2014-11-23

O sangue assassino



O sangue assassino corre
Nas veias das palavras
Ditas e escritas
Expostas às balas
Oportunas
E de um sentido oportunista
Finamente elaborado.

Tudo se move além do vidro
Onde a fome das ideias
Mata a sede de uma ambição que
Não alcanço.
Tudo se move e se confunde
Numa justiça andarilha
Apressada quanto baste
Tão lenta se necessário
Ora acorda ao som do tempo
Ora dorme em bom descanso.

Prescrevem notas dobradas
Agita-se a turba que vende
Só os eleitos entendem
O que o povo não percebe.
Investigada justiça
À sombra do marmeleiro
Servem-se palavras de sangue
E leva-se a honra primeiro.

É o sangue assassino
A correr desenfreado
Nas veias das palavras ditas

Escritas em sarjetas de mercado.
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António Bondoso
Jornalista

2014-11-17

EM AGOSTO…A LUZ DO TEU ROSTO!

Foto de M.do Amparo Pontes Bondoso

O meu recente livro EM AGOSTO…A LUZ DO TEU ROSTO, dedicado à companheira de uma vida e aos outros meus Amigos – todos – com um forte abraço em frações apertadas, não é um livro de ou sobre sexo, embora fale de amor e de paixão. Carregado de poesia e de alguma prosa “poética”, o texto da narrativa é como que uma incursão pelos meandros do antigo regime e pelo fim do “império”.
         Começa por falar dos astros, da magia da lua e – a reboque dessa temática – aborda a censura e uma particular e criativa forma de a contornar, “inventada” por um antigo camarada de profissão.
         E depois faz referência a viagens – muitas viagens – partindo de Moimenta da Beira e de Moncorvo com destino a África, com realce para o caso concreto de S. Tomé e Príncipe.
         E aparecem, claro, a colonização, os males do colonialismo, a descolonização e os males da indecisão política. Pelo meio, homenageia-se a esperança libertadora do 25 de Abril de 1974, sem a qual não teria sido possível a descolonização, o fim dos conflitos armados e dar voz ativa ao conceito de Lusofonia – não deixando para trás a última pérola do Oriente da História e um olhar atento sobre a “especificidade” de Macau.
         Deixando de lado a lua e as suas influências, a obra destaca a falta de visão de quem dizia defender a “existência” das colónias e, simultaneamente, tudo fazia para evitar o seu desenvolvimento – exceção feita às duas últimas décadas do processo.
         Inexoravelmente chegou a guerra, porque os ventos sopravam a destempo, e o caminho tornou-se insustentável a seu tempo – graças a um modus operandi em triplicado e que, apesar de percecionado a tempo, não terá sido combatido eficazmente tendo em conta as particularidades de cada caso.
         No meio de uma “política colonial”, condenável em grande parte dos seus aspetos, o autor não deixou de registar coisas positivas – como essa da sua geração “a preto e branco” ter crescido junta, sabendo dar e receber. Bastará atentar no reconhecimento e na homenagem de que é alvo a Professora D. Maria de Jesus.
         E o mar das viagens…no horizonte das lembranças de uma vida! É assim EM AGOSTO…NA LUZ DO TEU ROSTO e Outras Musas e Sereias Entre Viagens, de António Bondoso, com execução gráfica de CROMOTEMA, em Vila Nova de Gaia.


Foto do autor.

Já foi apresentado em Coimbra; dia 22 de Novembro será em Lisboa; depois o Porto a 29 e Moimenta da Beira no dia 6 de Dezembro, voltando ao Porto em 20 de Dezembro e já em Janeiro de 2015, no dia 31, estará de novo em Lisboa.
ANTÓNIO BONDOSO
JORNALISTA

2014-11-11

DOIS POEMAS PARA ANGOLA...


As efemérides são números nas gavetas do tempo. De vez em quando abre-se a gaveta e saem memórias. Boas, menos boas, algumas trágicas. Mas lembramos...e isso faz bem ao espírito e à autoestima. 
Nesta data, quero oferecer dois poemas. De sangue e de esperança...com 13 anos de intervalo. 

