2018-06-30


Bom dia.
Sempre que penso em ir à praia…o maior desafio é o mar!


O MEU MAR COMEÇA AQUI

O meu mar começa aqui…
Mas as ondas somam-se à calema
De outras ondas
Que viajam enroladas até ao Golfo.
É esse mar que é mais meu
Pois dele sei
Desde o dia em que cheguei!

E sei que há grandes barcos que navegam
E buscam por ali o seu negócio
Como outrora houve naus e caravelas.
E sei como flutuam as canoas
De pescadores com orações no pensamento
Buscando no mar alto o seu sustento
Feito de sonhos e de perigos no momento.

Sonhos aos saltos como o peixe voador
Perigos apertados na visão de um gandu esfomeado
Anseios e angústias de uma ambição de calor
Tantos riscos assumidos nesse mar tão agitado.
E há esse mar que beija todas as praias da ilha
Debaixo de um sol abrasador
Deixando sempre um certo sabor salgado.

É esse o doce mar que me escolhe e me recolhe
Em tempos tormentosos de saudade
De uma alma em permanente tempestade.
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António Bondoso
Junho de 2018.


António Bondoso.

2018-06-26


O que está a minar a independência de Moçambique, 43 anos passados sobre a data da libertação colonial?


O que está a minar a independência de Moçambique, 43 anos passados sobre a data da libertação colonial?
Para percebermos um pouco a que ponto se terá chegado, lembremos o que escrevia Leonel Matias, em Outubro do ano passado, para a DW:
«Dívidas e "lista negra"
O Fundo Monetário Internacional suspendeu a ajuda ao Orçamento do Estado moçambicano em 2016, após a descoberta de dívidas contraídas por três empresas com garantias do Estado, sem o conhecimento do Parlamento e dos parceiros internacionais, num valor estimado em cerca de dois mil milhões de dólares.»
         Já em Abril deste ano, o investigador João Mosca, da Universidade moçambicana A Politécnica, dizia que a crise ainda iria perdurar por mais algum tempo:
 “Ainda no contexto da crise financeira, há, igualmente, a necessidade de a cidadania ter cada vez maior importância no desenvolvimento e na solução dos problemas nacionais, bem como na elaboração e participação nas decisões do Estado e do Governo”, considerou João Mosca.
Numa outra abordagem, o orador definiu de “muito crítica” a actual situação financeira do País. Defendeu que, embora existam alguns sinais de melhoria, sobretudo nos sectores financeiros e monetário, “na economia real, aquela que afecta directamente as empresas, os empresários e as famílias, as coisas não estão a melhorar, excepto num e outro sector”.
“Mas no seu conjunto, a crise continua e acredito que vai perdurar por mais algum tempo”, assegurou João Mosca.
         Embora estejamos a viver tempos de uma globalização acentuada, [por ventura ao ritmo imposto pelo capitalismo selvagem e desumanizado], o que vale por dizer que ninguém vive isolado, é interessante perceber o que dizem os dicionários sobre independência e independente: - que não depende de nada nem de ninguém; livre de influências.
         Há instabilidade, claro, mas – de acordo com a revista Mercados&Estratégias - o país é alvo de grandes expectativas de crescimento, principalmente para a primeira metade da década de 2020, por causa do enorme potencial do setor do Gás Natural.

         Que chegue depressa 2020…e que o povo moçambicano possa ultrapassar mais este obstáculo.

António Bondoso
Jornalista.

2018-06-23

A POESIA COMO UM GRANDE MOTOR DE SONHOS NA UNIVERSIDADE SÉNIOR «VIVER A APRENDER», NO “CES-PEDRAS RUBRAS” – MAIA. 


Durante o ano letivo lemos e partilhámos figuras gradas de quase todas as «escolas» poéticas, dos clássicos à atualidade, sem esquecer alguns nomes dos vates maiatos.
         Foi, sem dúvida, um enorme desafio – sobretudo à enorme capacidade de predisposição, de interesse e de partilha dos seniores participantes.
         Foi interessante e gratificante a partilha. Superiormente demonstrada no desafio final, que foi levar à cena uma adaptação do AUTO DO CURANDEIRO, de António Aleixo.
         Dizer Poesia, representando, foi também uma forma sublime de dar corpo à ideia da “função social” da poesia.
         E a escolha, não por acaso, recaiu na profundidade do pensamento do Poeta algarvio. Tendo em conta os que enganam o «povo» e o pressuposto de que a «ignorância» é a mãe de todos os males:
O mundo está na infância,
E adulto só pode ser
Quando desaparecer,
Do povo, a ignorância.
E assim, o ano lectivo chegou ao fim. Obrigado a todos pelo muito que me ensinaram. O futuro logo se vê. 


