2010-10-22

A BOLA...UM OBJECTO ESTRANHO !


OS ESPANHÓIS, QUE AINDA NÃO DEVOLVERAM OLIVENÇA, tentaram - na Turquia - subtrair três pontos ao F.C. do Porto. Falamos dos árbitros do jogo com o Besiktas, em Istambul, certamente muito íntimos de Platini e provavelmente amigos e admiradores de LFV e Rui Costa.

Depois de terem anulado (mal ) um golo claro como água límpida a Falcao e de terem seguido um critério (?) diferente para não expulsarem um defesa da equipa turca - para além da expulsão também seria penalty ! - tal como haviam feito com Maicon... ainda se deram ao luxo (leia-se arrogância) de expulsarem nos últimos minutos o grande Fernando, vulgarmente conhecido como "o polvo"! Por último... ainda que nenhum "analista" ou "comentadeiro" fale nisso, devo dizer que tenho dúvidas quanto à colocação (i)legal do avançado turco que marcou o único golo da equipa da casa.

Para lá do jogo... há outros pormenores a merecer algumas (poucas) linhas mais. Diziam os tais comentadeiros recear que talvez os dirigentes do F.C. do Porto viessem a sofrer retaliação da UEFA , pelo facto de terem abordado - eventualmente questionado - a equipa de arbitragem ao intervalo, mas esqueceram-se de salientar o receio de que o clube turco viesse a sofrer sanções da mesma UEFA, pelo mau comportamento dos adeptos por ocasião da saída de Fernando a caminho dos balneários. A ver vamos. Nem que tenhamos que enviar uma "embaixada" ao ministro dos assuntos internos da Turquia !

A tudo isto...estamos habituados. Não é nada de novo, desde que o F.C. do Porto tem passeado classe pela Europa do futebol.

Tal como estamos habituados à desvalorização ou secundarização das vitórias portistas além fronteiras. Sem contar com o "vómito" de um tal Luís Sobral, reparei nos títulos de A Bola (na versão digital) por exemplo, logo a seguir à jornada europeia. "Um Leão de Gala na Europa" - perante um adversário portentoso como é o clube belga que jogou (?) em Alvalade - enquanto a façanha heróica da equipa azul e branca no terrível estádio turco apenas mereceu um simples "Dragão passa no Inferno Turco". "Passa"... como se não o tivesse feito contra uma equipa de arbitragem do pior que se tem visto; como se não o tivesse feito com muita classe, jogando 50 minutos com dez e ainda mais alguns com apenas 9 jogadores !

Parafraseando os dirigentes de um tal clube da Luz, aqui temos o Benquerença espanhol. E outros que tais, como Xistras ou Proenças. E devemos ficar atentos à "jogada" (mais uma) do sr Vitor Pereira, ao nomear um árbitro da Associação do Porto para o F.C. doPorto-Leiria, jogo do campeonato português da Primeira Liga.

2010-10-19

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


CINCO ANOS DEPOIS...



ANTES DO TEMPO !

Foram dias foram anos

Em cada minuto de trinta

Uma vida sempre cheia

A começar do vazio

Uma casa muita gente

Pessoas de muitos tempos.

Chegaram e não ficaram

Partiram de modos diferentes

Fui chegando e aqui voltando

Não sei se quatro se três

As vezes que me chamaram

P’ra começar outras frentes

Batalhas que fui travando

Cada vida em sua vez.

Não foi uma guerra perdida

Nem a morte anunciada

Silêncios de fracos espíritos

Que se escondem na penumbra

Não derrubam coisa alguma.

São fantasmas, camaleões

De um novo tempo sem ética

Maquiavel alma ferida

Contradiz, pena gelada

O que pensam serem méritos

De razão que não deslumbra.

Conhecidas uma a uma

Todas elas ilusões,

Nenhuma resiste sem métrica

Esfumam-se num lago seco

De lágrimas de crocodilo,

Arestas pontiagudas

Secas, finas e brilhantes

Ponteiros de um tempo novo

Mágico, sem viajantes.

E perdidas no labirinto

Dos poderes que estão em jogo

São almas não são amantes

Já não lhes sobram paixões

De escrever ou de rezar.

