2010-09-29

UMA LEMBRANÇA...


ÁRVORES DA MINHA INFÂNCIA

Penso nas árvores da minha infância

Grandes de porte

Frondosas de sombra

Raízes rompendo esventrando o chão

Húmidas hastes rastejando em bruto.

As árvores da minha infância

(na sua maioria)

Parece terem hibernado

E depois acordado

De um sonho mal contado.

Robustas e morenas

Centenárias e serenas

Aspirando o Sol ,

Projectam a sombra nos passeios da Ilha

Protegem quem passa

E nunca repara

Nos gestos de carinho

Das folhas e flores,

Ramos enlaçados em velhos amores

Memórias salientes de veias curtidas

Tropeçando em mim

No peito dormidas

Sonhadas jardim

Infância suspensa!

AB. Em "Seios Ilhéus" - 2010.

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


UMA GERAÇÃO MENOS RICA !

Foi há dias. Não muitos. Nestas tão verdadeiras quanto perigosas auto-estradas da informação que as novas tecnologias permitem/proporcionam, alguém se lembrou de buscar o passado e po-lo ao alcance de um click no FB.
Apesar da exposição "mediática", foi bom recordar e - mesmo para alguns - um excelente exercício de memória. E nas caras que davam vida aos corpos nas fotos exibidas já não mora o sorriso juvenil que ajudou a animar outros tempos em locais bem longe. Em algumas há agora tristeza e amargura pela impotência de travar uma doença de longa duração. Consumidora de almas tranquilas e de corações altruístas. No caso do Zé, talvez tenha sido ele próprio a desejar apagar por momentos o sorriso da foto. E assim vai ser por alguns dias. Depois...todos voltaremos a lembrar o Zé na sua juventude e, sem complexos, voltaremos a sorrir com ele. Devemos essa pequena alegria pelo menos à Nela Mendes, companheira permanente até Domingo passado - o dia da notícia que me chegou por telefone móvel.
Da família inicial, que muitos conheceram em S.Tomé e Príncipe, o Zé Mourão foi o último a partir. Ficamos com a memória da irreverente alegria do irmão António; ficamos com a memória da simpatia da mãe e com a lembrança da tenacidade do pai - médico que participou no combate à erradicação do paludismo nas Ilhas do Meio do Mundo em finais da década de 1950 e primeira metade da década de 1960. Para que os habitantes das ilhas pudessem usufruir de um pouco de qualidade de vida.
Com a ausência do Zé em parte incerta, todos perdemos um pouco. Mesmo os membros de uma primeira família que ele construiu no início da caminhada adulta e que depois, por circunstâncias diversas, tomaram rumos diferentes.