2023-08-29

 A CIRCUNSTÂNCIA, A VONTADE E A FALTA DELA…ou os eternos «compassos de espera» de uma CPLP baseada nos valores da Língua e das Línguas – todas elas “mestiças” e sem donos, pois são de quem as fala.

CPLP – ERASMUS OU INTERCÂMBIO ACADÉMICO? Pouco importa perante o alcance de uma medida há muito adiada.

                            António Costa, na Cimeira de STP, lançando o desfio do «Erasmus»

                                                                         (Foto da Web)

António Costa ressuscitou agora a questão em STP, chamando-lhe «Intercâmbio Académico», mas ela já é velha de alguns anos.

         Por um lado, desde 2010 que a AULP – Associação das Universidades de Língua Portuguesa – havia definido em Macau uma comissão de trabalho para estudar a «mobilidade» de 1500 estudantes e professores do ensino superior dos (então) ainda oito da CPLP e de Macau, o que teria lugar nos cinco anos seguintes. Em 2011, em Bragança, já se falava de um “ERASMUS LUSÓFONO”, o qual envolveria recursos financeiros da ordem dos cinco milhões de euros. Esta «ideia» vem referenciada no meu livro “Lusofonia e CPLP – Desafios na Globalização” (2013), no capítulo «Os Valores da Língua», no qual igualmente destaco a expressão de Adriano Moreira segundo a qual “já devíamos ter um ERASMUS bem estruturado na CPLP”.

         Só que, entretanto e perante a crise financeira mundial da altura, foi necessário repensar o projeto da AULP, uma organização fundada em 1986 em Cabo Verde e que agregava 170 estabelecimentos de ensino superior da CPLP e de Macau.

         E depois, o Brasil. Lula da Silva deixou a presidência, sucede Dilma Rousseff que não atribui grande prioridade à CPLP, acontece a sua destituição, vem Temer e a sua falta de tempo útil para pensar no assunto e, por fim, um Bolsonaro sem ideias. Veremos se, agora, Lula (de novo) terá tempo de atribuir alguma prioridade ao assunto. Não só o Brasil, claro. Também seria importante que Angola se entregasse a este tema, lembrando que ainda não deu prioridade à já definida «mobilidade».

         Recordando a intervenção de António Costa, citado por Estela Silva, da Agência Lusa, “Que daqui até 2026, possamos conseguir ter nos nossos diferentes países pelo menos um curso onde todos sejamos certificados para podermos ter ao nível da CPLP uma frequência como o programa europeu Erasmus”, disse António Costa no seu discurso na cimeira, em São Tomé, apelidando este novo projeto de ‘Frátria’, numa evocação à expressão ‘Mátria’ de Caetano Veloso.


         Com dez anos de diferença, talvez valha a pena comparar esta intervenção do 1ºMinistro António Costa com aquilo que eu destaco – e defendo – no livro «LUSOFONIA E CPLP – Desafios na Globalização», não deixando de ser interessante o subtítulo que eu atribuo ao “escrito”: “Ângulos e Vértices” ou “Defeitos & Virtudes” de um Processo Intemporal”.

António Bondoso

Agosto de 2023.  

2023-08-24

 

24 de Agosto.

O Porto tem uma praça com esse nome – o designado “Campo de 24 de Agosto”. Não é certamente por estar ali instalado o Terminal Rodoviário. Tem a ver com uma «revolução»…e como o Porto sempre esteve ligado a movimentos de liberdade!

 

 1820.

ARevolução Liberal do Porto” foi um movimento militar que exigiu o regresso de D. João VI e da corte a Portugal, a reposição do Brasil como colónia e a formação de uma monarquia constitucional. Esse movimento teve consequências diretas na independência brasileira, como se sabe, sobretudo pelo facto de esse movimento obrigar à saída da corte do Brasil, diminuindo a importância daquele imenso território. O facto é que a pressão dos portugueses levou D. João VI a voltar para Portugal, acabando por assinar a nova Constituição dois anos depois.

Os ideais da REVOLUÇÃO LIBERAL pouco ou nada têm a ver com o pensamento dos que se dizem hoje liberais.🤭🙃

Os «liberais» portugueses de 1820…eram contra o «centralismo absolutista». Pelas liberdades – e tendo como palco esse espaço que viria a tomar o nome de “Campo 24 de Agosto” – lutaram nomes como Fernandes Tomás, Ferreira Borges, Silva Carvalho e Ferreira Viana. Na primeira linha estavam a Defesa dos «Princípios» democrático, representativo e separação de poderes consagrados na Constituição de 1822 e que, de alguma forma, a Carta Constitucional de 1826 diminui ao repor o poder absoluto do rei. 1838 é um novo marco.

 
 
 

E antes do triunfo desse movimento revolucionário, que nome se dava a esse espaço central da revolta e depois revolução? Campo das «Mijavelhas». A mudança de nome da praça foi oficializada a 1 de agosto de 1860, 40 anos mais tarde, pelo Governo Civil.

Embora não haja certezas «documentadas» sobre as origens desse nome, julga-se poder estar relacionado com uma tradição ancestral. Seria nesse local que as mulheres se “aliviavam” quando vinham, de Valongo ou de S. Cosme, para as feiras na cidade do Porto vender os seus produtos, sobretudo alimentares.

 
 

Mais uma curiosidade deste 24 de Agosto, recuando a 1899:

"A democracia é um erro estatístico, porque em democracia decide a maioria e a maioria é formada por imbecis ".

=== Parte da ironia do grande Jorge Luís Borges, que nasceu a 24 de Agosto de 1899. O seu bisavô era de Torre de Moncorvo.

