2017-05-25



NESTE DIA DE ÁFRICA...É BOM SABER QUE “ÁFRICA NÃO É APENAS UM LUGAR, É UM SENTIMENTO… 
Figura da Web


 “ÁFRICA NÃO É APENAS UM LUGAR, É UM SENTIMENTO
…E só alguns de nós fomos tocados por ele!”
                                                                                      Ashley Gerrand

Certamente todos ou quase todos sabem onde fica a ÁFRICA! No coração do mundo…se tivermos bem presente a cartografia.
O que talvez nunca tenhamos interiorizado…é que há MUITAS ÁFRICAS! E muitas Línguas: É impressionante!
Com 54 países, a África possui 2092 línguas faladas, número correspondente a nada menos que 30% dos idiomas em todo o planeta. Além das duas mil línguas, estão presentes mais oito mil dialetos
A quantidade de línguas faladas na África supera provavelmente a de qualquer outro continente. O árabe é predominante entre as nações da costa do Mediterrâneo. Línguas derivadas do banto são faladas por grande parte das populações subsaarianas. Nos grandes centros urbanos de alguns países é comum adotar-se a língua dos antigos colonizadores europeus, como o inglês, o francês, o espanhol e o português.
Esse sentimento, que felizmente me tocou, tem vindo a obrigar-me, sobretudo nos últimos anos, a uma reflexão sobre o dilema ESQUECER E LEMBRAR!
Haverá contradição? Embora possa parecer…veremos que não existe! E a verdade é que, pela história, seremos eternamente confrontados – quer dicotomicamente, quer pela dialética – com esta questão!
Esquecer…não é matar a memória. Pelo contrário…é preciso dar vida à memória, para que não sejamos assaltados pela melancolia pesarosa ou por uma nostalgia perniciosa. É preciso perceber e aceitar os outros, aceitar a verdade dos outros e os avatares da história. 
E OUTRA COISA:- de África não nos chegam apenas “refugiados”!
Portanto…o desafio é este: por um lado, esqueçamos os filmes idílicos sobre África. Lawrence da Arábia, África Minha, Fiel Jardineiro, Amor sem Fronteiras, por exemplo. Esqueçamos livros como As Verdes Colinas de África, de Hemingway…Um Lugar Dentro de Nós, Adeus África, ou Uma Fazenda em África. E é sempre bom lembrar, por exemplo – reconhecendo o sabor a sangue e a ambição desmedida – outros filmes como O Senhor das Armas, Hotel Ruanda, Diamante de Sangue ou Crianças Invisíveis.
Em qualquer caso…Esqueçamos África, vista pelos olhos eurocêntricos. Mas, por outro lado, seja-nos permitido lembrar a busca do conhecimento propiciada pela era dos descobrimentos – recordando que se assinalaram recentemente os 600 anos do início da expansão. Podemos até lembrar Camões ou as missões científicas de Silva Porto, Hermenegildo Capelo ou Roberto Ivans uns séculos depois…mas esqueçamos, definitivamente, os Impérios de países europeus em África! Ou melhor, não deixemos de lembrar as atitudes menos próprias, as condutas erradas, indignas e violentas desses impérios – como o desenvolvimento da escravatura humilhante, por exemplo.
E não devemos deixar de lembrar, igualmente, os genocídios mais recentes do Biafra, do Ruanda ou do Darfur…
Numa outra perspetiva, e apesar de tudo, tenhamos sempre presente figuras como Santo Agostinho, Senghor, Wangari Maathai, Lumumba, Nyerere, Eduardo Mondlane, Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Aristides Vieira, Kaunda, Kenyatta, Selassiè, Samora Machel, Desmond Tutu, Nelson Mandela…De outro modo, não deixemos de lembrar – pelos piores motivos – nomes como Bokassa, Francisco Macias Nguema, Idi Amin Dada, Habib Bourguiba, Sékou Touré, Mobutu, Robert Mugabe…
Fundamental é que – sabendo que esquecer não significa o mesmo que varrer para debaixo do tapete – ainda assim é bom esquecer a África da Conferência de Berlim, em 1884/1885 – na qual 14 países redesenharam o Continente onde tudo terá começado, sem ter em consideração as fronteiras linguísticas e culturais estabelecidas. Antes dessa data, 80% do continente africano era dominado por chefes tribais. Basta recordar que, em finais do séc.XVIII, a “estrutura política” variava entre reinos, impérios, cidades-Estado, e outras linhagens de clãs e aldeias, resultado de inúmeros movimentos migratórios associados à sobrevivência, à religião, à cultura, ao poder e ao comércio. Mas bastou um século para se assistir a uma notável transformação do continente, fruto de uma expansão de modernidade com base em fatores exógenos – particularmente as armas de fogo, que alteraram significativamente os conceitos de estratégia militar e de ocupação dos espaços.