Já não sabem se o que sinto

É um dom que ateia o fogo

Ou então como era dantes

Correr atrás dos balões

Subiam subiam sempre

Vazios mesmo com ar.

Quem me dera ser Aleixo, Régio, o grande Bocage

Ser vate de muitos génios

Para dizer o que sinto neste adeus antes do tempo.

Mas nem sequer sou rimador

De tanta expressão com dor

Que é partir mais uma vez

E o regressar nem talvez

Agora que se fabricam jornalistas numa linha.

Coisa de muitos mistérios

Prece de computador

Sinais precoces da lage

Onde restará o tempo

Coração de pouca mágoa que sempre me acarinha !

Uma casa muita gente

Pessoas de muitos tempos

De todos guardo lembrança

De menos ou mais talento

E no altar da amizade

Há santos e pecadores.

A uns venero de agrado e aos outros estendo a mão

Mas não pretendo ser santo ou perder o coração

Traído pela memória de alguns que bem lamento.

São riscos de um mundo quente

Em permanente mudança

Ora pouco solidário ora perdendo valores,

Mas não sei mais que dizer-vos

Neste círculo de amizade

Quem me dera ser Aleixo, Régio, o grande Bocage

Ser vate de muitos génios

Para dizer o que sinto neste adeus antes do tempo !

Porto, Abril de 2005

António Bondoso



À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


A RÁDIO EM PORTUGAL ESTÁ QUASE A COMPLETAR 80 ANOS...

...MAS AINDA NÃO TEM MARCADA A DATA DA SUA MORTE !

Anunciada ciclicamente – a televisão, a internet, a era digital – a morte da “rádio” tem vindo a ser adiada, não por milagre, antes pelo combate e pelo empenho na capacidade de adaptação aos novos tempos. Mas não bastam as novas tecnologias, não é suficiente “arrumar” tudo ou quase tudo no disco rígido de um moderno computador. É preciso que a rádio volte a estar com as pessoas e que tenha gente dentro! Que seja capaz de pensar e de reflectir e que saiba provocar no auditório a capacidade de dialogar, discutir serenamente e reagir aos desafios.

CINCO ANOS DEPOIS...

Cinco anos e alguns meses depois de ter sido praticamente “empurrado” para uma aposentação precoce (hobby desde 1967- profissional desde 1973) com 55 anos de idade, continuo a pensar que o “segredo” da rádio está nas pessoas. Em profissionais competentes, imaginativos e criativos – para além de cultos, naturalmente – e em ouvintes interessados, pensantes e motivados. E nos sons! Na música que acalma e apaixona, no discurso simples e claro das vozes que animam, mas sobretudo no plano superior das entrevistas e das reportagens que falam de coisas sérias, no plano superior da imaginação e da criatividade com ética.

Algumas vezes a rádio é um silêncio feliz, mas muitas outras pode ser um ruído profundo, provocador, inquieto e perturbador.

Tudo isto é real nos capítulos do meu livro que vai estando cada vez mais perto, apesar da lentidão com que vou passando para o tal disco rígido as ideias – minhas e dos meus amigos – sobre como foi a rádio e como deveria ser hoje.

A Rádio, para mim, prossegue sendo uma guitarra freneticamente manipulada por Jimmy Hendrix ou docemente acariciada por BB King, das quais podem sair notas de um afro-americano rock de Harlem ou de um afro-americano blues a caminho de Memphis – onde já destruíram a magia da Rua Beale. A rádio e a música de sentimento, a rádio e a voz de protesto, a rádio da memória escrava, a rádio da sensação libertadora.

A Rádio, para mim, vai sendo a memória da magia do microfone, a magia dos sons, a magia do que fica para além do alcance da imaginação, a magia que permanece no estúdio, no “pick-up” que roda em 45 rotações a voz de Franck Sinatra ou um LP/33 de Maria Bethânia, a magia da “fita” onde se gravaram as impressões de uma conversa amena entre Igrejas Caeiro e Aquilino Ribeiro ou entre Fernando Pessa e Almada Negreiros, a magia do “cartucho” onde se alinhavam spots publicitários anunciando as virtudes da brancura do skip ou apelando à presença na Grande Noite do Fado no Coliseu dos Recreios.

