2025-07-08



50 – 50…A essência dos Povos (2)




PIRES VELOSO E OS QUATRO «DÊS» DA REVOLUÇÃO DE ABRIL:

DERRUBAR O REGIME – DESCOLONIZAR

DEMOCRATIZAR – DESENVOLVER

Em todos estes aspetos, o Senhor General Pires Veloso participou com determinação e sensatez. Não será preciso investigar muito para entender a ação do Homem e do Militar. Ainda em Moçambique, no Norte difícil, Pires Veloso não se coibiu de afirmar publicamente que a «guerra» não poderia ser vencida pelo exército português. 

DE MOÇAMBIQUE AO PORTO E NORTE DE PORTUGAL COM STOP-OVER EM S.TOMÉ E PRÍNCIPE. 

HÁ DUAS PERSPETIVAS que eu gostaria de seguir nesta minha curta intervenção: - UMA DE OUVIR E PERCEBER, EM STP;

OUTRA, NO PORTO:- DE PERCEBER E CONHECER: 

A verdade é que não sei, ainda hoje, quantificar o que o país lhe terá ficado a dever [não foi pouco seguramente], depois da sua intervenção em Abril de 1974 e em Novembro de 1975 [independentemente das posições tomadas e das circunstâncias em que o foram e dos “rótulos” com que o distinguiram] – tendo pelo meio uma missão tão decisiva quanto polémica na descolonização de S. Tomé e Príncipe.(...)



               Foi ali que, por motivos evidentes [eu residia em S. Tomé desde 1953] tomei contacto com Pires Veloso. Nunca pessoalmente. Mas sabia escutar e perceber. Por essa altura – quando ele chega ainda como Governador, em finais de Julho de 1974 – eu tinha terminado precisamente os meus 43 meses e um dia de Serviço Militar Obrigatório, e exercia a minha atividade na Rádio (o já Emissor Regional da E.N.) como Coordenador de Programas e Redator-Locutor.

          Durante várias semanas, o meu programa da noite teve como convidado especial um dos delegados do MFA e da Junta de Salvação Nacional – o hoje Almirante Cavaleiro Ferreira. Igualmente tive o privilégio de conhecer o Major Moreira de Azevedo, que viria algum tempo depois a fazer parte do Governo de Transição, previsto no Acordo de Argel. Moreira de Azevedo foi um dos militares de Abril que esteve envolvido na elaboração do programa do MFA, como que «assessorando» Melo Antunes. 




          PIRES VELOSO chegou a S. Tomé já com uma ideia muito construída da situação que ali se vivia. Sobretudo no que dizia respeito a uma certa elite dos colonos, particularmente alguns administradores das Roças mais importantes – como era o caso do Sr Fonseca do Rio do Ouro. Um relacionamento de choque que viria a criar algumas situações embaraçosas para o roceiro.

          Por outro lado, era do seu conhecimento a atividade dinâmica da Associação Cívica Pró-MLSTP, fortemente empenhada na mobilização e na politização da população são-tomense. Nem esta nem a grande maioria dos colonos se poderiam considerar politizados. Uma rara oportunidade havia acontecido em 1968, quando Mário Soares foi para ali deportado, em plena Guerra do Biafra.

          Até à chegada de Pires >Veloso, S. Tomé e o Príncipe viveram um «vazio de poder», pois o último Governador – Cecílio Gonçalves – havia sido forçado a partir quase três meses antes, em choque com o então Comandante Militar Ricardo Durão. 


Jorge. T. Marques - Semana Ilustrada

          A Cívica, com liderança de Alda do Espírito Santo e de Gastão Torres, aproveitou esse «vazio» para gerar nos colonos brancos um clima de intimidação e de angústia. Para além de greves e de reivindicações generalizadas.

          Tudo isto era do conhecimento de Pires Veloso, informado pelos relatos diários ou quase dos já referidos Delegados do MFA, que chegavam à COORDENADORA em Lisboa, tal como ao ministro Almeida Santos.

