PARA O JORNAL "CORREIO BEIRÃO"...entrevistei o Presidente da Câmara de Lamego, Francisco Lopes.
LAMEGO
PODERIA SER A CIDADE MAIS IMPORTANTE DA REGIÃO SE HÁ 100 OU HÁ 50 ANOS ISSO
TIVESSE SIDO ESTABELECIDO COMO UM DESÍGNIO.
Tenciona
cumprir o mandato até ao fim e vê que Lamego é uma das cidades mais conhecidas
e reconhecidas do país e uma “marca” que se destaca pelo património. Francisco
Lopes já vai no seu terceiro mandato à frente dos destinos da Câmara de Lamego
e diz ter em carteira projetos para mais 20 anos. Liberal, membro do PSD e
apoiante de Passos Coelho – que espera ver ganhador em 2015, mesmo que perca as
“europeias” por margem mínima - Francisco Lopes critica os governos de Sócrates
por não terem construído o IC26, afirma que as portagens na A24 prejudicam o
desenvolvimento da região e considera desastroso o modelo de gestão da «Águas
de Portugal» – defendendo mesmo que a solução da água, no nosso país, não passa
por uma gestão estatal e centralizada.
Na
entrevista concedida ao Correio Beirão, Francisco Lopes admite algumas
dificuldades de afirmação do novo hospital de Lamego uma vez que o objetivo
inicial – servir a região de Trás-os-Montes e Alto Douro, com cerca de 400 mil
habitantes – não tem merecido a adesão de muitas áreas que preferem a oferta de
outros hospitais.
FL – Há que aumentar a oferta e afirmar o hospital de
Lamego como um dos melhores hospitais de cirurgia de ambulatório do país. Não
há outro caminho, ou o enorme investimento que aqui foi feito terá sido em vão.
Conseguimos que este hospital de proximidade tivesse um serviço de medicina
interna e 30 camas de internamento de doentes agudos, mas é ainda insuficiente
pois, normalmente, a taxa de ocupação é de 150%, com mais de 12 ou 15 doentes
internados nas urgências. A oftalmologia está a trabalhar muito bem, mas tem
necessidade de mais um cirurgião com urgência.
CB – Não poderá considerar-se, então, um paradoxo
projetar-se uma outra unidade hospitalar privada nas instalações do antigo
hospital?
FL – Não é um paradoxo. Outra unidade com valências
não conflituantes faz todo o sentido. O problema é que as exigências legais
para o licenciamento são tão grandes que estão a dificultar o projecto…estamos
a acompanhar a situação.
Não
é fácil combater o desemprego quando a economia está sujeita a um esforço
brutal de ajustamento com vista à redução da dívida e do défice.
CB – Lamego é um dos concelhos com mais elevada taxa
de desemprego no país. Atribui o facto apenas à situação conjuntural…ou é uma
questão estrutural e com raízes?
FL - O desemprego no concelho e na região tem muito
de estrutural. Mais de metade destes desempregados estão nas 17 freguesias
rurais, onde é quase impossível encontrar emprego na indústria ou serviços e a
agricultura é quase a única alternativa. O desemprego de licenciados está
também a subir, sendo já mais de 300, pouco mais de 10% do total desempregados
e que é um fenómeno comum a todo o eixo Lamego/Régua/Vila Real.
CB
- Perante a atual situação do país…que iniciativas é que o presidente da câmara
já tomou para minimizar o problema…quer localmente, quer junto do governo
central?
FL
- O desemprego combate-se essencialmente com a dinamização do tecido económico,
para que produza emprego e riqueza. Com a simplificação de procedimentos para
que os investidores tenham vontade e estímulo para continuar a investir. Com
informação, com incentivos directos, com a redução de taxas, com condições de
financiamento favoráveis, com ecos infraestruturados para receber novas
empresas. E também com infra-estruturas e equipamentos públicos de qualidade,
que tornem a cidade e o concelho mais atractivo. E combate-se, também, com a
qualificação da população, para que possa responder aos desafios de um mundo
globalizado e em permanente mudança.
CB
- Está satisfeito com as políticas do governo central para combater o
desemprego?
FL
- Não é fácil combater o desemprego quando a economia está sujeita a um esforço
brutal de ajustamento com vista à redução da dívida e do défice. No interior,
onde não há indústria ou serviços, a situação é ainda mais gravosa do que nas
grandes cidades. E por isso tenho defendido a importância da manutenção de
emprego público no interior e, nesse particular, as políticas do governo,
diga-se que deste e de anteriores, não têm sido as mais favoráveis.
A
alteração do cálculo dos limites de endividamento e a extinção da Lamego
Convida irão provocar um agravamento do endividamento do município, que é
apenas contabilístico.
