2011-12-29

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !

Agora... que se aproxima 2012, deixo uma pequena - mas avisada - reflexão!

Aqui, em Moimenta da Beira, terra de meus pais e meus avós e de outros antes deles mais avós.

Palavras frias e secas...apenas de leve esperança bordejadas.


O ANO DOZE...NO DEMO.

Quando aqui se queima o Velho
É a esperança que nasce
Repetidamente renovada em noite de quente folia.
Renasce no novo ano toda inteira
Mesmo que os sinais se mostrem
Embuçados, turvos ou difusos
Nos dias frios que precedem a noite louca.
O vento gelado que nos chega
Do Marão a curtir a pele seca,
Prenúncio telúrico de Torga
Ou de Aquilino seu carácter revelado
Teimosamente beirão,
Traz na brisa cortante um certo fado
De perigos em Dezembro esconjurado.
É então que o alto fogo alcança
Do céu os seus limites em Janeiro
Devora decrépita figura engalanada
E apresenta a quem repara
A dúzia deste século embaraçado
Em mortes, fomes e misérias
E em tragédias de comédia anunciado.
========== A.B. 2011 – Moimenta da Beira.

2011-12-17

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !

Cesária Évora – aos 70 – permanece como Património Imaterial da Humanidade !

Não quero, de todo, escrever aqui um vulgar “elogio fúnebre” a uma grande mulher africana. De uma infância difícil até à fama mundial, Cesie – assim chamada pelos amigos – viveu à volta da música. De grandes músicos que o seu país continua a legar a este mundo. Só em Portugal ninguém percebeu o seu valor em 1985. Foi pena ! Ou não... para bem dela e de Cabo Verde.
E numa altura em que o “Fado” foi elevado à categoria de património imaterial da UNESCO, também foi pena que o seu país não houvesse tido a oportunidade e a vontade de atingir esse objectivo com a “morna”. Também foi pena que o “caso” não tivesse sido abordado e assumido – como projecto comum – pela CPLP.
Pode ser que, após cada “derrota”, alguém se lembre de pensar sempre mais à frente !
Cesária partiu para parte incerta... curiosamente uma semana depois de o Prof. Adriano Moreira ter sido distinguido na Universidade do Mindelo como Dr Honoris Causa.

Uma sugestão de missão para a CPLP: --- concertadamente, um doutoramento honoris causa em cada um dos “Oito” para esta “Dama de Pés Descalços”.

2011-12-09

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


Dobra a finados na Europa. O “eixo” renasce !

Acordo intergovernamental à custa das pessoas sem que elas sejam ouvidas ? Como diria Almada Negreiros “modernista” – Portugal não está no passado nem no presente! Os portugueses não fazem ideia do que seja uma Nação – um conjunto nacional, um pensamento comum, uma vontade unânime e colectiva. A Nação está incompetente para utilizar os valores dos seus cidadãos, não sabe utilizar as suas capacidades.

Aceitamos tudo o que os poderosos nos querem impor.

Sabe-se que a intervenção do BCE seria decisiva para evitar mais recessão na Europa, mas o eixo (onde é que eu já ouvi esta palavra?) impôs as suas teorias e os seus interesses. Por uma vez sou levado a estar com a posição inglesa.

Aquele que tem sido nomeado frequentemente como a “voz da consciência” da economia – Amartya Sen – bem lembrou que a Europa devia esperar pelo momento certo para reduzir a dívida pública.

Por outro lado, é neste cenário complexo e difícil que os 27 decidem passar a 28 – com a adesão da Croácia – um exemplo de virtudes democráticas.

Recordo o “dilema” de Augusto Rogério Leitão, Prof de RI na Universidade de Coimbra : = Ou a União opta por ser fundamentalmente uma Zona de Livre Comércio (…) e as suas fronteiras poderão alargar-se; ou opta por uma união política com maior partilha das soberanias, e as suas fronteiras terão de ser menos extensas.

Tudo ao contrário. Rogério Leitão teme (continua a temer) o divórcio entre os povos europeus e o passo de corrida das elites na construção europeia.

Reparemos na expressão conclusiva que o 1ºM PPC revelou aos jornalistas portugueses:--- O tempo dirá se... o tempo dirá se...

O tempo – esse eterno rival da convicção e da competência !

2011-12-04

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


O Natal é um reflexo.

De um espelho muito baço ou de um mágico momento?

Nem sempre se descortinam as razões da dúvida, mas é certo que o período natalício tanto projecta alegria, consumismo, felicidade...como realça tristeza, pessimismo, desespero. Paradoxo? Nem por isso. E as culpas da contradição nem sequer podem ser exclusivamente atribuídas ao Pai Natal da Coca-Cola. Já muito antes de terem descoberto a morada mais recente da elegante e veneranda figura de barbas brancas, na Lapónia, se reconheciam sinais de dupla face no que toca a uma época desde sempre desejada como devendo ser de comunhão, de concórdia, de solidariedade. Os cristãos, provavelmente, não terão entendido de imediato o significado da estrela brilhante que havia guiado os Reis Magos ao berço térreo de Belém. A luz destacada no nocturno firmamento da terra prometida poderia ser, afinal, o reflexo de uma Luz solar que marcava o solstício do Inverno – data entendida como oficial pelo imperador Aureliano – a qual passou, assim, a ser festejada pelos cristãos, já não apenas como acontecimento pagão mas também com um sentido moral, de respeito pelo nascimento de Jesus, pelo Sol da Justiça, pela Luz do Mundo. Decorria o ano de 274, mas igualmente se sugere a possibilidade do ano 336. A luz brilhava, mas – não podendo haver certezas num tempo sem computadores, sem internet, sem fibra ótica – houve quem explicasse a data do nascimento de Cristo à luz de uma teoria simbolico-astronómica, na qual se equacionam o dia da Sua conceção e o dia presumido da Sua morte mais os nove meses da gravidez de Nossa Senhora. Refletem-se nesta equação o equinócio da Primavera, a Páscoa judaica a 25 de Março, o dia da criação do mundo e ainda o dia da Encarnação. Esta “incerteza” sobre o dia 25 de Dezembro vem contada num livro de Silva Araújo[1] que lembra ainda a data de 6 de Janeiro na qual, no século IV, o Natal evocava simultaneamente o nascimento de Cristo, a adoração dos Magos e o baptismo de Jesus. Nesse dia, agora já no século XXI, trocam-se prendas em Espanha e cantam-se as Janeiras em Portugal. O que deveria ser importante, sobretudo numa época de crise mundial como a nossa – financeira, económica, ética e de valores morais – seria retermos o simbolismo da mensagem de Cristo, atentos à verdade, à paz, ao diálogo, à amizade, à solidariedade, mas também seriamente preocupados e decididos em enfrentar as causas da pobreza, da desigualdade e da ganância. Poderíamos ter, assim, um espelho menos baço e muitos mais momentos de magia. A luz das estrelas ainda nos pode motivar!

A.B. – Dez 2011.



[1] - Viver o Natal, Livraria Apostolado da Imprensa – Porto, 1987 (2ªedição).