2013-12-31


 OS MEUS LIVROS DE 2013 (II).

Foto da capa da autoria de Milé A.Veiga (sobre pintura de TeresaBondoso)

Na sequência do texto que apresentei na primeira parte deste trabalho de apresentação e apreciação dos livros que me marcaram em 2013 – Palavras em Tempos de Crise, Do chileno Luís Sepúlveda, e Laços de Amor Não Morrem, do “vizelense” Francisco Correia – escrevo agora sobre UM GRÃO DE CAFÉ, que nos chega de S.Tomé e Príncipe pela pena de Olinda Beja, uma consagrada mulher de letras das Ilhas no Meio do Mundo. Com o carimbo da editora Edições Esgotadas, Um Grão de Café apresenta um velho contador de “estórias” – Caxipembe – que, já muito adiantado no tempo da vida, apenas se recordava de uma história contada há muito, nem mesmo ele tinha já a certeza de quem lha havia contado a primeira vez. Exatamente essa do grão de café. Uma estória não faz a História – não é esse o papel da ficção – tudo começando num tempo, ainda antes do tempo, no qual a existência do café só mesmo em imaginação.
«E depois  Caxipembe ?!... Conta, conta!»

E, assim, toda a narrativa é um verdadeiro hino à mãe Natureza e à bondade dos homens, mostrando um reino de muitas e belas árvores e das mais variadas flores – as mais bonitas da Ilha mais linda do mundo: [«A floresta era de uma rara beleza pois os tons de verde eram variados e os barulhinhos ligeiros que nela se ouviam encantavam qualquer um que os escutasse. Macacos e cobras, lagaias e falcões, tartarugas e papagaios entendiam-se tão bem que quando havia nascimentos, cada um à sua maneira, festejava a chegada do novo habitante.»].
Príncipe, assim se chama a ilha uns graus acima da imaginária linha do Equador, independentemente dos nomes que lhe teriam dado outras civilizações de antanho e que, no reino da ficção, teriam sido dizimadas por pandemias e doenças tão ruins como a malária. Mas disto não reza a estória UM GRÃO DE CAFÉ. Agora para crianças, Olinda Beja prossegue um pouco a sua aventura ambientalista e amante da natureza espelhada na Ilha de Izunari, premiando a personagem infantil PAGUÊ – pela sua determinação e honradez. Com o ritmo da estória bem cadenciado e numa escrita empolgante, a autora avança toda a narrativa até ao climax que é a sucessão do rei e a herança do reino onde todos se entendiam às mil maravilhas.
E, como diz Olinda Beja, « Se forem à Ilha do Príncipe talvez encontrem ainda o velho Caxipembe que, melhor que eu, vos voltará a contar a maravilhosa história do grão de café! »
Afinal, como já não terei tempo para falar de outros livros que me encantaram em 2013 (ficará para uma terceira parte), encerro este capítulo fazendo uma referência às pinturas que ilustram UM GRÃO DE CAFÉ. Da autoria de Maria Teresa Bondoso, elas emprestam à obra um verdadeiro hino poético. A ternura, a humildade e a bondade do menino Paguê estão ali num retrato de excelência – transmitindo, de facto, as virtudes do povo das Ilhas.
Um convite sublime de Olinda Beja e de Teresa Bondoso para uma inevitável visita a S.Tomé e ao Príncipe.
António Bondoso
Jornalista – CP359.
Dezembro de 2013.

Pintura de Teresa Bondoso
António Bondoso
31 de Dez. de 2013

2013-12-30

OS MEUS LIVROS DE 2013.


 OS MEUS LIVROS DE 2013 (I)