CB
- E é provável que – com o encerramento da “Lamego Convida”…o número de
desempregados aumente, claro!
FL
- De forma nenhuma! Nem o município, nem a Lamego Convida, tem um único
funcionário que não seja necessário ao exercício das suas funções, o que
facilmente se compreende. A Lamego Convida gere equipamentos públicos,
nomeadamente piscinas, pavilhões desportivos, o estádio e o teatro Ribeiro
Conceição, que não funcionam sem essas (ou outras) pessoas. Esses trabalhadores
manterão no município, depois do necessário ajustamento do vínculo contratual,
exactamente as mesmas funções que tinham na Lamego Convida.
CB
- Quanto à “dívida” do município… considera que é aceitável e controlável ?
FL
- Sim, o endividamento municipal está perfeitamente controlado, mas a alteração
do cálculo dos limites de endividamento e a extinção da Lamego Convida irão
provocar um agravamento do endividamento do município, que é apenas
contabilístico.
CB - Qual a contribuição do pavilhão
multiusos para essa dívida?
FL
- Para já o multiusos ainda não contribui para a dívida do município porque
está na Lamego Renova. Virá com a extinção da Lamego Convida, mas isso não
altera nada, pois os encargos com juros e amortizações já estão previstos no
orçamento do município e da Lamego Convida.
CB
- Tem sido um problema e um mau negócio para a Câmara de Lamego!
FL
- Tirando o problema construtivo, que decorreu de um erro de projecto e está
praticamente solucionado, nada afastou o empenhamento e a importância que
atribuímos a esse equipamento que será único e diferenciador na região.
Fornecemos aos nossos munícipes
água de excelente qualidade e quase tão cara como o vinho do Douro
CB
- Para diminuir a dívida…não pensa aumentar os “impostos” ou as taxas municipais- como o
IMI ou as taxas de resíduos …ou o preço da água?
FL
- Não. O IMI tem o mesmo valor - 0,4% - desde que foi criado e assim se
manterá. Quanto à água e aos resíduos os valores cobrados não são taxas, nem
impostos e por isso não podem depender das necessidades financeiras do
município.
CB - Pelos vistos…Lamego possui uma água
de excelente qualidade!
FL
- Exactamente! Fornecemos aos nossos munícipes água de excelente qualidade e
quase tão cara como o vinho do Douro, pois pagamos às Águas de Trás-os-Montes
73 cêntimos por metro cúbico.
A cisterna do castelo de Lamego é
um monumento de facto e de direito! É monumento nacional classificado
conjuntamente com a torre do Castelo e considero o seu resgate e abertura ao
público como uma das grandes vitórias da minha gestão.
CB
– Voltando à “dívida”, ligeiramente desviada pelo curso da água, que projetos é
que foram prejudicados ou ficaram na gaveta?
FL
- Não ficou projecto nenhum na gaveta! Ao fim de 8 anos e de mais de 80 milhões
de euros de investimentos e tantos projectos executados, temos em carteira
projectos para mais 20 anos! Todos os que não foram executados irão sê-lo mais
tarde ou mais cedo... biblioteca municipal, academia das artes, complexo
desportivo de Lamego, circular externa de Lamego, centro interpretativo do
entrudo e da máscara de Lazarim, requalificação do escadório e da mata dos
remédios, pavilhão de Penude, parque urbano de Lamego, parque fluvial do bairro
da Ponte, ampliação das instalações da ESTGL, mais regeneração urbana, mais
habitação social (reabilitar Lara arrendar), enfim, uma lista infindável de
projectos!
CB - Entretanto, a
Câmara Municipal adquiriu a «cisterna» no terreno adjacente ao Castelo de
Lamego…
FL
- A câmara não comprou a cisterna. Comprou, por uns milhares de euros que não
posso precisar de memória, o terreno envolvente à cisterna e sobre o qual pendia
um legítimo com décadas, impedindo o acesso e a visita da cisterna.
CB
- Esse “monumento”…podemos dizer assim, não deveria ser do domínio público e
estar “classificado”?
FL
- A cisterna do castelo de Lamego é um monumento de facto e de direito! É monumento
nacional classificado conjuntamente com a torre do Castelo e considero o seu
resgate e abertura ao público como uma das grandes vitórias da minha gestão. É
uma das mais imponentes e bem conservadas cisternas do país e um orgulho para
todos os Lamecenses.
Sejamos claros, todos os governos
são centralistas e nós temos que ter argumentos, capacidade e coragem de
reivindicar para a região os fundos que Bruxelas nos destina. Esses fundos são
para o interior, não são para Lisboa!