PAÍS ESVENTRADO

Angola de promessa
terra imensa...
a guerra sobra em cada dia
e mata quem vive
de teimosa esperança
alimentado!
Serena distância
de quem viveu
de quem sofreu...
desfeito o futuro do passado
é hoje questão sentida,
Nação partida
mas não perdida,
país esventrado em cada mina
roubado em gabinetes do "esquema"!
Angola imensa
é alma d'África
ainda, sempre
Terra de promessa...
==== 
António Bondoso
Porto, 2001 (40 anos de guerra em Angola) - in TONS DISPERSOS, Vega , 2003.
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ANGOLA (A Publicar)
(ouvir falar dela…)

Só ouvir falar de Angola
Desperta sentidos vários.
Saudade, sede, semente
Uma imensidão de tempo
Uma vastidão de terra
Que não cabem num olhar
Nem no tempo de uma vida!

Angola é mundo mistério
De natureza enricada
Angola é mundo de gente
Com tanta língua falada
Angola deita no mar as vidas de tantos rios…
Só ouvir falar de Angola
Desperta sentidos vários!

Angola de muita história
Quantas lendas milenares
Quando se fala de Angola
Diamantes e petróleo
Enchem todos os lugares.
Só ouvir falar de Angola
Desperta sentidos vários!

E a música que nos encanta
E as danças tradicionais.
Quando se fala de Angola
O coração é batuque acelerado demais
Rebita, puíta, quizomba.
Só ouvir falar de Angola
Desperta sentidos vários!

Angola canta, Angola dança
Angola vive d’esperança
De matar o sofrimento
Renovar o sentimento
De perdão e ser feliz.
Só ouvir falar de Angola
Desperta sentidos vários!
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A. Bondoso - 2014.
 
Em "Aromas de Liberdade(s)" - 2015.                                           


2014-11-09

ESCREVER OU...

Foto de A. Bondoso

ESCREVER
Escrever faz bem à saúde é melhor do que a dieta contorna a depressão e não engorda nem sequer conduz à beira do abismo como infelizmente vamos sendo confrontados particularmente em tempos de crise quando há pais que não se alimentam e muito menos podem cuidar dos filhos a não ser que estes ainda tenham acesso às sobreviventes cantinas escolares uma das situações agravadas com a política de cortes cegos desenvolvida por um desgoverno incapaz e patrocinada por uma troika que apenas responde aos donos do dinheiro senhores da alta finança relegando o primado da política para segundo plano e por tudo isto é que eu escrevo pois denunciar os males da sociedade em que vivemos – quando acontece termos vontade de viver – é fundamental é um direito de cidadania é um dever de participar na vida coletiva é um ato de coragem perante a adversidade que nos atinge todos os dias e faço agora um ponto final para poder respirar e encher os pulmões com um ar renovado e livre da legionária ou legionella uma disfunção que veio trazer uma preocupação acrescentada à ideia que nos moldava o espírito como era o caso do Ébola esse estranho desafio da comunidade internacional sempre desatenta aos sinais sempre tardia a reagir – sobretudo quando tudo acontece em África – tal como atrasada reagiu à crise financeira que nos colocou nesta situação e a retoma económica que tarda e o desemprego que desestrutura as famílias só diminui quando as pessoas podem emigrar e agora vinha mesmo a calhar o tal ponto final não só porque a folha de papel está a ficar completa de letras de palavras e de frases algumas até com sentido mas também pelo facto de já ser tempo de parar com os disparates não vá ser confrontado com a censura que se vai instalando sem que possamos resistir quando é mister. 

Foto de A. Bondoso

António Bondoso

Jornalista

2014-11-08

UM TOQUE DE FANTASIA  

Foto de A.Bondoso

UM TOQUE DE FANTASIA  (A Publicar)

Um toque de pele
Desliza molhado e suave
Emergindo cristais em cada poro.

