NÃO ME VENHAM FALAR DE NATAL!
FALEM-ME DE JUSTIÇA!
Foto de Ant. Bondoso
Não
me venham falar de Natal, quando a miséria, a pobreza, a desigualdade entre os
homens de todas as raças se acentua; não me falem de Natal quando os “donos
disto tudo”, banqueiros e mercados sem rosto, somam cada vez mais às suas
fortunas roubando o produto de quem trabalha e de quem já trabalhou; não me
falem de Natal quando os jovens não têm futuro na terra onde nasceram; não me
venham falar de Natal quando as migrações são cada vez mais forçadas por
situações de guerra e perseguições políticas – da Síria ao Sudão, da Líbia ao
Iraque, da Sérvia ao Kosovo, da Albânia à Turquia, do Líbano a Israel, da
Rússia à Palestina, do Paquistão à Índia, da Indonésia às Filipinas, da China
ao Tibete, do México aos Estados Unidos, da Alemanha à Hungria, do Congo ao
Chade, da Tunísia ao Burquina Faso, de Angola ao Zimbabwe, do Brasil à
Venezuela. Não me falem de Natal quando as crianças em todo o mundo são
violentadas pela fome e pela escravidão.
Não
me venham falar de Natal.
Falem-me
de Justiça, de Cristo e do Papa Francisco.
Não
me falem de Natal, quando ver morrer jovens à porta dos hospitais começa a
tornar-se moda, tendo por base cortes orçamentais absurdos. E dos mais velhos
nem vale a pena falar, aumentando as situações críticas já mesmo à porta das
farmácias – quando não, até da porta de suas casas. Não me venham falar de
Natal quando os avós e os pais já não conseguem – em cada dia – fazer face ao
desespero dos filhos. Não me falem de Natal, quando há situações diárias de
pais e filhos desavindos. Não me venham falar de Natal, quando há escolas que
não funcionam por falta de verbas. Não me falem de Natal quando a violência
doméstica é cada vez mais comum; não me falem de Natal quando os vizinhos se
agridem por uma flor de jardim ou por um arbusto saído; não me venham falar de
Natal quando as alterações climáticas – resultado sobretudo das ambições
desmedidas do “homem” – conduzem à morte do nosso planeta a um ritmo
assustador.
Não me venham falar de Natal apenas em
Dezembro.
Falem-me de Justiça, de Cristo e de
Consciências Iluminadas.
Enviei,
aceitei e retribuí mensagens de Boas Festas. Sobretudo para os amigos que muito
considero. Mas não me falem de Natal, quando percebo nesses gestos apenas uma
circunstância de moda. Não me venham falar de Natal quando se consomem fortunas
em decorações de rua e nas casas de cada um, apenas para umas horas de mesa e
de companhia desfeita; não me falem de Natal quando o consumismo se concentra
em figuras como a Popota ou como a Leopoldina. Não me venham falar de Natal,
quando as compras e as trocas de presentes são a razão única de estabelecer um
convívio de amigos e de famílias.
Não me venham falar de Natal…por tudo
isto!
Falem-me de Amizade presente e desinteressada,
falem-me de Justiça, dos verdadeiros valores do humanismo. O Natal é isto. Mais o simbolismo do Presépio que deveria ser um palco diário.
António
Bondoso
Jornalista
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