2023-05-30

ENTRE O DISCURSO FUTEBOLEIRO DO PR E OS DISCURSOS DO ÓDIO DAS OPOSIÇÕES…alimenta-se a demagogia do «medo».

Transportar a conhecida «chicotada psicológica» do futebol para a atividade política pode não ser um bom princípio. As do futebol falham a maior parte das vezes…e apenas «sofrem» os adeptos de um clube. Pelo contrário, na atuação política, arriscar uma «chicotada» fora de tempo, pode prejudicar o país. Uma chicotada ponderada, entenda-se!


Daí, não perceber muito bem que o PR tenha convocado o CE para 6 de Julho, ainda a decorrer a CPI à TAP/Computador. Provavelmente para manter «viva» a chama que vai consumindo a atividade governativa em lume brando. Entretanto, esse papel vai ficando entregue às oposições populistas perfeitamente identificadas.

Contra todos os indicadores positivos do país, há muita gente inquieta, a esbracejar e a gritar. Percebemos Montenegro, depois do empurrão de CS, mas fica a indecisão do BE. Sempre em cima de Costa…mas dissolução do Parlamento – não! É preciso mais tempo para recuperar do trambolhão originado pela «coligação negativa» que pariu a anterior dissolução.

Voltando ao PR que, apesar de tudo, refreou o seu ímpeto de falar de todos e de qualquer coisa – e esse terrível vício de demitir ministros em direto nas TVs! – parece continuar com alguma indefinição, quer quanto às Instituições, quer quanto ao país. Por um lado diz não haver razões para «profetas da desgraça», mostrando mesmo algum realismo e otimismo, mas – de outra forma – vem com o chavão das mudanças. A mudança, em si, não deixa de ser positiva. O caso é que MRS coloca a fasquia em modo radical: - “Não mudam a bem, mudam a mal. Mas era preferível que mudassem a bem", referiu.



E sobre aquela outra frase "Quando o poder entra em descolagem com o povo, é o poder que muda", todos sabemos que esse poder é, de facto, do povo. Mas foi esse mesmo povo que, ainda há um ano, ofereceu uma maioria absoluta. Não deixa de ser algo «perigoso» confundir a «vontade popular» com algumas sondagens imprecisas, mesmo que baseadas em lamentáveis erros de dois ou três governantes e sinais de incompetência em alguns outros. É fundamental ter uma “CERTEZA ABSOLUTA” de que o POVO deseja a «mudança». As manifestações na rua são, claro, de protesto, mas todos sabemos a forma de as promover e alimentar. Somando contrariedades, do lado das oposições também tem havido erros e sinais de incompetência.

Se, como disse, o PR convocou o CE mais para «ouvir» do que outra coisa, será legítimo duvidar da eficácia do ato. Alguns «conselheiros» são até comentadores e muitos outros têm sido instados a pronunciar-se sobre as situações de tensão que se têm verificado e que os média transformam em repasto opíparo.

E não pense MRS comparar a situação portuguesa com a que se passou a viver em Espanha a partir de ontem. Isto é, não se sinta motivado pela atitude do 1ºM Pedro Sanchez. Lá, é ele o dono da jogada política. Aqui, vai ter que ser o PR. Terá coragem para tal? Costa vai esperando…e ele sabe esperar! À partida, tudo está contra ele. E não vai ter a vida facilitada até às eleições europeias – essas que, ao contrário de sempre, vão passar a ter significado político «nacional». 



Até lá, Mariana, por muita paixão que possa ter pela política com base no protesto, não faça do PS o seu inimigo público número um. Já perdeu no golpe anterior e, mesmo que possa vir a recuperar alguns votos à custa do desgaste do governo do PS, a sua «vitória» não passará por aí. Ela só virá a longo prazo, quando a direita e a sua extrema estiverem três ou quatro anos no poder. Não tenha medo e boa sorte!

António Bondoso

Maio de 2023. 




 

2023-05-26



AMÍLCAR CABRAL – a figura e o seu percurso – com novo episódio.

