2018-08-07


UM LIVRO DE VEZ EM QUANDO… NESTE ANO DE 2018 [3].
A ALMA DE UM POVO…ou de como as memórias publicadas/partilhadas podem ajudar «um povo de fé e um povo de trabalho», a encontrar ajuda e motivação para, valorizando o passado, trilhar caminhos de futuro sustentado. 


Pe José Salvador, Lurdes Jóia e Teresa Adão

A ALMA DE UM POVO…ou de como as memórias publicadas/partilhadas podem ajudar «um povo de fé e um povo de trabalho, um povo de paz e de respeito, um povo de saudade e de gratidão, um povo que ama o seu passado histórico, um povo de partilha e solidariedade, um povo de migração» a encontrar ajuda e motivação para, valorizando o passado, trilhar caminhos de futuro sustentado. O povo a que se refere o Pe. José Salvador, que prefaciou o livro de Lurdes Jóia – editado pelas Edições Esgotadas – é o povo da freguesia de Castelo, concelho de Moimenta da Beira.
         Ao apresentar a obra da «castelense» Lurdes Jóia, o Padre José Salvador identificou há dias o problema da desertificação – e dos principais apêndices – como uma das grandes causas do esquecimento. Do fecho da «escola primária», com duas salas cheias de crianças, à diminuição – para mais de metade – dos que têm vindo a frequentar a catequese em Castelo, José Salvador autorizou-se a pedir aos castelenses, não só de nascimento, para que regressem sempre e passem aos seus filhos a «cultura» da terra: toda a história, com as suas tradições, os seus costumes, os valores humanos e patrimoniais. 

Lurdes Jóia, também em dia de Aniversário

Lurdes Jóia – ela própria um antigo produto da emigração – praticamente responde ao apelo do Padre Salvador expondo boa parte da sua vida privada neste «estudo» [pois de um “estudo” se trata, embora não referenciado como tal] sobre Castelo. E depois, inclui o que de mais significativo existe sobre lendas, contos e história dos monumentos da freguesia. No fundo, a autora escreve sobre as vivências e sobre a herança de um povo cuja alma tem raízes «nas vozes do tempo». Apesar de todas as transformações, as que melhoraram e as que subtraíram, Lurdes Jóia diz que a essência da «aldeia» é a mesma, a alma permanece intacta. E a sua riqueza provém dos corações das pessoas, que são de uma simplicidade única.
         Numa região da Península (Ibérica) que os Mouros dominavam até ao Douro, diz a autora que apareceu na segunda metade do séc. IX uma povoação que recebeu o nome de Santa Maria de Lobazim, mais tarde dividida em duas aldeias – Castelo e Nagosa – ambas incorporando hoje o concelho de Moimenta da Beira. Embora não referenciando as suas fontes, Lurdes Jóia acrescenta que, no séc. XIII, o nome de Lobazim «começou a ser substituído por Castelo, de onde os frades de Salzedas recebiam muitos foros de pão, vinho, cera, cabritos e dinheiro», situação que se verificaria ainda em 1598. E refere que ainda existe a casa onde moravam estes frades em Castelo.
         A autora, que fez publicar em 2015 o seu primeiro romance O universo do amor o poder da paixão e que hoje reside e trabalha em Braga, fez notar na sua dedicatória ao meu exemplar do seu livro agora em apreço «CASTELO - A ALMA DE UM POVO»…que o sonho seja uma constante da vida! É esta ideia que Lurdes Jóia destaca igualmente já na parte final da obra quando escreve que a natureza «tem pensamento, tem o seu mistério, é o mistério da vida, (…) é uma constante da vida, a vida de uma aldeia, a alma de uma terra. Da minha terra…». Feliz da terra que encontra alento no esforço dos seus filhos. E que a alma se eleve Lurdes Jóia. Um abraço do                    
António Bondoso


Parte da assistência no Salão Nobre do Centro de Dia de Castelo

António Bondoso
Jornalista
Agosto de 2018. 


2018-08-02

UM LIVRO DE VEZ EM QUANDO…NESTE ANO DE 2018. [2]
Ou de como um Professor que eu conheci em S. Tomé – José Casinha Nova – se vai transformando num verdadeiro contador de histórias e num perspicaz «gravador» de memórias, do Algarve a Timor…e talvez S. Tomé e Príncipe. 