E a magia da distância que a onda curta e o transistor resolvem, como estar às portas do deserto entre a Tunísia e a Argélia e poder ouvir as notícias de “casa” ou o relato de um Sporting-Porto em Alvalade...praticamente em cima de um camelo. Ou estar na Ilha de Moçambique, de noite e sem energia eléctrica – à luz de uma vela apenas – e receber as sensações de um outro jogo de futebol no desaparecido Estádio das Antas.

Como dizia o publicitário Bob Schulberg em 1989 – o ano da queda de mitos e muros – “ a televisão não é ruim, mas a Rádio é mágica. Se a televisão tivesse sido inventada antes, a chegada da radiodifusão teria feito as pessoas pensarem:- que maravilhoso que é a Rádio! É como a televisão, só que nem é preciso olhar!”.

CINCO ANOS DEPOIS...

Cinco anos e alguns meses depois de ter sido praticamente empurrado para uma aposentação precoce – voltei a viver todo este espírito da rádio em Moimenta da Beira. Nos estúdios da Rádio Riba Távora, que o Veríssimo Santos decidiu partilhar comigo e com a Casa do F.C. do Porto local, para pormos em prática a minha ideia de se construir um “puzzle” à volta de Aquilino e de Moimenta. Foi muito bom voltar a sentir todas as emoções de uma emissão em directo, pelo que expresso aqui a minha gratidão. A Moimenta e às pessoas de Moimenta! Mesmo àquelas que não quiseram ou não puderam aderir à ideia.



2010-10-15

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


MINEIROS..... NUM CHILE NOVO !

Tal como milhões de pessoas em todo o mundo, interessei-me e assisti emocionado ao desenrolar da brilhante e eficaz operação de resgate dos mineiros chilenos, presos durante 69 dias a mais de 700 metros de profundidade.

A história foi sendo conhecida e relatada ao longo deste tempo e, por isso, não será ela o objecto deste meu apontamento.

Confesso que, apesar de inusitadamente emocionado, não era minha intenção escrever o que quer que fosse – correndo o risco de acrescentar outras banalidades à globalizante, massificante e perigosamente uniformizante catadupa de notícias. Embora em menor escala – eventualmente uma circunstância feliz – os media nacionais não deixaram de copiar praticamente todos os grandes colossos da comunicação social internacional. Mas igualmente não será este o motivo das minhas palavras aqui, talvez com uma excepção. Não resisto a salientar o que considero ser um infeliz pormenor num comentário que ouvi numa estação de referência da TV portuguesa. No meio de tanta emoção, de tanta informação técnica sobre a operação de salvamento dos mineiros, no meio de uma espiral de solidariedade internacional que o drama havia produzido – eis que um jornalista saca da sua “caxa” : - os mineiros vão defrontar-se com uma série de problemas, sendo preocupante a forma como terão que lidar com as suas amantes ! Ponto final parágrafo !

Mas o que me empurrou para a crónica, foi ter recebido pela manhã uma pequena mas profunda mensagem do meu caro amigo Jorge Bento. Transbordando felicidade e humanidade, dizia ele que a operação se tratou de uma extraordinária performance humana, sublimadora e transcendente de tanta coisa baixa e mesquinha que ainda tolhe os passos da tentativa de elevação da Humanidade. Elevemos os olhos ao céu e sonhemos outra realidade !

E então lembrei-me do Chile ! Do actual país numa via de consolidação democrática e que foi capaz de gerar toda esta onda de solidariedade internacional... mas sobretudo do seu ainda recente contraponto – o Chile da ditadura que Pinochet instaurou a 11 de Setembro de 1973 com o apoio da política externa dos EUA.

E rapidamente alcancei as histórias que o resistente dissidente Luís Sepúlveda brilhantemente nos conta na sua obra de grande alcance, tendo igualmente como pano de fundo de alguns dos seus textos os mineiros chilenos alvo da repressão. Como por exemplo neste “O General e o Juíz”, no qual aprendi o massacre do exército em 1907 em Iquique. E recordei também dois episódios da ditadura recente – o que Sepúlveda descreve como fazendo parte da ininterrupta história infame da infâmia.


