2015-12-31


UMA CRÓNICA INCOMPLETA…

O início deste texto é certo, sem dúvida, mas o final não terei tempo de o escrever. Deixo o final à imaginação de cada um de vós – leitores dos meus textos, com agrado, enfado ou indiferença.
         O ano que está prestes a terminar pode sempre ser analisado sob as mais diversas perspetivas. E cada um de nós – humanos eternamente insatisfeitos – dirá que terá sido bom em determinados aspetos, menos mau em diversas circunstâncias ou mesmo mau/muito mau para muitas pessoas. Particularmente para os doentes, para os desempregados e para quem – contra a sua vontade – foi obrigado a partir em busca de uma existência digna.
         O meu teve de tudo isso um pouco. Apenas não consegui emigrar, o que teria sido do meu agrado e da minha conveniência.
         Talvez no próximo…apesar da esperança que nos foi inculcada após as eleições de 2015 e mesmo tendo em conta todas as contrariedades que se nos apresentaram.
         Sejamos honestos: nem tudo vai ser bom em 2016. Daí, as minhas naturais reticências…
António Bondoso

Jornalista




2015-12-30

HAVERÁ UM TEMPO JUSTO?...



TEMPO JUSTO.
Não sei se o tempo existe nem sei se terá tempo para isso. Uma dúvida existencial como tantas outras, uma questão filosófica talvez – ontológica certamente e quase a confundir-se com a metafísica. O tempo não é velho nem é novo – recordando o que há dias escrevi a propósito de uma ideia “abadesca” situando o paradoxo do Natal (como tempo de nascer) e da morte (igualmente tempo de nascer numa ou para outra dimensão). Neste ponto…é a Fé a sobrepor-se. Como que uma retórica de conforto em tempo de dor. Mas nestes tempos de crise – o que é realmente importante é o conforto de viver em dignidade! E essa...só será conseguida com um tempo novo.
Voltamos, portanto, à existência do tempo. E quem não se lembra daquela “ladainha” em que o tempo pergunta ao tempo quanto tempo o tempo tem…e o tempo responde ao tempo que o tempo que o tempo tem é tanto tempo…quanto tempo o tempo tem! A ser assim, penso não deixar de ser fundamental que esta asserção englobe toda e qualquer circunstância, toda e qualquer medida.  
Por isso, seja-me permitido esperar legitimamente que venha aí um tempo novo, um tempo de justiça e de felicidade. E desejar a todos que assim seja, com muita saúde para viver esse tempo – um intervalo entre a vida preenchida de altos e baixos…e essa ideia real que podemos situar entre o negro tétrico e o cinzento mais ou menos enigmático.
Pensando positivo, lá vamos a caminho do Novo Ano/Ano Novo...levados pelos ventos de uma liberdade conquistada e defendida com sacrifícios de vária ordem. E que agora clamam por mais felicidade e mais justiça.
Bom, feliz e digno 2016.
António Bondoso


António Bondoso
Jornalista 

2015-12-24


NÃO ME VENHAM FALAR DE NATAL!
FALEM-ME DE JUSTIÇA!

Foto de Ant. Bondoso

Não me venham falar de Natal, quando a miséria, a pobreza, a desigualdade entre os homens de todas as raças se acentua; não me falem de Natal quando os “donos disto tudo”, banqueiros e mercados sem rosto, somam cada vez mais às suas fortunas roubando o produto de quem trabalha e de quem já trabalhou; não me falem de Natal quando os jovens não têm futuro na terra onde nasceram; não me venham falar de Natal quando as migrações são cada vez mais forçadas por situações de guerra e perseguições políticas – da Síria ao Sudão, da Líbia ao Iraque, da Sérvia ao Kosovo, da Albânia à Turquia, do Líbano a Israel, da Rússia à Palestina, do Paquistão à Índia, da Indonésia às Filipinas, da China ao Tibete, do México aos Estados Unidos, da Alemanha à Hungria, do Congo ao Chade, da Tunísia ao Burquina Faso, de Angola ao Zimbabwe, do Brasil à Venezuela. Não me falem de Natal quando as crianças em todo o mundo são violentadas pela fome e pela escravidão.
Não me venham falar de Natal.
Falem-me de Justiça, de Cristo e do Papa Francisco.
Não me falem de Natal, quando ver morrer jovens à porta dos hospitais começa a tornar-se moda, tendo por base cortes orçamentais absurdos. E dos mais velhos nem vale a pena falar, aumentando as situações críticas já mesmo à porta das farmácias – quando não, até da porta de suas casas. Não me venham falar de Natal quando os avós e os pais já não conseguem – em cada dia – fazer face ao desespero dos filhos. Não me falem de Natal, quando há situações diárias de pais e filhos desavindos. Não me venham falar de Natal, quando há escolas que não funcionam por falta de verbas. Não me falem de Natal quando a violência doméstica é cada vez mais comum; não me falem de Natal quando os vizinhos se agridem por uma flor de jardim ou por um arbusto saído; não me venham falar de Natal quando as alterações climáticas – resultado sobretudo das ambições desmedidas do “homem” – conduzem à morte do nosso planeta a um ritmo assustador.
         Não me venham falar de Natal apenas em Dezembro.  
         Falem-me de Justiça, de Cristo e de Consciências Iluminadas.
Enviei, aceitei e retribuí mensagens de Boas Festas. Sobretudo para os amigos que muito considero. Mas não me falem de Natal, quando percebo nesses gestos apenas uma circunstância de moda. Não me venham falar de Natal quando se consomem fortunas em decorações de rua e nas casas de cada um, apenas para umas horas de mesa e de companhia desfeita; não me falem de Natal quando o consumismo se concentra em figuras como a Popota ou como a Leopoldina. Não me venham falar de Natal, quando as compras e as trocas de presentes são a razão única de estabelecer um convívio de amigos e de famílias.
         Não me venham falar de Natal…por tudo isto!
         Falem-me de Amizade presente e desinteressada, falem-me de Justiça, dos verdadeiros valores do humanismo. O Natal é isto. Mais o simbolismo do Presépio que deveria ser um palco diário. 
António Bondoso
Jornalista    