Entretanto, ontem, no Auditório da Junta de Freguesia de Moreira da Maia, teve lugar a celebração final das Actividades da Universidade, que pode ser revista no link anexo: 



António Bondoso
Junho de 2018.

2018-06-18


AO PAI LUÍS…
A MEMÓRIA NÃO É DIVINA...MAS TEM GRANDEZA.


Em vida, celebrarias hoje o 101º aniversário. Mas partiste há 24 em silêncio, pois – como diz a Tita – raramente falavas com palavras.
Sem pretender repetir-me, lembro que foste um pai perfeitamente comum, à imagem de um tempo outro, no qual os valores da existência encomendavam, porventura, uma atitude mais patriarcal.
Também não cabe aqui julgar-te à distância de uma vida. Seria como julgar a história à luz do presente. Prefiro a memória do gesto de me dares a mão a caminho dos ensaios para um dos espetáculos de variedades, ali junto do jardim da Curadoria e da Câmara Municipal de S. Tomé. Ou ainda esses “safaris” às praias da Boa Entrada e das Conchas, tal como as idas inesquecíveis à Roça Molembú.
De Moimenta da Beira sobram já as memórias de adulto, sentados à braseira na sala da Casa do Terreiro ou dois dedos de conversa à porta do Café Jardim, mas só em fotos me chega o passado da viola no Dramático do Arcozelo ou do avançado na equipa de futebol.
Em qualquer caso, não esqueço a saudade da alegria da tua presença, a saudade do sentido de humor e do riso maroto…a saudade de quem, por obra do destino, se viu desenraizado nas “raízes” e encostado a uma solidão – embora não permanente – mais espiritual do que física.
E procurando evitar grandes tiradas filosóficas...direi simplesmente que os filhos não devem servir como montra dos pais, mais ou menos perfeita ou de alguma forma defeituosa, um espelho de elogios permanentes ou de críticas mais intensas. Os filhos não devem ser um prolongamento obrigatório dos pais. Como eu não fui, seguramente, embora reconheça traços fundamentais de carácter. Por convicção…os valores da retidão.
Os pais não são eternos e, por isso, partem mais cedo ou mais tarde. E tu partiste relativamente cedo…mesmo antes de eu partir de novo em busca do meu Oriente imaginário centrado em Macau, em Março de 1994. Ao Pai que foste, avô do filho que tenho, recordo de novo alguns versos de há uns anos:
Ser pai
                                                  Ser filho                                                 
Ser filho do pai e pai do filho
É ter um sorriso de vida
A emoção de um olhar
A certeza de que estamos e que somos.(…)

Apesar de raramente falares com palavras, como diz a Tita, «eram repletos os teus silêncios. E todos nós sabíamos o significado de cada um deles». Voltaremos a “olhar-nos” um dia destes, Pai. Sempre como ontem…

António Bondoso
Filho
18 de Junho de 2018. 


2018-06-14


ANTÁRCTIDA –  JÁ LHE CHAMEI «O ÚLTIMO REFÚGIO»
Agora, que se volta a falar do Continente Gelado e do Futuro do Planeta, recordo que HÁ 10 ANOS, elaborei um pequeno trabalho académico sobre aquela região do mundo, sobretudo tendo em conta o que agora se designa por Nova Geopolítica. E escrevi, na introdução, o texto que segue, recordando o que salientou  o filósofo político LOUIS POJMAN : «A poluição do ar e da água tende a espalhar-se indiferente a fronteiras políticas. Por exemplo, o ar contaminado pela explosão nuclear de Chernobyl deslocou-se para ocidente na direcção da Suécia, França, Itália e Suiça. Uma camada de ozono cada vez mais esgotada sobre o Antárctico, torna todas as pessoas vulneráveis à radiação ultravioleta que provoca o cancro».   
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«A Antárctida – o último continente a ser descoberto – tem uma área de 14 milhões de Km2 e representa 10% da superfície dos continentes emersos. Outrora submetido a um clima tropical, o continente está hoje praticamente coberto por uma enorme calote glaciária, cuja espessura pode atingir 4700m, e possui 90% das reservas de água doce do nosso planeta. E tendo em consideração os jazigos de ferro, cobre, carvão, níquel, crómio, cobalto, titânio, urânio, zinco, ouro, prata, platina e petróleo – é apontado como muito promissor o potencial mineiro da Antárctida.