Hoje às 18.30, no auditório sul da Feira do Livro de Lisboa, vão ser apresentados «novos segmentos» para uma biografia mais completa de Amílcar Cabral.

A responsabilidade está a cargo da historiadora Ângela Coutinho e do escritor Filinto Elísio, da editora Rosa de Porcelana, na conjugação dos 50 anos do assassinato do líder africano e do centenário do seu nascimento que se perfila para 2024. 



         Há 10 anos, recordo, publicava eu «LUSOFONIA E CPLP – Desafios na Globalização», no qual destacava a ideia de Cabral sobre a importância da língua portuguesa: - “O [idioma] português é uma das melhores coisas que os portugueses nos deixaram”. 

Mas a «ideia» só se tornou mais clara, quando Paula Medeiros levou a citação mais longe, referindo uma publicação do próprio Cabral (1974):- “O português (língua) é uma das melhores coisas que os tugas nos deixaram, porque a língua não é a prova de nada mais, senão um instrumento para os homens se relacionarem uns com os outros, é um instrumento, um meio para falar, para exprimir as realidades da vida e do mundo”. 



         Seguindo a ideia, acrescentei eu que, desta frase de Amílcar Cabral, «também se pode extrair a ideia de que – não sendo a prova de nada mais – a língua pode não ser pertença, pode não derivar de uma relação afetiva e cultural. O que importa, é que ela seja um instrumento para chegar ao mundo. E esse, era sem dúvida um objetivo do seu Movimento de Libertação. Por isso e embora reconhecendo força e valor identitários ao crioulo, defendido pelos seus adversários internos, Cabral contrapunha a importância de uma língua de afirmação “universal” dizendo: - “Há muita coisa que não podemos dizer na nossa língua, mas há pessoas que querem que ponhamos de lado a língua portuguesa, porque nós somos africanos e não queremos a língua dos estrangeiros. Esses querem é avançar a sua cabeça, não é o seu povo que querem fazer avançar. Nós, Partido, se queremos levar para a frente o nosso povo, durante muito tempo ainda, para escrevermos, para avançarmos na ciência, a nossa língua tem que ser o português”.(...)». 



         Em 2012, por outro lado, já eu havia explorado uma outra faceta de Cabral, no livro O PODER E O POEMA, recuando ao ano de 1946 e à Seara Nova, onde ele dizia que “A Minha Poesia Sou Eu”. Era já o «outro lado» daquele a quem chamaram profeta, soldado, poeta – mas que se dizia apenas “um simples africano que quis saldar a sua dívida para com o seu povo e viver a sua época”.

         «Ama os Homens/ Solta teus poemas para todas as raças,/ Para todas as coisas./ Confunde-te comigo…».

Um registo meu, apenas, bebendo uma outra perspetiva nas palavras da São-Tomense Conceição Lima: 





António Bondoso

Maio de 2023. 










 

2023-05-19

NINGUÉM ESTÁ ACIMA DA ÉTICA...


 

Costuma dizer-se que ninguém está acima da Lei. Pois eu creio ser de idêntica relevância dizer que «ninguém está acima da ética».

         E se tem sido lamentável acompanhar alguns tristes episódios na esfera governamental, não deixa de ser menos verdade que também o PR tem desempenhado um triste papel na sequência de algumas intervenções menos felizes e muito pouco éticas quando, por exemplo, «demitiu» em direto nas televisões alguns membros do governo. Particularmente, quando se reúne todas as semanas com o 1ºM. E é isto que os comentadores e os analistas e os politólogos não têm coragem para dizer com todas as letras. De facto, nunca deixámos de ser um povo «presidencialista». Mesmo que o «presidente» se chamasse Oliveira Salazar!

         E mais lamentável do que todos os «pormenores» de Galamba e &, gostem uns e outros não, é o «desplante» do Montenegro, que vem falar de moral e de ética…quando é simplesmente VERGONHOSO o caso que o envolve na FUGA AO FISCO. Eu pago IMI.

