2022-11-27


NÃO É APENAS O FUTEBOL QUE ESTÁ DE LUTO. Fernando Gomes está para além da paixão do e pelo futebol. Como poucos. E por isso choro. 



Ao contrário de muitos outros que hoje se «apresentaram», nunca tive a oportunidade de ser «teu amigo». Mas foste um ídolo que sempre admirei e respeitei. E acompanhei, como adepto e por motivos profissionais. Não esqueço, por exemplo, a competição para a tua segunda “Bota de Ouro”. A ansiedade que se gerava quando, já numa fase adiantada dos campeonatos, eu telefonava para a BBC para saber quantos golos havia marcado o teu direto competidor. E como recordo igualmente uma reportagem que efetuei em tua casa, para a RTP, no dia da final da Taça dos Campeões Europeus em Viena, em 1987. Tu, ainda de muletas, após uma lesão num treino recente, e o Lima Pereira com «gesso». A vossa tristeza por não poder estar lá a ajudar a equipa. Mas foi ouvida a vossa mensagem de esperança. 


Vi-te jogar pela primeira vez no Barreiro contra a CUF, em 1975 ao lado de Cubillas e de Oliveira.  Apesar do «perfume» que a equipa espalhava, era ainda um tempo de retração. A síndrome da Ponte da Arrábida, que ia prolongando o jejum.

Felizmente, pouco tempo depois viriam Pedroto e Pinto da Costa. E tudo se transformou. E devo confessar que ainda hoje me custa entender a «falta de razão» que levou à tua saída do clube, no tempo de Artur Jorge e de Otávio, quando tu defendeste o grupo e já depois da idiotice de Ivic – finito – e da máxima que Quinito celebrizou, apesar de retirada do contexto: Gomes e mais 10! Mas disse igualmente «Quim e mais 10» ou «Madjer e mais 10»!

Grato por te ver jogar, apreciando as qualidades inatas de grande jogador e de um avançado centro/ponta de lança fora do comum. Até sempre Fernando Gomes – Bibota!



António Bondoso

Com fotos suas e da Web

26 de Novembro de 2022. 


2022-11-11


ESPAÇOS PARA OCUPAR A MENTE E O CORPO.

QUINTA DO RIBEIRO – TERRAS DA RUA, MOIMENTA DA BEIRA. 

Hoje celebramos o S. Martinho a preceito e...com jeito!



Propriedade da Fundação Rodrigues Silveira, ali funciona a Escola Profissional de Moimenta da Beira, em cooperação com a Câmara Municipal. Anteriormente denominada de IFEC – Instituto de Formação e Educação Cooperativa – a Associação da Quinta do Ribeiro, na freguesia de Vila de Rua, constituída em Maio de 1987, alterou os estatutos em 1994. A natureza, contudo, prossegue sendo educativa e técnico-profissional.

No âmbito das suas atividades, a Escola tem uma Academia de Música “Quinta do Ribeiro”, cujo objetivo principal é ampliar o universo das artes, cultura e cidadania de crianças e jovens, através do ensino da música. Ou seja, incentivar o gosto musical e promover os valores de integração e cooperação entre os alunos. 



Possuidora de um largo e atrativo espaço, com “História”, a Quinta tem vindo a promover os designados “Serões da Quinta”, sobretudo em épocas de significado particular. Como é o caso da celebração do Dia de S. Martinho – jeropiga e castanhas no «prato principal». 



Se não puder lá ir hoje, marque uma visita na sua agenda próxima. Vale a pena. 




António Bondoso

Jornalista

Novembro de 2022.

epmoimenta.pt














 

2022-11-09

LINHAS TROCADAS...

A outra margem da «linha» não tem rio que se alongue

A correr para o mar, lavado em lágrimas. 



Foto de A.B. (por Tlm)

Mas tem gente de labor

Dedicada, resiliente, sem perder a esperança.

E tem também escarpas cheias de vida teimosa

E campos com laranjas e tangerinas a dourar o sofrimento. 