Falar de ou escrever sobre UMA VIDA INTEIRA será sempre, e sob qualquer ponto de vista, transmitir uma visão redutora da riqueza humana e patrimonial da aldeia algarvia de Burgau – o último posto avançado do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, já muito perto da cidade de Lagos onde nasceu Tibúrcio, o principal personagem desta obra em apreço, da autoria de José Casinha Nova.
         Casinha Nova, ele próprio natural de Burgau, freguesia de Budens e concelho de Vila do Bispo, foi meu professor de Literatura no então Liceu de D. João II, em S. Tomé, na segunda metade da década de 60 do século passado. Foi igualmente docente em Portimão e em Faro, depois de haver cumprido o serviço militar em Timor. Esta ex-colónia portuguesa, aliás, mereceu já uma reflexão do autor não há muitos anos. Memórias de Timor – assim está referenciado – é um excelente livro de consulta sobre o passado deste novo país de língua oficial portuguesa e destaca a paixão que o território lhe ofereceu titulando RAN MÉAN ÔTU, que significa O SANGUE É TODO VERMELHO.
         Agora, neste seu Uma Vida Inteira (vertida na experiência dos seus preenchidos 84 anos), José Casinha Nova regressa às origens ficcionando a vida de uma típica família algarvia do início do século XX, no seu espaço social, económico e cultural que é Burgau, na sua história e nas suas «estórias», nas suas lendas e nas suas memórias. Não lhe poderei chamar uma «autobiografia», pois o autor não assume a obra como tal, mas a “ficção” é tão real, tão pormenorizada, que – confesso – essa ideia continua a perpassar a minha reflexão.
         Para além de historiador, Casinha Nova assume o excelente trabalho de um retratista e paisagista ímpar, não deixando igualmente – nunca – a sua eterna condição de professor. Não só pela qualidade da escrita, claro, na qual não esquece o tradicional falar algarvio, mas também pelo facto de «valorizar a Escola». Como? Por meio de uma cerrada crítica ao funcionamento da época. De pedagogia, nem falar! O professor «debitava» e os alunos – aqueles afortunados por poderem frequentar – tinham por missão decorar. E quando não decoravam…os tradicionais castigos corporais. Havia uma sala com alunos da 1ª à 4ª classe, uma só professora e nada de aquecimento no Inverno. E depois, o corolário dos retratos de Carmona e de Salazar com o cartaz de Deus, Pátria e Família. Os livros tinham todos grande carga política – escreve Casinha Nova. Para além das alusões a Salazar, havia igualmente «uma abundante prosa de religião católica». Não admira, portanto, que os alunos faltassem às aulas «para ir para um canto da praia jogar às cartas com outros rapazes analfabetos, pois os pescadores de Burgau não punham os filhos na escola». 


Sem pretender desvendar a narrativa, não parece curial esquecer a localização geográfica de Burgau. Podem sempre acompanhá-la na figura anexa, mas o autor encarrega-se de lembrar: «A aldeia de Burgau fica situada exactamente na extremidade sul da famosa Costa Vicentina a oeste do Cabo de S. Vicente que dá nome à dita Costa e tem a particularidade de, embora pequena, estar dividida entre duas freguesias, a da Praia da Senhora da Luz, concelho de Lagos, e a de Budens, concelho de Vila do Bispo». Vista do mar, ao longe – prossegue Casinha Nova - «Burgau lembra uma gaivota pousada em dois estaleiros, o da Teimosa e o do Burgau Velho. As patas da gaivota são duas ruas quase paralelas que vão terminar nos tais dois estaleiros».
José Casinha Nova, exímio retratista das muitas histórias e memórias, acaba por convidar o leitor a viajar no tempo, conhecendo uma povoação pesqueira algarvia antes do advento do turismo de massas. E consegue-o, não só pela palavra, mas também pelas imagens que ilustram profusamente a obra. Pela parte que me toca mais, o destaque da grafonola – pois nesse tempo nem a Rádio existia. E fazer funcionar a grafonola só por meio de uma manivela para dar corda, uma vez que nem eletricidade havia. E depois há o mar, a pesca, a poesia e os tempos difíceis da II Guerra Mundial.
         Uma Vida Inteira é, portanto, um desfiar de estórias e de memórias a partir de Tibúrcio e da sua mulher amada Aldegundes, ele um homem de visão empreendedora, ela uma mulher resoluta, dedicada e empenhada na manutenção do espírito familiar.
         Quem ler, por certo perceberá como o autor foi capaz de me injetar o gosto pela leitura passando primeiro, claro, pela «obrigação» de o fazer. Já lho manifestei, e volto a repetir, a Casinha Nova devo muito do meu gosto pela escrita. E embora não fosse um aluno muito aplicado, recordo hoje como foi decisiva a fórmula por ele «inventada» para nos «obrigar» a ler e a perceber. Simplesmente criou uma «ficha de leitura», na qual deveríamos resumir a obra indicada e autorizada pelo sistema. É só ver a figura.
         E não perca a oportunidade de, lendo o livro, ficar a saber o destino de Tibúrcio e da sua família, não apenas em Burgau. É UMA VIDA INTEIRA, dada à estampa pela Arandis Editora. Boa leitura e um abraço muito particular ao Professor José da Conceição Casinha Nova, ficando à espera do próximo relato sobre S. Tomé e Príncipe. 


