2015-01-13

SEGURANÇA NA EUROPA - MITO COM PÉS DE BARRO? ( PARTE II) 

Foto de A.Bondoso

Do meu trabalho/reflexão de 2008, deixo-vos hoje a segunda parte do trabalho. 
APENAS CHAMO A ATENÇÃO PARA O QUE VEIO DEPOIS DE 2008 - A CRISE ECONÓMICA E FINANCEIRA...QUE VIROU TUDO DO AVESSO. E, assim, tudo ficou ainda mais difícil.

==== Mas o texto, mesmo desatualizado, pode ajudar à compreensão do problema: 

CAPÍTULO II         

DA TEORIA À PRÁTICA, UM PASSO DECISIVO.

“O que faria sentido seria a União preparar-se abertamente para assumir a responsabilidade pela defesa do seu próprio território e deixar para a NATO o papel global que esta, sob liderança americana, quer ter, e para o qual a UE lhe disponibilizaria um elemento de intervenção europeu”.
                                                                                                                Alexandre Reis Rodrigues, 2007[1]

Este tipo de discussão parece ter sido bloqueado no âmbito do desenvolvimento da NOI e também no quadro da Nova Arquitectura de Segurança Europeia (NASE), igualmente ainda não completamente definido e constituindo um dos problemas actuais das R.I. Nomeadamente, como refere o Dr. Paulo Amorim[2], sobre a hierarquia da NASE que – teoricamente – corresponde a uma pirâmide cujo topo é a ONU, devendo seguir-se a OSCE (que passou a Organização em 1994), a NATO e o que hoje poderá ter correspondência com a extinta UEO (uma eterna promessa em termos defensivos europeus) – a PESC/PESDC da União Europeia.
Contudo, com a nova atitude unilateral dos EUA, esta “estrutura” perdeu credibilidade e passou a haver uma certa desarticulação entre as várias organizações, as quais passaram a actuar individualmente – regra geral de acordo com os interesses dos EUA e não sob delegação do patamar superior da pirâmide, a ONU.
Particularmente a partir de 1996, os EUA minimizaram a utilidade da OSCE – na qual estão representados desde Helsínquia tanto os Estados da Europa Ocidental como os do Leste – e a organização perdeu prestígio e importância.
Mas a UE, quer através do extinto Tratado Constitucional, quer no texto do Tratado Reformador de Lisboa – ainda suspenso – insiste numa política comum para a segurança e defesa, tendo chegado mesmo a equacionar-se uma “diplomacia europeia”. Não obstante, persiste a interrogação sobre “que meios políticos?” e sobre “que força armada para impor a decisão política?”.
E apesar de todos os esforços no sentido de potenciar a nova estrutura, o impasse mantém-se, sobretudo por falta de vontade e de coragem política em financiar uma Política de Segurança e Defesa Comum. A engrenagem parece bloquear perante a eventual existência de fortes lóbis militares em vários países europeus – empenhados em evitar que a União possa funcionar como um Estado, detentor exclusivo de uma PE e do poder de declaração de guerra. Neste quadro, não se compreenderia facilmente a existência de umas Forças Armadas fortes nos vários países da União. No fundo, pode dizer-se que vai fazendo vencimento a tese de um quadro westfaliano.
É curioso notar – por contraponto – uma ideia do gen. Loureiro dos Santos[3] anterior à citação que se faz de uma expressão do vice-almirante Alexandre Reis Rodrigues e que encima este capítulo: “ Para já, não parece aconselhável subordinar as Constituições nacionais (que consubstanciam o destino que cada país deseja para si) ao direito comunitário, nem incluir no domínio da União os assuntos de política externa, segurança e defesa, embora devam ser contemplados mecanismos para a sua coordenação”. Loureiro dos Santos enquadra a ideia na necessidade de se adequar o ritmo do aprofundamento institucional, entre o passo de corrida das elites e o andamento normal dos cidadãos europeus. Por outro lado, o General insiste em classificar de rídiculos os meios militares (forças no terreno) da União Europeia e, a propósito da “fraqueza” psicológica e política demonstrada na chamada crise dos cartoons, defende a complementaridade transatlântica: enquanto os países europeus não tomarem consciência das suas debilidades e não as resolverem, em estreita articulação com os EUA, será difícil que o comportamento da Europa em situações deste tipo seja muito diferente.
Ao que parece, é nesta questão política que está centrado o nó górdio do problema.