Continua a publicar-se muito em Portugal. O facto não é novo e não tem uma explicação lógica ou racional, mas há quem esteja a ganhar muito dinheiro com as palavras. Publicar é um negócio. E a qualidade é um segundo plano.
Entre os milhares publicados – e alguns de grande qualidade – escolhi quatro desta vez. Perdoar-me-ão a “proximidade”...mas é como em outros lugares e com pessoas diversas. Há sempre uma escolha e, naturalmente, subjetiva.
Para “estar em linha com as previsões” – como diz o (des)governo – começo com o sugestivo título de Luís Sepúlveda PALAVRAS EM TEMPOS DE CRISE. Exatamente em linha com a atualidade, este livro do escritor chileno – editado pela Porto Editora – fala da dialética “escritor-pessoa”, pretende dar voz aos que nunca (ou muito raramente) têm voz, e explica a razão de escrever do autor: narrar para resistir – o seu compromisso político. A pedra fundadora do seu ser de escritor foi uma simples (mas marcante) frase que viu e leu nas proximidades dos fornos crematórios de Bergen Belsen : «Eu estive aqui e ninguém contará a minha história». E jurou dar voz para que o silêncio tivesse vida. E Luís Sepúlveda escreve também sobre poesia, lembrando o “antipoeta” Nicanor Parra – Prémio Cervantes – Don Nica como é conhecido no Chile. E depois Neruda: “Nós, os daquele tempo, já não somos os mesmos”!
De facto. Perdemos a capacidade – ou a coragem? – de lutar. E vamos perdendo a dignidade. E “morrendo” cada vez mais depressa, apesar das estatísticas…


E de Vizela chegou-me um romance prometedor.
Com a chancela de Seda Publicações, Francisco Correia afirma que LAÇOS DE AMOR NÃO MORREM. Da investigação ao arrumar das ideias e das palavras – um excelente trabalho. E com muitos dos condimentos que completam uma história: amor, paixão, tragédia, sexo q.b.
Mas esta primeira incursão do autor – um poeta feito – pelos caminhos do romance, foi uma tarefa arriscada. Escolheu para a trama a difícil manobra da transição que dura um século. Francisco Correia, que escolheu como palcos da novela Portugal e Inglaterra, soube manter a expectativa e dar igualmente um bom seguimento aos desencontros e intrigas – nomeadamente sobre a “exaltação” (ou deveria dizer-se frustração?) da velha aliança Luso-Britânica que, não por acaso, teve os seus fundamentos no Pacto de Tagilde, Vizela, em 1372.
A cidade do Porto, África e o Brasil oferecem também aos leitores momentos que tocam profundamente.
Apenas mais dois pormenores sobre este “esperançoso” romance: o muito british Luís Alberto Júnior, pelo AMOR de uma brasileira, aprendeu muito rapidamente a falar a língua de Camões em Vizela. Ali, onde se dá uma imagem mais instruída, mais culta e mais humana à GNR.  
*****Amanhã falarei de outros dois. Livros, claro.
António Bondoso
Jornalista – CP359.

Dezembro de 2013.

2013-12-25

BOM DIA
 MEU IRMÃO...



BOM DIA MEU IRMÃO...(A Publicar)

Bom dia meu irmão...
...dá-me um abraço
E nele deposita a confiança
Da palavra inteira que alcança
A mão, em gesto simples de amizade
Como se fora Poesia.

Bom dia meu irmão...dá-me um abraço
E sente neste espaço
De mudança
A ternura daquele que  procura
Desde criança
O homem verdadeiro a cada dia.
========== 

A.Bondoso (A Publicar)
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António Bondoso
Dezembro de 2013.

2013-12-24

ATÉ OS MORTOS FALAM NA RÁDIO... OU A MEMÓRIA DO FACEBOOK.


Lembrou-me hoje o facebook. Manuel Lage faz anos. Faria 64 se estivesse entre nós. E certamente daria notícia do facto. Pelo menos lá em casa e aos amigos. Tive o privilégio de com ele trabalhar. Na mesma empresa e, em algumas ocasiões, juntos e ao vivo! Ao deixar-lhe aqui um abraço sentido, nele englobo todos os outros camaradas que hoje emitem numa outra dimensão. 

ATÉ OS MORTOS FALAM NA RÁDIO...
“A Rádio é um instrumento de Liberdade porquanto é um apelo permanente à Criatividade”.
                             António Bondoso