E nesse período houve até um reino/império…por onde passou o navegador e explorador Sancho de Tovar (que alguns identificam mesmo como espião!)…império que floresceu entre os séculos 15 e 18 – numa região banhada pelo rio Zambeze e cujo território hoje se pode situar entre o Zimbabwe e Moçambique – o Império de Monomotapa. De tão curioso – e talvez até pelas ligações que mais tarde se verificariam a propósito do Mapa Cor-de-Rosa – seria objeto de uma obra de Ana Maria Magalhães e de Isabel Alçada “ NO CORAÇÃO DA ÁFRICA MISTERIOSA”. Ouro e marfim foram as riquezas que elevaram e derrubaram esse império. Como outros casos inumeráveis.
E ainda hoje se encontram no topo das Relações Internacionais os problemas diretamente ligados à exploração das riquezas africanas – matérias-primas de caráter vital para muitas potências. Isto, apesar de – entre os 10 países mais pobres do mundo – 9 serem africanos. E de, entre estes, se encontrarem a Guiné-Equatorial e S. Tomé e Príncipe, países inseridos na área da lusofonia/CPLP e ambos com a palavra “PETRÓLEO” gravada na agenda mediática.
O caso é que, nos dias de hoje (pese embora o eterno acordo entre a CEE/União Europeia com os países designados como ACP), o pêndulo do relacionamento está nitidamente a desviar-se para a Ásia: - primeiro foi a China [que até criou há pouco mais de uma dezena de anos o Fórum de Macau para desenvolver as relações com os países «lusófonos»]…e agora, com muitos anos de atraso, está a ser a Índia a promover essa aproximação. Dois dos países BRICS a recentrar o eixo da política internacional.
A União Europeia, apesar da sua atenção/preocupação mais centrada em questões internas, no leste europeu e no próximo e médio oriente, vai tentando arrepiar caminho no que foi o seu afastamento dos problemas da África. E não só no que diz respeito aos “refugiados” ou Migrantes, apesar da recente tentativa de perceber, para resolver, esse complexo problema. Só dinheiro para os Estados Africanos não resolverá certamente. Por isso é que Federica Mogherini, [Alta Representante da UE para a política externa] diz que “o objetivo é criar oportunidades para as pessoas, proteger a vida das pessoas, lutar contra as redes de tráfico que exploram o desespero das pessoas e fazer tudo isto em conjunto”. Daí, o avanço das parcerias estratégicas.
Quero dizer eu…não impor, mas aceitar e adaptar regimes com a maior transparência possível e à medida de uma justiça universal, sem pretender ser donos da justiça ou de um conceito único de democracia. A isto chamo COOPERAÇÃO – uma atitude para a qual é fundamental rever os atuais paradigmas. Por isso, Podemos sempre incluir aqui inúmeras ideias.
Há sempre qualquer coisa de novo em África e uma aptidão constante para surpreender – diz o historiador Elikya M’Bokolo – ciente de que há muitas Áfricas.
         Apesar de tudo, apesar das imagens que nos chegam, esperemos poder continuar a ser surpreendidos. E no que diz respeito ao chamado espaço da África Lusófona – o que nos toca – continuemos a acreditar na Guiné-Bissau; reforcemos o pragmatismo de Cabo Verde; tenhamos esperança no “rio dos bons sinais” em Moçambique; não regateemos esforços relativamente a S. Tomé e Príncipe; olhemos convictamente para Angola…com Kizola (Amor) e com Kidielela (Esperança).
Segundo o Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.” Traduzido para Ovimbundu, é mais ou menos assim: - Omanu vosi vacitiwa valipwa kwenda valisoka kovina vyosikwenda komoko. Ovo vakwete esunga kwenda, kwenda olondunge kwenje ovo vatêla okuliteywila kuvamwe kwenda vakwavo vesokolwilo lyocisola.
E no princípio…o Senhor alimentou África, dando vida aos rios no continente: senegal, gâmbia, níger, congo, cuanza, kwando, cubango, zambeze, limpopo, orange, nilo…e plantou no mar as ilhas de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe, com muito sol. Lembrando a língua Xhosa de Nelson Mandela – NKOSI SIKELELE iÁFRICA (o que significa = Senhor, abençoai a África!). 
António Bondoso
Jornalista
Maio de 2017

