2015-05-26

UM ABRAÇO PARA UM AMIGO...

Lucas em 1º plano...e com António Bondoso
Há ocasiões em que não podemos fugir a uma tarefa delicada. Mas dizem que os amigos se mostram exatamente nas ocasiões difíceis. E estas breves palavras, aumentadas pela saudade das fotos, servem de facto para dar um grande abraço ao grande camarada e amigo que foi e é o João Nazário Lucas. Em S. Tomé nos conhecemos, em S. Tomé nos tornámos amigos e convivemos desportivamente, em S. Tomé fomos camaradas de armas na CCAÇ7. O Lucas perdeu hoje o seu filho "Lucas" - gerado na relação são-tomense com a Luisa - e que, tal como o pai, se revelou um grande profissional de futebol. Não privei com ele. Mas sabia quem era. Via-o como grande jogador. Tal como o pai havia sido um grande jogador...antes do tempo e noutras latitudes. Com este filho apenas me cruzei duas ou 3 vezes, por via da camaradagem do pai e da mãe. E só lhe pude dizer o grande jogador que era...e manifestar-lhe a pena que sentia pelo destino não o ter colocado no FC do Porto. Desentendimentos ocasionais entre os clubes não o permitiram. Esteve quase. Espero que a infelicidade que cedo o retirou do futebol tenha desaparecido...e que, agora, no Olimpo, possa continuar a chutar à baliza. Um grande e eterno abraço.Igualmente ao pai e à mãe Luisa.

Um Dia de Serviço à Unidade e à Companhia CCAÇ7

Lucas "Filho", que enlutece o futebol português. Nunca "deixou" o futebol, mesmo em funções sindicais.

Lucas "Pai", à esquerda, com outro particular Amigo, o Elvido (à direita), no Andorinha Sport Clube. 

António Bondoso
Jornalista


2015-05-25

FOI DE ÁFRICA QUE CHEGARAM...FOI DE ÁFRICA QUE PARTIRAM...FOI DE ÁFRICA QUE VIERAM E EU COM ELES VIAJEI.

Golfo da Guiné

                       PRIMEIROS BISAVÓS

Aparece

Por cima dos meus olhos

De repente

Visão escrita… ou o refrão da minha prece

E diz simplesmente

Que os primeiros bisavós dos avós dos meus avós

Eles que depois voltaram a ser avós

Nasceram lá onde tudo acontece.



Provavelmente no sul

Numa África de rios e de mares

Grandes lagos onde o Nilo se alimenta

Níger… Congo… Zaire… Zambeze…

O Atlântico e o Índico em tormenta

Para lá do Cabo onde as fontes são palmares

Agora já secos de uma vida tão azul.


Séculos e milénios de passos e caminhos

O tempo viajou depressa e deixou

Gerações atrás de gerações que se perderam

E hoje não me lembro já de quem amou

Os primeiros bisavós dos avós dos meus avós

Que depois deles voltaram a ser avós

Se espalharam possuíram e viveram.


Caminharam…lutaram  

Pisaram e passaram as curvas dos escolhos

E seguiram a estrela dos pais que viram luz

Errando para além da morte

Nos seus olhos

Até chegar à terra que é do norte

Repousando os pés … nas pedras que calaram  

A voz da música e o silêncio que produz

O pensamento quente dos tambores

Anúncio encomendado dos amores

Dos bisavós dos avós dos meus avós

Que depois deles voltaram a ser avós !


E assim se cumpriu o meu destino

E de outros que paridos tão a norte

Navegaram conheceram amaram sem favores

Outros mundos novas terras tanto hino

À liberdade, e descobriram antes da morte

Que os primeiros bisavós dos avós dos meus avós

Mereceram, gente comum, elogios e louvores

De sábios senhores mais velhos e de gente como nós !        

------------------------------
Original de António Bondoso, publicado em 2008 = DA BEIRA!Alguns Poemas e Uma Carta para Aquilino.                       


Cais Velho - Cidade de S.Tomé

António Bondoso
Jornalista

2015-05-21

ONDE FICA A ÁFRICA?