          Até que a corda – demasiado esticada – acabou por rebentar em 6 e 7 de Setembro de 1974. Assaltos a estabelecimentos comerciais geraram um clima de medo. E uma boa parte dos colonos, não só brancos, acabou por se dirigir ao Palácio do Governador. Ânimos exaltados, pedia-se proteção e uma forma de embarcar para Portugal.

          Acresce que STP sempre foi uma terra de «boatos», o que ia aumentando esse clima. 




          Pires Veloso acabou por contornar a exaltação de alguns colonos, mas não podia prometer qualquer coisa de concreto. Apenas tentou serenar os ânimos e dizer que ia tentar falar com o ministro Almeida Santos. Sugeriu também que, quem quisesse, poderia «resguardar-se» no Quartel da Polícia Militar.  

Foi esse o meu contacto mais próximo com Pires Veloso.  

          Percebi que ele tinha a noção de que a autoridade era ele. Só. Solitariamente. Na metrópole, ninguém sabia quem mandava em quem. Apesar das suas boas relações com Almeida Santos, o então Ministro da Coordenação Interterritorial, provavelmente de quem teria ouvido falar em Moçambique, pois ali viveu vários anos e exerceu advocacia. Talvez não tivessem passado despercebidas a Pires Veloso as ligações de Almeida Santos a alguns setores da oposição ao antigo regime.                    



          Mas o mês de Setembro foi pródigo em acontecimentos, provocados pela Cívica, fazendo salientar a perspicácia, a sensatez e a serenidade de Pires Veloso. No dia 6, na confusão gerada, caiu morto um cidadão são-tomense. A Cívica logo aproveitou para condenar os militares portugueses, mas nada foi provado. Por outro lado, Pires Veloso soube gerir a contestação da Cívica à Companhia de Caçadores 7, de incorporação local, exigindo a sua continuação, apesar de um incidente que levou à morte de um soldado são-tomense, no âmbito de patrulhas mistas – militares negros e brancos.  

Destaco ainda por exemplo a manifestação de várias dezenas de mulheres, vestidas de preto, em frente ao Palácio. Foi a 19 e ainda hoje esse dia é celebrado como Dia da Mulher São-tomense. 




Portanto, uma das “batalhas” mais difíceis que Pires Veloso teve que travar em STP foi com a “Associação Cívica Pró MLSTP”, vulgarmente conhecida por “Cívica”. E independentemente dos “campos opostos” – foi mais tarde quase unânime a defesa do papel de Pires Veloso em todo o processo de transição. De Filinto da Costa Alegre a Alda do Espírito Santo, de Carlos Tiny a Leonel D’Alva, todos salientaram as posições de bom senso e de diálogo construtivo, para além da firmeza. Evitou o que poderia ter sido um «banho de sangue». 


Fernando dos Anjos Dias

Voltei a encontrar Pires Veloso meses mais tarde aqui no Porto, quando ele assumiu o comando da RMN, como Brigadeiro. A ele recorri algumas vezes a solicitar a sua intervenção junto das autoridades de STP no sentido de resolver situações graves que envolviam amigos meus, quer portugueses, quer são-tomenses, presos por denúncias de boicote económico, corrupção ou conspiração política. O sr Vieira, dono de uma recauchutagem, Miguel Trovoada, Maria do Carmo e Albertino Neto.

E depois foi o Verão Quente…e mais tarde o 25 de Novembro.

Aqui, mais uma vez os caminhos se cruzaram. Eu na Rádio, ainda E.N., e ele com a responsabilidade de assegurar a vigência da Democracia pretendida.

Voltando ao início…ainda hoje não sei o que o País lhe ficou a dever. 


