2019-02-13

TAMBÉM SE CONSEGUE EXPLICAR A «RÁDIO» ÀS CRIANÇAS. E elas escutam e percebem.  Do «local» para o «global». 
Como esta manhã, falando com alunos do ensino básico da Escola da Ponte, no Porto, entre os 7 e os 10 anos de idade. Gratificante.
Como funciona, como começou, a sua evolução, as nossas experiências…e depois responder às perguntas inevitáveis. Entre muitas, fixei esta: por que razão a rádio só dá notícias más? 

Percebendo o alcance da interpelação não adocei a resposta. As notícias não são más. Ou não são apenas más. Mas fazem parte da realidade e, ao profissional, cabe transmiti-las com objetividade. Por isso, a resposta foi de imediato enriquecida, de forma a que pudesse ser compreendida a uma escala mais geral. Há muitas notícias que ficam «na gaveta» ou que são ignoradas. Porque não chamam a atenção, não captam audiências. No fundo, o que deveria ter dito – mesmo podendo não ser percebido – é que a palavra da moda, hoje, é «normalizado». Todos falam do mesmo, embora com palavras diferentes, porque está na moda fazê-lo, porque «vende» e é fácil «copiar». Investigar e criar é mais complexo. 

         Agradecendo ao camarada Simões Lopes (também pelas fotos), à Direção da Escola da Ponte, a todos os professores envolvidos e ao interessado número de alunos «participantes», fica a sensação de uma manhã valiosa com o diálogo estabelecido e com a partilha das «ondas da rádio». Que, apesar da era digital, continuam a ser «curtas», «médias» e em Frequência Modulada (FM). E os presentes viram aparelhos de rádio e ouviram rádio. E ouvem rádio sobretudo quando vão no carro. E quiseram saber até onde poderia chegar a antena do transístor e se eu também fazia relatos de futebol. Que não, disse-lhes. Fazia apenas comentários e colaborei muitas vezes como repórter. E gostaria de voltar a trabalhar na rádio? De pronto…e com muita vontade. Mas há convites que não chegam. 

E quando a «Rádio» me chega aos ouvidos da alma, como espero tenha alcançado o coração das crianças da Escola da Ponte, no Porto...começo pela Av da Marginal, em S. Tomé; passo pela Rua do Quelhas 2, 10, 21, por S. Marçal e as duas margens das Amoreiras, em Lisboa; e desaguo no nº 74 da Cândido dos Reis, no Porto, depois de colher as pérolas na Nam Kwong, em Macau. E vou ficando, assim...lembrando dias e horas, meses e anos de muitas palavras e de alguns amigos repousando nelas. Para os que sabem que o são…um eterno e grato abraço!Para os que sabem que o são…um eterno e grato abraço.


António Bondoso
Jornalista
13 Fev. 2019. No «Dia Mundial da Rádio», instituído pela ONU em 2012.  



2019-02-04




ANGOLA – 4 DE FEVEREIRO.
É IMPORTANTE LEMBRAR…FUNDAMENTAL NÃO ESQUECER!
Não é fácil digerir esta parte da história, em ambos os lados da barricada, mas é preciso sempre não esquecer o passado, para melhor encarar o futuro.
Numa página da Fundação Agostinho Neto pode ler-se por exemplo: “…no intuito de libertar os compatriotas injustamente encarcerados, um grupo de nacionalistas munidos de catanas e poucas armas de fogo atacou as principais cadeias, em Luanda dando início a Luta Armada de Libertação Nacional.
Face a esta bravura, a retaliação não se fez esperar. Portugal enviou para Angola, milhares de soldados fortemente armados que foram perseguindo não só os participantes activos desta revolta, mas sobretudo as populações indefesas que eram as principais vítimas dessas barbáries que incluíam raptos e assassinatos, um pouco por todo o país. Isso fazia com que os defensores da liberdade fossem cada vez mais para as matas aderirem ao movimento de guerrilha acabado de nascer, em função dessa revolta”.
Mas nem tudo é linear na história «recente», apesar de ter passado já mais de meio século. Lendo um extenso e bem documentado artigo de Fernando Martins, do jornal Observador, focamos a «ideia» de «verdades e de mitos» a propósito de dois marcos da luta armada em Angola no tempo colonial se acrescentarmos o 15 de Março: No entanto, o essencial da narrativa que aqui nos traz assenta sobretudo em factos que o não foram, ou omite factos que são determinantes para se perceber, de uma outra forma, como se iniciou, porque se iniciou e quem iniciou uma luta sistemática contra o colonialismo português assente em acções de guerrilha. Por exemplo, desvendando-se a autoria correcta dos acontecimentos de Fevereiro, ou uma responsabilidade mais rigorosa no que à preparação e desenrolar do acontecimentos de Março diz respeito, de ambos retirar-se-á um outro significado.
O que implica, não apenas que a narrativa do anticolonialismo angolano (iniciada, grosso modo, em 1960, e concluída, numa primeira fase, em Fevereiro e Março de 1961) merece uma outra interpretação, como as conclusões a retirar sobre o efeito destes dois acontecimentos, pelo menos a curto médio prazo, serão distintas daquelas até agora apresentadas.
Enquanto se debruça nas leituras, valorizamos e deixamos aqui uma pequena nota sobre o estado de espírito do Presidente-Poeta, em 1960. Agostinho Neto, preso no Aljube, manifestava «impaciência nesta mornez histórica» e tinha pressa. Dois poemas ali escritos são exemplares: em DEPRESSA (Agosto de 1960), Neto propõe:
(…)não esperemos os heróis
sejamos nós os heróis
unindo as nossas vozes e os nossos braços
cada um no seu dever
e defendamos palmo a palmo a nossa terra
escorracemos o inimigo
e cantemos numa luta viva e heróica
desde já
a independência real da nossa pátria.
E em Setembro do mesmo ano, Agostinho Neto já fala de LUTA, de violência e de corpos insepultos:

LUTA

 

Violência
vozes de aço ao sol
incendeiam a paisagem já quente

e os sonhos
se desfazem
contra uma muralha de baionetas

Nova onde se levanta
os anseios se desfazem
sobre corpos insepultos
E a nova onde se levanta para a luta
e ainda outra e outra
até que da violência
apenas reste o nosso perdão.
=== António Bondoso
4 de Fevereiro de 2019.