2011-11-27

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


Morreu Ojukwu, o homem que sonhou a liberdade e um país para o povo Igbo, no sudeste da Nigéria.

Mais de um milhão de mortos, numa guerra religiosa, nacionalista e regada com os interesses do petróleo. De 1967 a Janeiro de 1970.

Fica a minha memória, num poema do livro Seios Ilhéus :


BIAFRA – O SOL PERDIDO

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

A África centro do mundo

Berço da humanidade,

Dividida por milénios

De inveja negócio e morte

Abria as entranhas à sorte

Do genocídio de um povo

Inocente de promessas carente de tudo novo.

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

De uma Nigéria feita à força

Das armas e da mentira

Separou-se um povo Ibo

Da barbárie destemido.

Da Europa e Ocidente só lhe chegavam compressas

A fome foi mais que a guerra

Violenta de sangue a terra.

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

Os homens na selva densa

Separados das mulheres

Dos filhos e dos haveres,

Combatiam com esperança

De ver um Sol de justiça

Queimar a dor submissa

De um Biafra espezinhado.

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

Da Ilha de santo nome fez-se a corrente da paz .

Pelo ar ia a coragem remédio de S.Tomé

Pelo ar vinha a vergonha de quem não era capaz

De travar o holocausto e já se perdera a fé.

Mas levou-se até ao fim essa missão de bandeira

Potências de olhos vendados

Deixaram para as Igrejas tantos trabalhos forçados.

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

Crianças de corpo nada

Pele e alma acorrentados

Traziam a morte nos olhos

Queriam ser acarinhados,

Não percebiam razões

sofrimentos incuráveis

Vegetavam não viviam ao bater dos corações.

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

Mães e filhos pais e netos

Avós da mesma nação

Vítimas de seres inquietos

Mortos por querer um país

Sempre o seu por tradição.

Ou por ser antes do tempo ou antes tarde demais

Um milhão de seres humanos não pode rezar jamais.

Era um tempo sem futuro

Parecia ser naqueles dias.

De tantos anos passados

Memória que já não lembra

Só aviões que não voam cansados de morte lenta

Metralhados ao segundo de vida que se lamenta

Esquecidos esventrados e com mato amortalhados

História feita aos pedaços

À espera de novos passos.

É ainda um tempo sem futuro de crude motivo e ódio

Delta do Níger sangrento

Espero que seja breve…

Talvez nos próximos dias! [1]




[1] - Por ocasião do 40º aniversário do início da “Guerra do Biafra” – 1967.

2011-11-21

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


Com a devida vénia, publico um texto que me chegou através do Gabinete de Comunicação da C.M. de Moimenta da Beira.

Mãos ágeis, mãos hábeis, mãos mágicas. São as mãos dos artesãos do concelho de Moimenta da Beira que trabalharão ao vivo de 3 a 17 de Dezembro, na I Feira de Artesanato e de Arte Popular que decorrerá no Salão de Exposições do Mercado Municipal de Moimenta da Beira. Se estiver por perto, não perca, de todo! Feira de Artesanato antes do Natal. É a primeira Feira de Artesanato e de Arte Popular que a autarquia organiza. Arranca a 3 de Dezembro e encerra a 17, no Salão de Exposições do Mercado Municipal de Moimenta da Beira. São 15 dias com artesãos do concelho a trabalhar ao vivo. Mais de 30 já se inscreveram. O trabalho artesanal estará sempre à venda. A feira pretende ser uma via de promoção ao artesanato local e, à porta da quadra natalícia, promete dar boas sugestões para as prendas deste Natal.
Aos fins-de-semana a feira funcionará todo o dia. Nos dias úteis estará aberta só à tarde.
No espaço haverá ainda animação musical, realização de workshops, exposição dos trabalhos manufacturados à mão pelos artesãos (cestaria, estanho, madeira, bordados, capuchas, meias e outras artes criativas), pinturas faciais e um Pai Natal que se deixará fotografar com as crianças.
O início e encerramento da feira de artesanato coincidem com as duas próximas edições da Feirinha da Terra. Mais uma oportunidade para apreciar o que de melhor se produz nas hortas e nos campos agrícolas do concelho de Moimenta da Beira.
“É um evento que promete animar este mês de Dezembro”, garante Alexandra Marques, a vereadora do Turismo.