2015-12-22

S. TOMÉ - UMA CAPICUA DO MEU CONTENTAMENTO IMAGINÁRIO...



Independentemente das dúvidas históricas sobre a data exata da descoberta da Ilha – das ilhas de S. Tomé e do Príncipe – aceito a tese de muitos investigadores sobre o dia 21 de Dezembro de 1470, no caso da Ilha grande. É uma terra entranhada em mim, que eu recordo a cada minuto, seja a propósito de um grande acontecimento, quer tenha relação com a mais comezinha notícia. No caso deste 21 de Dezembro, está em causa uma capicua – pois 545 anos se passaram sobre a chegada de João de Santarém e Pêro Escobar àquelas ilhas do meio do mundo, hoje em evidência mediática pelo petróleo e pelo chocolate.
Só para lembrar, aqui vos deixo algumas das 280 páginas do livro que fiz publicar em 2005 – ESCRAVOS DO PARAÍSO – exatamente para assinalar os 30 anos da independência daquele jovem país africano de língua portuguesa.

Parte inferior do formulário









Grato pela paciência de lerem…
António Bondoso
Jornalista



2015-12-15

PARA QUE HAJA ESPERANÇA...



PRESÉPIO DESPIDO ( A Publicar).

Numa imagem despida de acessórios dispensáveis
Nem a vaca nem o burro
Nem qualquer fardo de palha, 
Maria, José e o Menino
Enfrentavam chuva e frio
Debaixo de um velho pinheiro
Pois já não havia estábulo em tão distante caminho.

E a aragem fresca da noite
Quase gelava o cenário de natureza bem simples.

Uma Família comum
De alegria enriquecida
Procurava proteger de um mundo tão egoísta
O sentimento mais nobre
Que o Natal empresta à Vida:
a condição de nascer
sem marca de igual destino
não determina o carácter
nem separa por princípio.

Só um mundo sem razão
A fugir para o abismo
Alimenta a ideia morta de uma árvore despida
Poder servir de refúgio
Ou sequer de proteção
A tantos homens perdidos na busca da salvação.

Mas o milagre persiste
E renova em cada ano
Uma heroica tarefa de fazer acreditar
Ser possível encontrar nos ramos nus de folhagem
A Luz que sempre guiou
Esse Menino nascido com o poder do perdão.
====A.Bondoso (A Publicar)


António Bondoso
Jornalista

2015-12-11

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - UM PAÍS BASEADO NUMA ILHA CORAÇÃO (III)


SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
Projeto de bioenergia em território são-tomense apresentado na Cimeira do Clima
10:16 - 11-12-2015

O projeto-piloto «Bioenergia em São Tomé e Príncipe – Aproveitamento Energético de Biogás», iniciado em dezembro de 2014, foi apresentado na quinta-feira em Paris, na Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas.

Este projeto será desenvolvido já a partir do próximo mês de janeiro, através da instalação de cinco digestores anaeróbicos em comunidades rurais junto da zona tampão do Parque Natural do Obô, para tratar os resíduos orgânicos dos agregados familiares.

O programa, que tem como objetivo a replicação futura da tecnologia por outras comunidades em São Tomé e Príncipe e mais tarde em Angola, Moçambique e em algumas ilhas de Cabo Verde, está a ser desenvolvido com o apoio da Cooperação Portuguesa, através do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua e da Agência Portuguesa de Ambiente, e é financiado pelo Fundo Português de Carbono ao abrigo do programa ‘Fast Start’. O orçamento do projeto está avaliado em 660 mil euros.
==============================

Feliz por saber desta nova, publicada hoje no jornal A BOLA, entendi que seria interessante finalizar a publicação do meu texto sobre UMA “ILHA CORAÇÃO”…EM FORMA DE PAÍS. Simbólica é a imagem que vos deixo deste safu pendurado - sinal de que mantenho a esperança de um dia voltar às Ilhas do Meio do Mundo:




(...) E zarpámos, deixando para trás a Ponta Mandioca e a Ponta Bote, antes de atingirmos a Praia do Ió ou do Ilhéu Grande, em Dona Augusta e bem à vista do Pico Macuru. Ali descansa o Rio Ió Grande – o maior da ilha – depois de uma longa caminhada desde a zona do Pico de Ana Chaves e após receber sucessivamente as águas do Rio Ana Chaves, Rio Campos, Rio João, Rio Miranda Guedes e Rio Umbugú. Contornámos a Ponta Juntabudo e depois a Ponta do Ocá, até que se nos depara a Angra de S. João dos Angolares. E já sem o recorte agressivo da paisagem costeira mais a sul, atrevemo-nos a espreitar muito próximo ou um pouco acima da linha de água, com Santana a revelar algumas cautelas, sendo possível observar a faina dos pescadores, ali na região de Santa Cruz. Canoas à vela, umas quantas a motor, a comunidade piscatória da ilha – direta ou indiretamente – representa quase 30% da população. E um estudo não muito antigo refere por exemplo que 50% dos pescadores terão entre 18 e 40 anos de idade e que 95% dos pescadores são angolares. Um sistema artesanal que, infelizmente, não permite uma utilização plena dos recursos, abrindo caminho a concessões a frotas pesqueiras estrangeiras – nem sempre com as melhores contrapartidas.

