2021-04-27

EM JEITO DE RESPOSTA A PALAVRAS SEM IDEIAS DENTRO…ou de como, à boa e saloia maneira portuguesa, se manipula, se disparata, se dizem e se escrevem asneiras, se incentiva à intolerância e ao ódio – sempre a coberto de artimanhas, de falsa moral, de facciosismo parolo, de imbecilidade, próprios de quem só aparece quando dá jeito. 


Pormenor da capa do jornal O Jogo

Como exemplo maior o atual ministro da educação (?), membro de um governo «caloteiro» que não paga o que deve a quem procura cumprir atempadamente os seus compromissos. Falo dos clubes de futebol, claro. Particularmente em tempo de pandemia. E o ministro Tiago, ao «futebol» tem dito nada! Nomeadamente ao FCP que, ainda recentemente, valorizou o nome de Portugal na Liga dos Campeões. Mas adiante…que o burro está impaciente!

         Lembrei há dias – talvez quase ninguém tenha reparado – o que escreveu Almada Negreiros sobre as palavras: «O preço de uma pessoa vê-se na maneira como gosta de usar as palavras. Lê-se nos olhos das pessoas. As palavras dançam nos olhos das pessoas conforme o palco dos olhos de cada um». Não pretendendo interpretar – e muito menos questionar – as palavras de Almada [quedo-me humildemente no reconhecimento das minhas modestas capacidades], e até porque ele próprio escreveu em 1923 «Por amor de Deus, não me obriguem a explicar nada do que eu digo», não deixarei – nunca deixei – de estar atento às palavras que diariamente vão marcando o nosso quotidiano. Por parte seja de quem for.

         Acho piada, sem surpresa – pois os episódios se repetem no que diz respeito às virgens ofendidas – que se queira branquear a incompetência de um grupo de árbitros de futebol pelo relevo dado a um caso de polícia. Quem foi agredido apresenta queixa e testemunhas. E a justiça seguirá o seu caminho. Exatamente ao contrário do que já não poderá suceder com os 2 penáltis não assinalados a favor do FCP no jogo de Moreira de Cónegos. Também não deixa de ser curioso o facto de os média estarem agora a valorizar os 10 centímetros de um fora de jogo. O caso que importa é a sonegação de dois penáltis!

         E depois aparecem as habituais carpideiras da 2ªCircular, qual delas a cheirar mais a processos ainda não totalmente esclarecidos e resolvidos, a reclamar justiça pronta e célere. E os média nos seus habituais julgamentos de praça pública. Tão intensos quando o céu é azul e branco. Mas esquecem as missas, os padres, os e-mails, os juízes corrompidos, as dívidas – mesmo que perdoadas – os assassínios de adeptos, as invasões de violência, o cashball – mesmo que arquivado – e outras tropelias que fazem um santo corar de vergonha. Mas, de facto, não há santos. Nem os ditos jornalistas. Não são inimputáveis, embora às vezes pareça. E não quero falar deste caso em particular, pois não vi o sucedido. Mas perante um crime, é avançar.

         Ouvi igualmente falar em ADN. Pois eu vos digo que o meu ADN é do tempo dos Calabotes. Foi aí que bebi o meu direito à indignação, muito antes de Mário Soares o apresentar como um direito adquirido. E dele não abdico, independentemente de reconhecer os direitos de informação e de liberdade de expressão. O que leio e vou ouvindo quantas vezes conseguem fazer crescer os poucos cabelos que tenho! Para além do ADN, também ouvi falar em «fora-da-lei». Por exemplo, a colagem à figura de Pinto da Costa que os média e outros cidadãos logo fizeram a respeito do eventual agressor. Afinal, quem cometeu o «crime» estava ali a convite do próprio Moreirense.

         Sou contra todo e qualquer tipo de corporativismo. Assumo as minhas responsabilidades enquanto cidadão e enquanto intérprete de um código deontológico. Pode ser que este repórter venha a ter mais sorte do que eu e que o Sindicato o consiga defender, ao contrário do que sucedeu comigo quando fui «saneado» três vezes.

Aqui chegados, não quero igualmente deixar de criticar os responsáveis do FCP pelos acontecimentos de ontem, tal como o treinador Sérgio Conceição pela falta de visão e de leitura do jogo. Sobre os jogadores utilizados? Cada um sabe do que se passa em sua casa. Mas o que deixa transparecer é uma ideia completamente desajustada.

         Independentemente de quem dirige e de quem treina, não deixarei de ser tão portista como os demais. Tal como não deixarei de ser jornalista.

António Bondoso

Abril de 2021.

 


 

2021-04-21

O KIKO BONDOSO E A (BOA) «MONTRA» DO FUTEBOL…ou de como um jovem cheio de talento tardou em ver reconhecido o seu valor. 



         Com um abraço grato e de parabéns ao “Canal 11”, sobretudo nas pessoas de Pedro Sousa e de Sofia Oliveira, que se empenharam na distinção do Kiko, e a propósito do que ali se foi dizendo no programa de ontem – nomeadamente pelo treinador Rui Vitória – recordo o que há mais ou menos 20 dias escrevi sobre «o rei das assistências»: - “O «sistema», que ora promove, ora ignora, é a grande «falha» do futebol em Portugal”..