Blogue «Pires Veloso Vice-Rei do Norte»
Por mim…e para além da amizade, fiquei a dever-lhe uma participação decisiva na elaboração do meu livro ESCRAVOS DO PARAÍSO- Vivências de S. Tomé e Príncipe (2005, MinervaCoimbra. Pgs 35 a 70) – uma conversa a meias com a [também já falecida] sua mulher D. Maria Cândida. Ficou, assim, registada uma parte da história do país, particularmente da descolonização das Ilhas do Meio do Mundo de que ele aprendeu a gostar – apesar das reservas com que encarou inicialmente a missão para ser o último Governador da ex-colónia e, por fim, desempenhar o cargo de Alto Comissário até à independência em 12 de Julho de 1975.


«(...) Percebi que ele tinha a noção de que a autoridade era ele. Só. Solitariamente. Na metrópole, ninguém sabia quem mandava em quem.(...)».

E Alda do Espírito Santo: 

(...) A Cívica, com liderança de Alda do Espírito Santo e de Gastão Torres, aproveitou esse «vazio» para gerar nos colonos brancos um clima de intimidação e de angústia. Para além de greves e de reivindicações generalizadas.(...)»

“A INDEPENDÊNCIA, SENDO A MAIOR CONQUISTA DE UM POVO, NUNCA CORRESPONDE AO NOSSO SONHO.” : 

Ler completo em: 

https://palavrasemviagem.blogspot.com/2025/04/a-independencia-sendo-maior-conquista.html


António Bondoso

Junho de 2025. 
























 














 

2025-07-04

50 - 50...A ESSÊNCIA DOS POVOS.

O final do processo colonial português foi tão atribulado quanto era complexa a situação da Política Internacional. Período de «Guerra-Fria» entre o Bloco de Leste e o Ocidente, crescendo da tensão entre a URSS e a RPC e, por outro lado, a existência do suposto Movimento dos Não Alinhados. Por isso… as independências não devem ser analisadas como acontecimentos históricos isolados. Era o tempo do anti-imperialismo, do anticolonialismo e, internamente, a luta contra a ditadura do «Estado-Novo», acrescida do desgaste da Guerra na Guiné, em Angola e em Moçambique.

          50 anos depois de Abril, já lembrámos a independência «oficial» da Guiné-Bissau a 10 de Setembro de 1974, a de Moçambique a 25 de Junho de 1975, onde – lembrou o Jornal Público há uns dias – a PIDE também cometeu atrocidades.

          Amanhã, 5 de Julho, será a vez de Cabo Verde. 


O primeiro Presidente da República do país foi Aristides Pereira que, juntamente com Amílcar Cabral, fundou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

          Após 15 anos de regime de partido único e acompanhando a turbulência vivida com a implosão da URSS – já depois do falhanço da construção de um Estado Unitário entre Guiné e Cabo Verde, em Novembro de 1980, quando João Bernardo (Nino) Vieira levou a cabo um golpe de Estado em Bissau – caminhou-se então para uma «abertura democrática».   

Recordo que, com o golpe de Nino Vieira, o PAIGC perdeu a sua validade como partido binacional e em Cabo Verde surgiu um novo partido nacional denominado PAICV. 





Mas essa «abertura» prometida pelo PAICV não era, no entender de algumas figuras de relevo e de movimentos de cidadãos que iam surgindo, suficiente para alcançar objetivos cimeiros de desenvolvimento e de modernização do Estado. 




Destacou-se no início da década de 1990 o MPD – Movimento para a Democracia – liderado por Carlos Veiga. E em Janeiro de 1991, em plena Guerra do Golfo, o MPD chega ao poder. Há dois anos, escrevia eu que:

  “ HAVERÁ SEMPRE UMA MORNA PARA SAUDAR CABO VERDE”.

Carlos Veiga, que eu acompanhei na livre campanha eleitoral de 1991 à frente do MpD, foi o intérprete de uma das «mornas» mais decisivas para o novo «rosto» do país após 15 anos de partido único.