2017-05-22

OBRIGADO NUNO...


NEM ABERTO NEM FECHADO…
…mas de espírito livre!
O meu lamento de ser pensante tanto serve para criticar a SAD azul e branca como para homenagear Nuno Espírito Santo – o homem educado e bem formado que se dispôs a transformar um plantel moribundo – e desequilibrado – numa equipa de futebol. E quase o conseguiu…embora sabendo que não havia dinheiro para jogadores de topo.  Na hora da partida, a SAD e o Clube deviam mostrar-se gratos. Mais que não seja, pelo sacrifício da tua carreira nas condições em que assumiste o cargo de treinador do FCP. Cometeste erros? Claro que sim. Mas a maior responsabilidade está a montante do teu trabalho. Que não deixou de ser excelente para uma época conturbadíssima. Obrigado Nuno. E sorte para o futuro.

Por outro lado, o meu tom amargurado [pois ainda não é o tempo de agonia], que agora manifesto, não tem exclusivamente a ver com eventuais danos colaterais próprios de uma vida marcada pela intensidade das circunstâncias de uma cidade apaixonada. E apaixonante. Não é só o meu clube que me intriga, não são os golos desperdiçados, não é a Câmara fechada, não é o azul e branco trémulo por uma vez. A mais azeda amargura relaciona-se diretamente – e sobretudo – com o cinzento da vida, com o retrocesso da esperança que nasceu há 43 anos. Porque foi bonito mudar, porque foi legítimo mudar, porque foi importante transformar, porque foi fundamental avançar! As pontes passaram a fazer sentido e daqui voltou a irradiar um forte sinal de vontade, de querer, de sentir a liberdade, de conquista. E sim…também o futebol foi nessa onda.
Mas os lugares do poder ficaram inquietos. E como sempre, bem cedo se dedicaram a estudar e a aplicar uma estratégia de regresso a um centralismo atávico, que tudo arrasta, tudo arrasa e tudo mata. Mesmo com a conivência de alguns lugares e de certos poderes locais, iluminados por uma fosca claridade de jogos egoístas, ambições mesquinhas, interesses desmedidos e concertados ou escorados em pessoas e organismos pouco recomendáveis. E tudo foi permitido, calando ou esbanjando. De um tempo bonito de abertura e de felicidade, pouco a pouco o país foi sendo coagido, chantageado, esmifrado dos valores da redenção de um Abril esplendoroso. E quase tudo se foi! Aos poucos fomos morrendo, amputados já de um frágil poder de decisão, mutilados nas convicções. E não foi o vento que quase tudo levou. Foi a fraqueza e a maldade dos homens vestidos de políticos, de juízes, de líderes de um qualquer organismo centralizado na capital. Qualquer que tenha sido a roupagem, do desporto à cultura. Depois da esforçada façanha para colocar um ponto final aos célebres “roubos de igreja”, voltou-se a um tempo em que a dignidade se pendura por uma perna e em que o caráter se enrola numa folha branqueada de princípios. Começa no Clube e na Cidade…e prolonga-se por 300 quilómetros. Voltamos a estar quase como a 24 de Abril de 1974, o Terreiro do Paço agoniza de pasmo, há um túnel da Alexandre Herculano até ao Jamor, os árbitros treinam inclinados e só se adaptam a certos campos, os ministros enviam telegramas de felicitações aos reformados que vivem abaixo do limiar da pobreza, A AR endeusa uma canção de um festival – embora internacional – a comunicação social está nas mãos e no pensamento de um pequeno grupo de iluminados e endinheirados. Não deixam que a televisão se veja, a não ser o que lhes possa parecer matematicamente favorável, não deixam que a rádio se ouça e se espalhe, a não ser a horas mortas ou de audiência moribunda.
GENTE SEM PORTE