1967 – Ao tempo do Presidente Eduardo Frei (pai), também no deserto de Atacama, sufocada greve dos mineiros de El Salvador em luta por melhores salários. Ataque do exército provocou oito mortos, que os jornais da época consideraram agitadores.

1968 – Cidade austral de Puerto Montt, um grupo de famílias sem casa ocupou a fazenda abandonada de Pampa Irigoin, construindo aí barracas de madeira e cartão. Ataque do exército provocou onze mortos. Justificação :- os militares haviam reposto a ordem e o respeito pela propriedade.

Para além de nunca se ter efectuado uma investigação, nunca se mencionou que o responsável pela execução dos dois massacres foi Augusto Pinochet.

Felizmente há um Chile novo que nos permite sonhar outra realidade, como sublinhou Jorge Bento. E que permite novas reflexões à leve - mas profunda - escrita de Luís Sepúlveda neste "A Sombra do que Fomos".






2010-10-13

DE NOVO E SEMPRE O MESTRE AQUILINO !


O MESTRE, UM ADVOGADO, UM BISPO E UM LIVRO.

Não conheço pessoalmente o Dr. Manuel de Lima Bastos, de quem o Senhor D. Manuel da Silva Martins, Bispo emérito de Setúbal e um destacado combatente pelas coisas certas da vida, diz ser "um especialista na arte de escrever e um homem que sabe e que sente" e que "...eu até caí na heresia de chegar a compará-lo com o seu ídolo Aquilino Ribeiro. Quem não gosta de Aquilino?".
Gosto eu, naturalmente, a par de mais algumas centenas de portugueses que se interessam pela obra ímpar do Homem da Nave, exímio mestre na arte de conjugar elegantemente o verbo e o sujeito da simplicidade humana. E por gostar, aqui o trago de novo ao convívio dos meus pensamentos com, sabe-se lá, uma forte meia dezena de leitores deste espaço tão real quanto virtual - obra e graça das chamadas novas tecnologias que marcam o ritmo deste nosso tempo.

Voltando ao início da função, apraz-me registar que Manuel de Lima Bastos nasceu num frio mês de Janeiro, tal como eu, apenas dois dias depois e alguns anos antes do meu aparecimento terreno. E depois, a feliz coincidência de um "espírito santo de orelha" que me foi transmitido por D. Manuel Martins, provavelmente durante uma das mais "recentes" entrevistas que teve a amabilidade de me conceder ou no acto de uma oferta do meu livro "Da Beira !...Alguns Poemas e uma Carta para Aquilino". Lima Bastos seria um excelente conhecedor da obra do Mestre ! E é.

Comprova-se, lendo este "roteiro" aquiliniano pelas chamadas Terras do Demo a que o autor deu o título de "De Novo à Sombra de Mestre Aquilino" - uma sequência de um primeiro "À Sombra de Mestre Aquilino" saído em 2009. Este, de que agora faço uma primeira leitura, vai ser apresentado em breve, esperando que o seja também em Moimenta da Beira e, naturalmente, na Biblioteca que leva o nome do Mestre.
Evitados os escolhos da primeira publicação, que o autor relata neste "segundo" volume, fica a boa nova de um próximo já praticamente pronto "...sobre a polémica célebre que Aquilino travou com o meu conterrâneo D. Sebastião Soares de Resende, primeiro bispo da Beira, nas páginas do suplemento literário do jornal Novidades[...]".

O "roteiro" desta obra começa em Vila Nova de Paiva, seguindo no rasto do Mestre Aquilino por Terras de Sernancelhe, Terras de Moimenta da Beira, Terras de Aguiar da Beira, Terras de Sátão... e termina com uma carta ao Mestre como se fora um posfácio, no qual se pode ler : "Não nos conhecemos fisicamente mas há mais de sessenta anos, sentindo a sua presença benigna à minha volta, o tenho na conta de pessoa de família a quem posso contar tudo e de quem posso esperar que tudo compreenda".