Numa altura em que há como que um “toque a finados” nesta União Europeia cada vez mais em deriva, também não é sem apreensão que vemos ouvimos e lemos sobre ÁFRICA. As televisões encarregam-se de nos mostrar diariamente. E um dia destes, a 25, celebra-se aquele que pretende chamar a atenção para os inúmeros problemas – claro – mas igualmente colocar em destaque as potencialidades desse terceiro mais extenso continente e segundo mais populoso do mundo…e do qual fazem parte cinco países que têm como oficial a língua portuguesa:- Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique e S. Tomé e Príncipe.
Há, como dizia um antigo diplomata brasileiro, muitas Áfricas. Qualquer enciclopédia nos aponta as diferenças. Não pretendendo cavalgar essa verdade absoluta e deixando ao critério de cada um a “busca do tesouro”, sempre chamo a atenção para o que escreve o jornalista Leonel Cosme no seu livro MUITAS SÃO AS ÁFRICAS (Novo Imbondeiro,2006): «não são apenas muitas as Áfricas-nações que procuram a sua unidade, em cada território e no continente, mediante um esforço de “reafricanização”, para retomar o fio da história cortado pelo colonialismo; são também as muitas áfricas-sociológicas que existem em cada uma delas, como boas ou más heranças, conforme o olhar de quem faz a leitura dos resultados. E porque muitas são essas “áfricas”, muitos foram e ainda são os olhares, uns que vêm do passado, outros, do tempo que ainda decorre».
Como escreve o Professor e historiador Elikia M’Bokolo, não temos razão para desesperar de África, apesar de todas as notícias que nos chegam: o continente é uma máquina pesada que precisa muito tempo para caminhar. (...) É preciso uma integração por fases progressivas, à imagem da construção duma casa. E não retomar a ideia de N’Krumah, no seu tempo, que a unidade imediata do continente é possível.
Já será suficiente para debate, sobretudo se lhe juntarmos as ideias de Aimé Cesaire e de Leopold Sedar Senghor.
Contudo, e embora retendo esta ideia, o que pretendo aqui escrever é o meu olhar. E apenas isso. Sobretudo um olhar para alguns pormenores das minhas áfricas. E sem precisar de recorrer ao prefácio de Hemingway em AS VERDES COLINAS DE ÁFRICA, basta-me apreciar, particularmente, O LIVRO DE COSTA ALEGRE, de Lopes Rodrigues (1969), para quem o primeiro grande Poeta São-tomense «foi bom, foi estudioso, foi inteligente, foi poeta». E o amor pela sua terra, o amor aos pais…até à sua morte. E quero deixar essa nota de não menos importância, pois a ideia que tem passado em muitos círculos é a de que Caetano da Costa Alegre não tinha “amigos” e foi um dos “esquecidos”. Eu lembro sempre que posso. Tal como recordo Almada, Tenreiro, Alda Espírito Santo, Olinda Beja e Conceição Lima.
E porque não eu?…que hoje vos deixo este FILHO DA TERRA, publicado na página 81 de AROMAS DE LIBERDADES (2015):
FILHO DA TERRA

De S. Tomé sinto cheiros
Da terra
Depois da chuva,
O aroma de um café
E o riso das crianças
A dimensão do seu povo
A brotar do vulcão da ilha grande…
Ideia de um paraíso
A navegar pelo Golfo.

É do cacau que se fala
Ainda e sempre
É do chocolate um desejo
Pois do petróleo se espera
Ainda e só.

Mas o turismo é uma certeza
Do Príncipe que se transforma
Uma viagem de sonho
Salgada de azul-turquesa
Condimentada ao minuto
Quase perfeita aos olhos de quem sente.

S.Tomé e Príncipe dêdê[1]
Pintenxa de alma minha seduzida
Coração de mina-tela amargurado
Paixão mu nantan pagadu.




[1] - Dêdê = Querido; Pintenxa = Penitência; Mina-tela = Filho da Terra; Mu = Minha; Nantan = Jamais; Pagadu = Paga.



ANTÓNIO BONDOSO
JORNALISTA

2015-05-17

Também é nossa. Já não é só nossa!


Era uma vez – mas como não foi a primeira, não terá sido certamente na “Três” – um solitário pensionista, reformado, abandonado pelo Estado, moeda de troca de um jogo de poder em que os governantes são instruídos pela alta finança, e no qual os políticos da oposição [das oposições, melhor dizendo], lançados os dados no tabuleiro do “monopólio”, são incapazes de apostar com discernimento e decisão. E são estes, pela sua hesitação, os mais penalizados. Não aqueles que, usando de perfídia e de abuso da governança, utilizando o facilitismo para atingir as metas capitalistas, extorquem aos ditos “indefesos/abandonados” o sinal [pelo menos grande parte] do seu trabalho de muitos anos, independentemente de continuarem a contribuir – quase como se estivessem no ativo.
É o meu retrato? Claro que é! Idêntico ao de milhares de camaradas registados nos processos da imensidão dos ministérios deste país. E mesmo sendo eu jornalista – apesar de aposentado, como disse – não é fácil aguentar a pressão e denunciar a injustiça, a trafulhice, o concubinato, o casamento “ideológico” entre a tacanhez, a demagogia e a ilusão salazarenta da ordem e da mansidão.
Há, de facto, um manto protetor que “paralisa” as fracas mentalidades que habitam este território. Como por exemplo o que se tem passado à volta do AO. Em respeito pelos muitos milhares de crianças e adolescentes que já praticam a nova ortografia nas escolas e tomando boa nota da adaptação de muitos profissionais do jornalismo…eu sou a favor do acordo. As mudanças afetaram-me mas nunca me derrubaram psicologicamente.
Como diz o Prof. Carlos Reis, as reações negativas passaram a ser como que uma questão passional. E aproveita para recordar:- “Há 40 anos, Portugal mandava na língua. Mas, nestas quatro décadas, dois acontecimentos foram decisivos: a língua passou a ter valor económico e Portugal perdeu a propriedade. Já não somos proprietários, passámos a condóminos, somos nós e mais sete países. Muitas pessoas ainda resistem a esta ideia.”