Temos um país suspenso
Em agonia de morte,
É já a Lei que se rejeita
Por certa gente sem porte.
E sofre mais quem não suspeita
Que essa gente percebe
E até promove
Traição infame, desonra e dor.
===Pag.19 em O PODER E O POEMA.2012. Ant.Bondoso e Edições Esgotadas.
António Bondoso
Jornalista

Maio de 2017. 

2017-05-05


É preciso sentir e ter esperança. É preciso também conhecer as línguas dos outros que connosco se cruzaram. Uma vontade intemporal. 


E é pela língua que vamos…seguindo o rasto e os efeitos desse documento com mais de 800 anos – aceitando que a sua identidade plena se afirma e consolida a partir do século XV, com o desenvolvimento da expansão marítima. E vale a pena lembrar Fernando Pessoa e a presença do mar em D. Dinis: = Do poema ao rei Plantador – talvez o primeiro a projetar a aventura dos descobrimentos – diz o poeta da MENSAGEM: "É o som presente desse mar futuro, / É a voz da terra ansiando pelo mar".
Até chegarmos ao presente – vai havendo notícias de que a Língua Portuguesa é a 4ª mais falada no mundo, representa 17% do PIB em Portugal, está instalada em quase 8% da superfície continental da Terra, e o espaço dos países lusófonos significa já 4% do comércio mundial.
Pelo meio, como saberão, a Língua foi FRANCA – utilizada nos negócios, no comércio, não apenas na Europa, mas também e sobretudo no Oriente. Ombreou nos Sec. XVI e XVII com a língua inglesa …e chegou mesmo a ser falada na Corte do Reino do Sião – a atual Tailândia. Em sinal de respeito pelos 500 anos de relações diplomáticas, a Princesa Real Maha Chakri Sirindhorn, filha do rei da Tailândia visitou Portugal em 2012. Historiadora, educadora e música, foi embaixadora de boa-vontade da ONU para o desenvolvimento do Sudoeste Asiático.
Hoje, o português é a 6ª língua mais utilizada nos negócios a nível mundial e, no ano passado, estava em 5º lugar nos utilizadores da internet, com tendência para subir.
Mas a língua portuguesa foi também importante na China, servindo os portugueses como diplomatas nas relações entre os povos do sul (Cantão) e o norte (Pequim). Para além da Administração de Macau, por mais de 400 anos…a língua portuguesa é uma das línguas oficiais naquele território até 2049 (pelo menos no papel), e é hoje ensinada em mais de 30 Universidades Chinesas. É um sinal do interesse do colosso asiático na sua aproximação e expansão na África lusófona, no Brasil e na Europa – tendo mesmo criado há mais de uma década o FÓRUM DE MACAU para a CPLP.
Por outro lado, o português é LÍNGUA OFICIAL na União Europeia, na OEA – Organização dos Estados Americanos, na UNESCO – a agência para a educação e cultura da ONU, na União Africana…e o antigo 1ºMinistro da Guiné Bissau (Domingos Simões Pereira) chegou a dizer que já era altura de a língua portuguesa ser oficializada na UEMOA – a União Económica e Monetária da África Ocidental (um organismo quase exclusivamente francófono).
Lembro também que o português é a 2ª língua mais falada em Joanesburgo, na África do Sul; na cidade de Newark, em Nova Jérsia (EUA); no Luxemburgo e em Caracas, na Venezuela.
Podemos ainda dizer que a língua portuguesa é já utilizada em organismos desportivos internacionais, nomeadamente ligados às questões do controlo antidoping. O objetivo, agora, é que o idioma luso seja igualmente oficial nas Nações Unidas…mas há também outros dados importantes que por estes dias nos chegaram dos EUA e do VATICANO:
***** Nos EUA… os políticos luso-descendentes estão empenhados em criar uma rede que os una, formando um grupo de pressão. Será mais fácil defender Portugal em Washington – dizem. A FLAD (Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento) percebeu isso e criou pontes para que os políticos se unam, naquilo a que chama de "plataforma de diálogo". Ou…num inglês puro: o que designamos por lobby. Ainda não se conhecem consequências desta iniciativa, não sendo provável que o venham a ser nos próximos tempos, tendo em conta a eleição de Donald Trump. 
«Por outro lado, o Cardeal D. Manuel Clemente disse em Roma que seria "importante" uma maior valorização da língua portuguesa nos trabalhos das grandes reuniões de cardeais e da Santa Sé, "porque o português tem uma expressão grande na vida da Igreja".
D. Manuel Clemente sublinhou que a língua permite uma aproximação entre os vários cardeais lusófonos, que são agora 13, sete dos quais com direito a voto num eventual conclave.
O novo Cardeal português confessa que a nossa língua materna "ajuda muito" nos encontros entre prelados de Portugal, Brasil, Angola, Moçambique e Cabo Verde, os países de língua oficial portuguesa com representação no novo Colégio Cardinalício da Igreja Católica.
"Quando falamos em português há muitas coisas que vêm ao de cima e que têm a ver com o nosso património comum".»
 “Parte do património comum da humanidade” – no dizer do Prof. Adriano Moreira; ou...como lhe chama o Prof. Moisés de Lemos Martins -  “o continente imaterial dos Oito”; ou ainda…como disse Amílcar Cabral – o idioma português foi a melhor coisa que os tugas nos deixaram!
Este espaço – este mundo da língua portuguesa – não é ficção política. Existe mesmo. É concreto e palpável. E incomoda, claro, a Francofonia e a Anglofonia.
E a sua construção é o desafio mais aliciante deste século no âmbito das Relações Internacionais …costumo eu dizer!