António Bondoso
Jornalista
Agosto de 2018. 


2018-08-01

A MINHA RÁDIO HÁ 51 ANOS.
Alguns dos que passaram…ainda me falam de Rádio.
“A Rádio é um instrumento de Liberdade porquanto é um apelo permanente à Criatividade”.


 O texto que segue foi escrito o ano passado. E como eu não gostaria de ver, este ano, o comunicado da CT da RDP - hoje integrada no grupo RTP - que anexo. Apesar de tudo, a RDP ainda é uma das Rádios com Gente Dentro.

«Houve um tempo em que, também em Portugal, se podia citar com orgulho o pensamento do publicitário Bob Schulberg: “Se a televisão tivesse sido inventada antes, a chegada da radiodifusão teria feito as pessoas pensarem: - Que maravilhoso que é a Rádio! É como a televisão, só que nem é preciso olhar!”
Encarar o futuro não pode deixar no esquecimento a importância do passado e, porque as incertezas são imensas, é preciso encarar o presente com muito realismo. Anunciada ciclicamente – televisão, internet, era digital – a morte da “rádio” tem vindo a ser adiada, não por milagre, antes pelo combate e pelo empenho na capacidade de adaptação aos novos tempos. E de muitos que ainda lá trabalham com empenho e com profissionalismo. Mas não bastam as novas tecnologias, não é suficiente “arrumar” tudo ou quase tudo no disco rígido de um moderno computador. É preciso que a rádio volte a estar com as pessoas e que tenha gente dentro! Que seja capaz de pensar e de refletir e que saiba provocar no auditório a capacidade de dialogar, discutir serenamente e reagir aos desafios.
Não basta que a evolução tecnológica aconteça e seja bem aproveitada. É fundamental dar-lhe conteúdo. E sonho!
Quando sinto e penso em todas as montanhas que ainda não subi; em todos os rios que ainda não naveguei; nas matas densas onde ainda não me aventurei; nos desertos secos de vida qua ainda não dessedentei; em todas as viagens que ainda preenchem os meus sonhos... e quando sei todos os sonos que ainda não dormi e em todas as madrugadas a que cheguei atrasado e não vi nascer o Sol para além do infinito que imagino – mesmo sem ouvir a Onda Curta a que me habituei no transístor Sony de nove bandas, companheiro de viagem sempre que saía do país em reportagem ou em férias.
         E neste ano…como recordo com emoção o início da minha atividade no Rádio Clube de S.Tomé e Príncipe em finais de 1967. À experiência, primeiro…com retribuição de 250 escudos depois, sempre subindo etapas, aprendendo diariamente com os mais velhos: Carlos Dias, José Maria Rocha, Victor Dias, Carlos Cardoso, Victor Nobre, Raúl Cardoso, Daniel Pinho, Manuel Sá, Firmino Bernardo, Mina Malé. Dois anos depois – e após algumas peripécias – chegava a Emissora Nacional. E novos camaradas que me foram passando conhecimentos, como Fernando Conde, Sebastião Fernandes, Guilherme Santos, Manuela Borralho e Maria Emília Michel. Alguns destes já passaram…mas, para mim, ainda continuam a falar-me de Rádio. Com serenidade, sem pressas – quantas vezes a pressa é má conselheira – com entusiasmo, com responsabilidade. E ouço, continuo a escutar. E muitas vezes não aprecio o que me transmitem. Melhor dizendo – a forma como me transmitem. Mas há momentos de consolo e de prazer. Felizmente ainda há alguns, que me chegam sobretudo pelo meu transístor. Ou no automóvel quando viajo.
Sem memória não há História! E depois, como dizia o jornalista “Sam Ridley” – investigador criminal na londrina City Radio[1] - “A rádio não depende de imagens, e essa é uma das razões porque gosto dela. O olho pode ser um órgão muito enganador”.
13 de Fev. de 2017
António Bondoso