=== No prólogo ao seu FICÇÕES, escreve: «Desvario laborioso e empobrecedor é o de compor vastos livros; o de espraiar por quinhentas páginas uma ideia cuja perfeita exposição oral cabe em poucos minutos.

António Bondoso

24 de Agosto de 2023.

(Entre outras fontes, Um texto de Carolina Bessa em «Porto Secreto»)

 

 

2023-08-22

 
 CPLP…OU SE ASSUME DEFINITIVAMENTE COMO «GUARDA-AVANÇADA» DA LUSOFONIA – E DOS SEUS VALORES – ou mais vale empacotar o passado e guardá-lo no sótão do futuro incerto.

Não é meu costume «celebrar» datas «impuras», como esta dos 27 anos da CPLP, completados em Julho – não se desse o caso de a efeméride estar relacionada com São Tomé e Príncipe, o meu «País do Sul».

Só por isso volto a falar dela e da envolvente lusófona que lhe assiste, tendo em consideração alguns pequenos – ou grandes! – pormenores entretanto tornados públicos.

A par das habituais reuniões estatutárias que já estão a decorrer em STP, como a XLVI Reunião dos Pontos Focais de Cooperação, a 264ª Reunião Ordinária do Comité de Concertação Permanente e a XXVIII Reunião Ordinária do Conselho de Ministros, vai ter lugar no dia 27 a XIV Conferência de Chefes de Estado e de Governo.

 

 

Ora, devido a toda esta natural «agitação político diplomática» no país, o que não é propriamente novidade, o governo são-tomense decidiu – e tornou público em comunicado – suspender os direitos de manifestação e de reivindicação, traves mestras da Constituição daquele PEI. Segundo o comunicado e durante quinze dias, «estão PROIBIDAS as realizações, em todo o território nacional, de todo tipo de manifestações com carácter reivindicativa ou protestatório». O comunicado, divulgado pelo jornal Tela Non, com assinatura de Abel Veiga e citado pelo Notícias à Terça, de Carlos Dias, diz ainda que o executivo apela à população para que participe de forma cordial na XIV Cimeira da CPLP: «O Conselho de Ministros aproveita a oportunidade para apelar ao povo de São Tomé e Príncipe a sua envolvência e participação de forma cordial, neste acto tão importante que colocará o país em destaque».

Não sendo este tipo de reuniões propriamente uma novidade no país, como já referi, não se pode deixar de considerar o ambiente de desconfiança e de alguma indignação vivido no país, particularmente depois dos tristes e condenáveis acontecimentos de 25 de Novembro de 2022. Apesar das investigações e dos relatórios já divulgados pelas autoridades, alguns setores da sociedade civil de São Tomé e Príncipe continuam a reivindicar mais esclarecimentos e medidas políticas e judiciais mais apropriadas às consequências dos ditos acontecimentos violentos.

Percebe-se a inquietação do governo, mas «suspender» a democracia – mesmo que por 15 dias – numa situação em que se recebe uma cimeira de uma Organização Internacional como é a CPLP, penso ser pior a emenda do que o soneto. Como é que os dirigentes da CPLP – na defesa de valores fundamentais como a liberdade e o Estado de Direito – se vão comportar? Vão simplesmente ignorar a situação? Não me espanta que isso venha a acontecer. À semelhança de outros casos. O que não abona a favor do tempo e do modo de vida da Organização.

 

 

Por outro lado, e sendo o lema desta reunião “A Juventude e a Sustentabilidade na CPLP”,  o Fórum da Juventude da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (FJCPLP) defendeu a necessidade de “participação ampla” dos jovens na cimeira de São Tomé e Príncipe, no próximo domingo, incluindo a presença em reuniões ministeriais. Numa carta enviada ao secretário-executivo da CPLP, Zacarias da Costa, a que a Lusa teve acesso, e que foi citada pelo Jornal Transparência, de STP, a organização representativa dos jovens reforça “a necessidade de garantir uma participação ampla de jovens na conferência” de chefes de Estado e de Governo.

Veremos. E a Cultura, claro. Sempre um espaço que merece ser devidamente aproveitado.

 
 
 

De outro modo, li também no Notícias à Terça, está a decorrer o “mês da Cultura” da Região Autónoma do Príncipe. É o mês das Festas em honra de São Lourenço e do Auto de Floripes.

         O Príncipe…essa ilha de lendas e mistérios, de paisagens deslumbrantes e de praias dignas do paraíso. Já o escrevi de formas diversas e em diferentes circunstâncias. Hoje, para terminar, deixo um Poema inédito para celebrar:

 

Por ali não se caminha

Voa-se.

 

Pairamos acima das nuvens

Que revelam a natureza preservada

E todo o mar ainda sem petróleo.

Límpido, transparente, acolhedor

Azul-turquesa a sua cor.

 

Tudo isso pertence ao «papagaio cinza»

Que do alto vê e percebe um tempo novo

De males antigos

Isolados e perdidos

Alegres quanto baste em triste Golfo

Num “Dia de São Lourenço”.

 

Rufam tambores e canzás

No “Auto de Floripes”

De roucas vozes abafadas,

Volteiam sem parar as loucas figuras coloridas

Cambaleando ao ritmo da «dêxa»

Antes de serenar ao luar

Com o som refrescante de «pitu dóxi».

 

Príncipe…

Depois de António santo a nomearam

A foram esquecendo em abandono

Mas sempre alguém teimando

Foi lembrando

Que a Ilha é terra de futuro.

 

Tal como o papagaio cinza

Que vai e volta às horas certas

Também a Ilha renasce

Em cada Dia de S. Lourenço,

Valorizando o Auto que diverte

E ensina gerações a voar por extenso

Em céu imenso.

António Bondoso

Agosto de 2023.