2020-01-19

Olá Eduardo.
Sabes que fazes falta. Aos teus…e aos amigos!


Há dois anos partiste sem poder dizer fosse o que fosse e deixaste um vazio no convívio diário.
E estejas onde estiveres, sei que a solidão das noites – apesar de tudo – deixa lugar para alguns raios de sol nos dias e nas tardes que agora são frias.
Sabes que fazes falta Eduardo. Aos teus…e aos amigos.
Sobretudo, por exemplo, para exibir um sorriso de felicidade quando me contavas pela «milionésima vez» a relação de amizade entre ti e o meu tio Armando. Na escola e na bola. E também quando me exibias com orgulho os teus produtos na «Feirinha». O tamanho da batata-doce ou a qualidade dos kiwis. E outras «estórias» de uma vida com tempos duros, igualmente a par de épocas de maior felicidade – uma vida repentinamente interrompida, fora do tempo de um momento pensado.
Fazes falta Eduardo. E estejas onde estiveres, saberás certamente que vamos pensando e falando em ti. Sem maldade, com verdade e com uma positiva e abençoada saudade.
Fazes falta Eduardo!



António Bondoso
19 de Janeiro de 2020.

2020-01-13

AS ONDAS DA RÁDIO vão ficando mais pobres…ou de como o desaparecimento físico de alguns camaradas vai marcando o resto da nossa caminhada. Até sempre Nuno Rebocho. 


Ontem foi o Nuno Rebocho, que eu conheci na Rádio e depois como poeta. Liga-nos a escrita, sobretudo a Poesia, a Rádio e o apelido. Rebocho é indicativo de ligações ultramarinas – tendo ele crescido e estudado em Moçambique até 1962, dezassete anos a ganhar raízes africanas – possuindo laços familiares ao meu amigo Toneca, cujo pai viveu longo tempo em Angola e foi primo de Rebocho Vaz que ali desempenhou o cargo de governador-geral.
         A sua matriz «libertária» de poesia pensada e refletida conduziu-o à contestação ao regime da ditadura, o que lhe valeu cinco anos de prisão em Peniche.
         Do percurso de Nuno Rebocho nos jornais não tenho grande memória, mas na Rádio mantivemos uma relação mais permanente. Pela cultura, claro, e quando ele desempenhou funções de chefia na redação da RDP2. Mais tarde Cabo Verde a balizar o seu horizonte – ainda e sempre a chamada do ritmo africano. Mas voltou ao «puto» já cansado e para ficar, antes de partir. Tive pena de não poder responder ao convite que me enviou para assistir à apresentação do seu livro mais recente «Rotxa Scribida», de 2019, uma homenagem a Cabo Verde com a chancela da editora Rosa de Porcelana dirigida pelos meus amigos Márcia e Filinto Silva. 



A madrugada, o tempo [entre paredes], o silêncio, a memória, o infinito – constantes do seu momento poético, traduzidas nestes seus versos que a seguir vos deixo.
         Para ti, Nuno, que haja uma nova madrugada verde:
Quando o verde se mostrava

entre os verdes, em busca de Guillelmo Velez

E de verde se vestiu a madrugada. E a estrada era o verde
e era a entrada por onde o verde corria por fora da estrada.
Então o verde cansou-se e mudou-se de amarelo como farpela
que enrodilha o diário com o medo de se transformar em contrário.
E já não havia verde - o magenta magoou-se no lápis de pastel:
estava a sanguínea na pausa do tempo e não havia tempo,
nem amarelo, nem magenta. Apenas a madrugada cantava
e o verde voltava à madrugada. E já não era silêncio.
E já não era amanhã. E já não era o vício de cruzar as pernas,
de se oferecer como pélvis ao sacrifício de uma cama manchada:
e o verde descansava de ser verde. Era árvore. Era parede.
Era pénis entre as tetas do tempo. Era o verde que penetrava
por orifícios onde o som refulgia. E era memória. E era dia.
E era ouro quando o cacau mergulhava por dentro da estrada
à entrada da noite. E já não era silêncio: era amanhã, o corpo
aberto em grito de infinito. E o ouro era verde como um suicídio,
mas a corda quebrava, a noite quebrava, o verde cobrava o vento
que se desfazia em tempo, que se desfazia em água. E inundava
a estrada que era verde porque a vida era verde. Era verde e cantava.
António Bondoso
Porto, Janeiro de 2020




2020-01-11


O POEMA DOS SETENTA…ou de como «Nascer e ter vida em Janeiro/ é correr à frente do tempo/ sem parar/ com respiros e suspiros/ em cada onda do mar». 

Esqueleto e alma na viagem de uma vida
Corpo repleto de sentidos
E de emoções
Na caminhada subversiva por este mundo
Que eu infundo num segundo!

No fundo e apesar do mundo
Continuo a sonhar agarrado ao peso
Das memórias
Aos sons e aos cheiros de lugares
Que me enamoram
E me despertam tantas glórias.