          Em termos pessoais e a longo prazo, certamente não terá atingido todos os objetivos que norteiam a ambição de um homem político. Mas a sua ação à frente do MpD, que o conduziu ao cargo de 1º Ministro em dois mandatos, constituiu seguramente um ponto de rutura com o passado elevando as Ilhas Atlânticas a um novo patamar de afirmação no contexto africano. (…)»

TEXTO COMPLETO EM:      

https://palavrasemviagem.blogspot.com/2023/07/havera-sempre-uma-morna-para-saudar.html








 

2025-05-25

 

DIA DE ÁFRICA

25 MAIO 2025

 

NKOSI SIKELEL' IAFRIKA (na língua Xhosa de Nelson Mandela)



Eu sei que, apesar dos conteúdos «normalizados» que os média nos vendem diariamente…// desse Continente de muitas Áfricas, de muitas Línguas e de muitas nações – referenciado como o «Berço da Humanidade» e que eu designo como o «Coração do Mundo» … nos chegam ainda Valores Ancestrais fundamentais como o da Família».

          Como é bom poder voltar a falar de África – esse continente maravilhoso e generoso que começámos a contactar em 1415.

Uma relação que, vista à luz da História – para o bem e para o mal – permanece há mais de 600 anos. 



É de lá…De África... que nos continuam a chegar sentimentos fortes, emoções várias e culturas diferentes – algumas também em língua portuguesa. 

E volta a chegar o DIA DE ÁFRICA.

É o terceiro maior continente e o segundo mais populoso. E dizem ser o berço da humanidade. As suas imensas riquezas despertam, e despertaram ao longo de séculos, o interesse das grandes potências. Primeiro as europeias mas hoje sobretudo a China, a Índia e a Rússia. 


Entre o seu próprio e nada pacífico processo de arranjo interno, a expansão, o trágico e violento colonialismo, a trágica descolonização e as independências – muitas delas apressadas…vai um rio de séculos que desagua na constituição da OUA em Adis Abeba, em 1963, e na UA em 2002, com a Declaração de Sirte – na Líbia. O Dia de África, reconhecido pela ONU em 1972, celebra-se a 25 de Maio, dia em que foi criada a OUA no meio de um cenário de «guerra-fria» que dividia os países entre moderados (o grupo de Brazaville liderado por Senghor) e neutralistas ou de rutura com as antigas metrópoles (o grupo de Casablanca fortemente marcado por Nkrumah). À divisão entre os «Blocos» Ocidental e de Leste, depois da II Guerra Mundial, viria a ser acrescentado o Movimento dos Não Alinhados, nascido em Bandung, em 1955. 




No meio deste turbilhão do relacionamento Internacional, a criação da OUA viu-se confrontada com a premência de resolver, no imediato, os problemas da «crise» no Congo e a «guerra» na Argélia. Convenhamos que o panorama não era propriamente animador. Mas…o caminho faz-se caminhando!

Mais uma vez…Dia bom para África!



Lembrando a língua Xhosa de Nelson Mandela – NKOSI SIKELELE iÁFRICA (o que significa = Senhor, abençoai a África!).

António Bondoso

25 de Maio de 2025. 











2025-05-24


Neste dia do Autor, quero apenas lembrar dois grandes nomes das Artes. Da escrita e tudo…diria o futurista Almada Negreiros. 


Nascido em na Saudade em S. Tomé, STP, Almada disse um dia: - não me obriguem a explicar nada do que escrevo e digo. 



Outro, Mário Quintana, nascido em Alegrete, Rio Grande do Sul, Brasil…escreveu que “Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.”



          Passem bem e, se puderem ou quiserem, leiam este meu escrito nos dias de hoje:


No tempo que me resta

Talvez já não consiga perceber o futuro.

