2020-03-30

COVIDias2…ou de como, ficando em casa, vou escrevendo sobre isto e aquilo, pois tudo me diz respeito. E as palavras têm sobretudo a ver com as situações que me são próximas, com o modelo das ideias que partilho ou com alguns dos locais dos meus afetos, como é o caso de Torre de Moncorvo. 


Do antigo amor ao ferro até à nova esperança das Minas de Torre de Moncorvo – mais um compasso de espera na sua reabertura, determinado pela pandemia da COVID-19.
37 anos depois da falência da Ferrominas que, nos anos 50 do século passado, chegou a empregar 1500 mineiros e após a consequente suspensão da atividade em 1983, esperava-se agora – falhadas outras tentativas ao longo dos anos – uma retoma com uma nova empresa e um substancial financiamento. Mas o SARS CoV-2 e as repercussões na saúde das empresas veio provocar nova incerteza.
Contudo, a delegação da empresa em Moncorvo – a britânica AETHEL MINING – funciona, naturalmente a um ritmo reduzido, estabelecendo contactos e criando uma «base» de pessoas a contratar. Mas, com a situação de pandemia, o trabalho propriamente dito nas minas ainda não começou. Foi recentemente previsto iniciar-se com 60 postos de trabalho diretos, podendo mais tarde chegar aos 140, para além de 500 indiretos durante o longo período da concessão. Houve mesmo uma cerimónia inaugural em meados deste mês, no lugar da Mua, com a presença do maior investidor, Ricardo Santos Silva – antigo sócio de Miguel Relvas para a compra do banco Efisa – e da administradora Aba Schubert, tendo sido anunciado um investimento de até 520 milhões de euros. A MTI Ferro de Moncorvo, que havia conseguido em 2016 a concessão da exploração, vai manter-se na operação.
Vem esta história – meio notícia, meio crónica – a propósito da minha ligação familiar e de amizades a Moncorvo, matéria que já descrevi no livro que fiz publicar em 2014 “EM AGOSTO…A LUZ DO TEU ROSTO”.



Faço ali referência nomeadamente a questões culturais, sociais e económicas – destacando precisamente as ligações da «terra» ao «ferro»: “E depois o ferro, que é sem dúvida o traço mais característico e inconfundível de Moncorvo! Apesar das evidências da existência do minério e das promessas de investimento – a última das quais anunciava o início da exploração em 2016 – e apesar de estar ali instalado já um Museu do Ferro, o estudo do CEPESE[1] que temos vindo a referir é categórico na sua proposta de desenvolvimento: (…) “parece-nos que a definição de uma estratégia de afirmação e valorização cultural de Moncorvo no contexto regional, nacional, e transfronteiriço, que procure ligar a identidade e a modernidade, o passado com o presente e o futuro, passa pela criação de um Centro de Estudos do Ferro em Moncorvo, uma instituição de referência a partir da qual seja possível desenvolver toda uma actividade cultural que dinamize não só o município, mas toda a região do Douro Superior, de que Moncorvo constitui o principal centro de serviços”.
Nestes tempos difíceis de isolamento voluntário, termino deixando um abraço grato de amizade ao João Leonardo, que na infância conheceu as minas acompanhando seu pai, médico…e ao António Rodrigues, natural de Peredo dos Castelhanos – um dos «bastiões» da amêndoa coberta de Moncorvo, outra das riquezas do concelho e da região.
António Bondoso
Março de 2020.                                                                     



[1] - Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade, da Universidade do Porto.

2020-03-29

COVIDias1…ou de como, ficando em casa, vou escrevendo sobre isto e aquilo, pois tudo me diz respeito. E as palavras têm sobretudo a ver com as situações que me são próximas, com os locais dos meus afetos ou com o modelo das ideias que partilho. 


