2012-09-29


À VOLTA DE MIM E DO MUNDO......................................


                                   Foto de António Bondoso...Escultura de Aureliano de Aguiar



O Mundo Amanhã – Futuro Confiável?

“Entrámos numa época de tempo tríbulo, em que a sobrevivência dos conceitos clássicos do passado tende para puramente virtual; em que o presente não encontrou categorias racionalizantes do processo que por isso se desenha anárquico; em que o futuro está nimbado de incerteza, refractário a ser apreendido por uma futurologia confiável”.
                                                                                                                                                    Adriano Moreira (2009)

BREVE INTRODUÇÃO
             
            No fundo, a interrogação que aqui se pretende colocar em destaque – partindo do cepticismo e da incerteza de Adriano Moreira – é saber até que ponto estará o mundo preparado e decidido a perceber a problematização da mudança de que nos fala Vitorino Magalhães Godinho. Sabendo o que se passou ontem e percebendo o que acontece hoje, seremos capazes de visionar um amanhã confiável? Seremos capazes de instituir uma Nova Ordem Mundial?
             
I
O QUE MUDOU – E COMO – ENTRE O ONTEM E O HOJE ?
“A globalização competitiva está a ter consequências estruturais de uma dimensão ainda não conhecida. Sabemos todos que estamos num mundo novo. Não sabemos normalmente interpretá-lo nem conhecemos as suas consequências”.
                                                                                                                                                         Neto da Silva (2007)