Arrepio ansioso de desejo
Caminha sonâmbulo e sereno
Dando a mão
Sem dizer ao que vem
E quando vai
Sem saber o que pretende essa paixão
Até ao instante em que desperta
De um sonho húmido
Eterna e humana fantasia.
==== António Bondoso (A Publicar)

Foto de A. Bondoso
António Bondoso
Jornalista

2014-11-05

JUSTIÇA E PODER À BEIRA-MAR!

Foto de A. Bondoso

JUSTIÇA E PODER À BEIRA-MAR!

Enfrentando um cinzento dia chuvoso, particularmente o lusco-fusco à beira-mar, caminhei um pouco empurrado por um vento já poeticamente frio e fixando no horizonte estranhas formas de nuvens a transpirar eletricidade e a fazer lembrar o lendário Adamastor.
Caminhava e pensava, pensava e olhava, e recebia nesse movimento de sentidos um fluxo de informação com origem a milhas desse mar revoltoso, cujas ondas – ao quebrar – projetavam areia para próximo das dunas protetoras.
Não eram muitas as novas que me chegavam trazidas pela maresia de um inverno a instalar-se, mas mais uma redundante e preocupante reposição de manchetes sobre economia e a propósito de problemas sociais – ainda os reflexos de uma crise que está longe de ser derrotada, precisamente pela submissão da “política” às investidas da alta finança e dos mercados sem rosto, elementos de uma globalização desumanizada que subverte a lógica de um mundo justo e pacífico.
Da significância do nome projeto para além dos oceanos um alargado pensamento – sulcando o Atlântico e o Índico até à entrada do Pacífico – não podendo ignorar a angústia e o desconforto de dois Estados da órbita da língua portuguesa, desavindos pela injustiça da corrupção e pela incompreendida separação de poderes. Machuca os Estados e os povos é que sofrem. Mas os povos podem mudar os representantes investidos dos Estados. É isso que se espera no projeto da Lusofonia.
         E depois…essa anacrónica visão de uma Casa da Cultura em Vila Nova de Gaia manifestando a disposição de ceder uma sala para apresentação do meu livro mais recente, numa edição de autor, a troco do depósito de 10 exemplares. Não bastava um, nem dois – tinham que ser dez. Nem a Biblioteca Nacional exige tanto. Apenas o que é de lei perante o número de exemplares em cada tiragem.
         Bem dizia Almada Negreiros: (…) e mais ainda por esta infâmia de Deus me ter nascido português, (…).
Foto de A. Bondoso
António Bondoso
Jornalista