[1] - NILES, Chris. OS MORTOS NÃO FALAM NA RÁDIO. Bertrand, 2003.



António Bondoso
Jornalista
1 de Agosto de 2018.
Não menosprezem a Teodora. Este é um aviso sério…logo agora que eu atingi as setecentas publicações no meu blogue. Não é que eu faça disto uma festa e deite foguetes. O blogue chama-se «Palavrasemviagem» e, como tal, a pressa não é um atributo. A escrita tem o seu tempo.



A propósito do BE vomitou-se ética por aí. Depois discorreu-se sobre o co1mbate aos incêndios com mangueiras obstruídas da GNR. Bastaram poucos dias para tudo se (re) compor com a cátedra do Passos e com o futebol de novo – agora proeza dos Sub-19. E, de repente, à «inteligência» dos nossos média escapou o terrível aviso da Teodora a propósito da depressão, ou recessão, que não vai demorar cinco anos.
A TEODORA É MESSIÂNICA? NÃO…diz apenas o que os «Donos Disto Tudo» pretendem. O FMI disse uma, duas, três vezes…mas isso não chega. A “proximidade” é muito mais intensa. E quando soam as campainhas do Conselho das Finanças Públicas…é música para os nossos ouvidos.
Os donos disto tudo – a alta finança – ligam tudo no mesmo circuito e sabem gerir o dinheiro. Ora tiram aqui para emprestar (?) ali…como e quando lhes convém. O défice, ou melhor…o (des) controlo do défice (e por mais que digam que não) está intimamente ligado à recessão. E desta à chamada bancarrota é um passinho. Depois aparece uma «Troika», os chamados agiotas, e dizem que vieram para salvar a situação. Selecionam a dedo os países e as regiões. E os seus «homens de mão», normalmente os políticos da direita empedernida, fazem eco desse medo anunciado. Pelo meio, acontecem as chamadas oscilações climáticas – que eles negam – provocando amiúde catástrofes de um sentido trágico incomensurável.
E a Grécia, acabadinha de sair do pomposo Procedimento Por Défice Excessivo, tal como Portugal em 2017, viu-se agora confrontada com uma tragédia terrível. Semelhante à que atingiu Portugal o ano passado. Mesmo que as pessoas já tenham esquecido…«eles», os Donos Disto Tudo, a Troika, a Alta Finança, encarregam-se de lembrar a «populaça».
E depois, para distrair, acrescentam – ou fazem acrescentar – uns pozinhos para emprestar alguma graça. Por exemplo…a água em Marte. Mas há mais:
Ex-assessor de Trump cria grupo para enfraquecer União Europeia
Steve Bannon, ex-estrategista político do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ativista anti-UE Raheem Kassa criaram uma organização política com sede em Bruxelas com o objetivo de enfraquecer e, por fim, paralisar a União Europeia, disseram os dois à Reuters.

Perseguições, torturas e assassinatos: a direita avança na Colômbia

O presidente recém eleito da Colômbia, Iván Duque, fez sua campanha com base no discurso de ódio contra a esquerda e os movimentos sociais. Mais de uma vez afirmou que faria ‘trizas’ [deixaria em farrapos] do Acordo de paz com as Farc. Ele nem chegou ao Palácio de Nariño e a direita já avança sobre os movimentos sociais com perseguições, torturas e assassinatos.
E a Venezuela? Por favor, não deixem cair em saco roto as premonições da D. Teodora Cardoso. Não se queixem.
António Bondoso
Jornalista
Julho de 2018