2012-05-24


A PROPÓSITO DO DIA DE ÁFRICA.



                                   "Renunciar também é um tipo de liderança". Nelson Mandela.


Reflectir sobre a África obriga-nos a recuar séculos. Estudar e perceber o Norte não nos conduz de imediato a idêntica apreciação sobre a África Central ou Austral. Do chamado Corno de África a Marrocos, da região do Cabo ao Egipto, do Golfo da Guiné à região dos Grandes Lagos – cada espaço é simultaneamente único e verdadeiramente complexo.
Não tenho, por isso, a pretensão de alargar a História nem, tão pouco, de transformar esta simples nota de memória num elaborado tratado de antropologia ou de política internacional.
Quero apenas partilhar ideias e poder contribuir – minimamente que seja – para abrir um debate sobre o que me aproxima da África e dos meus amigos africanos.
Assim, mais do que repetir imagens de conflitos e tragédia, a minha motivação passa por dizer – à semelhança do que acontece com a Europa actual – que o continente “eterno” sofre da ausência de uma liderança forte, mesmo que repartida, como foi o caso da geração do “Pan-Africanismo” que conduziu ao processo de descolonização, independentemente do grau de diálogo ou de conflito com as “potências” europeias.
Depois de N’Krumah, Lumumba, Nasser, Senghor, Kenyata, Nyerere, Cabral, Agostinho Neto, Mondlane – restou ainda vivo Rolihlahla Nelson Mandela. Vivo também o seu espírito de lutador e de conciliador que granjeou e espalhou – quer no tempo de combate ao “apartheid”, quer sobretudo com o seu exemplo na presidência da Nação do Arco-Íris, a nova África do Sul.
Vale a pena, por isso, e também porque é sentido como que um vazio depois da sua presidência, recordar o que Albrecht Hagemann escreveu sobre Mandela em 1995. A obra, traduzida e publicada em Portugal em 2011(pág.142-144), numa iniciativa do Expresso, conduz-nos às oito “Lições de Liderança” (2008) trazidas a público pelo amigo íntimo de Mandela, Richard Stengel. Para além do carisma, o carácter!
Por agora, basta atentar nas duas últimas: (7ª) “Nada é preto e branco. Nada na vida é ou/ou. As decisões são complexas e existem fatores concorrentes. A vida concorda com o cérebro humano em querer ter explicações simples, mas isso não corresponde à realidade. Nada é tão evidente como pode parecer. Enquanto Mandela combatia inquestionavelmente o apartheid, reconhecia ao mesmo tempo as suas diferentes origens históricas, sociológicas e psicológicas”; (8ª) «Renunciar também é um tipo de liderança. Com o seu anúncio precoce de querer apenas cumprir um mandato na presidência, Mandela tencionava enviar um aviso, não só para os seus sucessores, mas para todo o continente africano. A sua tarefa, de acordo com um companheiro da altura, Cyril Ramaphosa, ‘era decidir o rumo do navio, não comandá-lo’. Mandela estava convencido de que os líderes políticos lideram mais pelo que não fazem do que pelo que fazem».
Deixo-vos ainda, se tiverem paciência para ler e criticar mais um pouco, um trabalho que elaborei em 2009 sobre “O continente africano e os conflitos endémicos. O caso nigeriano da Guerra do Biafra e as águas turbulentas do Delta”.
         
***** Faça o download do ficheiro integral em: DiaAfrica12.pdf



2012-05-22


À VOLTA DE MIM E DO MUNDO...




CENTENÁRIO...OU UM RECONHECIMENTO MERECIDO!