         Ali bem perto, soubemos, o João Carlos transformou a sua roça São João num polo de cultura turística, um dos primeiros no período pós-independência longe do bulício da capital. E abrigados na Praia Pequena, ali pernoitamos para recuperar a energia necessária para completar a ação exploratória. Com os primeiros raios de sol a colorir a escuridão daquelas águas, depressa agitamos as barbatanas e tomámos o rumo da Ponta dos Morcegos, em Angobó, deixando para trás a ideia de “turismo rural”. E depois Angra Toldo, Micondó, o Ilhéu Catarino e a Colónia Açoreana, antes de chegar à Ribeira Afonso – outro interessante e importante polo piscatório. Mais um esforço, agora numa costa menos difícil, para alcançar a Baía Luísa, contornar a Península e deparar com a Praia Rei – em Água Izé – junto à foz do Rio Abade na sua margem direita. Nas imediações – lembrei a Pantufo e a Santana – é preciso muito cuidado para não ser arrastado para a conhecida “Boca do Inferno”, um típico local da costa batido pelas fortes marés e cuja erosão deu origem a um curioso canal/túnel, merecedor de uma lenda: de tão perigoso foi associado ao demónio, partindo a lenda de uma figura maldosa representada pelo administrador/proprietário da roça que, quando se ausentava em férias ou em trabalho, não o fazia de barco. Preferia montar a cavalo e com ele desaparecer no canal/túnel onde a rebentação era muito forte.
Mais para norte é já a Praia Amador, antes do Ilhéu Santana – cujas águas são excelentes para a prática da pesca submarina. A barracuda é típica, algo preocupante quando em cardumes de certa dimensão – o que não deixou de agitar os sentidos de Santana. Se a presença de um tubarão, apesar da manifesta elegante imponência, mete respeito…a visão de algumas barracudas, com aspeto robusto e uma cabeça pouco simpática, implica um redobrar de atenção.  
         Ali ao lado, depois da Ponta Agulha, a Praia Méssia Alves [hoje chamam-lhe Messias Alves] acolhe um complexo turístico de excelência – o Club Santana Beach Resort – que oferece 20 bungalows e 11 suites com todo o conforto, para além de uma panorâmica única e inseridos num jardim tropical. Mais um exemplo do turismo de referência que o “país novo” tem vindo a valorizar, à semelhança dos projetos já mencionados. Um turismo alimentado como estratégia fundamental do desenvolvimento – tanto económico, social, cultural, ambiental – e como um vetor de paz e de segurança.
         De Santana à protegida Praia das Pombas foi apenas o tempo de um impulso de barbatanas do Santana e a que o Pantufo respondeu com alegria, deixando que eu “cavalgasse” o seu dorso por alguns momentos. Contornámos a Ponta Praião e depois a Praia Melão, na foz do Rio Manuel Jorge, antes de atingir a Ponta de S. Marçal já no polo piscatório de Pantufo. Esta zona representou para mim, em tempos recuados, um trajeto domingueiro de peregrinação e de enamoramento. E ainda a Ponta de S. Jerónimo, onde hoje está implantado o afamado complexo turístico do grupo Pestana. E é um desfiar de memórias vividas em toda aquela marginal, a Praia Perigosa, os edifícios onde em tempos funcionou o Rádio Clube de S. Tomé – primeiro no que viria a ser o Clube Militar e hoje Embaixada de Portugal, depois na atual instalação da Rádio Nacional e onde eu dei os primeiros passos na profissão, quer no Rádio Clube, quer mais tarde no Emissor Regional da EN. Ainda o Clube Náutico, a Piscina Velha e a Fortaleza de S. Sebastião – atual Museu Nacional – a Praia da PM e o Cais acostável apenas para navios de baixo calado. Um tema até hoje não resolvido e fundamental para o desenvolvimento – o chamado Porto de Águas Profundas.
         E, assim, de novo aportámos à Baía de Ana Chaves, confirmando o trajeto de uma “Ilha-Coração” que me deu forma de adulto e da qual ainda hoje guardo todo o sangue da juventude – feliz pelo caminho natural de um país independente. Caminho de muitos obstáculos e de muitas dificuldades que é preciso ultrapassar com seriedade, competência e total disponibilidade para trabalhar. Um país não nasce por osmose – é preciso muita energia positiva, muita imaginação, muito trabalho e gerar um clima de confiança. Definindo prioridades e explicando, explicando sempre as decisões que é necessário tomar em prol das pessoas que são a razão do país!
         Um país que se alarga à Ilha do Príncipe – paraíso que é hoje administrado como Região Autónoma e que vai dando passos seguros, embora lentos, nos caminhos do desenvolvimento. O turismo e os transportes como prioridade, mas também a preocupação de um serviço de saúde capaz de responder aos desafios do turismo, agora que a UNESCO classificou a ilha como Reserva da Biosfera.
         E a distância de 140 quilómetros que separa S. Tomé do Príncipe foi um desafio que Pantufo e Santana rapidamente aceitaram. Navegar em mar alto não é fácil, mesmo para golfinhos e tubarões, mas uma milagrosa “quietude” das águas do Golfo permitiu que eu trouxesse à memória uma viagem num navio patrulha da Marinha de Guerra portuguesa. Seis horas demorou, então, a viagem…e não foi nada fácil. Só melhorou quando avistámos o Ilhéu Boné de Jóquei – também ele merecedor de uma lenda, mas esta amorosa e envolvendo dois jovens apaixonados. Um amor impossível, contudo, para a época muito distante e dada a diferença da cor da pele. Um pormenor que não deixou de causar alguma perplexidade a Pantufo, mamífero de rara sensibilidade. Já Santana pouco ou nada se sentiu afetado com a história.
E os dois lá me guiaram pelo canal até à Ponta Café, sendo visível que esta região do sul da ilha é bastante acidentada, com destaque para o Pico de Mencorne e Morro de Este. O Pico do Príncipe e o Morro de Carreote ficam mais para o interior desta região montanhosa. Com exceção desta cadeia, as formas de relevo do Príncipe são menos abruptas, o que origina uma topografia mais favorável à agricultura. A boa onda das marés do Golfo rapidamente nos colocou na Praia do Abade, e depois de contornar a Ponta da Praia Salgada foi preciso apenas um ligeiro impulso até chegar à Ponta da Mina, onde – séculos atrás – o regime colonial erigiu uma fortaleza e ali instalou uma forte “bateria” de costa. Apreciámos a quietude da protetora Baía de Santo António e de seguida rumámos ao norte da ilha – onde se fala da lenda de Maria Correia, a grande Senhora da Ilha que dormia com os escravos mais fortes e depois os empurrava no Precipício de Belo Monte, ali bem perto da já muito famosa Praia Banana. E aparece a Praia das Burras mais a Praia de Santa Rita, já bem perto do Ilhéu Bombom – entretanto e em boa hora aproveitado para um excelente Resort turístico. Excelentes praias tem o norte do Príncipe, ainda longe de uma eventual exploração petrolífera – provavelmente nada conciliável com os cuidados exigentes da classificação da UNESCO.
         Foi ali na Praia Banana que eu me despedi de Pantufo e de Santana, proferindo um amigável “paçô”… de até sempre. E ali fiquei, como há 50 anos, sentado na praia e olhando o horizonte, gozando o paraíso e esperando pelo desenvolvimento sustentado e amigo do ambiente. E o mar – sempre o mar! – a proteção das tartarugas e o pensamento na criação de uma “Reserva Marinha”, à semelhança daquela que há poucos anos foi criada no Gabão, com 46 Klms quadrados e correspondendo a 23% das águas territoriais do país. É esse o caminho." 
=== António Bondoso 
Jornalista 

2015-12-09


SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - UM PAÍS BASEADO NUMA ILHA CORAÇÃO (II)


Aproveitando a circunstância de hoje se falar de sabores - quá tela nom sá buá - penso ser oportuno dar sequência ao texto do meu conto UMA “ILHA CORAÇÃO”…EM FORMA DE PAÍS:

(...)"Não foi intencional este adianto, nem tão pouco um desvio de rota e muito menos um esquecimento dos companheiros Pantufo e Santana. Apenas um déjà vu de uma outra época que não é fácil esquecer. Atravessar de Nova Moca para Diogo Vaz ou Monte Forte, atravessar de Java para Bindá ou Santa Catarina…Seja como for, depois de Diogo Vaz continuámos a seguir a morfologia dissimétrica da costa, passando Santa Catarina e depois a Ponta Furada, entre os rios Lembá e Bindá. Era mais ou menos por aqui, frisei aos meus companheiros de aventura, que terminava a estrada em direção ao sul. E é pena, tendo em conta as maravilhas que se nos apresentam antes de chegar a Portalegre. Um projeto nunca concluído – esse, de uma estrada de cintura completa.
         Mais para sul, o radar de Pantufo adivinhou o Ilhéu de S. Miguel, mesmo em frente à “localidade” com o mesmo nome e onde, em tempos idos, o exército português manteve um pequeno destacamento. Igualmente a enseada de S. Miguel – mais um dos muitos e variados “acidentes” físicos que enriqueciam a costa, recordando por exemplo a Lagoa Azul e a praia Córacóra, e deixando adivinhar o que viria a seguir. Depois do Ilhéu Gabado a Ponta Azeitona, e a sul da já referida Massacavú a ponta da Praia Xixi e a enseada da Praia Vá-Inhá, antes de chegar ao Ilhéu Jalé e à já famosa Praia Jalé.
         Que maravilha – disse Pantufo entusiasmado. Aqui…cheira-me a “santuário”! E que bonito é ver as dezenas de novas tartarugas a tentarem apanhar uma corrente que lhes ofereça um destino duradouro. Trocista, Santana ainda tentou a sua chance: entre tantas…não poderei trincar duas ou três? – perguntou. Nem penses – disse o Pantufo, zangado. Se o fizeres, expulsamos-te desta “expedição”! Já pareces um daqueles turistas invasores “psicocêntricos”, sem cultura. Vê se passas a ser mais responsável e mais amigo dos ecossistemas. Santana recebeu e percebeu a mensagem. E não deixou de referir o seu conhecimento das ideias do explorador Paul Rose – defensor da chamada economia azul, que tem por objetivo manter o oceano saudável, pensando e agindo de forma sustentável. “Sem perder a identidade de cada país e o coração de cada povo” – diz Paul Rose – é importante que os países entendam o oceano como um todo!
         Depois destas observações de Santana, ficámos todos mais tranquilos e resolvemos descansar ali, bem em frente ao Jalé Ecolodge – um projeto de ecoturismo de base comunitária, financiado pelo Fundo Francês para o Ambiente Mundial, através da Rede das Áreas Protegidas da África Central. Hoje, o projeto é executado pela MARAPA (Mar Ambiente e Pesca Artesanal), uma ONG que apoia iniciativas locais de desenvolvimento sustentável e tem atividades na preservação de tartarugas e na proteção do meio ambiente das comunidades de Porto Alegre e Malanza.
Esta região do sul…e aqui já o Pantufo havia afirmado a sua ideia de que o pedaço de terra que explorávamos era certamente uma ilha…que é marcada sobretudo pelo rio e pela lagoa Malanza, é uma das várias áreas pantanosas do território – em parte também devido à invasão do mar durante as marés vivas. Daí resultou um ecossistema particular, pelo que se decidiu – e bem – criar a Zona Ecológica de Malanza focada na observação do mangal e da biodiversidade. E em termos turísticos há mesmo uma parceria entre o Mangrove Tour e o Jalé Ecolodge, o que só beneficia os pescadores da região que proporcionam aos turistas passeios de canoa tradicional com remador. É evidente que estes pormenores não são percetíveis, quer a Santana, quer a Pantufo, com a sua atenção mais virada para o mar. 
         Novo dia e nova “caminhada”…passando pela Praia Piscina, antes de entrar no canal do Ilhéu das Rolas, onde há muitos, muitos anos, alguém diz ter observado um “combate” mortal entre uma baleia e os seus filhotes e um peixe-serra. Como sempre, a eficácia do “radar” de Pantufo ao descobrir o Ilhéu onde passa a “imaginária” linha do Equador, no meridiano dos “zero graus”. O golfinho sugeriu uma aproximação, tal como Santana, mas eu chamei a atenção para o atraso que isso causaria à nossa tarefa exploratória da costa. Disse-lhes apenas que o ilhéu possuía dois cones vulcânicos com cerca de 95 metros, cada um com uma cratera com o diâmetro de 90 metros. Mais pequenas do que a da Lagoa Amélia, na zona do Pico, naturalmente.
         O turismo, ali no Ilhéu, viria muito mais tarde com a aventura empresarial de Cantanhede e à qual o Grupo Pestana daria continuidade, apesar da dupla insularidade e de outras dificuldades nem sempre suscetíveis de ultrapassar. Há muito, muito tempo – disse-me um dia o saudoso Victor Cruz [e está escrito pela minha pena em Escravos do Paraíso] – o faroleiro Almeida esteve lá vinte anos sem falar com o administrador da roça, o senhor Castro, apenas por se terem desentendido quanto ao transporte de um bidão de petróleo até ao farol.