Passem bem.



António Bondoso.

Maio de 2023. 


 

2023-05-03

Todos conhecem a história. Creio.

O Gigante e o Anão corcunda.

Pode aplicar-se à «política», como temos visto. 



Dizem que António Costa enfrentou o PR e que terá iniciado um «braço de ferro» entre os dois órgãos de soberania.

Eu, sinceramente, creio que o 1º M se limitou a dizer basta às permanentes humilhações de que tem vindo a ser alvo, depois de ter conquistado uma maioria absoluta que – na expetativa do PR – não foi nada animadora.

Demissões de alguns ministros em direto nos média, chantagem permanente com o fantasma da dissolução da AR, ameaças veladas a outros ministros dizendo «eu não lhe perdoo», até a imagem de não estar no «bolso» de ninguém.

Perante isto, creio que António Costa terá mesmo feito um favor ao PR, colocando-o à vontade para cumprir o seu desígnio.

Tão simples como isto.

O governo tem as contas certas, a dívida desceu, a inflação baixou, a economia subiu, as pensões vão ser aumentadas, aumentos intercalares para amenizar os custos de uma conjuntura internacional (guerras e crises humanitárias, depois de uma pandemia terrível) que não é favorável.

Perante isto, o PR deve decidir.

Não sei se estará confortável, pois o outro, da oposição a ele mesmo, não consegue descolar, ficando pelo «NIM». Ele bem repetiu várias vezes um tímido «sim». Mas foi tão tímido que não disse nada de novo. Como nada de novo tem para apresentar. Nem ideias nem projetos. Esse mesmo, que foi eleito no seu partido com as «calças na mão» e que ainda não conseguiu puxá-las até ao umbigo e apertar o cinto…de segurança.

Senhor PR…tenha a «palavra»! Eu estou pronto. 



António Bondoso

3 de Abril de 2023. 


 

2023-05-01

 

De maio a maio corre o tempo.

Por isso…como digo no Poema, um Maio mais forte!



De maio a maio corre o tempo.

Andam dias e semanas, voam meses voam anos, viajam minutos nas horas em ritmo de foguetão, passam figuras de proa bem junto do meu portão e não dizem que é perdido todo o tempo deste mundo.

Ganha-se e perde-se na corrida desta vida, borboletas elegantes em maratonas de flores transpiradas, esforço permanente das abelhas construtoras, cadenciado, de coração e sentimento estendido. Mas numa nave espacial o tempo parece suspenso. Talvez seja o tempo certo do tempo. Ou o tempo de uma criança pleno de imaginação, criativo quanto baste em tantas viagens no tempo.

O tempo salta como uma lebre, mais alto e mais longe, assim como no triplo salto do tempo no atletismo. O tempo ajusta-se aos capazes e impõe-se aos idiotas.

Que tempo este que vai passando por nós!

Por isso…como digo no Poema, um Maio mais forte!

António Bondoso                                                                                    

Maio de 2023.   



MAIO MAIS FORTE.

 

De Maio florido se escreve

Em Maio de luta se fala

É livre quem não se cala

Quem não teme quem não deve.

 

Mas custa tanto a liberdade

Percebê-la, defendê-la

Em exercício diário...

Que às vezes fico sem forças

E desistir é tão perto.

 

Mas em Maio faz-se Abril

Julho, Novembro ou Dezembro,

Cada mês em cada dia

Traz repetida energia

E novas ideias por certo.

 

De Maio se diz também

Que há um sentimento mais forte.

  

Feminino, delicado

Maduro Maio Materno

De canseiras, de trabalho

Se reconhece no tempo.

E seja no sul ou a norte

Há sempre uma estrada diferente

E uma estrela marcante

Que é mãe...de tantas outras que brilham.

=========== António Bondoso

O RECOMEÇO (Em Abril). 2014. Edições Esgotadas. Pg.55. 




António Bondoso                                                                                    

Maio de 2023.