CONCLUSÃO

“Tememos, pois, que o divórcio entre os povos europeus e a construção europeia irá agravar-se ainda mais, não podendo nós arredar a hipótese de que até às eleições europeias de Junho de 2009, os dirigentes políticos venham a ser confrontados com algum ou alguns sobressaltos”.
                                                                                                                    Augusto Rogério Leitão, 2007[4]


            E confirmou-se o sobressalto! Bastou um pequeno não da Irlanda para abanar os alicerces políticos da União Europeia. Pelo menos obrigou a mais um impasse, para o qual não se vislumbrou ainda uma solução.  
            A Chanceler alemã Ângela Merkel, no “intervalo” dos Tratados, havia já chamado a atenção para o problema, quase premonitoriamente: é do interesse da Europa, dos seus Estados-membros e dos seus cidadãos, que este processo esteja terminado até às próximas eleições para o PE (…) uma Europa fraca, burocrática e dividida não conseguirá resolver os problemas que enfrenta, seja em termos de política externa e de segurança, mudanças climáticas, energia, investigação científica, desregulamentação, ou na gestão do alargamento e das relações com os nossos vizinhos.
            Depois (mas ainda antes do não irlandês), também o Presidente francês Sarkozy havia lançado farpas no PE[5]: o novo tratado simplificado, não resolve a crise moral e política da Europa. E interrogava: como poderá a Europa ser independente, ter influência política no mundo, ser um factor de paz e de equilíbrio se não é capaz de assegurar a sua própria defesa?
            A França, recorda-se, era uma das potências europeias com benefícios directos da aplicação do defunto Tratado Constitucional que – paradoxalmente – foi rejeitado em referendo pelos franceses, numa acesa luta política interna.
            E depois, há quem considere o novo Tratado Reformador/de Lisboa como um “Filho de um Deus Menor”[6], repetindo apenas as duas grandes novidades do anterior, sendo que o funcionamento da Agência Europeia de Defesa (já em prática) não necessita de um tratado. A outra “novidade” – alguns Estados-membros poderem estabelecer entre si cooperações reforçadas/estruturadas – referida num texto do Ten. Coronel Pereira da Silva e publicado na Revista Militar, parece ser potenciadora de naturais divergências entre responsáveis políticos e militares de cada um dos países da União. Particularmente no que diz respeito ao desenvolvimento de determinadas capacidades em conjunto (os Battle Groups) ou de novos projectos. Uma capacidade militar – recorda Pereira da Silva – compreende elementos como o pessoal, o equipamento, a sustentação, a doutrina, a prontidão, a interoperabilidade, o treino e a projecção. Alguns destes elementos não deixam de entreabrir uma porta – tanto para o estabelecimento de lóbis como para a permanência do espírito de Westfalia.
            Alexandre Reis Rodrigues coloca a necessidade de uma “política centralizada” como fundamental para a ambicionada Política de Segurança e Defesa da UE – mais do que os recursos financeiros. E acrescenta que continua a faltar um órgão que assuma a concretização militar das decisões políticas, coordenando e acompanhando todo o subsequente processo ao nível de cada Estado-membro, conforme os compromissos assumidos.
            Contudo, esta ideia quase que anula o chamado “critério da não duplicação de meios e estruturas” debatido e acordado no seio da NATO no mandato do presidente Bill Clinton.
            No meio de hesitações, impasses e interesses divergentes, Augusto Rogério Leitão projecta para o futuro a afirmação gradual de um directório informal constituído pelo Reino Unido, França e Alemanha – em especial no âmbito da PESC/PESD – apresentando um binómio/dilema: “ou a União opta por ser fundamentalmente uma zona de livre comércio, adaptando-se à globalização com algumas políticas comuns centradas na ajuda aos Estados-membros mais débeis, e as suas fronteiras poderão alargar-se de modo extensivo; ou opta por uma união política, com uma governação da globalização no quadro de uma Europa social que exige uma maior partilha das soberanias e uma configuração como potência regional ou mesmo mundial, e as suas fronteiras terão de ser necessariamente menos extensas”.
            É nesta encruzilhada de um tempo complexo e de muitas incertezas – e para o qual o futuro não tem um prazo muito dilatado – que muitos políticos jogam os seus dados e o seu prestígio, nem sempre com resultados muito positivos.
            E particularmente no que respeita à “segurança colectiva” – por oposição à intolerância e ao terrorismo fundamentalista – merece algum destaque a ideia do embaixador Seixas da Costa[7] quando fala da responsabilidade da comunidade internacional democrática e defensora da tolerância e das liberdades, na qual a União Europeia deve ter um papel central: a segurança colectiva continuará a estar em sério risco, enquanto essa comunidade não adoptar uma ‘diplomacia de princípios’ assente na denúncia dos jogos cínicos da realpolitik e resistindo ao ‘politicamente correcto’ de certos lóbis.
            Este papel só será possível com uma União Europeia sólida e solidária em termos políticos, suficientemente realista a propósito da complexa conjuntura internacional. Com divisões ‘internas’ e assumindo-se como um foco de tensão no espaço euro atlântico, talvez seja preferível ponderar a extinção da NATO. 