Esta efeméride coloca em destaque a vida e a obra de um dos grandes – mas quase desconhecidos – símbolos da aventura portuguesa no Oriente.
Saído de Freixo-de-Espada-à-Cinta, onde nasceu em 1912, Monsenhor Manuel Teixeira chegou a Macau em 1924 – onde viria a receber o nome de “Man Pak Chin”, o que significa mais ou menos a origem da sabedoria e da virtude.
De facto, esta “personalidade espantosa” – no dizer da investigadora Celina Veiga de Oliveira – legou às gerações futuras uma impressionante, incontornável e preciosíssima obra sobre a presença portuguesa no Oriente e da qual os portugueses fazem, porventura, apenas uma muito pálida ideia.
O professor e editor António Aresta, que também o conheceu em Macau, referiu-me há uns anos cerca de 130 títulos – alguns dos quais traduzidos em inglês e em chinês. Uma obra que classifica de vital importância, pois que – se não fosse o trabalho persistente e metódico de Mons. Manuel Teixeira na investigação, classificação e publicação – boa parte da documentação sobre a nossa presença no Oriente ter-se-ia perdido. Daí, a necessidade urgente de serem reeditadas algumas das suas obras fundamentais, como por ex a “Toponímia de Macau” – cujo manuscrito data do início da década de 1970 mas que só viria a ser publicado (em dois volumes) em 1979.
Rejeitado pela “censura” do governador de então e perdido em Portugal no esquecimento das motivações do pós-25 de Abril, o manuscrito viria a ser recuperado pelo interesse e pelas diligências de uma sua velha amiga de Macau – a professora e escritora Ana Maria Amaro. A censura da obra, disse-me o próprio durante uma entrevista efectuada já depois do seu regresso a Portugal e já muito próximo do seu 90º aniversário, teve origem na simplicidade de um nome de rua: “Rua do Ópio”, de acordo com as autoridades de então, contaria uma história impublicável, eventualmente à semelhança por ex da Rua da Felicidade. Monsenhor Manuel Teixeira opôs-se determinantemente ao corte do respectivo capítulo: - “Nem uma vírgula. São factos, não se podem apagar da história”. Decidiu, então, enviar o manuscrito para Lisboa, onde viria a cair no esquecimento da “ditadura” e, depois, no turbilhão da revolução que se seguiu ao golpe militar do 25 de Abril de 1974.
Nessa entrevista para a Antena 1 da RDP (transmitida no programa Nós e Os Outros, mais tarde cortado da grelha no “consulado Marinho”) e da qual retiro todas as ideias fundamentais do presente texto, Mons. Manuel Teixeira recordou ter chegado ainda a “pregar” em língua chinesa e mencionou figuras e locais que o marcaram. Nomeadamente Carlos Assunção – seu aluno “muito inteligente” e a quem ensinou Latim; o “poeta insubstituível” Adé dos Santos Ferreira; ou o seu “irrequieto” aluno Carlos Marreiros, já nessa época um génio da caricatura.
E seguiu dizendo que os portugueses deixaram uma marca muito forte no Oriente, sobretudo conquistando a amizade dos povos – atitude particularmente devida à acção dos missionários. Não só em Macau e em Malaca mas também na Coreia (onde participou no “Paralelo 38” em cerimónias em honra de N. Sª de Fátima, a 13 de Maio) e na China, onde destaca o trabalho do Padre Jesuíta Mateus Ricci, italiano de origem (Matteo Ricci) que estudou em Coimbra e aprendeu a língua portuguesa para melhor se integrar na vivência de Goa em finais do séc. XVI. Dizem escritos e Manuel Teixeira corrobora, que Ricci foi depois chamado a Macau para estudar a língua chinesa com o objectivo de missionar na China, onde a religião católica enfrentava enorme resistência.
“Conquistou os mandarins pela ciência” – diz Manuel Teixeira. Para além de Humanidades, Ricci partilhava conhecimentos de Matemática e de Astronomia, tendo morrido em Pequim em 1610. “E só não foi canonizado”, acrescenta, pelas críticas que erradamente lhe dirigiram. Ricci foi acusado de ensinar ciência em vez de pregar o evangelho!
Outra “canonização” falhada, mas por motivos diversos, foi a do Padre Adroaldo Coroado, natural de Vilarandelo – concelho de Valpaços – que chegou a Macau em finais do séc. XIX e cedo partiu para Malaca onde passou o resto da sua vida “fazendo o bem sem olhar a quem”. Aí, durante a IIª Guerra Mundial, conta Manuel Teixeira, era comum ouvir-se rádio para saber as últimas notícias. O padre Coroado e outros clérigos, traídos por um “malaqueiro” de nome Bates, foram presos e torturados pelo japoneses. Após a sua morte, os católicos de Malaca quiseram avançar com o processo da canonização, mas – infelizmente – faltou o dinheiro.
Durante a sua permanência em Macau, Monsenhor Manuel Teixeira ficou ainda conhecido como o “casamenteiro” de todos os japoneses. De tal forma que, estando já em Portugal, foi procurado na Casa de Santa Marta, em Chaves, por uma jovem de nome Mioko. Pretendia casar-se com Yoko e vinha pedir a Monsenhor para se deslocar ao Japão. Mas a sua saúde já não o permitiu.
E foi na Casa de Santa Marta, em Chaves, que Monsenhor Manuel Teixeira viveu os últimos dias da sua longa peregrinação pelo oriente deste mundo: - Macau, Malaca, Singapura, Coreia, China e Japão. De certa forma desgostoso por não ter cumprido o seu desejo/promessa de morrer em Macau. --- AB. Maio 2012.