 

A esperança foi retalhada num dia

De céu encoberto

Em maio meio perdido

E eu,

Qual escrivão da ética e dos princípios

Perdi a caneta de tinta permanente

Que denuncia embusteiros

Sacanas e trauliteiros,

Incapaz de ler nos olhos

Uma cegueira brilhante

Ressuscitada no tempo

De meio século de luz.

 

No tempo que me resta

Já não alcanço os ingratos.

=========================   

António Bondoso

Maio de 2025.








 

2025-05-21

 

CARO PEDRO NUNO:

 

NÃO FOI O TEU TEMPO – AINDA – E TIVESTE MAIS INIMIGOS DENTRO DO QUE FORA DO PARTIDO.


Incomodaste enquanto foste ministro, incomodaste na função de comentador – apesar de curta – e foste igualmente incómodo como Secretário Geral do PS, um cargo que não tiveste tempo de amadurecer, pois foste «largado às feras» na ressaca de um «golpe palaciano» que destruiu uma maioria absoluta. Foram “70 dias à margem da democracia” (7 de novembro de 2023 a 15 de janeiro de 2024) – como escreveu Violante Saramago Matos – que provocaram uma crise de regime e que, ainda hoje, muitos preferem ignorar.


Num tempo em que já muito poucos escrevem cartas, permite-me que te enderece este simples «postal», mais do género de uma curta «carta aberta». Para te dar um abraço na hora da despedida, por agora; para te dizer que sempre fui um incondicional apoiante da tua liderança, mesmo quando muitos amigos meus – para além de comentadores e de politólogos – diziam não perceber o teu discurso. 



Como fico entristecido ao ouvir e ao ler essa asserção aberrante. Talvez por distração, pois tenho para mim que os «tugas» são altamente politizados e intelectualmente sérios – como se tem visto nos últimos atos eleitorais. E os média, claro. Como se encarregam de enganar e de confundir! Na espuma destes dias, quando as TVs, sobretudo, estão cheias de ávidos comentadores, ninguém se lembra como o teu PS foi fundamental para a eleição do anterior Presidente da AR; quando o teu PS deu luz verde ao governo de Montenegro para governar; quando o teu PS permitiu a aprovação do Orçamento; quando o teu PS rejeitou moções de censura. 



Acham pouco? Basta recuarem aos governos da «geringonça». Que foi também obra tua. A capacidade de diálogo desses tempos já não é contabilizada? E quando foste um homem de visão…ao assinar um despacho que, a ter sido cumprido, daria agora já um grande avanço na questão do novo aeroporto. António Costa portou-se mal, querendo agradar ao PR e ao líder do PSD, e eu fiquei triste por não teres apresentado aí a tua demissão. E nesta crise, provocada pela AD e por Montenegro, ninguém se lembrou da tua palavra de honra nas eleições de 2024. «Fizeram-te a folha» como se usa dizer na linguagem futebolística. Sobretudo dentro do partido. Já os comentadores e politólogos, salvo raras exceções, abriram a cova para lá depositarem a urna! 


          E a direita retrógrada, pouco séria, desonesta, incompetente…foi caminhando. Mas hoje, sobretudo os jovens, que não viveram a ditadura nem a guerra de África, estendem a mão a essa direita, sem perceber a História. NÃO FOI A DIREITA QUE NOS DEVOLVEU AS LIBERDADES EM PORTUGAL. E só a ignorância pode levar a pensar isso.




Contudo, meu caro Pedro Nuno Santos, não deves ter problemas de consciência. Enquanto o «outro» teve tempo para ser catapultado e governou 11 meses com o saldo que António Costa não soube ou não quis investir, o teu tempo, muito pouco e atribulado, não te permitiu preparar o caminho. Digam o que disserem os comentadores e os politólogos, tens sido bravo, guerreiro e dialogante quanto baste, perante a arrogância de um governo incompetente e perante a passividade de um PR enfraquecido nas suas lutas contra o PS. E contra tudo e contra todos, do BE ao PSD, da IL ao PCP, dos média ao PR, do golpismo do MP à iliteracia de quem não vota e se deixa conduzir ao boletim, honraste a tua palavra e deixas caminho aberto para quem desejava o cargo.