[1] - Vice-almirante e Secretário-geral da Comissão Portuguesa do Atlântico. Em Revista Estratégia, do IEEI nº24-25.
[2] - Departamento de R.I. da Universidade Lusíada do Porto.
[3] - O Império debaixo de Fogo, Europa América, Lisboa,  2006.
[4] - Professor da Licenciatura/Mestrado em Relações Internacionais da Univ de Coimbra, na Revista Estratégia, do IEEI, nº 24-25, 2007: “A Crise Existencial da União Europeia entre revisões, alargamentos, fronteiras e o futuro”.
[5] - Discurso no PE em Novembro de 2007.
[6] - Ten. Coronel Nuno Miguel Pascoal Dias Pereira da Silva, sócio efectivo da Revista Militar e comandante da Unidade de Apoio da BrigInt. Publicado em 21 de Setembro de 2008. 
[7] - Embaixador de Portugal no Brasil e representante de Portugal na OSCE (2002-2005). Palestra em Vila Real, em Outubro de 2004.

MESMO COM A PARTIDA DO LUÍS OCHOA…continuo a dizer que “até os mortos falam na Rádio”!

Foto da Web

Luís Ochoa começou na ANOP mas lembro-me de o ver ainda como estagiário na RDP numa altura de grande ampliação do quadro de jornalistas no início dos anos 80 do século passado. Mas depressa o Luís se impôs, tendo chegado a editor e a Chefe de Redação. Lutador e repentista – mas de um trato de camaradagem sem sofismas – sempre mantive com ele uma relação cordata. Após o meu regresso de Macau, já o Luís era Diretor de Informação, a relação acentuou-se com encontros e conversas mais regulares em Lisboa. E recordo-me mesmo de um dia me ter proposto – numa altura de indefinição do meu percurso na RDP, no Porto – um projeto de informação virado para a economia, sabendo-se da importância da região Norte para os negócios, criação de empresas e exportações, com destaque para a ação da (então) AEP. Mas o caminho foi outro. E foi sem surpresa que o vi assumir a delegação da Antena 1 em Bruxelas, um cargo longe das “tricas” diárias de uma casa grande como era a RDP. E continuámos a falar…até à minha saída “apressada” para uma aposentação antes do tempo, em 2005. Recebe um abraço de até sempre, continua a ter o prazer de dizer as notícias…e fica ciente de um gesto de carinho para a tua mulher e tuas filhas.
António Bondoso
Jornalista



2015-01-11

ISTO…SOU EU A PENSAR!
A PROPÓSITO DE TERRORISMO…



Mesmo correndo o risco de haver situações menos atualizadas, não quero deixar de partilhar este pequeno texto meu – parte de um outro mais vasto pensado e escrito já em 2007:
*****No mundo islâmico, o Ocidente é visto como uma civilização decadente, quer em termos morais e políticos, quer culturalmente.
Os ataques de 11 de Setembro de 2001 visaram abalar o neoliberalismo e a globalização económica, tal como o poderio militar dos EUA.
O mundo passou a ser dominado pelo terror, pela imprevisibilidade e ultraterritorialidade.