2011-11-17

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


O "poema" - ou uma historieta poética - que vai o título ao meu próximo livro. Imagens e "sons" imaginados num mundo louco e cavalgante em direcção ao abismo.

UM CAVALO MONTADO NUMA NÚVEM BRANCA...

Vi-o claramente... passe a velocidade do vento

Que empurrava as núvens

Para lá do alcance da minha visão

Balizada por um tríptico de vidro à frente de uma cadeira

De articulado macaense

Onde me reclino para reflectir sobre alguns dos males

Do mundo que vivemos.

Era mesmo um cavalo montado numa núvem branca.

E voava veloz na dianteira do forte vento

Que soprava, para evitar desfazer-se no meio

Do real dilúvio intenso e permanente nessa hora.

Não relinchava...

E provavelmente não se queixava do esforço

E do chuvoso temporal

Pois ia montado numa núvem branca.

Sem cela e sem estribos não dava pinotes

Nem cavalgava...

Deixava-se simplesmente

Arrastar pelo vento que empurrava a núvem branca.

Não sei...talvez ninguém saiba ainda

O que terá acontecido ao cavalo que passou

Montado numa núvem branca

Empurrada pelo vento forte

Do temporal.

Fugiria de alguém?

Tentaria alcançar pelo contrário

Esguia figura e nebulosa?

Não por certo um qualquer D.Sebastião.

Mas no dia seguinte

Com idêntico ângulo de visão

Quase jurava de novo tê-lo visto.

Só que então – qual imagem invertida –

A núvem branca galopava na equídia garupa.

Uma núvem sorridente

Do esforço da véspera bem refeita e sabedora

Do bom que é cavalgar

Alegremente

O indomável espírito da aventura.

O sorriso

Porém

Talvez fosse efeito de razão mais séria

Que uma modesta e irónica encenação.

Um rasto de política conjuntura

Empresta um certo ar de conspiração à novela

Deste veloz cavalo montado numa núvem branca,

A qual por sua vez é agora o cavaleiro

De uma manobra arriscada

Mas com um final sugerido de promessa.

Só cooperando lá chegarão

Avisos que foram tendo em sua devida conta

Na travessia de tão violenta tempestade.

Sem a núvem branca

O cavalo sem crina não teria passado quase incólome

A aventura de tentar conquistar bispos e peões neste xadrêz

De torres fortes já tomadas,

E de uma raínha sem rei

Que a proteja

Num jogo de mistério e bem difícil.

Vencer a batalha final é maior prémio

Por demais custoso e valioso

Deixando ao acaso e pelo caso pormenores

De uma singela táctica da tradicional conquista do poder.

Da alta finança à pobreza é um salto de cavalo

Que os pobres são pessoas de encarneirado estatuto

Sempre atrás de quem preside sempre atrás de quem governa.

A certeza permanente

De um des-controlo doente

Ou qual troça sorridente

De um des-governo saloio.

Sem a ética aparente de uma honra virtual

Vai o cavalo montado numa núvem espessa e branca

Saltando de casa em casa tabuleiro viciado

À procura do sucesso de uma saída imortal.

Enfraquecer o adversário

Objectivo directo que preside e não contempla

Evidentes imprudentes dificuldades acrescidas.

Por isso tal táctica envolve e desenvolve

Inesperadas aparentes e tão ingénuas estratégias

Englobando corridas de económica loucura

E financeiras políticas no combate partidário a destempo.

Qual cavalo qual núvem

De branco já se confundem

Se um não foge nem se esconde

A outra vai-se esfumando.

E nesta síntese de vida

É o pensamento a fluir

Germinando

Dominando

Conquistando além dos sonhos

tão real aparição.

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A.B. 2011