Uma excelente obra de leitura e de consulta, de um autor em que D. Manuel Martins vê como que o reflexo de Aquilino Ribeiro. Boa leitura.

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !



Terrível...esta angústia de tentar manter uma certa cadência de escrita e verificar, na realidade, que nem sempre é possível - apesar do desejo e de quase sentir a obrigação de vir aqui. E de repente há uma notícia fulminante que não se pode evitar.

Partiu mais um companheiro de infância nas Ilhas do Equador Africano. O Pacífico Brandão - um bom gigante! Na amizade e no companheirismo. Que depois foi camarada de trabalho na RDP. Tinha apenas 56 anos de idade e um coração "doador" que viria a transformar-se em causa. Deixa duas filhas e a Amélia - uma companheira de sempre na vida e no trabalho. Para elas um abraço especial, que envio também à irmã Lurdes, igualmente presença antiga nas relações de trabalho, primeiro nas Ilhas do Meio do Mundo e depois aqui em Portugal.

E registo também a memória dos pais que dos meus foram próximos.

Até um dia destes Pacífico. Descansa bem.

2010-10-08

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


Vem a propósito dos dias que vão correndo....


A CHUVA E A MÚSICA...

As árvores ainda despidas

Impedem o jogo de sombras

Na relva molhada.

Porque chove

E não há sol.

E as almas circulam

Gémeas de tristeza

Excepto um jovem casal

Ainda no sonho de um mundo só seu.

E chove.

E não se vê o rio dos meus encantos

Para além da cinzenta placa de betão.

Mas ouve-se música...

E deixo-me levar a outros tempos

Diferentes imagens outros afectos

Pingos de sempre mas de novas roupagens.

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Porto-Março 2010.

2010-10-07

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !



SÃO QUATRO !

São quatro

E partiram bem antes do fim da história.

Deixaram uma saudade perdida

Um vazio imenso

Neste mundo onde se move a minha vida.

Se eu pudesse reverter o tempo

E a alma contada por minutos

O ontem seria tempo ainda hoje

Teimosamente a rodar no tic-tac.

Poderia assim continuar a lembrar de minha mãe

O seu sorriso sofrido

E de meu pai ser saudoso

Do seu sorriso matreiro!

Mas outra mãe se revela

E outro pai se adivinha

Laços novos e antigos

Apertam todo o espaço

Cortam-me a respiração

Estas memórias cansadas

Que o tempo revolto vira

E se apressa a descobrir

Que nunca faz mal sorrir.

São quatro.

Sinto a falta que me fazem

E de todos eles a fé

Num dia seguinte novo !

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Maio, 2010

2010-10-06

A REPÚBLICA !


Podia ter sido assim. Em vez do vermelho e verde - cores defendidas nomeadamente por Afonso Costa, António José de Almeida e Teófilo Braga... o azul e branco mereciam a confiança de Guerra Junqueiro, António Arroio e Sampaio Bruno.
Os primeiros entendiam o verde e o vermelho como as cores originais da revolta portuense de 31 de Janeiro de 1891...enquanto os segundos afirmavam que o azul e o branco não representavam a monarquia - antes significavam a nacionalidade e a liberdade !
Talvez o caminho tivesse sido diferente...com menos escolhos.


2010-10-05

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


A PROPÓSITO DO 5 DE OUTUBRO DE 1910.

QUE O MESMO É DIZER... A IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA !

O país não está preparado !

Faz cem anos. E não parece. Dizem que a História não se repete... mas, não sem alguma preocupação, começo a pensar que tudo é possível. A Primeira República foi um desastre, a Segunda foi o que ditatorialmente sabemos e agora a Terceira não leva um bom caminho. É verdade que têm soprado uns maus ventos de fora...mas o que realmente me preocupa é a eterna falta de capacidade e de honestidade para fazer as coisas bem feitas.

O país – até parece que o António tinha razão! – dá a triste ideia de que nunca está preparado para assumir as mudanças. Os avatares deste novo mundo! E não se coloca em questão a problemática das novas tecnologias. É tudo mais profundo... mais arrevesadamente profundo!