Ao fim de 3 semanas de isolamento voluntário, confesso que não estou muito preocupado com os números da China – 40 mil ou apenas 4 mil – ou da Rússia, ou dos Estados Unidos, seja qual for a dimensão da propaganda ou da verdade, seja mito ou teoria da conspiração. O que verdadeiramente me assusta é termos um «inferno» aqui ao lado, em Espanha, e continuar a perceber insanidade em setores importantíssimos da sociedade portuguesa.
Não se trata apenas das imagens das filas intermináveis de veículos a circular a caminho de nenhures ou de confraternizações à beira-mar. O Estado democrático é preenchido pela diversidade de opiniões mas não deve ser olhado por uma perspetiva de ditadura corporativista. Particularmente quando o momento exige unidade e determinação. Não falo de unanimismo. Se e quando o Estado falhar há que responsabilizá-lo política e mesmo criminalmente se for caso disso. Mas esta não é a hora. Respeito – há muito que aprendi a respeitar – os médicos e os enfermeiros. Reconhece-se isso sobretudo quando passámos por situações complicadas. Mas não posso deixar de manifestar a minha indignação quando leio – apesar de não ter sido massivamente divulgado – que o Sindicato dos Enfermeiros (talvez haja mais do que um), pela palavra do seu presidente à agência Lusa, «vai avançar com uma providência cautelar contra o Estado devido à falta de material e de proteção dos profissionais para enfrentarem a pandemia de Covid-19».
Deve ser defeito meu, talvez uma certa iliteracia jurídica, mas não consigo perceber o alcance! Vai daí…começo a imaginar que o Tribunal possa mandar confiscar os equipamentos que o Estado adquiriu recentemente no estrangeiro.
António Bondoso
Março de 2020


2020-03-24


 Da imbecilidade à iliteracia…ou de como os «perguntadores» dos média são incompetentes e demonstram uma falta de ética altamente reprovável. É uma tristeza tamanha, como diz a canção. 



Já que não há uma Ordem, a próxima tarefa da CCPJ deveria ser determinar um exame rigoroso para a obtenção do título profissional. E depois, o caso da arrogância raivosa que se instalou. Não na «classe», que não existe, mas no «arregimentado» de fulanos que diariamente nos invadem o espaço tranquilo que habitamos. Este caso é muito mais preocupante do que o vírus em si. Não fora a «oportuna» intervenção do PR, no final da reunião científica onde os técnicos explicaram aos políticos e aos representantes da sociedade a evolução da atual crise pandémica…teríamos provavelmente assistido ao vexame de dois perguntadores quase chegarem a vias de facto, na habitual sessão de divulgação dos números relativos à Covid-19.
         E depois de ouvir/escutar o PR, fica-me a certeza da «estatura» de competência e inteligência manifestadas pelo 1ºM António Costa, na abordagem a esta crise, a quem muitas vezes – em circunstâncias diferentes – tenho tecido críticas duras.
         Outra crítica aos perguntadores tem a ver com o facto de, ao arrepio de tudo aquilo a que chamamos bom senso, «colocarem» o líder do PSD no mesmo cenário que havia servido para a intervenção do PR, minutos após este ter intervindo e respondido às questões dos perguntadores. Ali, naquele cenário, depois de falar o Chefe de Estado, não fala mais ninguém. Se queriam obter a opinião de Rui Rio…teria sido mais avisado interpelá-lo noutro local do edifício. Assim, podemos interpretar a situação como uma tentativa de colocar o líder do PSD ao nível do PR e, porventura mais grave, uma tentativa de conseguir arranjar um manifesto antagonismo entre o PR e um líder partidário. E, tal como há diferença entre o que é «racionar» e o que é «racionalizar»…também nesse caso se trata de não confundir antagonismo com o que chamamos de contraditório. 



António Bondoso                                                                                     
Março de 2020. 


2020-03-21

Há pessoas que são poemas…ou de como devemos fazer por merecer as amizades que nos trazem alegrias nesta caminhada. Hoje quero recordar os vivos ZEAL Berto Rodrigues e José Brites Marques Inácio, e outros dois que acabam de nos deixar fisicamente: a Zélia Filipe e o Pedro Barroso.


No dia da Poesia, que também é da Árvore – e porque elas morrem de pé – quero lembrar dois nomes que me ficarão na memória. A Zélia Filipe, que passou por mim velozmente e por meio de uma ligação familiar próxima. Semeava vida, transpirava disponibilidade e escrevia com traço fino. Em «Um Mar Chamado Maio» plantou:-“ E quando uma gota da tua pele inundava a minha, Maio tremia e jurava esquecer-te de novo. (…) Escreve um poema na minha mão, pediste-me um dia (…)”. Celebraria hoje sessenta e uma primaveras e talvez não tenha tido tempo de escrever o poema na mão de quem lhe pediu.
E o Pedro Barroso, que teve igualmente pressa de partir, não sem antes me oferecer a sua amizade (pelo que estou grato à Zé Praça) e me ter dado a oportunidade de partilhar ideais, aceitando comentar o meu «O Poder e o Poema»: - “Este livro não é apenas um livro de poesia, é sobretudo um livro/ensaio sobre as odes à revolta que foram surgindo ao longo da história”. No dia em que disse estas palavras, na CISTP – Casa Internacional de S. Tomé e Príncipe, em Lisboa – o Pedro recebeu um quadro pintado pela minha prima Tita, sua admiradora incondicional. Mas o Pedro teve pressa de partir. Não deixa um vazio pois a sua generosidade foi imensa, perfeitamente capaz de preencher o espaço:

AO PEDRO BARROSO
Tiveste pressa de partir
Pedro.
Mas partiste a cantar…
De coração cheio de cantigas ao vento
De poemas puros e doces
E de palavras poderosas e perfeitas
Choradas, trabalhadas e sentidas.
A tua memória feliz…
Será sempre uma melodia
Celebrada em pensamento!

Neste Dia da Poesia, quero ainda deixar um abraço grato a dois outros poetas, vivos. Ao José Brites Marques Inácio, que me canta – científica e calorosamente – as belezas da vida e do Douro, quer no Porto, quer em Resende, e me tem brindado com a sua amizade e disponibilidade. Nem de propósito, José Brites tanto nos diz que «Pluviosa/ a natureza/
como teus lábios/
, como Marques Inácio escreve que «Da espuma dos dias surtirão entre manitas salpicos e rochas densas de amor alapado, octópodes animados em praias de peixes voadores, canoas alagadas e sol calmo. Por fim».
         A outra figura é o ZEAL Berto Rodrigues, que vai resistindo às contradições da vida deste mundo. Beirão de Viseu, amante da liberdade e das amizades que foi consolidando, o ZEAL persiste, aceita – quantas vezes apesar da revolta – os caminhos cruzados e espinhosos da viagem que foi confiada a cada um de nós. Tal como José Brites Marques Inácio (há poucos meses), também ZEAL foi um dia a Moimenta da Beira para estar e participar na apresentação de um livro meu. Em 2014, quando publiquei com as Edições Esgotadas «O RECOMEÇO», o trovador recuou ao «Poder e o Poema» para me brindar com o poema musicado que agora vos deixo: https://youtu.be/x6J5Eiq_GGU
Ant. Bondoso
21 de Março de 2020.




2020-03-19

DEZ ANOS À TERÇA…ou o resultado de uma vida de entrega, de trabalho, de ser solidário, de amor, de amizade, de partilha da saudade de «ser» de lá. Carlos Dias escolheu «À Terça» não por acaso, embora saiba que todas as horas de cada dia produzem notícias de longe, trazidas pelas ondas do mar, carregadas de sentidos, antes de a espuma se desfazer nas modernas teclas do computador que as transforma. 


Na terça-feira que passou, pudemos ler o nº 509 do «Notícias à Terça», uma publicação online que o amigo Carlos Alberto Ferreira Dias continua a fazer questão de produzir, com o objetivo de manter uma ligação à terra que o viu nascer e partilhar essa ligação com todos os que amam verdadeiramente as ilhas encantadas do meio do mundo, as ilhas de S. Tomé e do Príncipe, as pérolas do Golfo da Guiné e do Equador, as ilhas do cacau e do chocolate, as ilhas dos sorrisos sempre à espera de um dia novo!
         Cada frase escrita é um safú parido com amor, é um gomo de jaca pacientemente limpo, é uma manga descascada à dentada, é uma carambola encaixada em cada gomo de vida, é uma banana maçã perfeita na palma da nossa mão, é uma fatia de fruta-pão assada no makuku da saudade e da esperança.
         Para a semana, quando lermos o nº 510 do Notícias-à-Terça, teremos celebrado na véspera o 10º aniversário deste amor do Carlos Dias. E nosso, claro! De todos os são-tomenses, nascidos, criados ou vividos. E porquê às «terças»? Segundo o próprio, «não foi possível estabelecer a data em que tiveram início os almoços às terças-feiras que juntam os amigos de São Tomé e Príncipe, naturais ou não, ex-residentes ou em curta estadia em Lisboa. Há mais de 50 anos não há dúvida. Quando em 1963 estive em Lisboa de férias já um grupo ligado a São Tomé e Príncipe se juntava no Rossio, frente ao Nicola, todas as terças-feiras. Ali iam esperando que se juntassem mais uns tantos e partiam para ir almoçar a um restaurante escolhido na ocasião, quase sempre no Parque Mayer. Desse tempo lembro-me do Fonseca do Rio do Ouro, do Baltazar das Plancas, do Ricardo Carvalho da Imprensa Nacional, do Araújo da Curadoria e mais uns tantos. E porquê Notícias? Porque reparei que uma das razões do almoço, além da óbvia, que era estarem algum tempo juntos, e almoçar claro, era a de trocar notícias de outros amigos e da vida em São Tomé e Príncipe. E assim continuou, mesmo quando passaram a ser muitos mais os convivas, aquando do regresso de muitos portugueses na altura da descolonização. Às vezes um ou outro trazia um pequeno apontamento para não se esquecer, ou um jornal, ou um livro … daí o “Notícias” a partir de 23 de Março de 2010. (…)».  
         Já enalteci a persistência, o gosto, o amor, o serviço do Carlos Dias para com o país e para com as comunidades diversas de são-tomenses em Portugal. E correndo o risco de me repetir, não posso deixar de salientar a PAIXÃO pela escrita. Carlos Dias não recebe honorários pelo trabalho que apresenta. Pelo contrário, investe tempo e dinheiro nesta função cultural. Muito para além da informação, muito mais do que o ato de comunicar – o editor do Notícias à Terça assume a prática de, embora não opinando declaradamente, dizer o que sabe, escrever o que sente e quantas vezes explicar o que relata.
         Obrigado Carlos Dias. Mais do que o número…o «significado»!