            Mudam-se os tempos mudam-se as vontades, cantou Camões – todo o mundo é composto de mudança, cantou Gedeão. Todos sabemos que tudo muda a cada instante. E se muitas vezes, de imediato, não sabemos interpretar a mudança – ela aparece-nos pouco depois quase como evidente, mercê sobretudo da conjugação que a disciplina de Relações Internacionais faz dos acontecimentos e da participação, neles, dos diversos actores da cena internacional.
            Vitorino Magalhães Godinho (2010) diz que “Entre a Belle Époque e o ocaso do século ressaltam os contrastes, traçados por mudanças, brutais umas, insidiosas e de longa afirmação, outras”. Referindo-se ao século XX, o autor classifica-o como de contrastes, de violência e de baldões – mas também elenca uma série de benéficas inovações, destacando mesmo o que chama de “uma das decisivas conquistas da Humanidade”, as pensões de reforma!
            Estonteante mudança, por um lado – mas, simultaneamente por outro, uma mudança sem pressa e até estabilizadora em determinados períodos de finais do século XIX e princípios do século XX. Depois, o fim da II Guerra Mundial passou a ser um dos marcos da mudança, mas a Liberdade só ganharia novo alento com a queda do Muro em 1989. Seria a economia, à escala global, a sentir as grandes mudanças. O Estado e o Livre Mercado em blocos opostos, com as ideias ultraliberais de Reagan, Thatcher e Milton Friedman a marcarem o compasso no Ocidente, onde já pontificavam a Informática e a revolução nas comunicações com a Internet (depois da Rádio e da Televisão).
            Entretanto, aparecem algumas contradições entre mercado e capitalismo, dizendo-se que o capitalismo – para Fernand Braudel – “supõe como pilar a economia de mercado, que não se deixa por ele penetrar, permanecendo o sistema da empresa livre e da livre concorrência, enquanto aquele é o sistema dos monopólios e da desigualdade, entre conjuntos e no interior de cada conjunto, onde se distinguem círculos concêntricos (periferias) em redor de um ou dois centros. Assim, não faria sentido falar de capitalismo como economia de mercado, embora com esta coexista, como pode coexistir com outros sistemas”. Desfazendo dúvidas, Godinho entende que “O capitalismo brota no seio da economia de mercado, mas não se identifica com ela, porque é desde a origem um sistema de monopólios e desigualizador”. Não se identifica mas dela se apropriou.
            E depois substituiu-se a solidariedade pela caridade e mercantilizou-se a saúde e o desporto: “Os jogadores compram-se e vendem-se, as suas camisolas são cartazes de propaganda (...); os capitalistas disputam-se a propriedade dos clubes, em busca de prestígio – o futebol tornou-se universal, exalta multidões na China e no Japão, multiplica campeonatos de chorudos proventos e ocasiões de outras actividades lucrativas (até prostituição de luxo). Onde pára o espírito desportivo? O amor da camisola é fugaz, como tende a sê-lo o amor na relação conjugal”.
            E as mudanças sucedem-se. Ao lado de avanços na Ciência e na Tecnologia o rótulo do tráfico de armas e de drogas, excesso de inovação que nem sempre significa desenvolvimento; um descontrolado aumento da produção, para justificar o supérfluo em vez do necessário – obedecendo às leis da publicidade e do marketing. A “obsolescência” é a trave mestra do funcionamento económico hoje em dia.
            E com as mudanças sucederam-se as crises: 1973, 1987, 1993, 1997/98, 2001/03. Nesta última, a Argentina declarou falência! Agora, foi a vez da Islândia.[1]
            A crise actual? – pergunta Vitorino Magalhães Godinho – não tem paralelo nos três quartos de século precedentes: “Todavia ninguém a previu, ninguém a viu chegar, alguns começaram a suspeitar quando já estava instalada”. Ela é desestruturante e só se poderá resolver a longo prazo.
            As tempestades económicas, à semelhança das da Natureza, vêm e vão – escreve Vince Cable (2009). “Não podem ser abolidas. Mas, tal como os furacões e tufões, podem ser antecipadas e preparadas, e uma resposta de emergência bem coordenada, envolvendo uma coopreação internacional, pode atenuar a miséria. As tempestades também testam a solidez dos navios do Estado. Há alguns anos que a frota tem estado a enfrentar uma certa ondulação e a fazer progressos notáveis. Mas as grandes vagas já estão a expor algumas das suas fraquezas. O SS Britannia, considerado inafundável, está a meter água, e o enorme navio-tanque USA está a adernar visivelmente. Os passageiros e as tripulações estão a entrar em pânico e repararam que a maior parte dos salva-vidas estão reservados para a 1ª classe. Não se sabe ao certo quantos navios acabarão por chegar ao porto em bom estado depois da tempestade”.
            É um facto que vivemos na obsessão da segurança e numa civilização do risco; também a Democracia está em crise faltando ideais aos partidos; está na moda a ideia de menos Estado –melhor Estado; existe uma grande contradição entre o pensamento da Igreja Católica e o mundo moderno; a memória apaga-se, ignora-se o passado, dispensa-se a investigação histórica. A História não seduz e – escreve Vitorino Magalhães Godinho – “O inquietante é ter sido pràticamente expulsa da economia e das outras ciências humanas (...)”.
            Há também o fascínio dos números e a precisão dos cálculos. Que depois são corrigidos, apesar de continuarem a dar confiança: “No futebol já não interessa o espectáculo, mas o quadro com o número de remates, faltas cometidas, etc.; e também ficamos a saber a velocidade a que a bola entrou na balisa, quantos quilómetros correu um jogador.
            Apesar de tudo isso, o Professor não deixa de manifestar esperança em alguns remédios. Por exemplo, libertar a economia das garras da especulação financeira; fechar todos os off-shores; reorganizar o Estado, restituindo-lhe funções económicas; ousar o planeamento; ressuscitar o mercado; renunciar à obsessão de reduzir a mão-de-obra e não nos deixarmos enredar na mudança estéril: “Para quê a digitalização da televisão, se o seu problema fundamental é o da qualidade dos programas, a intoxicação publicitária, o desempenho aflitivo de entrevistadores?”
            Com uma pequena “ajuda” de Vince Cable – é mais ou menos assim que Vitorino Magalhães Godinho vê o processo da mudança entre o mundo de ontem e de hoje. E amanhã? – pergunta. Não sei – responde.