Igreja de S. Francisco Xavier na ilha  de ShangChuan - sul da RPChina.

2012-05-12


O ser humano e a sua circunstância. Entre complexas palavras - como Dogma, Fé, Crença - o Homem não é uma "ilha". Vive sempre paredes meias com emoções, afectos, desespero, esperança, promessas, lamentos, exemplos, desgraça, ternura, solidariedade. E sempre à procura de um sentimento mais forte, para além de nós e da nossa mesquinhez. Que a noite passe depressa e que o amanhecer possa ser mais radioso.



                      MARIA SENHORA NOSSA

De Maio a Outubro erguemos as mãos
Agradecemos a Deus o envio da Senhora.
Oramos na Cova das aparições
Em Fátima com Fé celebramos a vida
Dizemos a Cristo que somos irmãos
Estendemos as mãos com os corações
Ao alto e na cruz  cantando orações.

As palavras da prece dirigidas a Deus
Leva-as a Senhora nos lenços bordados
Húmidas de lágrimas na hora do adeus.
Santos humanos muitos pecadores
Sorrisos molhados beijos atirados 
Cânticos louvores e muitos amores
À volta da luz das velas e flores.

A virgem Senhora intercede por nós
Em sonhos de branco mensagem de paz
Persegue um caminho por cima de nós
ousado milagre de humano calor
Mostra que a meta de ser capaz
Motiva emoções energia de amor
Da nossa vivência o símbolo maior.

De Maio a Outubro na Cova da Iria
Comungamos o Corpo elevamos a alma 
Chegamos a Ele pela Virgem Maria !
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Fev. 2007                                         
António Bondoso                                                  

2012-05-06


***** “Chamei por ti, não respondeste...”.
Se eu pudesse ir ter contigo...

Há 40 anos, tinha acabado de perder o bem maior. E registei exactamente estas palavras. Angústia e dor marcavam, então, a tristeza da minha caminhada a solo. E pensava e dizia
que te tinham levado porque eras boa!
E como foste muito cedo, faltou-me tempo para te devolver o carinho que só tu me sabias dar.
Hoje, trago à luz do dia palavras de sentimentos que alguém manteve reservadas. A pureza ingénua de algumas frases - segredo em arca de cânfora durante 40 anos:

ONDE ESTÁS?

Mãe!
Chamo por ti mas não respondes...
Onde estás?
Porque não vens?
Ó... no fundo, eu sei que não podes vir.
Mas se eu soubesse onde te escondes
Onde moras onde vives, onde tens o que eu não tenho...
Sim mãe... se soubesse, queria ir!
Preciso ver-te, abraçar-te
E sentir o calor do teu amor
O amor que tu me tinhas.
E quero ter as tuas mãos
Muito bem perto das minhas
P’ra me guiarem bem longe
No amor que agora tenho!
========================
----AB. 24Maio1972.

2012-05-02

‎*****Para os mais distraídos ou para os menos confiantes nos dirigentes sindicais portugueses, aqui deixo parte de uma notícia sobre o 1º de Maio na Alemanha.............. 

O presidente da Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB) criticou hoje as políticas de austeridade, acusando os políticos europeus de não enfrentarem os bancos e os especuladores, no principal comício sindical do Primeiro de Maio, em Estugarda.

"Em vez de destruir a Europa com as políticas de austeridade, são necessários programas para estimular a conjuntura, afirmou Sommer."Nos países em crise do sul da Europa são homens de confiança do grande capital que estão na ponte de comando", proclamou, defendendo a introdução do referido imposto para financiar programas de apoio à conjuntura e de combate ao desemprego juvenil.

Sommer reiterou também a exigência dos sindicatos germânicos para introdução de um salário mínimo nacional na Alemanha de 8,50 euros por hora.-------------Jornal "i" online.