O TERRORISMO É…

VIOLÊNCIA ! TERROR ! MEDO ! MORTE ! DESTRUIÇÃO ! ANSIEDADE ! PÂNICO ! CHANTAGEM ! QUALQUER MEIO PARA ATINGIR UM FIM ! INTERESSA MAIS O FACTOR PSICOLÓGICO DO QUE PROPRIAMENTE O NÚMERO DE VÍTIMAS!
“Uma ação violenta é denominada de terrorismo, quando os seus efeitos psicológicos ultrapassam em muito os seus resultados puramente físicos”(Raymond Aron).

E O RESSENTIMENTO…

“Os ataques de 2001, em N.Y. e Washington, demonstraram que existe uma ameaça, com contornos ideológicos e políticos bem definidos, aos valores seculares e liberais dominantes nas sociedades ocidentais” (João Marques de Almeida, “O Choque das Civilizações e o 11 de Setembro”, IPRI-Instituto Português de Relações Internacionais).
Considerando que, na perspetiva dos fundamentalistas islâmicos, as sociedades muçulmanas são “vítimas” da ordem liberal, João Marques de Almeida argumenta que “…o regresso à religião, o chamado Ressurgimento Islâmico, foi a resposta ideológica e política ao ressentimento contra o domínio ocidental” !
Tal como na economia, diz Huntington, os países asiáticos e islâmicos estão a procurar contrabalançar rapidamente o poderio militar do Ocidente.
Enquanto a Nato, por ex, reduziu em 10% as despesas com a defesa, nos países da Ásia elas aumentaram 50% na década de 1990.
Por outro lado, há a considerar ainda a explosão demográfica nos países islâmicos, em contraste com o chamado Ocidente.

Estado-Núcleo, o que falta ao Islão. === Será o Califado/ISI?
Contudo, afirma Huntington, o Ocidente vai ter a supremacia ainda por algumas décadas, apesar de ter vindo a perder “força” como vimos.
E o que vai faltando ao mundo islâmico é um “Estado-Núcleo” civilizacional, ao contrário das potências ocidentais, da China, Índia, Japão e Rússia.
Dentro do Islão (Huntington) “há muitas culturas ou subcivilizações distintas, da Arábica à Turca, da Persa à Malaia”. Nestas circunstâncias não é fácil e pacífico encontrar um Estado-Núcleo. Para além do Iraque (onde, apesar de tudo, Sadam é ainda lembrado) e dos destroços da Primavera Árabe, temos os confrontos “ Irão-Arábia Saudita” e “Indonésia-Paquistão”.
E é nesta “dispersão” e procura de liderança, que o mundo islâmico se apresenta permissivo à radicalização e ao fundamentalismo.

O resto…vem por acréscimo. Como a pobreza e os guetos. Inclusive o chamado “terrorismo de Estado”.
=== António Bondoso

Jornalista.
SEGURANÇA E DEFESA NA EUROPA! MITO COM PÉS DE BARRO?

***** O que eu refletia já em 2008 ( Por agora...deixo-vos só uma parte): 



“Segurança e Defesa são conceitos tradicionalmente inseparáveis porque, se o primeiro significa ‘the guarantee of safety’ também o mesmo conceito, quando qualificado de segurança nacional, faz evidenciar todos os objectivos da defesa…”
                                                                                                                                Adriano Moreira, 1988 
            Esta ideia do Professor Adriano Moreira não significa unanimidade ou qualquer consenso forçado a propósito do quadro conceptual e narrativo das matérias de Segurança e de Defesa.
            Vale para a França, por ex, mas é diferente na Alemanha, no Reino Unido e nos Estados Unidos da América. Também em Portugal, o quadro constitucional esquece a perspectiva abrangente dos termos Segurança e Defesa Nacional – situação   corrigida pelo Conceito Estratégico de Defesa Nacional de 2003 (agora questionado pelo tenente-general Garcia Leandro[1]), no sentido de adequar as respostas do país às novas ameaças e aos novos desafios a partir do 11 de Setembro de 2001.
            A diversidade conceptual aqui referida não foi “apagada” com estes acontecimentos, apesar de se reconhecer que os novos problemas ultrapassam a capacidade de resposta individualizada de cada um dos Estados.
            E também não foi “apagada”, mesmo com as reformas verificadas no âmbito da União Europeia e da NATO – desde o fim da UEO, a revitalização da OSCE, a PESC, a PESDC, a Força de Reacção Rápida (FRR) e os conflitos de competências entre a UE e a NATO, sabendo-se que esta Organização reformulou o seu objectivo estratégico ao passar a definir-se como “de Segurança” e não apenas de Defesa, o que lhe permite actuar fora da sua área de influência. Mas, sem o Tratado Reformador, sem União Política – que futuro para a PESC/PESDC e para a FRR, pilares importantes da construção da Nova Europa? Complementaridade ou concorrência entre as estruturas puramente europeias e a NATO transatlântica?