II
UM FUTURO CONFIÁVEL?
“A capacidade de projectar o futuro será cada vez mais importante para gerir, controlar e procurar minimizar os riscos sociais, tecnológicos e ambientais que se irão avolumar ao longo do século XXI (...). Finalmente é também necessário aceitar a inevitável incerteza inerente às tentativas de projectar o futuro”.
                                                                                                                                              Filipe Duarte Santos (2007)
            Do “não sei” de Vitorino Magalhães Godinho à “inevitável incerteza” de Filipe Duarte Santos – quanto ao amanhã – não existe qualquer passo desencontrado. Talvez apenas a diferença nos discursos de um Historiador e de um catedrático de Física – acentuada eventualmente pelo lapso temporal na publicação das obras, 2010/2007. A primeira tem presente a actual crise, concluindo Vitorino Magalhães Godinho que “É possível que, baixada a febre mas não debelado o mal, voltemos aos carris do mundo de finais do século XX e início do XXI. A crise de excepcional gravidade que atravessamos poderá não passar de uma oportunidade perdida, poderia ser uma oportunidade para mudar de rumo. Mas seria necessária coragem e lucidez – que não se encontram à venda nos supermercados, essas catedrais dos novos tempos”.
            Quase premonitória esta visão de Magalhães Godinho. Baixou a febre mas o mal parece não estar ainda debelado. De acordo com o Director Geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) – Dominique Strauss-Kahn – a recuperação global está a acontecer de forma mais rápida do que se previa inicialmente, apesar das dúvidas que os mercados financeiros apresentam. Pode recordar-se, a propósito, um dos remédios recomendados pelo Professor: libertar a economia das garras da especulação financeira.
            Relativamente à segunda obra – de Filipe Duarte Santos – a visão pessimista abrange um horizonte temporal muito mais vasto: “A coexistência de valores contraditórios associados ao actual modelo dominante de desenvolvimento tende a gerar incerteza e alguma ansiedade. O futuro foi e será sempre incerto mas, hoje em dia, a incerteza envolve os riscos altamente complexos que resultam de desigualdades de desenvolvimento entre países, da insegurança e conflitualidade sob formas cada vez mais diversas e perigosas, e ainda de vários problemas ambientais graves”. Por isso, acrescenta, “são cada vez mais os que procuram encontrar novas éticas ambientais e novos paradigmas de governação capazes de nos conduzir à sustentabilidade do desenvolvimento”.
            Como refere Neto da Silva (2007) – “Estamos, pela primeira vez na História da Humanidade, numa encruzilhada. De facto, se continuarmos com o crescimento que conhecemos nos últimos séculos, o Planeta deixará de ter condições para que o Homem nele viva”.
            É o crescimento de que nos fala ainda Vitorino Magalhães Godinho ao salientar a nova (velha?) ideologia, da qual se deve distinguir o conceito de desenvolvimento: “As nações avançam em pelotão, as de trás procuram recuperar o atraso (de novo recuperar o atraso). A curva do sempre sacrossanto PIB revelaria a recuperação conseguida e o prosseguir da maratona por todos. Confiança imerecida nesse indicador – o Nobel economista Joseph Stiglitz dirige estudos para forjar indicadores mais fiáveis”. Tudo isto à margem, ou mesmo à custa, do direito fundamental que é a inviolável dignidade da pessoa humana? “Seria mais pertinente ter em conta o salário mínimo como indicador, e melhor ainda uma bateria de indicadores (fundação e extinção de empresas, evolução das bolsas, curvas de preços e salários, etc.)”.
            Mas os estudos podem, ainda e de novo, não ser fiáveis ou adaptáveis. E há que ter em conta uma decisiva questão: o planeta é finito.
            Por isso é que Neto da Silva acrescenta que “Eficiência e Competitividade cegas destruirão as hipóteses de vida sobre a Terra. Por isso, a ideologia da globalização competitiva, para ter sucesso, como é desejável, tem que se basear em eficiência e competitividade compatíveis com um desenvolvimento que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. Uma tal visão do progresso liga, de forma interdependente, desenvolvimento económico, protecção do ambiente e justiça social”.
            Sinónimo de Desenvolvimento Sustentável?

CONCLUSÃO

            Depois de todas as dúvidas apresentadas e tendo em conta a “inevitável incerteza” ao projectar o futuro, não será fácil – quando não, mesmo impossível – apresentar argumentos que possam indicar um futuro confiável.
            Depende de nós todos. E da nossa capacidade para entender a inevitabilidade de uma solidariedade intergeracional. Sem ela – diz Filipe Duarte Santos – “iremos construir um mundo mais instável, inseguro, conflituoso, iníquo e injusto. As opções e os compromissos irão tornar-se cada vez mais difíceis de assumir”. 
            Assim, é urgente a instituição – não basta só a procura – de uma nova Ordem Mundial baseada nessa solidariedade. Intergeracional e interestatal – ou melhor, “interespacial”. Como escreve Adriano Moreira, “O reequilíbrio internacional aconselha por isso a olhar mais para os grandes espaços e para os Estados continentes, do que para o pesado tecido de Estados soberanos, doutrinalmente iguais”.
            E voltar a uma ONU onde todos falem com todos, “O que exige a reformulação da Carta escrita por ocidentais, para fazer convergir na leitura do texto as áreas culturais que ganharam finalmente a voz própria. E reconstruir um direito internacional que tenha como premissa a Declaração Universal dos Direitos do Homem, fundada na convicção generalizada da sociedade civil transfronteiriça, de que a dignidade de cada homem não é questionável”.
----------António Bondoso, 2010. (Revisto em 2012).