Acabadinha de chegar... aparece Fernando Pessoa e diz : - “o observador imparcial chega a uma conclusão inevitável: o país estaria preparado para a anarquia; para a república é que não estava”.

O país nunca esteve – nem está – preparado para coisa alguma !

Não estava preparado para ser independente; os descobrimentos terão sido uma circunstância feliz, mas o país não estava preparado para assumir um encargo de tal envergadura; o peso de meio mundo era demasiado. Tal como depois – mais tarde – não estava preparado para a colonização e, finalmente, impreparado para a descolonização. Pelo meio, nunca esteve preparado para a democracia e – quando ela foi oferecida pelos militares, outros que não aqueles que a derrubaram em 1926 – ninguém estava verdadeiramente preparado para os seus efeitos, chegando mesmo a colocar em perigo as liberdades !

O país não estava preparado para a CEE; o país não estava preparado para o EURO; o país não está preparado para a CPLP; o país não está preparado para enfrentar a crise internacional; o país não sabe lidar com o défice; ele próprio é um défice permanente; o país nunca esteve – nem está – preparado para coisa alguma!

Não deixa de ser curioso recordar um texto ( e uma voz ) de Agostinho da Silva. Ele próprio, numa gravação de António Escudeiro. O título :- Tudo mudou e o Diabo deste País não muda. Um pouco a propósito de uma sua reflexão sobre o chauvinismo. Diz e escreve o Professor:- “Não há nenhum país como Portugal. É chauvinista um sujeito dizer que todos os países têm mudado de fronteiras e que o nosso amigo continua com um pequeno arranjo que houve por causa do vizinho, quanto a este pontinho ou àquele pontinho, mas que continua com as fronteiras, país único no mundo. Tudo mudou e o diabo deste país não muda, não é assim ? E que depois houve todas aquelas ideias de como era o oceano, de como era a geografia ou o o oceano, e tal, e o que é que aconteceu ? Aconteceu que foram os portugueses que derfam ao mundo o mar de que o mundo não tem jeito de se desfazer”. E prossegue a deliciosa prosa ( e filosofia!) do mestre Professor Agostinho da Silva:- “Então, os cavalheiros fabricaram o país – que não podia ser, mas fizeram -, único, depois fabricaram o barco que não havia – e os tipos fizeram – e não havia outro jeito senão aceitá-lo, não é? E, por outro lado, ainda há o projecto do futuro. Alguém está pensando no mundo como pensaram os portugueses, com essa amplitude ? Coisa nenhuma! [...] e agora o que os portugueses têm que dizer o mais pacificamente que puderem e o mais teimosamente que puderem é que o mundo tem que ser aquilo que eles querem que seja. Quando agora começa a aparecer a ideia de que, como a nova Europa que vai fazer, com a Alemanha, com o Leste e com isso e com esses interesses todos, que vai começar a ir para a Bulgária, e para as Hungrias, e para as Polónias, e essa coisa, o dinheiro que vinha para Portugal. E que Portugal vai ser um pobrezinho, uma ilhota aqui nesta Europa, pobrezinho e tal, sem o tal dinheiro...felizmente! Porque o dinheiro que vinha da Europa era só para fazer os portugueses europeus. Não queremos para nada essa porcaria de ser europeu. Queremos é repetir aos europeus que não vão ter outro remédio senão submeter-se ao que é cultura portuguesa e fabricar um mundo que não tenha pressões económicas, e que as crianças estejam livres, e que não haja para ninguém prisões”.

Palavras gravadas nos anos de 1990...mas só publicadas em 2006, no centenário do seu nascimento.

Naquela altura, como hoje, não há que ter medo! É preciso seriedade e honestidade na governação, mas é também necessário derrotar os profetas da desgraça. E colocar travões às pressões da alta finança – seja ela europeia ou americana. O que eu duvido que possa vir a acontecer! Os interesses eleitorais falam mais alto! Tal como a demagogia dos políticos que vamos tendo – quer nos governos, quer nas oposições!

É que, afinal, o país continua a não estar preparado para coisa alguma!

Mas isso não me inibe de gritar aqui, bem alto, um Viva a República!