                   Tendo em conta que o “aquecimento global” é um tema que vem ganhando enorme relevância de há uns anos a esta parte – sobretudo pelas ligações colaterais que influenciam a política e a economia mundiais (não será um acaso da História a recente atribuição do Nobel da Paz a Instituições e a Figuras das áreas da Ecopolítica e da Investigação ambiental) – o Continente Gelado tem sido apresentado como a “última fronteira” da exploração de recursos decisivos para a sobrevivência do nosso planeta, mesmo sabendo que as “reservas” são diminutas.
                   Quer seja pelas difíceis condições de vida, quer seja pelo óptimo campo de investigação científica – a Antárctida tem conseguido ser protegida das ambições e agressões humanas, graças a um entendimento internacional consubstanciado num Tratado (datado de 1959) que define o Continente como uma zona a ser utilizada unicamente para fins pacíficos. No Atlas de Relações Internacionais, dirigido por Pascal Boniface, diz-se que a Antárctida “fornece, portanto, o modelo perfeito das relações internacionais pacíficas”. Contudo, recentemente, a Grã-Bretanha reclamou, na ONU, direitos de soberania para extracção de reservas de gás, minerais e petróleo – atitude de imediato contestada pelo Chile e Argentina.
                   Independentemente do desenvolvimento deste problema, o trabalho vai tentar responder a uma simples questão de partida: - será a Antárctida, para além da já referenciada “última fronteira”, também o “último refúgio” da humanidade?
                   Com esse objectivo, estabelecemos três capítulos, para analisar a história do continente e a sua importância política e científica- consubstanciada no Tratado de Washington de 1959; fazer o enquadramento geopolítico da região numa perspectiva da Eco política – uma das fases da arquitectura da nova geopolítica que salienta a globalidade dos direitos humanos e, por último, uma breve referência ao pensamento português sobre a Antárctida – destacando as ideias de Soromenho Marques, para quem a eco política ultrapassa uma simples política de ambiente.
                   Um tema complexo que obrigou a um aturado trabalho de pesquisa e que exigiu muita disponibilidade.»
António Bondoso
Jornalista
Junho 2018. 
NOTA: - Se pretender ler o TRABALHO COMPLETO, de 2008, 23 de Março, pode consultar:
https://palavrasemviagem.blogspot.com/2017/03/agua-um-direito-fundamental-proposito.html



2018-06-13

A PROPÓSITO DOS 130 ANOS DO NASCIMENTO DE FERNANDO PESSOA - O MAIOR E O MAIS COMPLEXO DOS POETAS MODERNISTAS PORTUGUESES.

Não sendo eu um estudioso de Pessoa, a verdade é que - tentando escrever Poesia e falando amiúde da função - não posso deixar de refletir sobre algumas notas daquele que foi um dos "mentores" do que viria a ser conhecido como o "V Império". E aqui deixo um excerto do que partilhei há tempos na Universidade Sénior Aprender a Viver/CES, em Pedras Rubras, na Maia. 

       Escreveu Fernando Pessoa, pela sua própria mão, aos 46 anos: "Profissão: A designação mais própria será «tradutor», a mais exacta a de «correspondente estrangeiro em casas comerciais». O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação."
         A ideia de “vocação”, contudo, não me parece consensual. A vocação, por si só, não será explicação suficiente para o que viria a produzir. Pode ter sido determinante, mas as circunstâncias da sua vivência conferiram-lhe certamente uma estrutura muito particular de pensamento.
Ao contrário dos pseudónimos, os heterónimos constituem uma personalidade fictícia, sobretudo de autores. Por isso, Fernando Pessoa não só criou outros nomes para assinar os seus textos, mas com eles criou também as respectivas biografias e personalidades. Segundo José Paulo Cavalcanti Filho, em Fernando Pessoa: uma quase autobiografia (Rio de Janeiro: Record, 2011), foram 127 heterónimos gerados pelo escritor português.
        Foi a partir de 1914 que Fernando Pessoa começou a dar corpo a Alberto Caeiro, Ricardo Reis, António Mora (abandonado), Álvaro de Campos e Bernardo Soares (prosas poéticas).
E na Carta de Fernando Pessoa sobre a génese dos heterónimos, com Introdução e selecção de Casais Monteiro – II Vol., destaca como que o carácter dos seus heterónimos, escrevendo: «pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida».      
    A propósito da sua célebre estrofe, referindo que «o poeta é um fingidor»...é importante lembrar que a metáfora não significa que o poeta seja um mentiroso ou alguém dissimulado, mas apenas que ele é capaz de se transformar nos próprios sentimentos que estão dentro dele e, por essa razão, consegue expressar-se de maneira única.