         Algum tempo depois de ter sido assinalado o “Dia Mundial da Rádio” (mais um) – meio de comunicação ainda privilégio de muitos, na exata medida de outros que pretendem e têm vindo a insistir na sua morte antecipada ( a razão já foi a TV e nos últimos anos tem sido a internet) – apetece escrever de novo sobre este media que, nas circunstâncias mais diversas de tempo e de espaço, continua a revelar-se de uma utilidade fundamental. E continua a ser, de facto, um instrumento de Liberdade, porquanto não deixa – nunca! – de ser um apelo permanente à Criatividade. De liberdade, sim senhor, mesmo quando “rejeitado” em defesa desse valor supremo. Como foi o caso, na Alemanha de Hitler, da família do Padre Bernard Häring – que escreveu em finais dos anos 50 do século XX A Lei de Cristo e que viria a ser consultado pelos Papas João XXIII e Paulo VI:- “Quando o partido [nazi] distribuía aparelhos de rádio pelas famílias para ouvirem o «führer», o pai declarava, apesar da ameaça dos campos de concentração: «Enquanto o führer vociferar na rádio, esses aparelhos não entrarão em nossa casa»”[1].       
         Quando com gente dentro e sem fios...transporta sorrisos audíveis, pensamentos positivos mas inquietos e uma serena tranquilidade para refletir. Algumas unidades continuam a semear cultura, outras – poucas – não poupam espaço à “grande música”, muitas prestam um verdadeiro “serviço público” e ainda outras tantas – infelizmente – cederam ao vício do “fabrico da informação”.
         E para além de tudo...um fabrico “normalizadamente global!”
Do “dever sagrado” que foi o facto de “revelar”, no período do pós-guerra, caíu-se – em finais do século XX – na ideia de que só ditadores e corruptos acreditavam que um grande título poderia ser incómodo e que, por isso, precisavam de encobrir as suas ações. E depois, as notícias passaram – de palavras sagradas – a ser vistas como falsas ou suspeitas. Paradoxalmente, dizem Florence Aubenas e Miguel Benasayag[2], “sob as roupagens da modernidade, a Internet corresponde a novo sobressalto dessa mesma velha certeza [é verdade, pois vem nos jornais]: eis finalmente a rede que irá permitir a cada um de nós aceder às famosas informações que os poderosos tentam ocultar-nos...”.
         Contudo, referem os autores, o sistema de comunicação foi abalroado pelo exagero da transparência e do poder/dever mostrar-se, aparecer.
No fundo, um mundo de representação com o qual temos que saber viver. A adaptação sempre foi inata no homem e, por isso, não podendo ignorar os males e os perigos da internet, temos a obrigação inteligente de os saber e poder contornar a cada dia. Disseminada, mas não necessariamente democrática, compete ao homem ir encontrando formas de retirar da net tudo o que ela pode oferecer de bom, e dessa moderna, prática, eficiente ferramenta tentar eliminar todo o ruído e todo o lixo que a invadem. A tecnologia foi de criação humana, não nasceu de qualquer pulsão artificial.  
Por outro lado, alinham-se no computador as modernamente chamadas playlists – oferta (?) das grandes editoras que fabricam música apenas para vender. Não importa a qualidade, que o lucro não tem sentimentos. E a “qualidade”, pode argumentar-se, não deixa de ser relativa. Mas a playlist é quase como que uma imposição de sobrevivência no meio. E assim, excetuando felizmente alguns casos de coragem e de bom gosto, o que mais vamos tendo por esse país dentro é radio-rooms [a expressão é minha] perfeitamente normalizadas, emitindo três canções-bloco publicitário, repetindo-se o cenário publicidade-três canções! Nem uma ideia, nem um pensamento, nem uma nota sobre o tempo que faz!
E o vento nada me diz, não há notícias do meu país.
E quando surgem em grande parte dessas “rádios(?)” – acontece que, ou estão desfasadas no tempo ou refletem apenas a cópia de publicações nos jornais e – caso imperdoável – até a reprodução de factos já relatados nas televisões. É uma rádio de reação...quando deveria ser de combate na primeira linha. Sem perder o rigor e a qualidade.
Não basta que a evolução tecnológica aconteça e seja bem aproveitada. É fundamental dar-lhe conteúdo. E sonho!
Quando sinto e penso em todas as montanhas que ainda não subi; em todos os rios que ainda não naveguei; nas matas densas onde ainda não me aventurei; nos desertos secos de vida qua ainda não dessedentei; em todas as viagens que ainda preenchem os meus sonhos... e quando sei todos os sonos que ainda não dormi e em todas as madrugadas a que cheguei atrasado e não vi nascer o Sol para além do infinito que imagino – mesmo sem ouvir a Onda Curta a que me habituei no transistor Sony de nove bandas, companheiro de viagem sempre que saía do país em reportagem ou em férias.
E perante tudo isto – porque não podemos ignorar o que vamos ouvindo e porque há datas de Abril e Maio de ligação umbilical à Rádio – coloca-se-me a imperiosa necessidade de lembrar alguns grandes profissionais da rádio. Que já “falaram”...mas que ainda se pronunciam na memória daqueles que – como eu – cultivam o vício de não esquecer: - Alfredo Alvela, Alice Cruz, Amadeu José de Freitas, António Roçadas, António Jorge Oliveira, Armindo Salvador, Arminda Brito Viana, Artur Agostinho, Artur Peres, Carlos Cardoso, Fernando Pessa, Fernando Conde, Francisco Simons, Filinto Lapa, Fernando Figueiredo, Gonçalo de Faria T. Peixoto, Guilherme Santos, Helder Soares, Igrejas Caeiro, João Canedo, Joaquim Soares Duarte, Joaquim Berenguel, Johny Reis, Jorge Perestrelo, José Anacleto, José Freire, José Andrade, José Gabriel Viegas, José Maria Rocha, José Quelhas, Licínio Oliveira, Manuel Lage, Maria Aurora Cruzeiro, Maria Leonor, Maria da Paz de Barros Santos, Mário João, Nuno Brás, Pacífico Brandão, Rui Andrade, Rui Lima Jorge, Rui Romano, Sebastião Fernandes, Virgílio Proença, Vitor Cruz.
Quem se lembrar de outros – porque há muitos mais para recordar – fará o favor de ir completando a lista. Sem memória não há História! E depois, como diz o jornalista “Sam Ridley” – investigador criminal na londrina City Radio[3] - “A rádio não depende de imagens, e essa é uma das razões porque gosto dela. O olho pode ser um órgão muito enganador”.
António Bondoso
Dezembro de 2013.   