CB
- Está satisfeito com as explicações que o governo tem dado sobre a aplicação
dos fundos comunitários?
FL
- Que fundos? Os do próximo quadro comunitário? Ainda há muitas matérias para
discutir. Tenho acompanhado o assunto com o presidente da CCDR-N e com o
ministro e secretário de estado do desenvolvimento regional, com quem aliás
ainda estive na passada semana. O secretário de estado virá à CIM Douro no dia
5 de Março. Temos o montante para a região norte - 3.320 milhões de euros- mas
falta o modelo de governação, nomeadamente a intervenção das CIM e critérios de
transparência na gestão dos fundos que ficam centralizados em Lisboa.
CB
- O que pensa ser necessário para que haja, de facto, uma política de coesão…
sabendo que o interior tem sido ou continua a ser “esquecido” pelo poder
central?
FL
- Sejamos claros, todos os governos são centralistas e nós temos que ter
argumentos, capacidade e coragem de reivindicar para a região os fundos que
Bruxelas nos destina. Esses fundos são para o interior, não são para Lisboa!
Também temos que ter a noção de que os fundos são para ser investidos em
infra-estruturas necessárias e em equipamentos produtivos. Fazer
infra-estruturas e equipamentos que não têm procura não resolve problema
nenhum, em lado nenhum do mundo! E há opções erradas, ou pelo menos
discutíveis, mesmo dentro da região. Porque é que o governo de Sócrates fez o
IC5 e não fez o IC26? O investimento era o mesmo, mas os resultados seriam
seguramente diferentes. E mudou alguma coisa ao despejar milhares de milhões de
euros na A4, IC5 e IP2, de uma assentada, numa região onde tradicionalmente o
investimento público é diminuto? Não mudou. As políticas de coesão exigem
ajustamento à realidade e portanto dinheiro, mas também diálogo com os actores
locais. Os municípios e as CIM estão cá para isso.
CB
– Mas defende a construção do IC26?
FL
- Já o disse claramente! E acho que não havendo dinheiro para o construir será
indispensável começar pelo menos com alguns troços ou variantes a aglomerados
urbanos. A EN 226 está transformada numa via urbana, como passadeiras,
semáforos, passeios de peões, casas e lojas à face da estrada... um caos!
Tenciono
cumprir o mandato até ao fim, mas não é tabu. Se tiver que sair antes sairei e
com a consciência do dever cumprido.
CB - Lamego poderia
ter todas as condições para se assumir como a cabeça de uma região de futuro,
capaz de ombrear com Viseu. Não está interessado nisso… ou a região não tem
mesmo capacidade económica – apesar do turismo – para esse desafio?
FL
-Lamego poderia ser a cidade mais importante da região se, há 100 anos, ou há
50 anos, isso tivesse sido estabelecido como um desígnio e todas as
condicionantes fossem favoráveis. Com a progressiva perda de população e de
serviços para as capitais de distrito, há muito que o papel de Lamego se alterou.
Não deixou de ser importante no contexto regional, simplesmente é diferente.
CB
- Tem pena de, no final do seu terceiro mandato, não ter conseguido colocar
Lamego, digamos … na “agenda política ou económica” do país? Ou pelo menos a um nível
mais elevado?
FL
- Muito pelo contrário, vejo com
satisfação que Lamego está sempre na agenda regional e nacional. É uma
das cidades mais conhecidas e reconhecidas do país e uma "marca" que
se destaca pelo património, pela cultura e pela maior e mais qualificada oferta
turística da região. E esse reconhecimento é igualmente institucional e nos
meus mandatos assumimos a presidência da associação de municípios com centro
histórico, que é a segunda maior associação de municípios do país e que tem
sede em Lamego, a presidência da assembleia geral da associação de municípios
do vinho, de que somos fundadores, e neste mandato a presidência e lugares de
direcção na associação de municípios do Douro Sul e na Beiradouro, entre muitas
outras. Marcamos presença igualmente na comissão permanente do conselho
regional do norte da CCDR e agora no CES - conselho económico e social, órgão
de consulta do governo para a concertação social, representando os municípios
do norte. E a nível internacional já assumimos a presidência da associação
ibérica de municípios ribeirinhos do Douro, estamos na direcção da RECEVIN -
rede europeia de cidades do vinho, que agrega mais de 800 cidades da Europa e
estamos no comitê das regiões da união europeia em representação dos municípios
portugueses.
CB
- É que há
rumores de que o Senhor Presidente poderá não levar este mandato até ao fim.
Isso é verdade ?
FL
- Já respondi a isso. Tenciono cumprir o mandato até ao fim, mas não é tabu. Se
tiver que sair antes sairei e com a consciência do dever cumprido.
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