Quem vier que tenha sorte e consiga ser uma boa «bengala» para o arrogante Montenegro e para um desorientado PR. Isto não acaba aqui. E quando e se voltares, e se eu ainda por cá andar, podes contar comigo. Precisamos de homens de rutura! Não de uma paz podre, à moda de «Pintos» para combater a extrema-direita trauliteira.  


Um forte abraço do António Bondoso.

Maio de 2025. 














2025-05-18

 

 

“ESCREVER É UMA ATITUDE LIBERTADORA E UM ATO MUITO, MUITO SOLITÁRIO.”


 

          É de Viseu, dá pelo nome de Francisco Peixoto e também é Poeta. De palavras selecionadas…a aguardar o esplendor para que fique o registo. Foi ele que o disse durante a apresentação do seu quarto livro de poesia, “em busca de uma maneira”. Eloquente, não deixa de ser um homem deste mundo que, «ao escrever…vai saindo da sua circunstância». E assim, embora seja um homem deste mundo em busca de uma maneira, Francisco Peixoto deixa a ideia de que a escrita é a libertação deste mundo pesado, intenso e com informação excessiva. 



          O livro tem a marca das «Edições Esgotadas» e foi ontem apresentado no Conservatório Regional de Música de Viseu, que leva o nome do Dr. José Azeredo Perdigão, cerimónia que contou com a atuação de dois jovens alunos de piano. Instantes brilhantes, tal como foi o momento de ouvirmos a «leitura» que outro poeta – José Lapa – fez da obra em apreço. E disse, por exemplo, que Francisco Peixoto “vive esta hora mágica consciente da sua arte e no seu mais profundo sentir.”



Este conjunto de poemas selecionados pelo autor, parece dizer-nos uma linguagem culta, pontuada quanto baste, de versos alongados e demoradamente saboreados, como por exemplo «O Amor e a Cidade», «Jardim de Inverno» ou «A Adolescência e as Notícias das Mortes». Há sempre exceções, claro, e o livro termina precisamente com um «Instante»:

O sol morria

Em telas de lembrança adormecida

O olhar segue-o

Num aconchego de seda,

Vou sonhando caminhos

De tardes doiradas

Esquecendo as palavras

Ouvindo o silêncio

No vazio da cor

No pó das estrelas,

Na entrega inacabada

De tudo.



Com FOTOS de António Bondoso e de Rui Bondoso

António Bondoso

Maio de 2025








2025-04-29

 

“A INDEPENDÊNCIA, SENDO A MAIOR CONQUISTA DE UM POVO, NUNCA CORRESPONDE AO NOSSO SONHO.”

                                                                                                         Alda Neves da Graça do Espírito Santo

                                                                               Em ESCRAVOS DO PARAÍSO

                                                                                                                     António Bondoso – 2005

                                                                                                                       MINERVACOIMBRA



ALDA DO ESPÍRITO SANTO, poetisa e política de S. Tomé e Príncipe, está a ser homenageada no seu país do centro do mundo, numa iniciativa a que os organizadores chamaram “I CONFERÊNCIA NACIONAL SOBRE AES”, na qual participam nomes grandes das Letras como Conceição Lima e Albertino Bragança; Professores Universitários e Investigadores, entre os quais Inocência Mata, Mardginia Pinto e Carlos Neves; e outras figuras proeminentes da Sociedade São-Tomense, nomeadamente Maria do Carmo Trovoada, Alda Bandeira, Agostinho Fernandes, Filinto Costa Alegre e Guilherme Octaviano. 