         E agora, sussurrei ao Pantufo e ao Santana, há os perigos da pesca desportiva em alto mar. O melhor é continuarmos a nossa exploração da costa da ilha. Temos já à vista a Praia Inhame, antes de uma série considerável de Pontas a desenhar o perfil do sul da ilha. Depois entrámos na enseada de Lògológo onde nos acolhe a Praia Micondó. Desta enseada, pensei, parece mesmo ter saído o Ilhéu das Rolas. Mas a existência de Ano Bom, mais a sul, pode levar a outras suposições. E eu, confesso, não tenho conhecimentos de geologia que me permitam seguir essa linha de pensamento. Talvez seja preferível ficar com a ideia de que, na sua infinita bondade, o Criador ali tivesse colocado este maravilhoso pedaço de terra para – simbolicamente – separar o bem do mal. Provavelmente não por acaso, diz também uma canção brasileira que não há pecado a sul do Equador. Chico Buarque leu num livro de seu pai, Sérgio, que um cronista holandês teria registado um ditado em 1641 e que dizia: é como se a linha que divide o mundo em dois hemisférios também separasse a virtude do vício. A melodia, de 1973, transforma e amplia a ideia de que, para os desbravadores com espírito de aventura, este trópico era visto no Velho Mundo como verdadeiro antro de perdição. Já para os estrangeiros exploradores, estas terras sem instituições sociais nem religiosas eram o paraíso da utopia e liberdade, onde nada era proibido.
         E prosseguimos, contornando a região de Ponta Baleia, evitando as Pontas Càvingui, Baleia e Geumbú e, já numa trajetória ascendente, as Pontas Barro Bóbó e Barro Preto – antes de atingirmos a Praia Grande e o Ilhéu Quixibá. Esta palavra, expliquei aos meus companheiros de aventura, significa “banana-prata”, mas hoje decidiram passar a escrevê-la utilizando a letra K, pelo que há já muita gente a dizer kitxiba ou simplesmente kixiba. 
         Recordo igualmente o romance que Alexandre Pinheiro Torres fez publicar em 1977 na Moraes, A Nau de Quixibá [e que a Caminho entendeu reimprimir em 1989] – uma história centrada numa roça de S. Tomé e vivida em 1939 entre o narrador, filho do administrador da roça, e uma jovem filha do guarda-livros da empresa. Ele, jovem membro da Mocidade Portuguesa e os pais anti-situacionistas, dão corpo a uma confusão de sentimentos e que vem a culminar na queima da farda da MP e na destruição do esqueleto de uma nau ali naufragada há 300 anos – símbolo dos naufrágios dos regimes coloniais.
         E como não podia deixar de ser, veio à conversa – por minha sugestão – o pormenor de uma lenda que refere um naufrágio nos ilhéus das Sete Pedras [a alguns quilómetros do local onde nos encontrávamos, ligeiramente para sudeste] de um barco negreiro a caminho do Brasil. Dos sobreviventes teria resultado o estabelecimento de uma comunidade de angolares nessa região sul da ilha grande. Sem base documental que a sustente, essa hipótese teria agradado ao regime colonial que, de resto, sempre a acarinhou e ampliou. Mas há estudos recentes que rejeitam essa tese, tal como uma outra hipótese “nacionalista” de a ilha grande ser já habitada aquando da chegada dos portugueses. O investigador Gerhard Seibert, defendeu em 2004 – citando Isabel Castro Henriques [2000 e 2004]; Jan Vanzina [1996] e M.J. Trovoada et al [2001,2002,2003] – a sua inclinação para a provável conjugação de fatores que determinaram a descendência dos “angolares” de uma comunidade de cimarrones ou fugitivos macambos de plantações e engenhos de açúcar, onde eram sujeitos ao regime de escravidão. Colocados perante estas dúvidas, é natural que Pantufo e Santana se sentissem um tanto ou quanto confusos. E por um bom período nadaram em círculos, permanecendo eu no meio do “palco”, esperando talvez que me coubesse a tarefa de tomar uma posição sobre as hipóteses levantadas.
         Para não perdermos mais tempo e de modo a podermos descansar mais a norte, entendi comunicar-lhes a minha inclinação para a maior sustentabilidade da tese dos fugitivos macambos, tendo em conta a evidência histórica e linguística. Mas sempre fui dizendo que lhes caberia, querendo e quando oportuno, estudar a longa e interessante bibliografia sobre o assunto, não esquecendo a lenda do herói/rei Amador que muitas preocupações terá causado às autoridades coloniais. Pantufo ainda guardou as suas dúvidas no meio de tantas teorias não insofismavelmente documentadas, mas Santana rejeitou a tese/lenda do naufrágio: mesmo que alguns tivessem sobrevivido – disse – morreriam de cansaço antes de alcançar terra, pois é quase impossível enfrentar a forte ondulação que ali se manifesta ou, por outro lado, os meus antepassados teriam dizimado os mais afoitos e resistentes."(...)
=== António Bondoso

