2022-02-24

 O que faz sentido, hoje, refletir. Do livro de Almada Negreiros A INVENÇÃO DO DIA CLARO – 1921. LIBERDADE!

O que faz sentido, hoje, refletir. Do livro de Almada Negreiros A INVENÇÃO DO DIA CLARO – 1921.

“LIBERDADE

Quando entrei na cidade fiquei sozinho no meio da multidão.

Em redor as portas estavam abertas. A multidão entrava naturalmente pelas portas abertas. Por cima das portas havia tabuletas onde estava colada aquela palavra que sobe – Liberdade!

Entrei por uma porta. Entrei como uma farpa!

Era uma ratoeira, Mãe! era uma ratoeira! Se eu tivesse entrado como uma agulha podia ter saído como uma agulha, mas entrei como uma farpa, fiz sangue verdadeiro, já não me esquece. Aconteceu exactamente. Dei um mau jeito nos rins por causa da ratoeira! Ainda me lembro da palavra – Liberdade!”

Almada Negreiros.

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Deixo apenas um pequeno vídeo de minha autoria, exatamente sobre a Liberdade, elaborado em 2013. 

https://youtu.be/jZKhvEiS7x8

António Bondoso

24 de Fevereiro de 2022


2022-02-23

AQUILINO RIBEIRO – DE SOUTOSA AO MUNDO…transporta o nome de Moimenta da Beira e a ideia das Terras do Demo. Figura maior das letras portuguesas, adjetivo já por si carregado de significativa e eterna homenagem, Aquilino Ribeiro – que o meu camarada Rodrigues Vaz também apresenta como «contador de estórias e repórter de memórias» - vai ser objeto de mais uma distinção, desta vez no coração da Vila.



Escrevi em 2008 que «Celebrar Aquilino…é tão simples como saciar a sede». Pois bem…mais uma ocasião se apresenta, já no próximo sábado, dia 26, quando Moimenta da Beira – e quem nos visita – passarem a apreciar o “Conjunto Escultórico” em justa homenagem ao «Mestre», em local privilegiado da renovada Praça do Município, mesmo na esquina entre o Largo do General Humberto Delgado e a Praceta Fernão Mergulhão. 



         O monumento, da autoria do escultor Daniel Castro Gamelas, partiu de uma ideia do então Presidente da Câmara – José Eduardo Ferreira – em conversa com o seu vice Francisco Cardia, ia entrando o ano de 2018, que marcava os 60 anos da publicação do livro de Aquilino QUANDO OS LOBOS UIVAM. Ouvi falar do conjunto escultórico pela primeira vez em 2021, em Soutosa, exatamente pela fala de Alexandre Cardia – no decorrer da campanha eleitoral autárquica. E a ideia cumpre-se agora, com Alexandre Cardia a lembrar que aderiu de imediato ao desafio “com o sentido de que essa seria uma tarefa de especial significado para mim, para cada um de nós, para os nossos munícipes, por todas as razões, pois representa também uma marca profunda que determina a vida de toda uma região designada pelo Mestre como “Terras do Demo”.

         O conjunto escultórico de Daniel Castro Gamelas e que foi “moldado” por Alcides Rodrigues – depois trabalhado e terminado, entre 2018 e 2021, numa empresa de fundição de Pontevedra, na Galiza – representa Aquilino e três lobos em tamanho natural. Para reter a ideia:  
Dimensões: consta de 4 peças de escultura em bronze. Uma com a altura da figura humana 180 cm; três figuras que representam lobos ibéricos com a dimensão aproximada de cada lobo de 70cm X 140/180cm.

         Moimenta da Beira, dia 26 pelas 15 horas.

António Bondoso 

(Com Francisco Cardia)

Fevereiro de 2022.

Deixo uma ligação para poderem visionar um pequeno slideshow sobre Aquilino 

e outros maiores de Moimenta da Beira: 

https://youtu.be/J_TfpEjCXio

https://youtu.be/J_TfpEjCXio


2022-02-22

ISTO SOU EU A PENSAR…

Neste «Dia do Pensamento», segundo a Agenda das Edições Esgotadas, não sei se haverá assim tantos a pensar. Sonhar talvez seja parecido, embora me pareça menos profundo.


Foto de A. Bondoso

         Dando sequência ao meu «pensar»…recordo que, em 2014, escrevi sobre a «diferença». Assim:

Se não entendermos e assumirmos que foi a diferença

Que fez de nós um grande povo,

Então...jamais aceitaremos o que é diferente!

         Já antes, em 2012, tinha chamado a atenção do que designei por «manipuladores»:

Se o destino quiser um dia presentear-me com um simples e simbólico galardão literário – mesmo que a título póstumo – que o faça tendo em conta apenas o valor real das palavras que traduzem o que penso, escrevo e digo. Nunca pelo significado que os “manipuladores” da essência – ou do tempo – lhe quiserem atribuir

         E depois, em 2015 e 2016, «pensei» poeticamente em duas versões de uma mesma «escuridão»:

“Mergulhei na escuridão.

