2023-11-27


“Olhó Notícias à Terça…é o nº700!”

“Alguém compara a «escravatura e o trabalho forçado» nas roças em S. Tomé e Príncipe ao «Holocausto».”

                                                                   Cartaz da Exposição
 

E de S. Tomé e Príncipe ao Museu de Lamego, em Portugal…pode ir apenas a distância de um «clique»: nas teclas de um computador ou no botão de uma câmara fotográfica.

         E um bom ardina diria também:

«O sonho do petróleo…foi um pesadelo, porque fez STP parar no tempo»!

 

                                       O recente nº 680 sobre o Dia da Independência de STP

Este título, “desenhado” por mim, provavelmente adulterado – mesmo que de uma forma ligeira como hoje faz «escola» na maioria dos média (a minha ideia tem um propósito e não será assim tão grave) – e com base em palavras do Carlos Dias, o título, como dizia, está relacionado com uma «causa» do próprio: noticiar a sua terra natal, o país da sua paixão, que é São Tomé e Príncipe. E fá-lo, tem-no feito, com uma dedicação extrema, a cada semana, ano após ano, faça chuva ou faça sol no Equador. Esta semana atinge uma mítica marca com o nº 700 – setecentos! – do carinhoso e bem elaborado «Notícias à Terça». Para os são-tomenses, para os amigos de São Tomé e Príncipe, o que faz o Carlos é uma informação de proximidade, mesmo tendo em conta a distância física daquele país insular, quase, quase no «meio do mundo»! Para nós, que vamos lendo o «jornalinho» nas redes sociais e vamos sabendo como vai a «terra», qualquer pequena informação atinge o foro de uma grande notícia, lá, no coração de África.


                                                                          Carlos Dias 

Acontece que, para assinalar o feito, pedi ao Carlos que me respondesse, de forma breve mas sentida, a duas pequenas questões:  

* o cansaço do amor à causa (e à casa que é STP) continua a dar alegrias?

* Mesmo quando as notícias não correspondem ao gosto e ao sentido do nosso carinho?   

         A amabilidade e a sinceridade da resposta, é como segue:

“Em relação a STP sinto como um qualquer português, nascido numa aldeia de Trás-os-Montes,  por exemplo, sente pela sua aldeia por mais pequenina que seja e agora quase despovoada. O coração está sempre lá, sem cansaço, recordando os bons momentos e alguns menos bons. No fundo da minha consciência tenho causas e tenho pena que nada possa fazer por elas. A minha pequena experiência administrativa, ainda por cima em contexto colonial, não me dá experiência para indicar um caminho diferente. Mas sei que com pequenos pormenores às vezes podem dar-se passos de gigante...

Como eu gostaria que fossem diferentes as notícias. E poderão sê-lo? Quando o rendimento bruto é tão pequeno e se vê que não poderá ser maior sem uma grande alteração concreta, e não apenas em estudos e projetos abstratos do FMI, do PNUD e de ONGs e outros quejandos, poderá haver alteração? Turismo? Zona de serviços? O sonho do petróleo que viria resolver tudo foi um pesadelo, porque fez STP parar no tempo, não tendo "arrancado" logo de início. 

Porém, digo e sinto ainda alguma esperança.

Abraço”.

Carlos Dias.

         Em princípio, só me restaria endossar o abraço aos costumeiros leitores do Notícias à Terça (NT).

         Contudo, quis o destino que eu soubesse de uma exposição sobre as Ilhas de São Tomé e do Príncipe, patente no Museu de Lamego até Fevereiro de 2024, com um título tão curioso quanto interessante: «Melancolia Tropical ou a Ilha que perdeu o Equador”, da autoria de Daniel Blaufuks. E vai daí, meti-me ao caminho para a designada Cidade Monumental, por dois motivos, particularmente: primeiro, a curiosidade em ver e perceber a matéria do evento; em segundo lugar, depois de lido o texto de apresentação, tentar entender a razão de o autor ter feito aquela comparação. E fui. E vi e li. E fotografei. Sinceramente não me apareceu seja o que for em termos de novidade. Para mim e, naturalmente, para quem tem acompanhado e estudado o colonialismo, em todo o mundo. Não só o português, não só o de S. Tomé e Príncipe.

 

                                        Uma das «colagens» da exposição de Daniel Blaufuks

         O exagero de Blaufuks está, quanto a mim, neste parágrafo, referindo-se precisamente a STP: “considero o colonialismo português um outro tipo de holocausto, que durou séculos e que, tal como a Shoah, projecta a sua sombra muito para além da duração concreta do acontecimento em si (…)”.


                                                                        Outro quadro

         Acontece que Daniel Blaufuks teve recentemente uma residência artística em São Tomé e Príncipe, nas roças de cacau e café, resultando daí um convite da organização do Festival Literário – Textemunhos 2023, cuja 2ª edição teve por tema a [Des] Colonização.

         Surgiu, assim, a exposição «Melancolia Tropical», que “integra fotografia de grande formato, sublinhando o trabalho autoral, e perto de 100 obras em folhas A4, numa combinação de colagens com fotografias instantâneas, recortes de textos e imagens, oriundos de jornais e livros, textos manuscritos, espécies botânicas, selos postais, mapas e outros, que distribuídas pelas salas de exposição, criam constelações próprias, não só visuais, como também informativas, políticas e opinativas, promovendo, de modo sui generis, o debate e o questionamento sobre o nosso passado colonial”. Questionar, certamente…mas não exagerar. Socorrendo-me do Houaiss, holocausto (inicial minúscula) significa sacrifício entre os antigos hebreus; Holocausto (inicial maiúscula) tem a ver com o massacre nazista de milhões de judeus em campos de concentração.


                                                               Aspeto geral da exposição

         A «Roça» em STP foi, durante séculos, como que um «Estado dentro do Estado», cruel e criminoso em muitos casos, mas não há memória de ter chegado ao «extermínio». Nem no estudo de Francisco José Tenreiro.  

         É preciso cuidado com as palavras.  

António Bondoso

Nov. 2023