[1] Entretanto...aparentemente ultrapassada!

2012-09-24


À VOLTA DE MIM E DO MUNDO...


Escultura de Aureliano de Aguiar, fotografada por António Bondoso na Expodemo2012, em Moimenta da Beira.


                      E QUE...

Que desçam os Deuses das guerras
Que apareçam os rostos dos heróis mortos,
Que viajem os Deuses dos amores
Que venham os pintores dos anjos
E os escritores de romances fracassados.
Que ressuscitem compositores da grande música
Que se elevem os poetas ao Olimpo
Que se ergam manifestos aos poderes
Que possam inda hoje qualquer mando
E que pensem que o poder...é já não ser!

Que possamos sonhar ainda o amanhã
E que os dias nos prolonguem todo o êxtase.
========AB. 2012
(A publicar)

2012-09-14


À VOLTA DE MIM E DO MUNDO. 

São 30 manifestações 30 ! 
Isto não é apenas e só "opinião pública" sr 1ºM. ISTO É O POVO EM LUTA. 


E, se me permitem, dou o meu contributo para o "discurso" das manifestações, apresentando alguns "slogans": 

*** Se a Troika não tem alma...não nos peça pra ter calma!!!!

*** O Passos foi na passada... pra nos meter nesta alhada !!!

*** Se o governo está com medo... chame o Pinheiro Azevedo!!!

*** Passos  anota... o Povo está sem nota!!!

*** Acorda Cavaco... o Povo está sem taco!!!

*** Já chega de falar na “herança”... só os ricos têm pança !!!

*** O Gaspar é um artista...é po-lo a comer alpista!!!

*** Só o Povo a pagar...Não vale senhor Gaspar!!!

*** Orçamento violento...é governo sem Talento!!!

*** Roubar os reformados... é fazer mais desgraçados!!!

*** Tantos jovens sem trabalho... e o Passos no borralho!!!

*** Relvas, Passos e Gaspar... na rua, ponham-se a andar!!!

*** Já chega de incompetência... já não temos paciência!!!



Depois de Cavaco Silva ter cancelado uma visita a uma escola em Lisboa, por causa de manifestantes jovens... eis que o MEDO se repete. Agora, em Vila do Conde, no 80º aniversário da Imperial, foi a vez de Passos Coelho entrar ...pelas traseiras. Triste e preocupante num país que se diz "democrático". 
Se não se deve governar para a "opinião pública"... é bem mais certo que não se deve governar "contra o Povo"!



QUALQUER SEMELHANÇA...É PURA COINCIDÊNCIA. 


UMA DUPLA...INFALÍVEL!


2012-09-12


À VOLTA DE MIM E DO MUNDO...e DE VEZ EM QUANDO!

Como escrevi há tempos, Celebrar Aquilino...é tão simples como saciar a sede!

Vai daí, a notícia que se segue é "ouro sobre azul"!



A Fundação Aquilino Ribeiro (FAR), em Soutosa, Moimenta da Beira, comemora, esta quinta-feira à noite, 13 de Setembro, os 127 anos do nascimento do escritor. A sessão de abertura, pelo Conselho de Administração da FAR, está marcada para as 21h30, e o programa inclui o lançamento do livro “Aquilino Ribeiro: Evolução do Homem Republicano”, de Celina Arroz (22h00); um momento musical (23h00) e um Demo de Honra a fechar.
A obra de Celina Arroz revisita o percurso de Aquilino, desde a sua adolescência e juventude, até se tornar um republicano convicto, e a partida para Paris após o regicídio em Lisboa, no dia 1 de Fevereiro de 1908.

Para quem admira e segue - ou procura seguir - o Mestre Aquilino, a obra é esperada com expectativa. Particularmente na esperança de ter acesso a novas informações.
Numa tentativa de aumentar essa focagem, recomendo uma breve leitura de "PÁGINAS DO EXÍLIO", de Jorge Reis e com ilustrações de Leal da Câmara - publicadas em 2 volumes pela VEGA, em 1988.