       E foi, de facto, único. Apesar de ter falecido muito novo, com 47 anos de idade, no Hospital de S. Luís dos Franceses, em Lisboa, curiosamente no mesmo quarto onde viria a falecer Almada Negreiros – um dos seus companheiros iniciais do Modernismo – 35 anos mais tarde.



     

António Bondoso

Junho de 2018  



2018-06-11



A EUROPA E OS CAFÉS...DO PORTO!
Há uns anos, não muitos, elaborei um pequeno ensaio sobre a "Ideia de Europa", partindo da «definição» de George Steiner sobre o culto dos Cafés.
Hoje, baseado num destaque do JN sobre o GUARANY, criado em 1933, regresso à ideia. Para lembrar que o Guarany era conhecido como o Café dos Músicos, mas era igualmente ponto de encontro de conhecimento e de debate de ideias. Hoje não tem "orquestra"...mas ainda tem um piano.



«A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. […] Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da ‘ideia de Europa’»
                                                                                     GEORGE STEINER, 2005

            Se esta ideia de Steiner fosse a única – e determinante – não haveria dúvidas de que Portugal se encontraria na primeira linha da construção europeia. Temos, de facto, uma cultura de “cafés”, quer seja numa grande cidade, quer seja na mais recôndita aldeia do interior. Mas só isso não basta. Todo o processo foi e é muito mais complexo e para o qual o povo não foi consultado. O que, em boa verdade, agora já não importa. Decisivo, seria ter, apresentar, defender e liderar uma visão estratégica de futuro. Que passa por uma cidadania percebida e assumida…mas também ouvida!
                                      


              Veja aqui, parte da História do Guarany...contada no JN: 


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António Bondoso
Jornalista
Junho 2018



2018-06-10

10 DE JUNHO: TODOS OS DIAS…OU SÓ DE VEZ EM QUANDO?
Ou de como um livro de 1953 nos transporta a uma aventura arrojada em 1924…com a ligação aérea Portugal-Macau.***


Neste dia... o que celebramos é a ousadia, a vontade, o empenho, o conhecimento – uma forma de ser e de estar! E a tudo isso juntamos, porque é intrínseco, as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo e Camões – o simbolismo da «Língua» que facilmente poderíamos estender a Bocage, Gil Vicente, Rodrigues Lobo, António Vieira, Garrett, Herculano, Camilo, Eça, Ramalho, Junqueiro, Pessanha, Florbela, Aquilino, Torga, Nemésio, Sophia ou Saramago, para além de tantos outros que souberam louvar e elevar este traço comum que uniu e une povos diversos. 



E da ousadia que foi construir um país independente e, mais tarde, restaurar essa independência para, depois, mostrar uma visão do mundo e tentar ir acompanhando os avatares da História – quero eu hoje lembrar a universalidade dessa forma de ser e de estar, indo de Portugal a Macau com a tenacidade dos aviadores Sarmento de Beires e Brito Paes em 1924. 


. No monomotor «Pátria» foram de Vila Nova de Milfontes a Bagdad, voando ainda até Bhudana – local do acidente que os obrigou a recorrer a um novo aparelho a que chamaram «Pátria II». A nova rota foi, assim, de Lahore a Shum-Chum e Macau, num total final de 17.570 quilómetros e de 117 horas de voo. 


*** O livro, de Sarmento de Beires, em 2ª edição, DE PORTUGAL A MACAU, foi-me gentilmente oferecido pelo Sr. José Faria, aluno da Universidade Sénior Aprender a Viver/CES Pedras Rubras, na Maia.

António Bondoso
Jornalista
Junho de 2018.