          O slogan que «resume» a iniciativa tem a designação de «Venha Conhecer as Múltiplas Facetas da Matriarca da Nação». Terá sido certamente na «linha do tempo» que lhe coube viver e atuar, quer antes, quer no pós independência de STP, acompanhando os líderes nacionalistas das ex-colónias portuguesas numa «fase de aprendizagem política e académica» em Portugal, designadamente com Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade e Francisco José Tenreiro.



Aqui, com Léopold Senghor e Vasco Cabral, à direita

           Nascida a 30 de Abril de 1926, Alda do Espírito Santo passou pelas prisões da PIDE, colocou palavras, ideias e poemas na ponta da sua «baioneta» que era a caneta com que depositava as suas farpas no papel, assumiu o seu ativismo político, quer em Portugal, quer em S. Tomé e Príncipe e lutou contra o regime colonial – merecendo destaque a sua «intervenção» na ajuda ao advogado João da Palma Carlos, na sequência dos trágicos acontecimentos de Fevereiro de 1953, o «massacre» de Batepá. Por essa altura, a sua mãe Maria de Jesus foi vítima física e moral da governação de Carlos Gorgulho. Atrevo-me a atribuir a sua mãe essa designação de “Primeira Matriarca”.



Com Conceição Lima, em cima e com Inocência Mata, em baixo.

          Depois, Alda do Espírito Santo foi tudo e conquistou o direito – por dever da ação – aos títulos que lhe foram atribuindo. Por exemplo o «retrato de farol de muitas gerações», a que me referi em Escravos do Paraíso e, mais recentemente, em 2021, no livro O Meu País do Sul

 (…) E, claro, o «meu país do sul» é o chão sagrado de Alda do Espírito Santo (1926-2010), “guia” do hino da Nação e “farol” de muitas gerações que beberam a sua formação cívica e política em “ventos de loucura” que varreram as «Ilhas» na década de «cinquenta». Poetisa, Educadora e Combatente da liberdade, Alda Neves da Graça do Espírito Santo sempre se identificou – e transmitiu – com os valores da camaradagem, cumplicidade e unidade: “(...) A nossa terra é linda, amigas/ E nós queremos que ela seja grande.../ Ao longo dos tempos!.../ Mas é preciso, irmãs/ Conquistar as ilhas inteiras de lés a lés/(...) Mas é preciso conversar ao longo dos caminhos/ Tu e eu, minha irmã./ É preciso entender o nosso falar/ Juntas de mãos dadas/ Vamos fazer a nossa festa!”. (…)



          (…) Para o meu livro “Escravos do Paraíso”, disse-me em 2004 que a independência, sendo a maior conquista de um povo, nunca corresponde ao nosso sonho. Por isso, dizia ser necessário que “surja uma elite intelectual que dê um impulso para resolver os problemas”. Desiludida com a política, penso ter partido com a ideia metafórica de que «mataram o rio da sua cidade», mas ficaram as palavras e as ideias. Como nesses versos do poema «Construir»: Construir sobre a fachada do luar das nossas terras/ Um mundo novo onde o amor campeia, unindo os homens/ de todas as terras/ Por sobre os recalques, os ódios e as incompreensões, / As torturas de todas as eras. (…)

A sua força está muito bem expressa neste poema que vos deixo:

CELA NON VUGU

(TEMOS QUE AVANÇAR)

 

Cinco séculos estrangeiros no solo pátrio

Regressamos do exílio da exploração

Expulsando com a força do povo

O colosso colonial e seus sequazes.

 

A máquina orquestrada do colono

Sequelas legou no palco montado

Instalado para eternizar.

 

Mas eterna na perenidade do tempo

É a alavanca do reconstruir

Desmontando tronos seculares

Injustiças cavadas nas montanhas

Levantando das ruínas dos pântanos

Um povo em marcha que avança.

 

As Ilhas do Chocolate, ali praticamente no centro do mundo, no Equador, prestam hoje e amanhã mais uma justa homenagem a Alda do Espírito Santo.

António Bondoso

29 de Abril de 2025.