O percurso que interessa sobretudo reter, começa mais ou menos com a sua chegada a Lisboa, com 21 anos de idade, para ganhar a vida na escrita. Ao mesmo tempo que entra no corpo redactorial de A Vanguarda, adere a um "canteiro" da Carbonária. Depois de uma explosão no quarto onde se hospedava, é preso, em 1907, mas consegue evadir-se em Janeiro do ano seguinte. Acontece o Regicídio em 1 de Fevereiro de 1908 e, finalmente, vai para Paris a 31 de Maio, nas condições assim descritas por Jorge Reis, no 1º volume das Páginas do exílio:








Parece que só a guerra o obriga a regressar a um país onde sabe não haver arte, nem literatura, nem moral científica. E Aquilino diz mesmo "Nós temos muitos doutores, muitos literatos, nuitos conferentes, mas ai!" (...) de nenhum deles pinga "verdadeira luz".
E, de acordo com Jorge Reis, esses primeiros seis anos de exílio vão ser cruciais para a sua carreira de escritor - o que sempre desejou ser !




E há um novo trajecto que se inicia com as funções de professor no Liceu Camões, em Lisboa, no ano de 1915 - funções que viria a cessar em 1918, quando publica a Via Sinuosa. Era o tempo conturbado de Sidónio Pais, da Monarquia do Norte, da criação do Partido Comunista Português e da chamada "Noite Sangrenta", em 1921. Já havia publicado Terras do Demo, em 1919, e depois Estrada de Santiago, o Romance da Raposa (1924), Andam Faunos pelos Bosques - 1926 - o ano do golpe militar de Gomes da Costa, em 28 de Maio. A nova ditadura depois da de João Franco, origina um movimento militar republicano no Porto e em Lisboa, acontecendo que Aquilino toma parte no golpe militar de 7 de Fevereiro de 1927 contra a ditadura. Perseguido, refugia-se na Beira, volta a Paris e acompanha os últimos momentos da primeira mulher em Soutosa. Participa na tentativa de levantamento do Regimento de Pinhel. De novo é preso, novamente se evade.Segundo casamento em Paris. Seguem-se Baionne, Vigo e Tui. E em 1932 regressa semi-clandestino a Portugal. É só conferir nos dados nestas páginas do 2º Vol de Jorge Reis:





Depois vem a II Guerra Mundial, que o Mestre já "percebe" em 1934, quando publica o Diário "É a Guerra" e o caderno dum viajante "Alemanha Ensanguentada".
É um percurso bem mais conhecido e definido e sobre o qual não posso deixar de salientar alguns quadros plasmados no 2º volume  das Páginas do exílio , escritos datados de Março de 1988:




António Bondoso, 12 de Setembro de 2012.








2012-09-10

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO...e DE VEZ EM QUANDO !

Foi a 16 de Setembro de 1989. A notícia, acima, é do Correio Beirão de 23 de Setembro desse ano.

Já lá vão 23 anos.
Uma efeméride a celebrar, sem dúvida, pese embora não ser um número redondo - 25 sempre seria um quarto de século. Com mais significado. 

O importante é não deixar morrer o "movimento" que levou às Rádios Locais, mesmo sabendo as contrariedades, os defeitos, as habilidades, os erros que foram sendo cometidos. 

Sobretudo, não deixar de lutar. No sentido de preservar e, principalmente, de melhorar os projectos. E isso... só se consegue estando próximo das pessoas. Não apenas "dizendo" ! Fazendo, praticando. A música é importante, mas a palavra é essencial. Na medida certa... às horas ou aos minutos. Em notícia, em comentário, em reportagem, em prosa, em poesia !





A Rádio, para mim, prossegue sendo uma guitarra freneticamente manipulada por Jimmy Hendrix ou docemente acariciada por BB King, das quais podem sair notas de um afro-americano rock de Harlem ou de um afro-americano blues a caminho de Memphis – onde já destruíram a magia da Rua Beale. A rádio e a música de sentimento, a rádio e a voz de protesto, a rádio da memória escrava, a rádio da sensação libertadora.
A Rádio, para mim, vai sendo a memória da magia do microfone, a magia dos sons, a magia do que fica para além do alcance da imaginação, a magia que permanece no estúdio, no “pick-up” que roda em 45 rotações a voz de Franck Sinatra ou um LP/33 de Maria Bethânia, a magia da “fita” onde se gravaram as impressões de uma conversa amena entre Igrejas Caeiro e Aquilino Ribeiro ou entre Fernando Pessa e Almada Negreiros, a magia do “cartucho” onde se alinhavam spots publicitários anunciando as virtudes da brancura do skip ou apelando à presença na Grande Noite do Fado no Coliseu dos Recreios.
E a magia da distância...que a onda curta (agora tão maltratada pelo governo português) e o transistor resolvem. 
Como dizia o publicitário Bob Schulberg em 1989 – o ano da queda de mitos e muros – “ a televisão não é ruim, mas a Rádio é mágica. Se a televisão tivesse sido inventada antes, a chegada da radiodifusão teria feito as pessoas pensarem:- que maravilhoso que é a Rádio! É como a televisão, só que nem é preciso olhar!”. 
====== António Bondoso.