E nem todas as luzes de todos os faróis do mundo

Me fazem afastar

Da tua costa rochosa”!

         Ligeiramente diferente numa segunda versão:

“Mergulhei na escuridão!

Mas tenho todas as luzes de todos os faróis do mundo

Para me guiarem

Pela tua costa rochosa”.

         Não querendo alongar mais, pois não sou narcisista, pretendo recuar ainda um pouco no tempo, mais precisamente a 2012, ao meu «ensaio/livro» sobre O PODER E O POEMA: 

ATÉ ONDE PODE VOAR O PENSAMENTO?

 

Até onde pode voar o pensamento?

As graciosas andorinhas não têm autonomia para alcançar o

infinito

Nem a envergadura das enormes e cruéis aves de rapina

É suficiente para ultrapassar essa missão impossível.

 

Mas o homem – qual estranho ser do instinto e do saber

Menospreza quantas vezes a paixão de sonhar

Sem amor pela beleza do voar das andorinhas

Sem respeito pela visão planada de abutres, condores,

milhafres ou falcões.

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O meu contributo «pensante». Apenas parte. Obrigado.

António Bondoso

22 de Fevereiro de 2022. 


 

2022-02-21

 

"DIA INTERNACIONAL DA LÍNGUA MATERNA”.

Foi proclamado pela UNESCO em 1999, com o objetivo de proteger e salvaguardar as línguas faladas em todo o mundo. Estima-se que existam mais de 7000 línguas em todo o planeta. No entanto, quase metade delas corre o risco de vir a desaparecer. A escolha deste dia 21 de Fevereiro teve origem na tragédia que ocorreu em Fevereiro de 1952, na cidade de Daca, no Bangladesh. Vários estudantes foram mortos pela polícia nessa data, durante uma manifestação pelo reconhecimento da sua língua - o bengalês - como um dos dois idiomas oficiais do então Paquistão.

         E, por isso, é pelas línguas que devemos ir. 

Recordo, a propósito, a intensidade desta ideia do Prof. Adriano Moreira: 
"...Em toda a parte, aquilo que avulta como menos vulnerável e como cimento mais forte, é realmente a língua". (...) E se houver capacidade e não faltar vontade, a língua é o veículo da cultura capaz de disputar o seu espaço e de o fazer crescer"!

         E é neste desiderato que devemos entender o espírito do espaço «lusófono», enquadrado na «instituição» CPLP, embora os horizontes das diásporas sejam mais vastos. Admitindo como verdadeira a ideia de que, quando o sonho se concretiza, deixa de haver utopia – continuemos a sonhar nesta tarefa de consolidar a lusofonia e a atuação da CPLP. Que o “não-lugar” que nos foi legado pelos Gregos vá deixando de ser paulatinamente o lugar que não existe, prolongando o sonho. Fixemo-nos no interior do que chamo “Trapézio dos Nove” e nos Mares que os unem, abraçando simultaneamente todas as diásporas. E todas as Línguas daqueles que partilham a nossa.

Composição de A. Bondoso

Mas para lá chegar, sabemos que é preciso mais empenho de Portugal, quer nessa perceção do outro – sua história e cultura – quer na expansão da Língua Portuguesa. Sem querer estender demasiado este meu texto, penso ser interessante e importante recordar uma «conversa» minha com a Historiadora Maria Manso, em 2015, na qual se criticam autoridades e se pede reforço do papel da Rádio e da Televisão públicas:

         «Embora esteja de acordo com o facto de a nossa política externa dever ter um pé na Europa e outro no Atlântico, a professora da Universidade de Évora considera que “deveríamos dedicar maior percentagem de atenção aos Países Lusófonos e às regiões que por questões culturais se mantêm/estiveram ligadas a Portugal. Somos europeus, mas somos sobretudo lusófonos. Na actual situação em que o País se encontra, necessitaríamos de desenvolver políticas de cooperação que possibilitassem o fortalecimento da CPLP e permitissem uma “menor dependência” de Portugal face às políticas europeias”. Maria de Deus Beites Manso, docente e investigadora nas áreas da Arqueologia e de Humanidades, vai estar no Porto na próxima na quinta-feira para falar da expansão da língua, da Lusofonia, da CPLP, e do reforço do papel da comunicação social do Estado.

          A propósito da palestra que vai proferir na Quinta da Bonjóia, a convite da AICEM – Associação do Idioma e das Culturas em Português, com sede no Porto – Maria Manso considera que, para a construção do Projeto da Lusofonia, a língua e os afetos são essenciais mas “também precisamos de desenvolver uma política que fortaleça as relações no âmbito do ensino (reconhecimento dos graus académicos, criar /aumentar - ou criar - os programas de mobilidade docente e discente…) , da investigação, etc na CPLP.  Para as regiões que não fazem parte da CPLP mas que tiveram ligações a Portugal devíamos criar políticas de cooperação que preservassem viva esta ligação cultural e linguística”.