[1] - VUILLIEZ, Hyacinthe. Na introdução a A IGRJA QUE EU AMO (Bernard Häring). Figueirinhas, 1992.
[2] - A fabricação da informação. 2002.Campo das Letras, Porto.
[3] - NILES, Chris. OS MORTOS NÃO FALAM NA RÁDIO. Bertrand, 2003.


António Bondoso
Dezembro de 2013.

2013-12-22

AGENDA MANGWANA
É UM LIVRO COM MUITOS DIAS…


 É UM LIVRO COM MUITOS DIAS…
…ou de como uma AGENDA, partindo de uma das línguas moçambicanas, consegue reunir muito do pensamento do espaço lusófono.
         Não é que a ideia seja inédita. Mas não deixa de ser um projeto arrojado em língua portuguesa e de um modo muito simples: solidariedade e espírito cooperativo, nesta iniciativa do CEMD – Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora.
         MANGWANA – assim se chama esta Agenda para o ano de 2014 – pretende significar exatamente isso. Um amanhã mais solidário, mais fraterno, vivido e participado em cada um dos 365 dias que nos aguardam, num mundo cada vez mais complexo e egoísta, dominado por interesses mesquinhos das grandes potências – elas próprias dominadas pelos potentes e prepotentes mecanismos das multinacionais, geridos pela alta finança internacional.  
         O espírito da coisa conseguiu, assim, reunir poemas, textos e pinturas de muitos autores moçambicanos, outros tantos de Portugal, alguns do Brasil, um de Angola, um da Galiza e mesmo um do Perú. Embrulhado numa capa superiormente executada com base numa pintura de Lívio de Morais, o trabalho final pode ser definido como quase um livro a jorrar poesia por cada uma das suas 217 páginas. Não tem prefácio – e nem precisa – pois os autores se encarregaram de se apresentar aos utilizadores da Agenda, num breve resumo do trajeto de cada um.
         E não deixará de ser interessante que, no início do ano de 2015, o CEMD possa juntar – pelo menos os autores desta edição – para que cada um consiga dizer aos outros o uso que deu ao seu exemplar, mostrando, se quiser, as anotações vertidas no calendário. E dizer igualmente se, desta iniciativa, terão resultado novas amizades, novos contactos, eventualmente novos projetos. Pela minha parte, confesso até que algum fruto já produziu esta Agenda/Livro, pois de Coruche – pela ideia de Ana Teixeira Freitas que nasceu no Pinhão – me chegou um convite simpático para participar em Fevereiro numa das mensais sessões de poesia que coordena, sob o título genérico de UM POEMA NA VILA. Provavelmente não tanto pela poesia que vou revelando, mas sobretudo pela minha ligação a S.Tomé e Príncipe. Que eu fiz questão de, mais uma vez, salientar durante a apresentação de Mangwana, em S.Domingos de Rana. As Ilhas no Meio do Mundo continuam a viajar comigo. Delas também sou “diáspora”, entendida por Lívio de Morais “não como uma emigração para regressar, mais como uma saída para ficar”. 