2012-09-08


À VOLTA DE MIM E DO MUNDO.... e .... DE VEZ EM QUANDO !





UMA CRÓNICA DE FIM DE VERÃO... A FAZER LEMBRAR OUTRAS PRIMAVERAS !
A propósito do VIII Encontro dos Antigos Alunos do Externato Infante D.Henrique – Moimenta da Beira – que vai ter lugar a 15 de Setembro. 




1962 – 2012.
Foi há cinquenta anos!
Maio de 68 ainda vinha longe, mas estávamos em plena “crise académica” em Portugal, em finais de Março de 1962, tendo como cenário a situação já de guerra em Angola.
O Dia do Estudante, que era uso comemorar-se a 25 de Novembro (entre 1921 e 1961 – tendo como origem a “Tomada da Bastilha”, nome que em Coimbra se deu à tomada do Clube das Lentes, que eram as instalações dos professores), quis ser antecipado pelos estudantes da Academia de Lisboa para o dia 24 de Março de 1962, mesmo até à margem das “conversações” com as academias de Coimbra e Porto. E esse ficaria, definitivamente, o Dia do Estudante.
Aqui, socorro-me de um texto sintético publicado no blogue de “manuelgrilo” para se perceber a sucessão de acontecimentos: “E, mesmo sem autorização do Ministério da Educação Nacional, as comemorações iniciaram-se a 24 de Março de 1962. O regime respondeu com a sua brutalidade habitual. A cantina foi encerrada e a Cidade Universitária invadida pela polícia de choque, ignorando a autonomia universitária. Estudantes foram espancados e presos, desencadeando uma reacção de repúdio que levou a que fosse decretado o luto académico e a greve às aulas.
Marcelo Caetano era Reitor da Universidade de Lisboa e mediou uma solução negociada para o problema. Os estudantes voltavam às aulas, mas realizar-se-ia um segundo Dia do Estudante nos dias 7 e 8 de Abril. Assim fizeram os estudantes mas, chegada essa data, o Ministério voltou a proibir as comemorações. O Reitor sentiu-se desautorizado e demitiu-se. O luto académico foi reposto e os estudantes desceram do Campo Grande ao Ministério (então no Campo Mártires da Pátria) ao som do grito "Autonomia!".
A agitação continuou até ao fim desse ano lectivo, continuando a greve às aulas e repetindo-se confrontos entre estudantes e polícia em Lisboa, Porto e Coimbra. Em resposta, o Governo, demonstrando a sua habitual inflexibilidade, aprovou um decreto-lei que permitia ao Ministro da Educação proceder disciplinarmente contra os estudantes. Aplicando esses novos poderes, os dirigentes associativos foram suspensos e inúmeros estudantes presos. http://www.manuelgrilo.com/rui/artigos/crise.html “.                                   
***** MOIMENTA DA BEIRA – SINOS A REBATE !
É nesse clima de agitação, não apenas dos estudantes,  que a população de Moimenta da Beira responde ao apelo do toque dos sinos a rebate, logo pela manhã de 2 de Abril de 1962. E todos correm para o Externato – estava ali o motivo da agitação. 





Não os estudantes contra os professores; certamente não contra o Ministério, nem  eventualmente contra a sua “política”; não é certo que houvesse alguma ligação à contestação universitária; e também não é certo que o protesto tivesse motivações políticas. É essa, pelo menos, a ideia de Rui Eduardo Alves – na época com 14 anos de idade. Se as houve, como admite Helena Dias  (http://inverno-em-lisboa.blogspot.pt/2008_05_01_archive.html  )   citando inclusive José Lucas – “Não podíamos andar nas ruas em grupos de mais de duas pessoas” – essas ter-se-ão verificado na sequência dos acontecimentos: “A PIDE andou em Moimenta da Beira a interrogar os contestatários que defendiam os arcos do edifício”.
Foi esse exactamente o nó da questão. Um edifício de arquitectura moderna e com uma fachada em arcos, à semelhança do Palácio da Alvorada, em Brasília, ideia que o Pe Bento da Guia havia trazido de uma recente viagem ao Brasil. Ai Jesus, um projecto “brasileiro” que não agradou ao regime português. Por isso, os arcos da fachada deveriam ser destruídos. Os estudantes souberam das intenções pelo empreiteiro contratado para o serviço – diz Rui Eduardo. E revoltaram-se, naturalmente, “pois eram os arcos que conferiam maior beleza ao edifício do Externato”. E desde o início tiveram o apoio dos populares. Tal como de Óscar Niemayer – o arquitecto de Brasília – que mais tarde escreveu a Bento da Guia a elogiar o edifício. 






