário. Esta prioridade compreende-se muito bem quando sabemos que pode
constituir, para as nossas empresas, uma porta de entrada no mercado europeu,
ao mesmo tempo de constituirá uma ligação fácil de entrada de turistas no Douro
Património Mundial.
Não
tenho nenhuma dúvida que, a manter-se o documento nos termos em que é
conhecido, do ponto de vista das infraestruturas – essenciais ao
desenvolvimento regional – este instrumento será mais uma machadada na coesão
territorial. Será que ainda há quem acredite em países desenvolvidos com
territórios tão desequilibrados? Será que podemos continuar a prescindir do
contributo económico de tão vastas áreas do território nacional? Ou somos
capazes de estabelecer compensações sérias com outros instrumentos de
financiamento, ou estamos a cometer uma grande imprudência, com impactos muito
negativos, no futuro.
“Não nos pouparemos a esforços para
garantir, neste mandato, a criação de condições para a construção do
aproveitamento hidroagrícola de Moimenta da Beira, infraestrutura
imprescindível ao desenvolvimento do nosso setor agro frutícola.”
CB - Embora não tendo feito promessas, que obras
fundamentais é que poderão marcar este seu segundo mandato...partindo do
princípio que nem tudo foi cumprido no anterior?
JEF - Quero que algumas das obras que marquem este
mandato não sejam obras, no sentido clássico. Temos preocupações sociais
permanentes, de muito curto prazo, dadas as dificuldades por que passam hoje
muitas famílias. Estas respostas, organizadas no âmbito da rede social
municipal, com todos os parceiros, constituem uma almofada determinante na vida
de muitas famílias. Este aspeto é hoje duma enorme importância, até ao nível da
manutenção da paz social, imprescindível numa sociedade inclusiva e com futuro.
Temos que ser capazes de ajudar a manter as condições mínimas de dignidade a
todas as pessoas, para poderem continuar a acreditar que são capazes de
melhorar a sua própria vida, e a dos outros.
É
muito importante que contribuamos para criar condições de igualdade de acesso
aos bens públicos, como a educação ou a saúde, não deixando perder uma geração,
por dificuldades económicas que a conjuntura fará desaparecer. A aposta que
hoje fazemos na educação e na cultura, como forma de afirmar a nossa diferença
no mundo global é uma condição essencial ao nosso desenvolvimento, no futuro.
Bem sabemos que são apostas de longo prazo, por vezes difíceis de
compatibilizar com enormes carências de curto prazo, mas este exercício de equilíbrio
é determinante.
Não
deixaremos de fazer apostas em obras de betão, nomeadamente no que respeita à
promoção de melhores condições para o desenvolvimento e reforço do nosso tecido
empresarial. Concretamente tentaremos melhorar as condições do nosso parque
empresarial e criaremos melhores condições à instalação de empresas. Temos bem
consciência da necessidade destes investimentos, destinados à competitividade
da nossa economia, mas seremos cuidadosos nas escolhas e na alocação dos meios
financeiros que possam, especialmente, constituir contrapartida municipal à
utilização de fundos comunitários.
Não
nos pouparemos a esforços para garantir, neste mandato, a criação de condições
para a construção do aproveitamento hidroagrícola de Moimenta da Beira,
infraestrutura imprescindível ao desenvolvimento do nosso setor agro frutícola.
Espero
que possamos também investir de forma mais consistente na criação de condições
para o nosso desenvolvimento turístico, nomeadamente na Serra de Leomil, na
bacia do Paiva e na Barragem do Vilar.
“Creio que me compete mais almofadar,
junto das pessoas e das organizações, os erros do governo central do que
contestar as medidas tomadas. Reconheço no entanto que por vezes a contestação
é imprescindível.”
CB - Mais recessão a nível nacional - ou as medidas
mais restritivas que se anunciam - vão exigir ao seu executivo um maior
empenhamento e uma apertada gestão de recursos para minimizar os custos,
sobretudo ao nível do emprego. A Câmara vai despedir funcionários?
JEF - Não faremos qualquer despedimento. A redução de
efetivos e dos custos com pessoal, para além dos ganhos já conseguidos, por
exemplo em horas extraordinárias e outras prestações, far-se-á de forma
progressiva, apenas na medida em que forem ocorrendo as aposentações dos
colaboradores. Não estamos disponíveis para qualquer intervenção drástica que
colocaria em causa as famílias dos colaboradores. O que temos feito, e
continuaremos a fazer, é um grande esforço de redução de custos e de controle
muito apertado da despesa, o que tem levado a uma redução muito significativa
do nosso endividamento. Progressivamente, mas de forma constante e determinada,
estamos a criar condições de estabilidade financeira municipal, que permita
maior liberdade de escolha aos gestores do futuro. Continuamos hoje muito
condicionados por uma situação financeira muito grave, mas compete-nos dar esta
resposta no tempo mais difícil e é isso que faremos, com a ajuda e compreensão
de todos.
CB
- Até que ponto poderá ir a sua contestação às políticas do governo central?
A
minha função é muito mais de construir do que de contestar. Creio que me
compete mais almofadar, junto das pessoas e das organizações, os erros do
governo central do que contestar as medidas tomadas. Reconheço no entanto que
por vezes a contestação é imprescindível. Tendo a fazê-la, e faço-a, nas
oportunidades que tenho para contestar institucionalmente as políticas erradas,
e têm sido muitas, deste governo. As dificuldades existentes, que reconheço
serem muitas, não podem servir para justificar erros graves de governação. Pelo
contrário, o governo tem que ser, como temos que ser todos, mais cuidadoso com
as decisões que toma. Tenho muita pena que nem sempre assim seja.
“António Guterres seria um excelente
Presidente da República.”
CB – Apenas mais duas notas sobre a “política
nacional”. Ainda estamos longe das eleições Presidenciais...mas há já quem
tenha lançado "balões de ensaio". ANTÓNIO COSTA poderá ser
um dos seus candidatos? Ou António Guterres?
JEF - António Guterres seria um excelente Presidente
da República. A primeira condição é que este português notável queira dar este
contributo. Poderia certamente ganhar a eleição.
CB - Também é dos que tem dúvidas que ANTÓNIO JOSÉ
SEGURO chegue incólume às eleições de 2015 para a AR?
JEF - Não sei se precisa de chegar incólume, nem
sequer se é útil que chegue nessa condição. Os líderes não se fazem de
facilidades. O que me parece muito importante é que apresente um projeto
alternativo sólido e credível para o país, como julgo estar perfeitamente ao
seu alcance e do Partido Socialista. Mais do que possibilidades, António José
Seguro tem a obrigação de apresentar em 2015 um projeto ganhador e que responda
às reais necessidades de Portugal.
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A.Bondoso.
Jornalista
– CP359.
Fevereiro
de 2014.
Foto de A.Bondoso.
António BondosoFevereiro de 2014.
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