Foto de A.B. (por Tlm)

E os carros que não viajam

Carregam vidas paradas. 


Foto de A.B.(por Tlm)

António Bondoso

Nov de 2022. 



 

2022-11-07

De súbito…veio-me à ideia de que havia lido, algures, um «Poema» datado de 7 de Novembro. Não há muito, claro, pois a memória está ainda fresca. E o livro à mão, sem esforço. É que o dito tem sido um dos mais recentes na mesinha de cabeceira. O poema tem por título “O Velho calhambeque” e faz parte de «Chuva de Prata», que a poetisa santomense Alda Barros fez publicar na Chiado Editora em 2019. 


Alda Barros 

         Depois de conferida a ideia, lembrei-me igualmente de que estamos quase a assinalar a data da independência de Angola. É com poesia, portanto, por ela e através dela, que desta vez abordo o tema. Pelo menos uma aproximação. De Angola e do «espaço lusófono», como veremos. E justifico de forma simples por dois ou três motivos: embora Alda Barros tenha nascido em S. Tomé e Príncipe, também viveu e estudou em Luanda – Jornalismo e Relações Internacionais. Uma compatibilidade interessante do ponto de vista profissional e académico. Alda Barros, recordo, fez parte de um grupo de jovens jornalistas que fundou em STP o jornal “Revolução” – o primeiro do novo país independente. Depois, Luanda de novo, onde iniciou a sua carreira profissional no PNUD das Nações Unidas. Ainda outros «postos» da ONU, quer em Timor-Leste, quer na Guiné-Bissau, com uma breve passagem pelo Burundi. Uma outra razão – e já com o livro como objeto – tem a ver com o «prefácio», da autoria do angolano Lopito Feijó, e que ele intitulou como segue: “ALDA BARROS: PARA UMA OUTRA DISTENDIDA PROPOSTA POÉTICA LUSÓFONA”. Pela sua leitura da obra, Lopito Feijó destaca “Alguma guineensidade. Patente angolanidade e até algo de moçambicanidade mas, acima de tudo a visível santomensidade (…). A autora condensa aqui vários motivos de identidade comum a todas as culturas e povos dos países cultores da língua portuguesa”. De facto, o livro viaja por tudo isto e, embora os poemas não precisem de ser explicados – Almada Negreiros diz mesmo que a Poesia não aceita intermediários, é direta – a autora achou por bem colocar algumas notas nas páginas iniciais. Não tanto para falar dos poemas, mas sobretudo para evidenciar a felicidade que se tem quando beneficiamos de um tempinho para amar, escrever, inventar ou até reinventar um espaço temporal que nos dê prazer. Por isso as palavras que, “vindas do coração e ditas com alma nunca nos causam arrependimentos”, e por isso as histórias contadas. Neste caso, em forma de poemas. 



         E é assim que “O Velho calhambeque” nos traz à memória os musseques de Luanda, onde a sobrevivência é difícil, mesmo com uma caneca de «nguem-nguenha»; ou “Um pesadelo bom” nos fala do sonho de uma refeição quente, de muito amor e do cheiro forte da «kissângua de milho».

         Este meu texto, que não pretende ser uma recensão – longe disso – significa apenas felicitar Alda Barros pela sua obra em crescimento e agradecer a frescura do seu sentir em Chuva de Prata. Obrigado Alda Barros pelo seu «Grito» em Santa Catarina; grato Alda Barros por nos trazer a memória da Trindade e do baú onde moram segredos; obrigado pelos «descaminhos» onde nos diz que o poema é penumbra, encanto, mas também suor e pudor; grato por nos oferecer ainda «Beijos trocados no carnaval» em Quifindá. 


Apresentação do livro na sede da UCCLA

         Quem quiser perceber tudo isto, nada como adquirir “Chuva de Prata”. Chiado, 2019.

António Bondoso

Jornalista e Mestre em Relações Internacionais. Poeta nos «intervalos».