                                       


         Rui Vitória particularizava a questão do «scouting» e sobretudo a capacidade de “projetar” o futuro de jovens como o Kiko que, segundo ele, tem características fundamentais para se afirmar: - a inteligente leitura de jogo, alicerçada numa rápida e desconcertante capacidade de decisão. Infelizmente, digo eu, não é só o «scouting» que falha. Se a Sofia e o Pedro tivessem tido mais tempo para investigar, talvez pudessem chegar à conclusão de que, nas estruturas dos grandes clubes, também se falha. Ou, melhor dizendo, quem observou o Kiko ainda «júnior» (quer em Alcochete, quer no Olival) não revelou capacidade de «projetar», como referiu Rui Vitória. No fundo, houve incompetência. Felizmente, embora já numa fase "adiantada", o Vizela e o seu técnico Álvaro Pacheco acreditaram no Kiko. Com «visão», diga-se. 



         Apesar de tudo, nomeadamente do valor financeiro que – aos 25 anos – se pode colocar em equação, sobretudo para clubes de topo, penso ser ainda tempo de alguém com visão e com coragem ter o Kiko em perspetiva.  Parabéns Kiko. O futebol agradece.

António Bondoso

21 de Abril de 2021. 




 

2021-04-12

UM PAÍS ESTRANHO…ou de como os portugueses pretendem dividir o país em bons e maus, competentes ou incompetentes, justos ou injustos. 



Foto da Web. 

         Não há juízes bons e maus. Há juízes que seguem/interpretam as «leis» produzidas pelos deputados sentados no Parlamento. Os mesmos juízes avaliam, com olhos de saber diferente, os indícios e/ou as provas que lhe são apresentadas pelos investigadores do Ministério Público. Que, tal como os deputados, podem ser «falíveis» por motivos diversos. E quem acusa é que tem o ónus da prova. Por isso se exige que os investigadores possam agir com rapidez e competência. Por isso se exige que haja meios humanos e técnicos capazes e eficazes para apoiar o «juiz de instrução».

         Os juízes são de carne e osso, como todos nós. Mas são juízes. Alguém pode pensar que os juízes não têm preferências partidárias? Claro que têm, embora não a possam revelar. Mas alguém sabe a «cor» de cada juiz? O senhor Carlos Alexandre será bom por ser do partido «a» ou «b»? E o senhor Ivo Rosa será mau, por ser do partido «c» ou «d»? Não. Um juiz é um juiz – ponto final!

         E das decisões de cada um, há sempre recurso para uma instância superior. Por isso o MP, que não pode estar isento de culpas nas suas investigações, entendeu recorrer das decisões de Ivo Rosa. Deixemos a «justiça» funcionar. Independentemente da maior ou menor «perplexidade» que possa ter transparecido para a opinião pública. O que não pode ser avaliado da mesma forma pelos agentes da Procuradoria-Geral da República.

         Por outro lado, e seguindo a linha de raciocínio, alguém sabe quantas decisões de um coletivo de juízes terão sido tomadas por unanimidade? Podem consultar os acórdãos dos diversos Tribunais de Relação, do Supremo ou do próprio Tribunal Constitucional. O que é importante reter é que os juízes, de forma perfeitamente normal, podem ter interpretações diferentes do espírito e da letra da «Lei». Por isso, haverá sempre quem possa ficar agradado ou se possa sentir injustiçado com uma determinada decisão. Mas isso, só por si, não justifica a condenação de um juiz na «praça pública». Como tem vindo a acontecer, infelizmente, com a quase totalidade dos arguidos deste país. Porquê? Pela simples razão de que há sempre interesses que se movem, pró ou contra. Para além dos diversos «agentes» da «justiça», há depois os interesses dos «média» que se alimentam das chamadas «fugas de informação» e das formas de pressão exercidas pela seleção dos seus comentadores.

         José Sócrates vai ser entrevistado? Pode ser bom…ou mau para ele. Falar muito ou «fora de tempo» pode não significar ganhos de causa. Em qualquer caso, Sócrates tem sido «condenado» pela opinião pública nos últimos sete anos.  

         Mas a justiça em praça pública não é dignificante. Demasiada mediatização em nada contribui para uma «justiça serena». E quando tudo isto cai na praça pública de forma «enviesada», cai o «pilar» fundamental do regime democrático. Um país, nesse caso, poderá estar a caminho de ser um país «falhado». Exemplos não faltam por esse mundo fora. Não estamos no tempo dos «tribunais plenários» do Estado Novo nem tão pouco no tempo da lenda da «Justiça de Fafe».  

         Quando falo nisto, vem sempre à ideia a célebre frase do Pinheiro de Azevedo: - calma. É só fumaça!   

         O que verdadeiramente nos deve preocupar é o vírus, o desemprego e a pobreza. Uma petição para eliminar ou controlar a pobreza, atacando os verdadeiros alicerces? Isso, eu assino sem reservas. Como assino o fim da má distribuição da riqueza – um mal que nos assalta há séculos. Por isto vale a pena lutar, com inteligência e competência. A ignorância e o carreirismo são os germes de todos os males.

António Bondoso

12 Abril de 2021.