António Bondoso
Março de 2020. 




2020-03-17

Eu sou Liberal…ou de como a demagogia tem entrado nas ações de combate à exponencial ameaça da Covid-19.


Ontem ouvi um médico dizer na TV (num dos canais a céu aberto…) que é, ou sempre foi, um «liberal». Fiquei sem perceber o alcance da «tirada» (na altura confesso que ainda não tinha aderido ao projeto Audição Ativa), pois me pareceu que o dito não vinha mesmo nada a propósito do tema em discussão.
Talvez o senhor estivesse sugestionado pelo facto de estarmos em ano de celebração do 200º aniversário da Revolução Liberal do Porto (podemos ler sobre o assunto em qualquer manual de História ou na net e tenho pena que, devido às restrições da Covid-19, vejamos adiadas pelo menos as primeiras ações do programa que pode ser consultado em www.rotaportoliberal.pt).
         Ou talvez tenha sido apenas um desabafo, eventualmente frustrado – como me pareceu – pelo facto de, dirigindo uma equipa especial no seu hospital privado, ainda não ter visto requisitado o seu esforço pelas autoridades e entidades que têm vindo a gerir a evolução da doença. Ficou-me a ideia de que se referia de forma crítica – embora não muito direta – à Diretora Geral da Saúde e à Ministra da Saúde.
         Não querendo cometer a mesma indelicadeza com que o senhor doutor presenteou as referidas senhoras (infelizmente não caso único), sempre recordo uma frase que Gabriel Garcia Márquez atribuiu ao «libertador» da América do Sul – o general Simón Bolívar, de seu nome completo Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palacios Ponte-Andrade y Blanco” – no seu romance histórico «O general no seu labirinto» que retrata a última viagem do herói, já doente e apenas acompanhado pelos seus colaboradores mais diretos (depois de praticamente expulso da Colômbia). Dizia o general, referindo-se ao seu rival Santander e partidários, mencionados numa carta de um outro antigo companheiro, o marechal Sucre: - “Não sei donde é que os demagogos se arrogaram o direito de se chamarem liberais. Roubaram a palavra, nem mais nem menos, como roubaram tudo o que lhes cai nas mãos”. Relativizando situações, épocas e outras circunstâncias, também eu me interrogo sobre o que é ser liberal. Mais correto será, hoje e aqui, falarmos de neoliberais e do que as suas políticas têm originado em todo o mundo a elas sujeito.
         Reconheço a nossa pequenez e as nossas incapacidades, reconheço as falhas dos nossos governantes – que não são poucas – mas também sei, igualmente frustrado, a demagogia que corrói o país em que vivemos e vamos sobrevivendo.


António Bondoso
Março de 2020.  

Só mais 2 minutos...para completar. 

Síntese perfeita de O Poder e o Poema. Um abraço de Saudade…Pedro Barroso.

https://youtu.be/BKB9_2pUE-A



2020-03-13

ESTAMOS EM GUERRA…ou de como, acompanhando os média nas últimas semanas – particularmente nos últimos dias – começamos a perceber que as novas ameaças e os novos desafios neste mundo não são apenas, ou sobretudo, as guerras ou os conflitos violentos um pouco por todo o globo. 