 Pintura de Maria Teresa Bondoso
António Bondoso
Jornalista



2015-12-04



SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - UM PAÍS BASEADO NUMA ILHA CORAÇÃO. (I)

Há dias, passeando a minha atenção nas redes sociais - concretamente no facebook - deparei-me com esta notícia:

Projeto Meros do Brasil em expedição à pérola do Golfo da Guiné

"Em expedição ao arquipélago no mês de Novembro de 2015, os pesquisadores Nuno Vasco Rodrigues (FLYING SHARKS/MARE/IPLeiria), Jorge Fontes (MARE/Açores) e Áthila Bertoncini (UNIRIO/Instituto Meros do Brasil) realizaram uma série de mergulhos na Ilha de São Tomé e no Ilhéu das Rolas, com o apoio do Costa Norte Fishing & Diving Center para documentar a biodiversidade de peixes desse espetacular Arquipélago, objetivando a produção de um livro guia de peixes e um poster das espécies comerciais."

***** A propósito, lembrei-me do meu conto que escrevi, em exclusivo, para assinalar o 40º aniversário da independência daquele país africano de língua portuguesa, numa solicitação da CISTP - Casa Internacional de São Tomé e Príncipe - em Lisboa. 
A partir do projeto em notícia, pensei que poderia ser interessante ir revelando aqui o meu texto completo - dividido em três capítulos, apenas para não ser demasiado maçador. Hoje deixo-vos a primeira parte: 


Palestra do Projeto Meros no IDL- Instituto Diocesano de Formação João Paulo II.