CAPÍTULO I

BALANÇO POSITIVO DA ‘PESDC’ NÃO AFASTA DÚVIDAS E CLIMA DE TENSÃO.

“Embora com uma ideia de auto-contenção, os princípios teóricos das políticas externa e de segurança e defesa comum estabelecidos na ‘Estratégia Europeia em Matéria de Segurança’ são lógicos e coerentes. O problema é o levantamento dos meios (estruturas e forças) para materializar os objectivos decididos”.
                                                                                                                 Gen. Loureiro dos Santos, 2006[2]


            O documento a que se refere o gen. Loureiro dos Santos, também conhecido simplesmente por ‘documento Solana’, foi aprovado em Bruxelas em 2003 – como resultado do aprofundamento, adaptação e renovação da chamada Nova Arquitectura de Segurança na Europa (NASE), saída de Helsínquia em 1975.
            Recorda-se que a OSCE, por uma questão de custos (Burden Sharing) havia já prescindido da União da Europa Ocidental, optando pelo ‘guarda-chuva’ americano da NATO – podendo a UE, assim, ultrapassar dificuldades para efectuar avultados investimentos na área da Defesa. O que, diz Loureiro dos Santos, “dá um conteúdo patético aos que pretendem ser um poder militar alternativo aos americanos”.
            Contudo, no XI Encontro Internacional Eurodefense, Etienne de Poncins – Chefe de Gabinete da Ministra delegada da França para os Negócios Europeus, Catherine Colonna – fez um balanço positivo da PESDC, salientando progressos nos Balcãs, na Ásia e na África. Apesar disso, não foi possível evitar a tragédia humanitária do Darfur e, pelo que se passa actualmente na RD do Congo, os efeitos da cooperação da UE não terão sido efectivamente consolidados.
            Em 2007, numa intervenção em Washington, o Ministro da Defesa de Portugal, Severiano Teixeira[3], elogiou o esforço da Aliança Atlântica na defesa da Paz e da democracia na Europa – mas chamou a atenção para o facto de a institucionalização da União Europeia e da Politica Externa e de Segurança Comum (PESC) terem sido “um factor de tensão, tal como a crescente preponderância internacional dos Estados Unidos”. E deu os exemplos da intervenção tardia no Kosovo e das divergências acerca da invasão do Iraque.
            Severiano Teixeira referiu a complementaridade entre a PESC e a NATO, mas notou que “nem por isso deixa de ser notória a resistência ao desenvolvimento de uma capacidade efectiva de defesa no quadro da UE” pois existe a percepção de que essa dimensão pode criar uma rivalidade estratégica entre os Estados Unidos e a Europa, quando voltar a existir uma defesa europeia autónoma. E este é o caminho – assegurou o ministro português, para quem a prioridade dos Estados Europeus é a construção da Europa. Este objectivo – acrescentou – não pode provocar um aumento das tensões dentro da Aliança Atlântica, num momento em que é mais necessária a unidade na luta contra o terrorismo transnacional.
            Sobre esta dúvida de uma política complementar ou concorrencial entre as duas estruturas, se havia também pronunciado, já em 2004, o conselheiro de investigação no Colégio de Defesa da NATO em Roma – Lionel Ponsard[4] – considerando a diferença de culturas em matéria de segurança existente nos dois lados do Atlântico. Por vezes, disse, esse facto “parece dificultar o desenvolvimento de uma parceria complementar entre a União Europeia e a OTAN”.
            Tudo parece ter mudado e agravado depois dos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001.
            O Professor Milan Rados[5] diz que os problemas de Segurança já passaram além dos Estados, colocando-se hoje numa perspectiva transnacional. É preciso preservar as relações estáveis entre os Estados e o desenvolvimento humano sustentado – sem recurso à guerra, através da cooperação. Por outro lado, o conceito de Defesa passou a incluir “um conjunto de instrumentos destinados a assegurar a estabilidade do Sistema Político Internacional”.
            As novas ameaças passaram a ser multidireccionais, desmilitarizadas e desterritorializadas – o que pressupõe novo tipo de respostas no âmbito de uma Nova Ordem Internacional (NOI) ainda em construção.