Um abraço de parabéns e de gratidão ao Delmar Maia Gonçalves, que se assume como “Mestiço de Corpo Inteiro” e que escreve “Os pássaros/acordaram esperanças/a morte morreu/e a vida renasceu”; por extensão e por direito também à sua mulher, Vera Novo Fornelos, que nasceu em Viana do Castelo mas que agora respira Moçambique e que diz “Muito tu, caneta,/escreves…/é infinda/a tua tinta/quando/me circunscreves/na folha/que se pinta”.


         E como foi bom partilhar a voz cantada de Alfredo Magalhães Júnior, moçambicano que – há pouco – inovou a canção Parabéns a Você, vertendo-a para a língua bosquímana: Tsonga e o Tsãngane. Que enriquecedor foi conhecer Lívio de Morais, que me recordou o TEMPO DE CAJÚ “ao ritmo dos passos das mães/de cestas carregadas de cajú à cabeça/…e que trocam palavras/que a língua materna as prendou/riem, cantam e batem palmas/(…)Ah! África exuberante!”
         E ler Zacarias Faztudo, que não teve possibilidade de estudar e que começou a ler por curiosidade. Diz que faz parte da família de analfabetos funcionais e acredita que pode escrever poesia anti-revolucionária porque não acredita nos políticos e pergunta: “Até quando os sofrimento/Dos povo moçambicano?”


         Agenda/Livro MANGWANA – maningue bonita. Os dias e as palavras ganguissam ao som de timbalões e de quissanges, mesmo que a história não comece obrigatoriamente com o jeito de José Craveirinha: Karingana ua karingana.
Antonio Bondoso
Jornalista – CP359.
Dezembro de 2013
=================== 
Mangwana = amanhã 
Maningue = muito 
Ganguissam = namoram 
Timbalão = tambor médio duma bateria musical 
Quissange = género de piano africano
Karingana ua karingana = Era uma vez...


2013-12-09


TRIBUTO MODESTO AO GIGANTE NELSON MANDELA...


PEQUENO TRIBUTO…
(“A bondade do homem pode ser escondida, mas nunca extinta” – Nelson Mandela).

Confessas?
*Justiça!
Negas?
*Justiça!
Que pretendes?
*Justiça e Liberdade!
A prisão há de vergar-te.
*Nunca! “Sou o dono do meu destino”.
Vais sofrer encarcerado
*Serei livre…sofrendo! “Sou o capitão da minha alma”.
Na ilha definharás
*O meu horizonte é o Povo.
Mas é um povo amordaçado, espezinhado, oprimido, subjugado…
*Levantar-se-á no martírio e beberá as lágrimas da Dignidade!

Ergueu-se, derramou sangue e suor
Moveu montanhas solidárias
O mundo percebeu toda a urgência
E fez com que mudasse tal tragédia.


Então o Homem
“Tata” Madiba,
De punho erguido e coração radioso
Provou do Poder toda a justiça
Caminhou humilde em busca de um tempo novo
E mostrou ao país uma nação.
Depois…
“Khulu” Madiba,
Serenou com júbilo o seu espírito
Alimentou de alegria outros amores
Atingiu a dimensão da eternidade.
Hamba kahle Madiba
Nkosi Sikelele iAfrica.
======== António Bondoso (A Publicar)
Dezembro de 2013.
*** Com dois versos do poema INVICTUS, de William Ernest Henley(1875).
*** Madiba = Nome do clã a que Mandela pertencia e derivado do nome de um chefe que governou a região do Transkei no séc. XVIII.
*** Tata = Pai (Língua Xhosa)
*** Khulu = Avô ( “    “ )
*** Hamba kahle = Adeus ( “  “ )
*** Nkosi Sikelele iAfrica = Senhor, abençoai a África ( “  “)



2013-12-08

AS TENTAÇÕES DE XAVIER...
…ou de como a arte nos prende à vida!


