2013-10-12

UMA VEZ...DE VEZ EM QUANDO. A MINHA RELAÇÃO COM O MUNDO.



ARROGANTEMENTE  INQUIETANTE…
…ou de como um “jornalismo engajado” pode virar o feitiço contra o feiticeiro e até prejudicar as relações entre Estados – sobretudo quando um deles é muito jovem e inexperiente na cena internacional. Basta ver o que aconteceu na GB com a “Missang”.

         Escrevo, naturalmente, sobre o Jornal de Angola (JA) e da sua mesquinha arrogância, a propósito do seu editorial de hoje. Tem razão quando identifica alguns maus políticos portugueses mas não é sério quando se autoproclama de “democrata” [por consequência também o Estado que serve] e detentor da verdade. De repente veio-me à memória aquele genérico da ex-EN para a “crónica de Ferreira da Costa”, de Luanda, no tempo do regime de Salazar e da chamada guerra colonial: “A verdade é só uma – Rádio Moscovo não fala verdade”!
         O JA extrai, do seu editorial de hoje, a ilação de que Portugal – por motivo de estar sujeito a uma intervenção financeira internacional [que Paulo Portas, brilhantemente, definiu como um regime de “protetorado”!] – não tem condições para estar na CPLP. Os governantes são maus [alguns foram e e muitos continuam a ser] mas, que se saiba, os compromissos financeiros de Portugal para com a Organização estão em dia. E os programas de cooperação, embora com menos recursos financeiros, continuam a desenvolver-se. De facto não temos petróleo, mas temos uma Constituição DEMOCRÁTICA que, felizmente e por liberdade dos juízes do Tribunal Constitucional, ainda não está suspensa. Temos precisado de empréstimos, mas não precisamos de caridade. Portugal tem por costume pagar as suas dívidas e, por solidariedade [não confundir com caridade], tem igualmente perdoado muitas a outros Estados – nomeadamente a alguns da CPLP.
         Por outro lado, e no que respeita a política externa, foram – e continuam a ser – cometidos inúmeros erros. Muitos no tempo da “outra Senhora” e alguns, graves, já no tempo deste regime democrático. Precisamente na abertura e no relacionamento com os novos países saídos da atabalhoada – por tardia – descolonização. E o mais recente tem mesmo a ver com a inefável figura do ministro Rui Machete. Por triste e incompetente. Eu posso dizer isto, e muito mais, mas alguns jornalistas em Angola são perseguidos e presos – apenas por delito de opinião.
         E não estou de acordo com o diretor do DN, João Marcelino, quando escreve que a demissão – agora – de Rui Machete, poderia ser entendida pelos políticos angolanos como “agressão” e poderia criar problemas em vésperas da Cimeira Luso-Angolana que se anuncia. A dignidade do Estado português está acima de tudo isso. Aos olhos dos portugueses e aos olhares ou entendimentos externos. Quem se relaciona com Portugal deve fazê-lo de boa-fé, embora se saiba que, em política externa, não há “amizades” – há apenas “interesses”! E, se fosse caso disso, adiava-se a Cimeira. Não seria a primeira vez na história das relações internacionais.
         Poderia ficar por aqui. Mas – como diz um slogan publicitário – não seria a mesma coisa.
         A propósito da “identidade” do JA, socorro-me apenas de uma “tese” de Carla Baptista [MinervaCoimbra, 2002. Colecção Comunicação], na qual se pode ler que “O jornal funciona de modo tão entrosado com o sistema político que o seu entendimento obriga a uma reflexão sobre as práticas de manutenção do poder em Angola”. Foi assim durante a guerra civil…mas, pelos vistos, continua sendo assim. E pelo menos o Artur Queirós [que viveu e trabalhou em liberdade durante alguns anos em Portugal] sabe que eu sei como se faz o dito “jornalismo engajado”. E também sabe que, como diz Damon Runyon, “Os Apostadores de Cavalos Morrem Tesos”. Sobretudo quando se aposta no “cavalo errado”. Por último, e no sentido de proporcionar a quem me possa vir a ler, a oportunidade de avaliar por si, deixo este link: http://www.club-k.net/ .

         Só alguns exemplos: Domingos da Silva: "Os muçulmanos sentem-se perseguidos em Angola"; Angola prende adolescente por “crime da camisola” - Leslie Lefkow; Senhor Presidente JES ouça o clamor do seu povo - Armando Chicoca; Jornalista da Voz da América intimado a comparecer na DNIC; Corrupção sem investigação em Angola - Elias Chivangulula.

 

         Nada tenho contra Angola, muito menos contra o povo angolano; nada tenho contra as riquezas de Angola; que o povo – todo o povo, não apenas alguns em seu nome – possa um dia vir a ter um melhor nível de vida, com qualidade. Tal como em relação a Portugal, tenho tudo contra a injustiça, tudo contra a corrupção, tudo contra a pobreza, tudo contra o mau jornalismo. Tenho ainda tudo a favor da Liberdade. De pensar e de escrever!

Out. de 2013.

António Bondoso


Jornalista – C.P. 359

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