Sei que alguém sempre estará
Para me dar um abraço de carinho
Unindo corações
E um sorriso aberto
Em liberdade!
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António Bondoso
11 de Janeiro de 2020 




2020-01-06


RUMO AO SUL em mares já muito navegados…ou a maior viagem do navio-escola Sagres, quer em duração, quer em distância – nos seus 82 anos de história 


RUMO AO SUL em mares já muito navegados…ou a maior viagem do navio-escola Sagres, quer em duração, quer em distância – nos seus 82 anos de história – para recordar ao mundo «perigos e guerras esforçados…mais do que prometia a força humana, (…) e outros em quem poder não teve a morte (…)». O comandante da Sagres, Maurício Camilo, assinalou que esta viagem “vai ter a maior tirada da história do navio, que serão 32 dias a navegar, entre o Taiti e Punta Arenas”. 
         Ao ouvir e ao ler isto, veio-me à memória um escrito brilhante do chileno Francisco Coloane, natural de Quemchi – Chiloé – no sul do país e filho de um marinheiro, com quem tive o prazer de conversar telefonicamente há mais de 20 anos (juntamente com a minha camarada da Rádio Macau Joyce Pina), escrito a que deu o título de «O Último Veleiro» para homenagear a última viagem do navio-escola BAQUEDANO até ao cabo Horn. 


Coloane, que Luís Sepúlveda considera o seu mestre na arte de contar, foi jornalista e um dos maiores escritores chilenos, deixando-nos outras obras como Terra do Fogo, Terra do Esquecimento, A Voz do Vento, Cabo Hornos ou O Caminho da Baleia – as quais retratam de forma vigorosa a geografia social e humana das longínquas terras e mares por onde navegou Magalhães para chegar ao outro lado do mundo, antes de ser morto em Cebu, uma das inúmeras ilhas das Filipinas.
         Neste «O Último Veleiro», no capítulo “De Punta Arenas Até La Tumba Del Diablo”, Coloane descreve uma viagem em sentido inverso ao de Magalhães, dizendo que a Baquedano “…deu a volta ao cabo Froward, abrupta extremidade que assinala o fim da parte continental do Novo Mundo,e, passado o Farol San Isidro, numa manhã de Inverno, avistou a bonita cidade de Punta Arenas, com quarenta mil habitantes, situada nas margens do estreito de Magalhães, frente à lendária ilha da Terra do Fogo. (…) A cidade, reclinada no sopé da península de Brunswick, surgiu completamente branca de neve, como se fosse uma fantástica metrópole de mármore».
         Pois vai ser também por ali que o navio-escola Sagres vai navegar, nesta reedição da viagem de circum-navegação que Fernão de Magalhães iniciou há 500 anos, ao serviço de Espanha. O navio vai passar por 22 portos de 19 países, prevendo-se que visite 12 cidades da rede mundial de Cidades Magalhânicas antes de regressar a Lisboa em 10 de Janeiro de 2021.

Pode acompanhar o rumo da Sagres, aqui: https://www.facebook.com/groups/2369641546620781/?fref=mentions
https://www.facebook.com/groups/2369641546620781/?fref=mentions



António Bondoso
Jornalista
6 de Janeiro de 2020

2020-01-02


DEVEMOS ESTAR PREPARADOS PARA TUDO…


E já vamos no dia 2 de 2020 e é o tempo a correr levado pelo vento acompanhando segundos minutos e horas que esperamos sigam cheios de esperança neste ano que é bissexto e sempre nos acolhe mais um pouco nesta vida que temos e merecemos com a dose de felicidade atribuída a cada um de acordo com o estipulado pelo Criador ou determinado pelos ziguezagues da existência que levamos num mundo difícil quantas vezes cruel com guerras fratricidas ou crimes de guerra de líderes que a cada minuto colocam o mundo em perigos escusados – mas pensados – inquietos e inquietantes como sinais de um tempo que nem sabemos se existe ou até quando e no qual temos até dificuldades em conseguir distinguir as dores das alegrias ou perceber como o dinheiro sobra a uns quantos e falta a tantos mesmo muitos e por isso têm que fazer pela vida sem ajuda ou com ajuda como essa aos sem-abrigo luta de há muito do Papa Francisco que se interessa e que age com atitudes concretas no Vaticano à margem dos interesses do Banco Mundial do FMI ou do Banco Central Europeu à margem da UE e dos EUA e da Rússia e da China e das guerras comerciais ou dos «mercados» que são donos disto tudo e até determinam quem pode e como viver ou morrer faça calor ou esteja frio e os barcos navegando no rio carregados de angústia ou de amargura – o que me transporta ao livro de Ignacio del Valle «O Tempo dos Imperadores Estranhos» e a uma frase que lá li «Até para morrer é preciso ir cagado e mijado» o que significa que é preciso prepararmo-nos para tudo!
Bom Ano 2020



António Bondoso
2 Janeiro de 2020