2015-08-31


ISTO ANDA EM MARÉ DE LUAS...

Fotos de António Bondoso


E SE A LUA NÃO EXISTISSE?

Se a Lua não existisse…
Qual seria da humanidade
Desafio maior em saber
O porquê além de nós?
Qual seria dos eternos namorados
O livro ou talvez a luz
De uma tão terna paixão?

Se a Lua não existisse…
Qual satélite siamês desta Terra em convulsão,
Teria morrido a aventura
De outras vidas a procura
Já não haveria a esperança
De estar ali e subir mais
Viajar além do tempo
E da nossa própria essência.


Se a Lua não existisse…
Toda em física qual satélite,
Seria a Ciência mais pobre
E menos nobre o romantismo.
As palavras menos doces
Dos amantes, dos poetas
Uma vida toda inteira
Pra inventar um aforismo
De tanta imaginação:
Se a Lua não existisse…quem lá poria a cabeça?

===(EM AGOSTO...A LUZ DO TEU ROSTO - 2014)


António Bondoso
Jornalista

2015-08-29

HOMENAGEM AOS SENTIDOS...

Foto de António Bondoso

MIRADOURO…

Por estradas e caminhos que são únicos
Cada curva que nos transporta até ao cume
Tem um ângulo diferente de sentidos.

Não há pedras mesmo iguais
Não há socalcos mesmo iguais
O ar que se respira é apenas semelhante
E tudo o que se vê
- o que a alma alcança
e o coração não cansa -   
Renova o espírito mais amante
Quando se percebe que todos os verdes são os tais.

E de Galafura
Eternamente lá no topo
Tudo nos parece ficção
Um poema sem palavras em que o tempo
Paira ou flutua
Como se a vida fosse ali
O alfa e o omega de uma paixão
Absoluta!

Cada árvore tem a sua identidade
Cada arbusto não revela a sua idade
Cada montanha é diferente
Da outra que se ergue mesmo ao lado
E o rio lá no fundo a cada curva
Nos ensina
Que tudo à nossa volta é relativo
E a cada passo é preciso ser prudente.

Paisagem imortal desde sempre
Cantada em Sol maior e sustenido
É corpo de jardim em céu azul
Humilde criação em ato único
Émulo de coisa alguma mundo fora!
=====
António Bondoso  

Foto de António Bondoso
António Bondoso
Jornalista
Agosto de 2015. 

2015-08-24

RIO DOURO...

Foto de António Bondoso

RIO DOURO

Nas margens alcantiladas
do rio
nasce gente
cresce vida
e a fama que vem do Vinho
do Douro, bem merecida.
Mágoas do rio
choradas
sofridas gotas de sol
fecundam rudes montanhas. 
===António Bondoso===
"Tons Dispersos" Pg.73

Capa sobre pintura do Mestre Zé Rodrigues
2003


2015-08-16

OLÁ...


Olá.

Neste anunciado dia
Sempre repito e redigo:
Que a vida te sorria para além do sofrimento
Contado por um momento
No meio de muita alegria.

E se o teu retrato falasse
Por certo diria ao meu
Que o tempo que o teu viveu
Foi tão feliz quanto o meu.
E mesmo que se enganasse
E se tudo, enfim, negasse
Nada seria mais certo
Que da verdade tão perto
Estaria o teu retrato.

Olá em dia de agosto
Neste ano que é de luz
Reafirmo que sou tão grato
Àquele que nos conduz.

Olá eu digo de novo
Minha querida companheira
Louvemos o que é eterno
Nem sempre da mesma maneira.

Olá.
Neste anunciado dia
Mesmo que só por instantes
Celebremos com vigor
Mais um passo do caminho
Palmilhado com muito amor!
====António Bondoso
16 de Agosto de 2015. 


António Bondoso


2015-08-10

CRÓNICAS COM DOIS PONTOS:

Foto de Romana Borja-Santos (Público)


DOIS PONTOS:

1 – Tempo de campanha triste: discutem-se cartazes (no auge da histeria) em vez de se debaterem ideias (serenamente).
Se os debates, sobretudo nas televisões, servem para confronto de ideias entre as diversas candidaturas…elas devem ser representadas pelos seus líderes. No caso de uma coligação, é natural que não faça muito sentido uma dupla representação. Compete à coligação decidir qual o melhor líder para determinado debate.