A atitude “expectante” da GNR evitou confrontos e os arcos permaneceram até os ânimos serenarem. Mas a exigência da modificação manteve-se e Bento da Guia  esteve mesmo na iminência de ser preso, pois em Setembro desse ano as obras ainda não tinham sido feitas. E a solução foi desfigurar a fachada com a construção de um muro de metro e meio de altura junto aos arcos. À distância e perante a renovação que hoje se nota, talvez tenha sido a solução mais acertada e de maior visão. O dia 2 de Abril de 1962 foi perpetuado em 15 de Setembro de 2007: 







Que os antigos alunos, neste seu VIII encontro, possam reflectir sobre tudo isto – não sem se interrogarem a propósito dos actuais caminhos do ensino e da educação. Como fizeram os universitários em 1962, sem medo de enfrentar o regime vigente. 




NOTA: - Fotos do autor (Externato Infante D. Henrique ) e de

2012-09-07


À VOLTA DE MIM E DO MUNDO...e DE VEZ EM QUANDO !



Ainda a propósito do 90º aniversário do “Professor”.

Adriano Moreira – muito à frente do seu tempo!

Por isso..deixou de ser ministro de Salazar.

Não foi meu professor, no sentido mais vulgar do termo. Mas sempre o ouvi com muito interesse, li deliciado os seus escritos/reflexões – que me proporcionaram muita e boa informação – o que me permitiu, não há muito tempo, poder ter o prazer de com ele conversar sobre o tema da minha dissertação de mestrado: a Lusofonia e a CPLP no contexto da globalização. 








