2017-07-12


UMA CERTA INDEPENDÊNCIA QUE CHEGOU A S. TOMÉ E PRÍNCIPE HÁ 42 ANOS. 

Composição fotográfica de Miguel Bondoso


UMA CERTA INDEPENDÊNCIA QUE CHEGOU A S.TOMÉ E PRÍNCIPE HÁ 42 ANOS.
“Independência é uma coisa bela
E santa, mas é preciso compreendê-la!”
(Marcelo da Veiga, Amadora – 20/07/63)
                                                                         
É um facto para celebrar, sem qualquer ponta de dúvida, independentemente das ilusões e das pedras no caminho, muito acima de qualquer reação menos positiva sobre a evolução do processo da construção do novo país. Nunca há apenas uma rota segura, há bifurcações que conduzem a determinadas políticas, sempre tendo em conta a conjuntura de amigos e de parceiros, sempre tendo em conta o momento político específico de cada região e/ou da chamada comunidade internacional. Determinadas opções são válidas para cada um dos momentos. Realismo, diz-se. Mas há ideias e atitudes que não podem ser maculadas num país moderno, como por exemplo os direitos fundamentais dos cidadãos e o sentido de responsabilidade – individual e coletiva.
         Por muito que perceba as desilusões, e compreendo-as porque as sinto igualmente na democracia portuguesa, não me revejo em qualquer tipo de atitude balizada pela ideia de luto. O desânimo posso aceitar, mas é fundamental nunca desistir da luta pelos valores essenciais como a liberdade e a democracia participativa. Cidadãos ativos precisam-se, embora não seja fácil. Nunca é fácil. Permito-me citar a propósito um excerto de um texto de Solange Salvaterra Pinto no facebook:  
É o nosso país.
Porque raio vamos enterrá lo.
As pessoas que enterro, tenho umas saudades que doem....
Não quero estar dorida por causa do meu país.
Meu São Tomé e Príncipe que amo.
Que amas.
Que amamos, apesar dos pesares.
No dia 12 vou festejar com toda a garra os 42 anos ........
Façamos nos próximos 42 , algo que nos possamos orgulhar.
O nosso legado será esse.
Tornar STP um lugar melhor para os nossos filhos.
Esse é o nosso compromisso.
A nossa obrigação.
A nossa tarefa maior.
         Parabéns ao país por mais um aniversário soberano, um abraço fraterno a todos os cidadãos de S. Tomé e do Príncipe – particularmente aos amigos que me acompanharam em cada um dos anos que vivi no paraíso, mesmo aqueles que já partiram deste mundo.
         Escrevi no meu livro ESCRAVOS DO PARAÍSO, de 2005, que “De S. Tomé, a ilha que divide o mundo, diz Francisco Tenreiro que é a ilha «…dos cafezais floridos e dos cacaueiros balançando como mamas de uma mulher virgem». Do Príncipe de Maria Correia e da Praia do Precipício, escreve Marcelo da Veiga que é ali «…onde florescem palmas e cacaueiros e têm murmúrios doces os ribeiros”. Apesar da distância e da circunstância, estas são imagens que nunca perderão a essência. O país vale por si. Só é preciso seriedade e competência para fomentar o desenvolvimento.
         Voltando a Marcelo da Veiga e ao seu poema “Independência”, de 1963, deve reter-se a ideia de que
Independência não é
Vadiar, viver sem respeito;
Por tudo bater com o pé
E inchar, qual balão, o peito.
Independência não é cada um
Fazer só o que quer: comer, dormir,
Não sentir por ninguém respeito algum
E beber marufo até cair.
Atualizando e contextualizando, podemos sempre recorrer ao Hino de S. Tomé e Príncipe – um belo poema de Alda Espírito Santo – no qual se repetem palavras como combate, dinamismo, trabalhando, lutando, vencendo. E trabalhar e lutar é Cultura. Como Cultura é esforço e é respeito, a arte de pensar e de fazer. Como Cultura é imaginar e ousar, é o estudo e o saber, é beleza e simpatia. Como Cultura é sentimento e emoção, é amor e amizade, alegria e sofrimento. Como Cultura é o turismo, a arte de saber receber como sabe o povo de S. Tomé e do Príncipe. Como Cultura é a pesca e a agricultura. Como Cultura é não perder o cacau e é renovar o aroma do café. Como Cultura é ser livre e ter liberdade de expressão. Como Cultura é enfrentar o presente mas não idolatrar o petróleo. Cultura é ter orgulho de ser de STP…em qualquer ponto do mundo.
         S. Tomé e Príncipe é hoje um PEID – Pequeno Estado Insular Em Desenvolvimento – e que sobrevive em grande medida da ajuda externa e há muito ligado à panaceia do petróleo. Como já disse a jornalista e poetisa Conceição Lima, “Com ou sem petróleo, é minha opinião que se deve apostar em sectores como o turismo e o mar, cujas potencialidades são consensualmente reconhecidas hoje”.
         É exatamente esse mar que eu ainda hoje imagino, quando «olho o horizonte, sentado nesse espaço infinito entre a areia e o mar»; ou quando Albertino Bragança diz «pressentir que existe algo de espantoso e de belo nesse mar», lembrando lugares míticos como as sete pedras e a praia das sete ondas»; ou de como Inocência Mata descobriu há uns anos que «a sua memória de STP está ligada aos lugares que se metaforizam no Atlântico – esse mar que gera do sol o calor humano que a recebe no país».
         Parabéns S. Tomé e Príncipe. Que o presente seja digno e que o futuro seja feliz e risonho.

Imagem da Web

António Bondoso
Jornalista
Julho de 2017.