É certo que muitas dessas novas ameaças resultam dos tais conflitos armados e violentos, como é fácil imaginar os refugiados da Síria ou do Congo, do Iémen ou do Sudão, do Equador ou da Nicarágua. Dos refugiados à pobreza, à fome e à miséria o caminho é curto, dessa acumulação resultando igualmente doenças com roupagem cada vez mais difícil de identificar. Consequentemente, de tratar e de curar.
Muito rapidamente, recordando apenas alguns dos mais recentes casos, temos os principais surtos do vírus ÉBOLA que ocorreram ao longo dos anos de 1970, no meio da década de 1990, e entre 2000 e 2001. Resultado = 1200 mortes; a SARS – uma epidemia de síndrome respiratória aguda grave que assombrou o leste e o sudeste da Ásia em 2003, afetou mais de 8 milhões e 400 mil pessoas, causando mais de 900 mortes; entre 2003 e 2011 foi a vez da «gripe aviária», traduzida no vírus H5N1. Tendo começado no Sudeste asiático, espalhou-se pela Europa e pela América do Norte. Foram registados no mundo 555 casos da gripe, com 324 mortes; depois, em 2009, a pandemia da gripe suína: causada pelo vírus influenza H1N1, a doença teve casos simultâneos de pessoas infetadas nos cinco continentes. O H1N1 representou uma ameaça porque circulou com uma velocidade elevada. E apesar de não ser extremamente letal, a gripe suína fez centenas de vítimas, principalmente entre os mais idosos. Ainda há casos isolados da doença, mas a Organização Mundial de Saúde classifica o atual período como “pós-pandémico”. A doença causada por esse H1N1 acabou por não ter elevada expressão numérica, o que levou a OMS a um arrependimento posterior pelo facto de ter declarado então o surto como «pandemia».
Talvez por isso, já se ouviu recentemente essa explicação, a OMS tenha desta vez hesitado e demorado tanto tempo a declarar a COVID-19 como pandemia. Na minha perspetiva, foi determinante o facto de a doença – durante muito tempo – se situar apenas na área geográfica da Ásia. Foi preciso a Itália chegar ao ponto a que chegou para que a OMS alterasse a sua posição. Tardiamente. E a hesitação da OMS levou atrás de si os responsáveis europeus. Veremos o «preço» a pagar por todas essas hesitações. Portugal, apesar dos seus fracos recursos, foi tentando antecipar medidas preventivas e foi tentando perceber a dimensão do fenómeno e a melhor forma de com ele lidar, sem causar o inevitável alarme social. De certa forma conseguiu, embora lutando e resistindo à por vezes «baixa» atuação dos média e à habitual chicana politiqueira.
Aliás, e ao invés do verificado em outros países, deu-se o caso feliz de se conseguir curar um dos primeiros doentes infetados – e já são mais de 100 – sem se ter registado qualquer morte.
Mas estamos em guerra…e ela vai ser longa e dura! Como escreveu o Gen. Loureiro dos Santos há 4 anos, a guerra está «No Meio de Nós»[1]. E porque a insegurança não tem apenas a ver com os referidos conflitos armados ou com o novo terrorismo, é sempre bom recordar o que pensava o general sobre os recursos estratégicos vitais e a sua relevância para as pessoas e para as sociedades. Nomeadamente a água e os produtos alimentares são fundamentais para garantir o funcionamento da saúde, circulação financeira, abastecimento e distribuição de energia e a segurança. Por isso, dizia Loureiro dos Santos, «Embora para o mundo de amanhã, a incerteza seja o que temos por mais certo e devemos esperar pelo inesperado, não haverá grandes dúvidas sobre o aumento da insegurança em todo o mundo, particularmente como consequência da facilidade com que se tornou possível explorar as vulnerabilidades das sociedades modernas organizadas em rede e com as suas infraestruturas críticas apoiadas no ciberespaço, o que resulta especialmente da associação de dois fatores: a escassez de recursos e o fator demográfico».
Tiremos alguns minutos ao nosso estádio de ansiedade e angústia para refletir sobre isto. Basta pensar nos 50 mil milhões de dólares que os EUA afetam ao problema, enquanto Portugal se deve ficar talvez pelos quatro mil milhões de euros. Por isso…a «nossa guerra» deve contar com a solidariedade de todos os portugueses.



[1] - A GUERRA NO MEIO DE NÓS, Clube do Autor e Loureiro dos Santos, 2016. 