Nele e dele ouvi falar pela primeira vez, altura em que o vi – à distância de uma “formatura” da Mocidade Portuguesa e do paralelo ajuntamento dos alunos das escolas e do liceu – no longínquo ano de 1961, em S.Tomé e Príncipe. Das minhas memórias de infância e de juventude, foi o ministro cujo nome ficou latente, certamente por influência de conversas de meu pai.
Adriano Moreira, um homem de “direita”? Que o seja, não é crime. O jogo da democracia assim o permite e considera. Não deixa de ser curioso, contudo, que este homem – de direita – defenda os princípios da “doutrina social da Igreja” e do Estado Social, os mesmos que preenchem o chamado “socialismo democrático”!
É certo que, nos intervalos dos interesses, há outras (muitas) matérias que separam as convicções. Mas é curioso notar que, em ambos os campos, nem todos se consideram abrangidos pela totalidade das “intenções”. Para não ir muito atrás e recordar a célebre “Teoria da Libertação”, de inspiração sul-americana, chamo a atenção para o sentido das ideias e das palavras recentes do Bispo das FA, D. Manuel Clemente.
Tarrafal? Quem julga Adriano Moreira e o condena com atitudes de “carrasco”, não estará certamente a interpretar/perceber o papel de uma “assinatura” num tempo complexo de guerra dura e fria a nível internacional. Qualquer outro ministro o teria feito, em 1963 como em 1961, tendo em vista o que se vinha passando em Angola. Que motivos levaram à guerra da Coreia? Quais as razões da guerra da Indochina e, depois, do Vietnam? Mais tarde ainda, o Afeganistão? Leste, Ocidente, Não Alinhados? Quem estará isento de responsabilidades em “assinaturas” desse tipo? Hiroshima e Nagasaki não tiveram assinatura? Justificadas em nome de quê? Bósnia, Ruanda, Kosovo, Zimbabwe, Palestina, Líbano, Sudão, Somália, Torres Gémeas de NY, de novo Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria...e o campo de Guantánamo.
É certo que não se apaga a “História”. Mas não deve ser reconhecido aos seus “manipuladores” o poder da “sua verdade absoluta”, que não há.
Por outro lado, e esse deveria ser o primeiro passo, ao Grande Professor de hoje pede-se apenas que reconheça a sua assinatura de 1961, enquanto ministro. Até porque deixou de o ser pouco tempo depois. E o Tarrafal, se não fosse questão de “política do Estado”, poderia muito bem ter sido “desassinado” por um dos ministros seguintes.
A Adriano Moreira não lhe foi dada, então, a oportunidade de ser “político”. Não foi antifascista mas esteve preso. Demitiu-se por questão de princípios e de visão. Foi saneado com a revolução de Abril mas regressou ao país. Foi, então, político, mas a sua razão académica foi mais forte. É enquanto tal que eu lhe rendo homenagem e reconhecimento. Como iniciador do “estudo” das Relações Internacionais em Portugal, continuando a “teorizar” com lucidez aos 90 anos.
 Foi nesta perspectiva que com ele dialoguei sobre o papel da CPLP e da Lusofonia neste mundo globalizado, sabendo da sua acção concreta no desenvolvimento dos I e II Congressos das Comunidades da Cultura Portuguesa [1964 em Lisboa e 1966 em Lourenço Marques], que estiveram na origem da criação da Academia Internacional da Cultura Portuguesa e da União das Comunidades da Cultura Portuguesa.
Apesar de todas as dúvidas e fantasmas, frequentemente badalados, e de uma particular e dispersa existência, caracterizada pela múltipla pertença de cada um dos Estados-membros – o que condiciona e dificulta qualquer prospectiva – Adriano Moreira diz que a CPLP é uma organização muito original. Porquê? Porque – afirma – “a França, que tem instrumentos de projecção da sua cultura como a Alliance Française, não tem uma CPLP; a Espanha, que tem uma série de países, sobretudo na América Latina, que falam espanhol e tem o Instituto Cervantes – não tem CPLP; a China, actualmente, já tem espalhados por todo o mundo cerca de 300 Institutos Confúcio, mas não tem nenhuma CPLP. Portanto, a CPLP é, de facto, uma originalidade. A reunião de tantos países unidos pela mesma língua como primeiro elemento”(gravação,2011).
Uma língua que “não é só nossa”...também é nossa – vai repetindo!
Uma língua “que transporta valores e que também é mestiça”. Tão mestiça e tão rica como a que José Craveirinha utilizou poeticamente na sua “Fraternidade das Palavras” (1974): 
“O céu
É uma m’benga[1]
Onde todos os braços das mamanas
Repisam os bagos de estrelas.
Amigos:
As palavras mesmo estranhas
Se têm música verdadeira
só precisam de quem as toque
ao mesmo ritmo para serem
todas irmãs.
E eis que num espasmo
De harmonia como todas as coisas
Palavras rongas e algarvias ganguissam
Neste satanhoco papel
E recombinam o poema.” 
Lembrando Políbio Valente de Almeida (1994: 42,43), Portugal tem afinidades e interesses permanentes em áreas que transcendem o seu posicionamento geográfico e que nasceram de um convívio multisecular com outros povos. Inevitavelmente foram trocados valores, Portugal transmitiu [impôs] e absorveu cultura, construindo um passado comum “plenamente partilhado” com índios, africanos, asiáticos e oceânicos. Possuímos portanto um património que, citando Adriano Moreira (1988), “faz parte do património comum da humanidade”.
O que somos capazes de fazer com isto ? – pergunta o Professor. “ Se não somos capazes de fazer nada, paciência...” (2011, entrevista ao autor).
=====================
Lembrando Adriano Moreira, por agora deixo estas páginas. Um simples acrescento ao que já foi dito e escrito.
António Bondoso, Setembro de 2012.




[1] m´benga – pote de barro; mamanas – mulheres; ronga – dialecto mais meridional do grupo linguístico banto tsonga. É falado numa pequena área que inclui a cidade do Maputo; ganguissam – namoram; satanhoco – uma coisa que não presta.   

2012-09-05


À VOLTA DE MIM E DO MUNDO... E... DE VEZ EM QUANDO!!!

PENEDO DA FONTE SANTA. PÊRA VELHA - MOIMENTA DA BEIRA.




PENEDO  DA  FONTE  SANTA
(Onde a paisagem se perde no horizonte ...e onde a tranquilidade
da contemplação nos eleva a uma dimensão mística).

Há uma pedra que chora
Lágrimas de pouca água
Mas dizem que basta uma gota
Para mudar quem lá for.
Santa... já reza a lenda
Sobre quantos lá passaram
Mesmo não tendo molhado
Do rosto todos os olhos.
É do musgo ou é da chuva
Será da pedra granito?
Parece que vem de longe
Embalada pelo vento
Bate sempre no desgaste
E fica uma concha pequena
Onde um dedo se mergulha
Esperando que valha a pena !
============
AB.2011.