 TENTAÇÕES…
…ou de como a arte nos prende a esta vida!

         O seu nome é Xavier, conhecemo-lo como pintor e tem um traço firme, num estilo que já domina e no qual as cores e as formas – esteticamente entrelaçadas – exaltam o “feminino”.
         TENTAÇÕES foi o nome que deu à exposição de um vasto conjunto de obras – pintura e escultura em cerâmica – todas datadas de 2013. Trabalhando em acrílico sobre tela, Xavier proporciona aos visitantes a magia de descortinar as formas femininas, nas quais o homem – apenas pontualmente – desempenha um pequeno papel de gentil e sereno companheiro amoroso.
         Chamou-lhe “Tentações” mas eu proponho “Desafios” na arte de reconhecer o belo!
         Obras sem título – o artista prefere endossar a cada um dos apreciadores o prazer de classificar as obras com palavras de um poema que se encaixe no poema que é, de facto, cada um dos quadros e cada uma das esculturas. Estas, trabalhadas como se disse em cerâmica, oferecem igualmente uma visão sublime da mulher, em formas épicas de beleza e de pensamento. 


         Xavier, que terminou a sua formação em pintura, em 1976 na ESBAP, nasceu na Ilha do Príncipe [S.Tomé e Príncipe] em 1947 e vive há muitos anos em V.N. de Gaia. Expõe individual e coletivamente desde 1980, estando representado em várias coleções particulares em Portugal e no estrangeiro. Porto e V.N. de Gaia conhecem-no bem, mas Xavier já espalhou a sua arte por Lisboa, Amadora, Évora, V.N. de Cerveira, Barcelona e Valência.
         Este conjunto de trabalhos está exposto na Casa Museu Teixeira Lopes [V.N. de Gaia] até 12 de Janeiro, encerrando apenas às segundas feiras e nos dias 25 de Dezembro e 1 de Janeiro.


A esta exposição...dedico este poema ainda inédito: 
Do teu peito (A Publicar)
Sereno
Sai a luz do meu caminho.
Do teu peito
Apaixonado
Brota imensidão de carinho.
Do teu peito
Desnudado
Vem a paixão com que vivo.
Do teu peito
Revoltado
Chega-me a força interior.
Do teu peito
Adormecido
Faço repouso infinito!
======== A.Bondoso. (A Publicar)
António Bondoso
Jornalista – CP359
Dezembro de 2013

2013-12-06


NELSON MANDELA – O POEMA DO HOMEM COMEÇA AGORA!




NELSON MANDELA – O POEMA DO HOMEM COMEÇA AGORA!

“Tudo principia no princípio/o nascimento e a morte/…/ - O poema principia no fim!”
São letras e palavras de um poema de Luís Veiga Leitão que, tal como Madiba, conheceu os horrores da prisão e da tortura. E como disse Mandela, “tudo é considerado impossível até acontecer”! Por isso, o seu “poema” começa agora. Para que a memória não se apague e possa iluminar os que tomaram as rédeas do destino. Nelson não mudou apenas um país. Conseguiu (re) construí-lo sobre os escombros de um regime controverso, polémico, desumano. E fê-lo com um grande coração e com uma mente aberta e visionária. Mandela soube perdoar sem perder a firmeza dos grandes líderes. E não conseguiu apenas um Estado democrático e de direito – ganhou também uma Nação.
            Partilhou a dor e o sofrimento mas igualmente a alegria de não levar consigo qualquer segredo. Todos puderam aprender as suas lições de vida, seguindo pensamentos metodicamente elaborados e que – nesta hora do seu passamento – quase atingem o limite da vulgaridade.
            Socorro-me então, de novo, de Luís Veiga Leitão – para recordar que, ao prisioneiro (como um navio), pode cair-lhe a pintura e até o próprio nome, “Mas o mar está dentro dele/ e não há força que o dome”. E o Poeta e Mandela foram homens que vieram “dos cárceres da noite” e “vestidos de pedra”.
            Perante tais gigantes, escuso-me a dizer mais seja o que for. Prefiro partilhar o silêncio dos humildes. E sei que o “poema” de Nelson Mandela começa agora…no fim!
António Bondoso
5 Dezembro de 2013.


Com Fotos da Web.
A.Bondoso

2013-12-04

SER E ESTAR...OU SER E NÃO SER .