[1] Expresso – 1º caderno, 15/11/2008.
[2] - O Império debaixo de fogo – Reflexões sobre Estratégia. Europa América, Lisboa, 2006.
[3] - Portal do Governo na Internet. MDN.
[4] - Notícias da NATO/OTAN, Outubro de 2004.
[5] - Departamento de R.I. da Universidade Lusíada do Porto.

======= António Bondoso
Jornalista
Mais logo coloco o resto da reflexão de 2008. 

2015-01-10

NAVEGAR DOURO ACIMA...

Foto de A. Bondoso

NAVEGAR…( A Publicar)
Douro acima
Pela estrada de um comboio
De mãos dadas com a escarpa
E os pés a tocar o rio
Entre as Caldas em Aregos
E o sol beijando a Ermida.

Carícias de inverno frio
Vento gelado batido
Em seco canavial,
Apetece dizer adeus à gente
Que anda lá fora
Acenar e perceber que há mundo
Todos os dias:
Mesmo o comboio parando
Ou correndo devagarinho
À espera que o outro passe.

E uma paisagem em socalcos
Testemunha secular
Vê o comboio passar
E as águas do rio indo
Como que a mudar…sorrindo.

======António Bondoso (A Publicar)

Foto de A. Bondoso

António Bondoso
Jornalista


2015-01-03

A FORÇA DO “MENSAGEIRO”…

Foto de A.Bondoso


 A FORÇA DO “MENSAGEIRO”…
…ou a energia do “morto”!

         Ontem, ou mesmo antes, havia decidido escrever sobre a monotonia e a falta de energia da (não) mensagem do PR. Para além dos defeitos apontados, acresce que a narrativa do inquilino de Belém foi incapaz de transmitir uma réstia de esperança, incapaz de mostrar inconformismo, incapaz de motivar.
         Completamente rendido.
         Pelo menos dizer-nos com garra e com algum sentido de liderança, como repete Kevin Costner – exatamente o protagonista do filme que passou mais uma vez numa das nossas TVs – a célebre frase “Shakspeariana” - «pelo menos morreremos sem os arreios nas costas». Poderemos estar em pobreza extrema, quase na miséria; o desemprego a níveis nunca vistos; a emigração forçada como nunca…mas, convenhamos, ninguém se sente motivado a “reagir” ouvindo a cassete riscada do “compromisso”.
         O inquilino de Belém foi um fraco mensageiro…e eu sei que, apesar de tudo, não se deve matar o mensageiro. Mas, sinceramente, é preciso outro tipo de discurso. Mesmo eivado de utopia perante um cenário apocalítico.
         Curiosamente, saltou-me à vista hoje no JN – não sei se em forma de editorial, embora esteja assinado pelo Diretor – um artigo de opinião em que o autor vai buscar o drama “A birra do morto”, de Vicente Sanches, para enfatizar a sua tese de que o atual inquilino de Belém não está morto:
“O segredo, guardado para o fim, está em saber qual é a maior birra: se a do morto que não quer ser enterrado, se a de quantos à volta já lhe atiram pazadas em cima”.
         E que, acrescenta, para além de não estar morto – o atual PR vai mesmo “condicionar a constituição de qualquer novo governo. Eis o poder de um Presidente”.
         Nada nesta vida política (à) portuguesa é impossível…e pode mesmo acontecer que o tal inquilino, num último esforço de prova de vida, vá por esse caminho. Contudo, para quem teve – até agora – uma leitura absolutamente restritiva dos poderes presidenciais, não me parece que o “morto” possa ir muito mais além, sob pena de bloquear o funcionamento das instituições, iniciativa que ele sempre tem recusado.
         De acordo com o artigo 133º da CRP, uma das suas competências (alínea f) é nomear o Primeiro Ministro nos termos do nº1 do artigo 187º que preceitua exatamente isto: - 1. O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais.
         Tudo o que se possa especular para além disto é, a esta distância do próximo ato eleitoral, um exercício de leituras e de desejos. Só mesmo depois das eleições é que se pode encontrar um caminho. E ele será encontrado, independentemente de saber se o «mensageiro» está mais morto que vivo!
António Bondoso
Jornalista

Jan.2015