2014-11-03

PORQUE REJEITO A HIPOCRISIA E A BAJULAÇÃO…



PORQUE REJEITO A HIPOCRISIA E A BAJULAÇÃO…
Emprestando sentido prático à parábola do deve e haver entre pais e filhos, quero dizer que devo muito a S. Tomé – S. Tomé e Príncipe não me deve nada. E com a publicação deste meu mais recente livro EM AGOSTO…A LUZ DO TEU ROSTO, dou como adquirida a minha rejeição de qualquer ligação oficiosa ou institucionalizada.
Guardarei, claro, a relação afetiva com o país e com os são-tomenses que fazem o favor de ser – de facto – meus amigos. Muitos deles, felizmente, amigos de infância e de um crescimento adolescente em liberdade. Tive a sorte de a «minha geração a preto e branco ter crescido junta, sabendo dar e receber».
         Rejeito a hipocrisia, a bajulação, a pretensa capacidade de ser historiador e não me revejo em interpretações de suposições. E como é triste verificar um certo tipo de aceitação de ideias baseadas no oportunismo conjuntural e bacoco. Recuso-me a engrossar o número desses “manipuladores do tempo” pois tenho como certo que a “verdade é relativa”, ninguém é dono dela e a seriedade intelectual não permite “devaneios”.
         E não durmo sobre o passado. Repouso nele para daí retirar conclusões que possam facilitar a relação das pessoas, hoje e no futuro, numa base de igualdade e de reciprocidade sem traumas. Nesta reflexão não cabem tabus, pois deles não fiz vida e deles não me alimentei.
Desde que me conheço sempre me entreguei a causas, e STP foi uma delas. Ainda nos tempos da chamada “impossibilidade histórica” e para além de mim, não me recordo de muitos jornalistas profissionais portugueses [contam-se pelos dedos de uma mão] que escrevessem e falassem sobre o país. Nesse período, recordo-me de ter transmitido a Pires Veloso, no Porto, a minha [e também do meu sogro] preocupação e apelo para interceder junto das autoridades de STP no sentido de minorar o sofrimento de alguns amigos presos. Nem todos foram atendidos.
E mais tarde, já na era da “mudança”, foi a minha falta de sono e a minha preocupação com os amigos que me levou a liderar as primeiras informações sobre o golpe de 1995, vencendo a distância entre Macau, São Tomé e Portugal. E escrevi e publiquei livros onde coloquei meses e anos de trabalho [estudo e investigação] praticamente sem ajudas. Mas não me queixo. Fi-lo porque senti a importância de poder proporcionar aos mais novos visões diversas da História que, diga-se, não começou em 12 de Julho de 1975. Escravos do Paraíso, Seios Ilhéus, Tons Dispersos, foram alguns exemplos.
E continuei a escrever nunca esquecendo as Ilhas do Meio do Mundo, até vir a público este último EM AGOSTO…A LUZ DO TEU ROSTO, um triângulo de viagens entre Portugal, STP e Macau – como que uma incursão pelos meandros do antigo regime e pelo fim do Império. Assinalo, assim, os 40 anos da independência da terra que me viu crescer e em algumas páginas desenho uma sentida homenagem à Professora e Senhora D. Maria de Jesus, uma das vítimas dos trágicos acontecimentos de 1953.
Não preciso de mediatismo balofo – nunca o solicitei – para expressar as minhas ideias. Continuo transparente e intelectualmente sério nesse combate das palavras e das ideias. Rejeito hipocrisia, bajulação e – sobretudo – recuso participar em atitudes de sabujice. Deixo essa “missão” para alguns que aparecem agora na “pantalha” ou nas capas de alguns jornais.


António Bondoso
Jornalista- CP 359.

2014-11-01

É A VIDA E É A MORTE...SEM PONTO FINAL

Foto de A. Bondoso

É a vida e é a morte – essas coisinhas miúdas, o alfa e o ómega da nossa existência, a condição da passagem, essa mistura de sentimentos, de saudade, de memória, de uma lembrança a correr, de uma angústia permanente, de um tempo sem retorno, de um desfilar de perdidos e achados, de uma romaria às “últimas moradas” levando flores como símbolo de amor e de amizade, assim como que um abraço prolongado no tempo que ainda nos resta, é a vida e é a morte – um tempo outro de saber como somos e o que somos e de onde vimos, pois sem memória não há história, os dias são assim e com eles devemos viver e aprender como se o hoje estivesse desligado do amanhã mas não do ontem, um tempo difícil, perturbador, inquieto, horas de sacrifícios infinitos em que ninguém faz greve à vida e ninguém faz greve à morte, são caminhos que se estreitam de tanto sofrer por nós, são estradas que alargam horizontes de tanta alegria por outros, é a vida e é a morte – um poema interminável, uma relação profunda de uma beleza sem par, um beijo quente apaixonado ou um coração despedaçado, um olhar doce e de meiguice talhado, o calor de uma palavra e a ternura de um toque, as mãos rudes do trabalho e da dignidade mantida, um ombro que ampara a honra na frescura da manhã, é a vida e é a morte nesta relação constante em que uma não se queixa e a outra deixa correr, violinos a tocar e um piano de cauda, melodia harmoniosa de um mundo sempre agitado, percebo mas não aceito tanta vileza a crescer, quem decide sem ter alma quem obedece sem lamento, homens sem porte mulheres sem aprumo, é a vida e é a morte – um vai e vem sem recurso, uma agenda sem os dias a contar coisa nenhuma, um marco de nenhures como sinal inventado, nunca a terra nunca o sol e nunca a lua souberam, é a vida e é a morte…

Foto de A. Bondoso
António Bondoso
Jornalista