2 – Independentemente dos números e da sua contradição, quer seja em incêndios, em área ardida ou em número de bombeiros feridos…alguém viu a senhora ministra Anabela Rodrigues na chamada “frente de combate”? Não havia combustível para o carro oficial…ou a governante teve receio de que o fogo se propagasse ao seu vestido?
António Bondoso
Agosto de 2015


2015-08-04

80 ANOS DE RÁDIO EM PORTUGAL.

QUANDO SE ASSINALA A EFEMÉRIDE...AQUI VOS DEIXO UM EXCERTO DE UM DOS CAPÍTULOS DO MEU LIVRO (A PUBLICAR EM BREVE) HOMENAGEANDO A "ONDA CURTA" HUMILHADA E DESPREZADA POR ALGUNS DOS DONOS DISTO TUDO:

Foto de António Bondoso
“O aspecto que primeiro chama a atenção na especificidade da situação comunicativa criada pela rádio é a portatibilidade da sua recepção.”
                                      Michael Schiffer - 1991
                                                                                                    

 O TRANSISTOR DE ONDAS CURTAS


        Entrou no quarto, passo lento e seguro, a enfermeira ao lado como se fora o anjo da guarda. Augusto, com os olhos doridos de solidão, acompanhou o cortejo, ansioso, do seu reclinado ângulo de visão – a cama articulada do Instituto Português de Oncologia. De barbas, rosto tisnado e cansado pela longa madrugada de vigília, o médico fora chamado para “curar” a ansiedade de Augusto – desperto, preocupado e lamurioso como qualquer paciente em período pós-operatório. Mas a situação comportava um simples pormenor não despiciendo: Augusto, na véspera da alta médica, havia sido sujeito a uma evisceração – o que lhe prolongou doentiamente a sua passagem pelo hospital. Sobretudo ao nível do “quarto andar”, se considerarmos os pés como o rés-do-chão, os joelhos o primeiro andar, depois a anca e, a cabeça, o último piso. É aí, onde os sentidos se controlam, que – muitas vezes – tudo se complica. O desconforto, o incómodo e o isolamento da noite nem sempre sobreviviam à agitação verificada durante o dia, com visitas permanentes da família e de bons amigos que sempre lhe dispensaram muito carinho. O que lhe valia, aliviava as dores dos pensamentos repetidos, era uma espécie de santos – os médicos que seguiam os hóspedes forçados com atenção e competência – e os anjos permanentes de bata branca e sorriso fresco, as enfermeiras e os enfermeiros que aplicavam as receitas prescritas para ajudar a equilibrar o funcionamento do corpo e da alma. Os nomes pouco importam, Paulo, Veloso, Licínio, Luísa, Maria ou a angelical Elisabete – cuja visão bastava para curar o mais frágil acamado e a voz doce e suave fazia subir às nuvens, acompanhado de uma melodia harmoniosa executada ao piano, harpa, flauta ou violino. E na falta da Elisabete, o melómano Augusto socorria-se do seu pequeno aparelho de rádio – um sony com Onda Média, FM e sete bandas de Onda Curta que havia comprado no início da década de 1990 nos Estados Unidos da América, por ocasião de um trabalho de reportagem sobre as comemorações do Dia 10 de Junho, na comunidade portuguesa de Newark. Para além de melómano, era jornalista. De rádio precisamente! Na altura em que o médico entrou no quarto, o 21 do Edifício C, o pequeno aparelho de rádio estava pousado na mesinha de cabeceira, em off, depois de Augusto ter escutado o curto noticiário das 02h00 – um intercalar onde sobressaiu o resultado do jogo inaugural do Estádio do Dragão, no qual o F.C. do Porto bateu o Barcelona por 2-0. Portista de corpo inteiro, Augusto – internado – não pode participar na festa, apesar de ter adquirido o respectivo bilhete que lhe permitiu o estatuto de “sócio fundador” do novo estádio da Invicta, com direito a nome inscrito na parede de azulejos para o efeito idealizada pelo mestre Júlio Resende. Seria sempre um bom motivo de conversa mas, pelas circunstâncias, não foi o tema eleito.
        O médico aproximou-se da cama e indagou das razões que preocupavam Augusto: - então, o que se passa? Que forte razão para me chamar? A resposta surgiu numa voz fraca, parecendo ecoar na cabeça de Augusto, como se estivesse a sonhar ou a pairar no espaço sidério: - ansiedade, dificuldade em dormir …
--- isso não chega, dê-me uma razão mais forte.
--- a verdade é que estou ansiosamente bloqueado, não me deixam tomar o ansiolítico que há já muitos anos me acompanha, estou triste, longe da mulher e do filho, estou cansado – quero ir para casa…
--- e há-de ir, sr Augusto, mas não agora, a estas horas da noite. O dr Paulo, logo de manhã, virá vê-lo e… decidirá. Por agora, vai tomar o ansiolítico e dormirá certamente descansado.
        Enquanto falava, o olhar do médico pousou interessadamente no pequeno aparelho de rádio e atirou: - qual é a sua profissão? É militar?
--- Não, não sou militar, mas cumpri a minha quota-parte do Serviço. Há trinta anos que sou jornalista, desde sempre um homem da rádio.
--- Só podia ser, constatou o médico – Silva Louro, como estava escrito na placa pendurada na bata. Jornalista ou militar… E se fosse em África ou na América Latina, talvez guerrilheiro. Só eles usam rádios com bandas de onda curta.
--- Este é o rádio que me tem acompanhado sempre nas deslocações pelo país ou ao estrangeiro… e agora aqui no hospital! É uma companhia excelente. E é um bom hábito para um repórter, manter-se informado, ouvir, perceber o mundo e enquadrar o objecto da reportagem.  
         Silva Louro aprovou com um ligeiro aceno de cabeça e, depois, como que rebobinou o filme da sua vida em dois ou três curtíssimos segundos, para voltar à questão militar: - em que ano e onde esteve?
--- Assentei praça em Nova Lisboa, na Escola de Aplicação Militar, em Fevereiro de 1971. Sete meses na EAMA, no curso de sargentos milicianos.
--- Nova Lisboa? Também eu, mais tarde… mas passei para o outro lado, para o MPLA. Fui colega de escola de Agualusa, no Huambo e também daquele que viria a ser o médico pessoal de Savimbi. Depois da independência deu-se a guerra civil e seguimos caminhos diferentes.
--- Foi uma guerra muito dura!... E longa…
--- Sim, até demais. Um longo cansaço, que me fez desistir. Ainda se tentou fazer qualquer coisa e recordo-me até de construirmos um hospital de campanha nas traseiras da EAMA. O Quartel tinha sido arrasado. Mas depois foi terrível a indiferença dos dirigentes angolanos – nomeadamente do Presidente Eduardo dos Santos – para com a reivindicação de melhores condições de trabalho para os médicos. E isso fez-me perder a fé na luta, pelo que resolvi vir para Portugal.  
         Despediu-se, Augusto tomou o comprimido e em breve adormeceu. Não só pelo efeito do ansiolítico, mas por que a conversa com o médico o havia transportado a uma juventude longínqua, à África da sua criação, à África de longos horizontes, à África das matérias-primas cobiçadas, à África de todos os sonhos.      