Não sou um profissional dos blogues. Nem pretendo ser, pelo menos enquanto puder ir fazendo outras coisas - como ler livros, escrever [poesia, prosa, crónica ou comentário], investigar, refletir, partilhar conhecimentos - sobretudo ouvir rádio e estar atento à informação. Não é deformação - é por formação. Sou jornalista. 
Os livros que tenho publicado desde 1999 vieram por acréscimo, resultado do amor à escrita - um prazer simples que fui adquirindo no convívio com escritores, particularmente poetas, e com outras figuras das letras e das palavras.  
Não sendo, portanto, um profissional dos blogues - congratulo-me por ter chegado hoje às quatro centenas de textos diversos, procurando sempre colocar as palavras em movimento. Ou em viagem, mais ou menos permanente, de modo a que a partilha pudesse ser mais alargada e mais envolvente. O número alcançado não é, por si só, muito significativo. Nem a quantidade me preocupa por aí além. Dou mais importância à qualidade dos textos e das fotos, à oportunidade dos temas que vou abordando. E já agora, apenas a título de informação, também acrescento outros números nem por isso relevantes - o dos visionamentos dos textos publicados, mais de 13 mil (só hoje foram 30) e mais de 76 comentários autorizados, com apenas 19 seguidores.  
Celebro a "efeméride" com a "oferta" deste poema (inédito), que fala do rio dos meus encantos - agora - e de outros rios que me encantaram por esse mundo fora: - HÁ VIDA NO RIO.

Foto de A.Bondoso

Há vida no rio (A Publicar)
Porque os peixes saltam
Há vida no rio
Porque os barcos navegam
Há vida no rio
Porque as ondas correm
Há vida no rio
Porque os homens pescam
Há vida no rio
Porque as pessoas olham
Há vida no rio
Porque os rapazes nadam
Há vida no rio
Porque a chuva alimenta
Há vida no rio
Mesmo que a poluição aumente
Há vida no rio
Porque é antes do mar
Há vida no rio…
Haverá sempre
Enquanto te amar!
=====A.Bondoso (A Publicar)
Foto de A. Bondoso

António Bondoso
4 de Dez.2013



À VOLTA DE MIM E DO MUNDO!

Visões apocalíticas sobre o que resta do nosso mundo são mensagem cotidiana. Desde há muito.
Em 1991 - por exemplo - William S. Burroughs publicou O FANTASMA DE UMA OPORTUNIDADE, no qual traça uma "parábola sobre a destruição do meio ambiente pelo homem". 
Figura tutelar da Beat Generation, Burroughs foi considerado por Norman Mailer como "o único escritor americano possuído pelo génio". 
A efémera república socialista LIBERTÁLIA que ele fundou em Madagáscar, pela mão do "capitão Mission", acabaria por ser destruída pelos interesses cruzados da alta finança internacional. E nos seus pensamentos, reflexões e advertências, Mission chegaria à conclusão de que "O tempo é um mal da humanidade; não é uma invenção humana, é uma prisão humana". 
Partindo deste pressuposto, ofereço-vos hoje a leitura deste poema ainda não publicado: O TEMPO...Esse Mistério!

Foto de A.Bondoso (por telemóvel).
O TEMPO…ESSE MISTÉRIO! (A Publicar)

O tempo que em mim habita
Não me pertence
De todo…
Chegou em prenda de vida
Há de partir moribundo.

E foi um tempo reduzido de menino
Adolescente difícil quanto baste,
Um estudante sem tempo
E jovem adulto lá na guerra transformado
Com profissão definida já na Rádio.

Um tempo
Que sem ser apenas meu me afetou
Um tempo que me ensinou a crescer
E até mudou
Sem ser precisamente um tempo novo.

Invenção intemporal
Antes do homem nascer
O tempo que em mim habita
Há de levar-me com ele:
Vivo ou morto
Em forma de um telefone
Porque não computador
Ou mesmo de microfone?

O tempo que em mim habita
Numa espera clandestina
Vale o tempo da espera
De ser o que já não é.

Agora é um tempo de subir o rio
Para uma viagem sem tempo
Mas com vida…
Jornada sempre nova nos processos
Com um destino marcado
Sem um tempo de chegada anunciado.
======= A. Bondoso (A Publicar)


De um autor que desconheço...em viagem por STP.

António Bondoso
Dezembro de 2013.