António Bondoso
Jornalista

2015-05-15


O VIRTUOSO...
Foto no DN

Partiu fisicamente...mas deixa-nos uma "audio e vídeoteca" para consultar em momentos de paixão. Partiu sereno - uma imagem que sempre pretendeu passar ao público, apesar de ter sofrido na pele. Pela cor, que não pelo génio! E pela diferença. Ele próprio disse - toco, interpreto aquilo que sinto e de que gosto. 
E no livro que vou preparando sobre e a propósito da RÁDIO, este grande virtuoso da guitarra não é esquecido: "A Rádio, para mim, prossegue sendo uma guitarra freneticamente manipulada por Jimmy Hendrix ou docemente acariciada por BB King, das quais podem sair notas de um afro-americano rock de Harlem ou de um afro-americano blues a caminho de Memphis – onde já destruíram a magia da Rua Beale. A rádio e a música de sentimento, a rádio e a voz de protesto, a rádio da memória escrava, a rádio da sensação libertadora."

Paz à sua alma...e que a sua serenidade nos acompanhe. 
António Bondoso
Jornalista

2015-05-06


SER LÍDER NÃO É PARA TODOS…
…ou de como não temos liderança!



SER LÍDER NÃO É PARA TODOS…
…ou de como não temos liderança!

Quando se fala em questões de liderança, há ideias que nos assaltam o pensamento quase de imediato. Virtudes e princípios à cabeça, sendo fundamental reconhecermos sobretudo justiça, coragem e honestidade.
         Vem isto a propósito de mais um episódio rocambolesco entre Passos Coelho e Paulo Portas, no qual se está a faltar à verdade e no qual falta lealdade. Mais uma vez ficamos com a certeza de que ambos não são confiáveis.
         A liderança virtuosa/transcendental assenta exatamente nesses valores e princípios da honestidade, autenticidade, lealdade, justiça e verdade. E não sendo assim…não pode ser confiável. E em vez de um líder que vê as pessoas como um fim em si mesmo, percebendo o poder para benefício de todos, líderes deste tipo são ambiciosos, astutos, falsos profetas, impostores, egoístas, demagogos. Servem-se do poder para autoengrandecimento. Jamais poderão ser portadores de virtudes fundamentais como a prudência, justiça, coragem e temperança.
         Não conseguirão nunca saber discernir o que é realmente importante!
António Bondoso
Jornalista. 



2015-05-05

***** Entendeu-se ser hoje o "Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)".
Foto de António Bondoso


Entendeu-se ser hoje o "Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)".
=== Por isso, recordo apenas esta ideia do Prof. Adriano Moreira:
"...Em toda a parte, aquilo que avulta como menos vulnerável e como cimento mais forte, é realmente a língua". (...) E se houver capacidade e não faltar vontade, a língua é o veículo da cultura capaz de disputar o seu espaço e de o fazer crescer"!
António Bondoso
Jornalista

2015-05-03

NESTE DIA:
SER MÃE…É IR ALÉM…

Fotos de Família

SER MÃE…É IR ALÉM…
Às vezes é tudo tão óbvio, quantas delas as ideias parecem repetir-se, em muitas ocasiões pensamos que já não temos palavras, em circunstâncias diversas o discurso apresenta-se fosco, por muito que o sentimento nos comprima o peito – nem sempre conseguimos ter voz para exteriorizar o bater do coração.
Pode acontecer até que o cruzar do imperfeito leve amiúde a situações de conflito. Sentimentos de posse e de libertação, de proteção por excesso e de afirmação da independência – quantas vezes não colidem. Mas é apenas um momento mais ou menos prolongado. Tarde ou cedo há um gesto de carinho a selar o «normal funcionamento» da relação.
Por isso é que eu digo que – ser mãe…é ir além! De tanta coisa! De tanto como ser filho! Aceitando, percebendo, compreendendo, perdoando, amando com humildade. É único! E por isso é um desafio…


SER MÃE É DESAFIO.

Gerar e parir não faz a Mãe
Pois há muito que se perde a todo o tempo:
Educar, o Ser, estar presente... e tanto Amor.

Pelo caminho vai ficando mais carinho
Esgota-se a Amizade e a paciência
Neste tempo de dor e d’incerteza
Não bastando por si só toda a ciência.

Renovar para ser Mãe é desafio
É sentir e não partir.

Urge ficar, perceber, permanecer
Assumir que tudo é belo
Quando ser mãe é sofrer e é sorrir
Antecipar o poder de imaginar
Que ser Filho é alegria e é trabalho
Sistema complexo de crescer
Entre angústia, ilusão... até desgosto
E do sonho retirar maior prazer.


Ser Mãe é intenso desafio
Saber partilhar cada momento
Respeitar o silêncio amargurado
Num breve olhar cúmplice...
Mas atento!
===== António Bondoso. AROMAS DE LIBERDADE(S). 2015. Pg59. 

António Bondoso
Jornalista