Foto da Web
António Bondoso
Jornalista
Agosto 2015.

2015-08-03

O MAR QUE TEMOS VIAJADO JUNTOS…

Foto de Miguel Bondoso

O MAR QUE VIAJAMOS JUNTOS…(A Publicar)
                                        
E de repente aconteceu
Um clarão
Como se os dedos da tua mão
Fossem capazes
De incendiar
Todos os pensamentos
Feitos à dimensão de todo o mar!
====
António Bondoso ( A Publicar)
1974-2015
3 de Agosto.

António Bondoso
Jornalista


2015-08-02

À NAVE...O MEU SENTIR!


                        NAVE (A Publicar)
Há pedras...
Por cima de grutas cavernosas
Albergues frios e duros de quem chamou sua
A Liberdade.
Uma Nave de pedras
O mais alto relevo de uma serra com três nomes
Antigos e eternos a perder da idade.
======= Ant.Bondoso (A Publicar).

FOTOS DE ANTÓNIO BONDOSO



2015-08-01


SOBRE O DIA DA MULHER...AFRICANA.

MULHER AFRICANA…APENAS MULHER! (A Publicar)
Percebendo todos os condicionalismos, quantos constrangimentos e um sem número de particularidades, uma Mulher é sempre Mulher!

Africana por direito e condição
Mulher d’África
A preceito e de conceito
Ela transporta no peito um coração
Que bate sincopado
Normalizado
Como o de todas as mulheres
Neste mundo perturbado.
Mulher africana, do mundo mulher
Um colo perfeito
E um ventre do mundo
Mulher africana
Um ser de querer
Mulher africana
Apenas mulher!
==== António Bondoso (A Publicar)
António Bondoso
Jornalista
Julho de 2015