António Bondoso                                                      
Jornalista e Mestre em R.I.
Março de 2020

2020-03-08

UMA TIA ESPECIAL…que assinava simplesmente «Felicidade».
Entre o nome e a realidade – uma imensidão de memórias….ou de como estes simples pormenores entre a vida e a morte marcam a diferença na curva mais próxima da estrada. 


         O nome permanecerá eternamente…a realidade irá sendo moldada pela proporção da distância entre a alma e o chamamento do cotidiano concreto.
         “Nascida para sorrir”, como eu digo num poema, «da vida ultrapassou qualquer tormenta/festejando bem mais que os oitenta». E partiu, serena quanto pôde, neste dia dedicado aos direitos da mulher.
         A caminho dos 96, esta tia – viva – era parte de uma geração de sete irmãos (do meu lado paterno) que resistiu ao tempo, ao percurso e aos avatares da história familiar. O que ainda resiste é dez anos mais novo.
         Um dia, como outros cinco, «também ela embarcou nessa aventura/ de saber d’África a ilusão». E «no rasto de outras vozes de família/Partiu chegou e amou aquele mar/ À terra se entregou de coração/Sem cuidar de receios e lamentos (…)».
         Foi «QUASE UM SÉCULO»:
(A Publicar)
Ao somar perde-se a conta
De toda a distância que fica
Quase um século
Vivido em dois
E muita história passada.
Celebro um sorriso de vida
Testemunho dores na alma,
No coração alegrias
Foram derretendo o peito
Como se humano ser
Quisera tudo perfeito.
======== A. Bondoso (A Publicar)
Outubro 2014
À Tita, sua filha e minha prima, ao seu irmão Armando, meu tio, e a todos os outros seus sobrinhos e amigos…o meu sentido e verdadeiro pesar. Por não poder estar mais próximo, apenas por não poder.
Até um dia Tia Felicidade! Guardarei o riso e o sorriso de sempre!



António Bondoso
8 de Março de 2020.

2020-03-04

MOIMENTA DA BEIRA, O INFANTE D. HENRIQUE…ou as memórias de uma viagem no tempo que juntam as pessoas.


De Moimenta da Beira a S. Tomé e Príncipe; de S. Tomé a Angola e posterior regresso ao «puto»; do Porto a Macau e volta…o que eu andei pr’aqui chegar!
         Um grupo de Moimentenses a residir no Porto, que frequentou o Externato Infante D. Henrique, em Moimenta da Beira e depois se espalhou pelo país e pelo mundo, talvez no rasto do sonho do Infante, reuniu-se hoje em convívio na Fundação Cupertino de Miranda. Celebrou-se o Infante – que nasceu no Porto a 4 de Março de 1394 – e lembraram-se as raízes da interioridade em tempos difíceis tal como a esperança em vida na liberdade.
         Foi tempo de reencontrar amigos e de identificar novos rostos, foram momentos de memórias da infância e da juventude, foi um tempo de falar de famílias e de cultura. E do Externato, dos professores e da forma de ensinar. Tudo isto entre umas quantas pataniscas de bacalhau e filetes de polvo com arroz de feijão.
         Antes, no “hall” de entrada, foi fundamental saber quem era quem, identificar o grau de parentesco – alguns irmãos, muitos primos, também cunhados ou apenas conhecidos – mapear os contactos de cada um para memória futura…
         E as conversas foram fluindo até à hora da despedida e antes da foto «de família», com as habituais recomendações para a presença nos próximos convívios, aqui ou em qualquer outro lugar, sendo Moimenta da Beira o denominador comum.
         Foi o primeiro convívio de Moimentenses a residir no Porto, de uma forma mais alargada, recebendo bem como sabemos. Costumo dizer que «as pedras desta cidade são atos de liberdade», tal como Almeida Garrett dizia «Se na nossa cidade há muito quem troque o “b” por “v”, há pouco quem troque a liberdade pela servidão».
         E foi com esse espírito que todos saíram a pensar na organização do próximo encontro de Setembro, em Moimenta, não sem antes eu ter lembrado que no dia 21 de Março vai acontecer [na Galeria por cima do Auditório Municipal] uma sessão especial para assinalar o Dia da Poesia, sobre o tema SAUDADE. Poesia contada, dita e cantada.
         Um obrigado particular à organização deste convívio no Porto – especialmente ao dinamizador Miguel Leitão. 


Março de 2020                                                 
António Bondoso