         Recentemente, entrevistada no programa “Em Nome do Ouvinte”, da RDP, a propósito do encerramento das emissões em Onda Curta, o qual critica, Maria Manso afirma que “há uma sede de ouvir a língua portuguesa e que é preciso dar condições para que as pessoas se sintam ligadas à língua e à história de Portugal. Há quem se sinta português, mesmo não tendo a nacionalidade e, de alguma maneira, há mesmo quem se sinta abandonado por Portugal”.

         O Instituto Camões tem o seu papel importante e fundamental mas, na opinião de Maria Manso “não é suficiente o que se ensina numa universidade”. Por isso, diz, os meios de comunicação social “devem conseguir reforçar, dar mais condições para que as pessoas, ouvindo, possam treinar a língua e, ao mesmo tempo, ficar a conhecer a história e a cultura”.

         A internet ainda não chega a todo o lado, nomeadamente em África e na América do Sul, pelo que se justifica a existência do serviço da Onda Curta na RDP, à semelhança do que fazem outros países europeus, particularmente a Espanha. Contudo, refere, é necessário levar a cabo um estudo para melhor conhecer o público-alvo e que permita repensar a programação, sobretudo tendo em conta a grande heterogeneidade».

         É bom recordar que o número de falantes da língua portuguesa tem aumentado, estimando-se que, em 2050, atinja 350 milhões espalhados pelos cinco Continentes.

António Bondoso

Fevereiro de 2022.

 


 

2022-02-13

 

ALGUMAS FIGURAS DA MINHA VIDA!

Ó SÓCIO!

Como tenho vindo a escrever nos tempos mais recentes, há figuras de amigos que nos deixam marcas profundas. É o caso do Gonçalo de Faria Taveira Peixoto – conhecido que foi na «Rádio» simplesmente como NUNO FARIA. 



E aproveitando a conjugação circunstancial de, se ainda estivesse entre nós, ter podido celebrar ontem o seu 77º aniversário e assinalar, hoje, o Dia Mundial da Rádio, quero lembrar essa figura de um camarada completamente «desalinhado» e «dono» de uma semântica muito própria em que sobressaiam «imagens» ontológicas, a circunstância de cada um – embora integrado na equipa – a verbalização numérica de eventos oficiais/governamentais e que a todos tratava por «sócio», quando argumentava ou pretendia fazer valer a sua opinião.

Não esquecerei, nunca, a tradução inédita do título e/ou do «lead» que marcou uma época: - “seis ministros – seis – estiveram hoje no Porto”. Ao tempo, não foi nada fácil convencer os editores e a direção em Lisboa. Mas o Nuno Faria era assim. Surpresa atrás de surpresa. Contudo, e apesar de entrarmos muitas vezes em choque, não me recordo de alguma vez ter rejeitado as minhas observações. 



O Nuno Faria era Amigo. E foi meu Amigo ao longo dos anos, não só na Rádio. Também no aspeto social. Tanto, que ainda hoje mantenho contacto com a Graça, que foi sua mulher, e com os filhos. Com o Duarte já não estou há uns anos, mas a Rita ainda hoje me trata por «tio». Como «tios» eram, alguns dos mais chegados camaradas do pai.

Através dele «bebi» e fui cultivando a paixão pela Galiza, a Pátria Galega como dizia, e fui percebendo que as amizades, as grandes e verdadeiras, podem começar por um simples acto de desconfiança. Mas não morrem nunca! Num escrito de Dezembro de 2010, aquando do seu passamento, tive oportunidade de esclarecer a forma pouco ortodoxa como se processou o nosso «conhecimento», logo após a nacionalização da Rádio e com a «criação» da RDP. No final deste texto deixo a “ligação” para quem quiser recordar esses momentos. Que foram de grande «turbulência» no nosso processo de aprendizagem democrática. Mas que foram, igualmente, momentos de construção e de manutenção de amizades perenes. 


Ó sócio, diria ele hoje, a «Fenícia» (Lisboa) nunca entendeu o sentido das nossas «reivindicações». E por isso fomos perdendo muita da «força» que conseguimos conquistar, sobretudo na década de 1980 e nos primeiros anos da de 1990. Mas devo esclarecer que nunca esteve em causa qualquer tipo de obtenção de «poder» pela força. Apenas nos movia o exemplo do nosso trabalho numa Rádio em permanente transformação. O qual, no fundo, não deixava de traduzir a «força» económica e social de toda a região norte do país. 




E é assim, sócio! 77 anos de idade – 77 – terias completado ontem. Estejas onde estiveres, tem a certeza de que estamos juntos neste Dia Mundial da Rádio. Grato pela amizade, sempre, Nuno Faria.

António Bondoso

13 de Fevereiro de 2022.

O OUTRO TEXTO COMPLETO EM:

https://palavrasemviagem.blogspot.com/2010/12/volta-de-mim-e-do-mundo.html