Moimenta da Beira, 7 de Novembro de 2022.   














 

2022-11-01

PAIXÃO, PARADOXO, POESIA…ou apenas a beleza das palavras comuns. «Ao vivo» ou na Rádio…



Conceição Lima, a Poesia e a Rádio Vizela

A Poesia pode ser tudo e pode ser nada, mas tem palavras de sonho e de esperança – mesmo quando o sentido da vida parece escoar-se pelos ecos secos dos batimentos num teclado projetado numa “folha” em branco. Com tendências ou marginal…a poesia é uma arte difícil. Não só na sua elaboração mas sobretudo no incentivo à sua procura e na sua divulgação, tendo em conta os «paradoxos» da própria poesia – como escreveu José Régio: “A poesia é inseparável das formas que a exprimem, a captam, e simultaneamente acha maneira de pairar acima dessas mesmas formas”.

Quem navega nesta onda talvez saiba que existe há onze anos uma paixão numa Rádio local. Como em tempos na Antena 1e na Rádio Macau, por exemplo. Em Vizela, o labor apaixonado de uma amante das palavras insiste e resiste. E a Rádio acompanha. O tributo em forma de «gala» aconteceu mais uma vez na passada sexta-feira. Eu, que já tive o privilégio de poder «mostrar-me» ali, de viva voz, não pude responder desta vez ao convite da Conceição Lima. Mas não quis passar ao lado e deixar pendurado o meu sentir. Por isso, enviei um pequeno texto e um «poema» em forma de mensagem. Que a Conceição leu e disse, à luz da lanterna do Eduardo Roseira, como se pode avaliar pelas fotos aqui reproduzidas, da autoria de Hélder Leal Martins.          


 

Conceição Lima e a «mensagem»

ANTÓNIO BONDOSO , homem de Cultura e de convicções, enviou-nos um recado, de que me fiz veículo...Foi tão bom este carinho, com esta seriedade! Obrigada, amigo! Vou aceitar os elogios .

E o que dizia a mensagem? Apenas isto:

Não há palavras mortas em definitivo, como sabemos. Reinventadas, recicladas, renovadas, ressuscitam para moldar outras ideias. Os avatares da escrita, ora no discurso inquieto da prosa, ora na função social da poesia.  E mesmo que se não goste…o «movimento» tem graça!

         No nome e na personalidade da Conceição Lima – de “sua Graça” – há décadas a lidar com palavras de autores diversos, ora no ensino, ora em públicos mais vastos, quer na apresentação de livros, quer através das ondas da Rádio. Onze anos – 11 – a divulgar Poesia na Rádio Vizela. A cada semana de cada mês de todos estes anos. É obra. Pelo seu «dom» de pessoa garbosa, elegante e graciosa, sempre em busca de palavras outras, sempre olhando mundos outros.

         Esta pequena mensagem, sincera, não tem qualquer outro objetivo que não seja valorizar o trabalho da Conceição Lima e da Rádio Vizela. Todos sabemos como os «média» têm um largo défice de cultura e como, nos «média», a Cultura não tem espaço. Por isso, e porque não posso vir aqui dizer-vos isto pessoalmente, voaram as palavras.

         Obrigado e parabéns Conceição Lima, obrigado e parabéns Rádio Vizela". 

 E ainda o poema que segue e que elaborei há poucos dias. Quero apenas dizer que o mesmo é baseado numa foto que tirei num pomar de maçã, e na qual aparece um espaço de céu azul. E isso bastou para o poema: 

 UM BURACO NO POMAR…por onde espreitam «Poemas».

 

Fruto de imaginação ou de produto palpável

Será sempre uma ideia

De uma utopia em cadeia.

 

Aromas de muitos sonhos

A penetrar nos sentidos

Um azul que rasga o tempo

Uma vontade inquebrável.

=== A. Bondoso

7 Out. 2022. 


                                                  11º aniversário de "A HORA DE POESIA"

António Bondoso. 

Outubro de 2022.