A língua é o cimento deste “espaço”…mas não basta saber falar ou escrever português. É preciso sentir e ter esperança. É preciso também conhecer as línguas dos outros que connosco se cruzaram. Partilhar uma vontade intemporal. 
António Bondoso
Jornalista


2017-05-01


É O TRABALHO EM LIBERDADE, É O TRABALHO EM DIGNIDADE!


É o trabalho.
Das nove às cinco ou de sol a sol – é o trabalho. Que dignifica, que sustenta, que faz mover o mundo em cada espaço que vive. E o trabalho é sempre trabalho, mesmo que seja temporário, mesmo que o vínculo entre as partes seja apenas parcial. O trabalho é um direito. O trabalho é uma responsabilidade das sociedades organizadas. Um Estado que não valoriza o trabalho…é, de certa forma, um Estado falhado. Tal como um Estado que se alimenta dos rendimentos de quem trabalha. Direta ou indiretamente. Suga, esmifra quem trabalha e o produto do feito. Foi desta circunstância que nasceu a expressão aquiliniana “Terras do Demo”. Os do fisco, de Lisboa ou a mando de Lisboa, só visitavam a “província” – nesse caso o interior beirão – vestidos com alma dos homens de fraque.
É o trabalho.
E que não se coloque o trabalho como oposição ao capital. Não é essa a questão como sabemos. O caso é a exploração desabrida do capital desumano, o problema está nesta globalização selvagem. Neste neoliberalismo que mata, mental e fisicamente. Explora, oprime e coloca o garrote na oportunidade mais certeira.
É o trabalho.
E que não se coloque o trabalho como oposição aos avanços tecnológicos. Essa é apenas uma parte da questão. Qualquer Estado de bem deve promover, ou ajudar a por em prática, a qualificação precisa para o equilíbrio sustentável. É o trabalho e a justa retribuição. É o trabalho em liberdade, é o trabalho em felicidade, é o trabalho…simplesmente. Tão importante como o ar que respiramos. E que seja um ar mais puro, o que vamos respirar neste 1º de Maio de 2017.
António Bondoso
Jornalista