UMA “ILHA CORAÇÃO”…EM FORMA DE PAÍS

         No dia em que eu cheguei à Ilha, levava comigo um golfinho – o Pantufo – escoltado pelo gandu Santana e por milhares de vadô-panhá, aproveitando uma água temperada azul cor de turquesa, apesar da calema da gravana.
         Avançámos avistando terra e encontrando refúgio numa bela e protegida baía a que deram o nome de Ana de Chaves. E ali fizemos amizade com uma encorpada tartaruga, que – desde logo – nos foi chamando a atenção para os perigos que a sua espécie ia correndo, pois era evidente o aumento da sua importância comercial, com o aproveitamento da sua carapaça para a elaboração do tradicional artesanato. Para além da maravilha culinária dos seus bifes, igualmente. O problema não estaria nos exemplares mais idosos, mas sim nas jovens tartaruguinhas que mais facilmente eram apanhadas e tinham boa cotação no mercado. 
         Eu sei que o meu destino é a morte lenta – dizia a velha tartaruga talvez com 80 anos…e de tanta idade já nem o nome lembrava – imaginando-se virada de barriga para o ar, posição aflitiva e acrescida da fatal falta de água, ali no passeio da marginal no Bairro de S. João.
         Havemos de tomar providências para que isso não aconteça – logo disse o gandu por entre a sua forte dentadura, que lhe permitia essa sua atitude tão protetora quanto arrogante. Mas o golfinho, mamífero de uma generosidade e de uma alegria quase sem limites, embora sabedor da maldade humana própria de todos os tempos, logo foi avisando: olhos bem abertos, todos os sentidos apurados para evitar redes, arpões ou quaisquer outros objetos. Ainda vão passar muitos anos até que alguém se interesse verdadeiramente pela vida marinha, pelo ambiente, pelo turismo sustentável. E as nossas amigas tartarugas poderão estar rapidamente numa era de perigo de extinção.
         Quanto tempo passaria, de facto, até que se ouvisse falar de ONGs, da Marapa, da Terra Crioula, do programa Tatô, da Terra Verde, do Jalé Ecolodge, do turismo solidário e do ecoturismo.
         Entretanto, propôs o golfinho, talvez fosse interessante irmos explorar este ambiente, sempre bem perto da costa. E lá partimos com o gandu, atentos mas brincando sempre. Deixámos as águas tranquilas da baía e enfrentámos a tradicional ondulação quente que chegava do Golfo.
         E fomos navegando primeiro para norte passando perto do aeroporto, na Praia Gambôa, e depois em Diogo Nunes no canal frente ao Ilhéu das Cabras, antes de chegar a Fernão Dias. Ora aqui está uma praia com história de sangue – disse o gandu Santana, fazendo alarde das suas características de excelente e temível predador dos mares. Como assim? – interrogou o Pantufo. E Santana explicou brevemente, frisando ter sido ali que, em tempos, se derramou muito sangue humano inocente, dando corpo ao que ficou conhecido na história como o “Massacre de Batepá” – embora esta povoação ficasse bem no interior da terra que os dois, agora, me ajudavam a explorar. Centenas de pessoas humilhadas e torturadas pelo regime colonial português – acrescentei eu. Pantufo deu duas piruetas para afastar um arrepio…indicando quase de imediato o rumo a continuar. Vamos à procura de lugares bem mais agradáveis – disse. Mas a História, retorquiu Santana, não deve ser esquecida. Por isso falamos nela – frisei! Continuando a nadar muito perto da costa, para nos orientarmos melhor, passámos a ponta Cruzeiro e a praia dos Tamarinos notando que o rumo havia começado a “desviar-se” para Oeste. E Morro Peixe ali tão perto! De instituição penal, no período colonial, a projeto de paraíso para as tartarugas…foi um longo caminho. Que é necessário continuar a trilhar apesar das “dificuldades” que se apresentam. Nem sempre é fácil conciliar economia, sobrevivência e biodiversidade – particularmente nos PEID, Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento. Mas como diz Brígida Rocha Brito, dada a riqueza dos ecossistemas e da paisagem, as ilhas do arquipélago santomense são dotadas de biodiversidade e endemismo, factores fortemente potenciais para a prática de actividades turísticas de observação em contexto de lazer. O que, de certa forma, se enquadra perfeitamente nesta ação exploratória em que me acompanham o Pantufo e o Santana.
         Não sei ao certo quantas milhas já teremos “palmilhado”, desde que deixámos a velha tartaruga na baía de Ana de Chaves – disse Santana. Nadamos mais um tempo…e antes do anoitecer descansaremos – propôs Pantufo. E eu, já há muito “afastado” deste mar e exausto, rejubilei com a ideia. E assim chegámos à Lagoa Azul, mesmo junto ao Morro Carregado. Mas o adiantado da hora e o sol a despedir-se já não nos permitiu saborear a delícia do azul do mar e a transparência da água naquele local tão tranquilo e tão sereno. E onde eu pratiquei até pesca submarina com o amigo Sobral – um verdadeiro mestre – e onde me recordava de ter sido enganado por um tubarão, não deixei de o frisar a Santana, que nos levou todo o peixe já capturado nesse dia já longínquo do século passado. E até a “bóia” onde o peixe estava pendurado!
         Vós, humanos – devolveu Santana – tendes a convicção de que sois mais “frescos” do que nós. E logo neste ambiente marinho, ao qual eu e o Pantufo estamos perfeitamente adaptados. Para nos acompanhar, e mesmo com muita dificuldade, vocês precisam de barbatanas artificiais e de garrafa de oxigénio. Basta olhar para ti, neste momento. Vamos procurar um nicho tranquilo – decidiu o Pantufo – para depois podermos apreciar o luar.
         Que saudades tenho eu – pensei – de uma fresca cerveja Cuca ou Nocal que vinham de Angola. Mas hoje, com a sede que este mar salgado provoca, não diria que não a uma antiga Ceto, Rosema ou à nova Creola de fabrico local. Dizem mesmo que esta é uma das melhores de África. Não deixa de ter influência a qualidade da água, penso eu. E logo me vêm à ideia tempos da minha juventude adulta…quando o “carocha 15-50” transportava uma grade, com gelo, e era só decidir o melhor local à beira-mar. Refrescávamos ideias e imaginávamos o mundo.
         O nascer do sol, como agora, único no mundo! É o coração a falar, claro. Mas não haverá muitos. Pantufo e Santana já se exibiam em acrobáticos saltos ou em velozes correrias, absorvendo os ricos raios de sol de um dia magnífico a projetar-se. Concordando com a beleza da Lagoa Azul, não deixaram de me desafiar para prosseguirmos a tarefa exploratória. E assim se passaram a praia das Plancas e a Ribeira Funda, pressentindo ao longe o som de alguns cetáceos em cruzeiro, para chegarmos antes do “almoço” à cidade das Neves. E de novo a sagacidade do tubarão Santana a lembrar que ali, nas Neves e na praia Rosema, houve em tempos idos um importante centro de “retalho” de baleias capturadas, apesar de atualmente apenas se notar o cheiro de combustíveis.
         De facto – de acordo com um estudo de Inês Costa de Carvalho [2004] para o Instituto Superior de Psicologia Aplicada, de Lisboa, sobre as baleias corcundas – a caça à baleia nesta região durou praticamente uma década, até finais dos anos 50 do séc. XX, tendo sido capturados cerca de 800 exemplares que renderam 3.500 toneladas de óleo. Mas hoje as baleias estão a regressar e são uma atração turística, apesar de o Japão insistir num acordo para desenvolver a caça aos cetáceos. Apenas pensei nisto, não o referindo em voz alta para não preocupar e entristecer de novo o golfinho Pantufo.
         Mesmo com cheiro a crude, o “almoço” nas Neves incluiu um excelente “peixe com banana” – regado com óleo…de palma – antes de nos fazermos de novo “ao mar” em direção ao Padrão [da descoberta], constatando que o rumo era já nitidamente para sul.
         Tem todo o aspeto de ser uma ilha – considerou o Pantufo, apurando o seu “radar” essencial. Para Santana isso era indiferente, desde que houvesse mar tépido e muito peixe para o seu sustento. E não era de cerimónias. Tanto mordiscava uma garoupa como podia trinchar uma corvina. Sem falar de algumas novas espécies que nos últimos anos foram encontradas nas águas do arquipélago, como por exemplo um peixe papagaio de 80 cm, um peixe-góbio ou uma pequena raia elétrica.  
         E a um ritmo de cruzeiro, simpaticamente imposto por Santana e Pantufo em atenção, sobretudo, à minha condição de peixe fora d’água, passámos Esprainha, o Padrão, a Ponta de Diogo Vaz…e aqui até nos afastámos um pouco da costa para poder ter a visão magnífica [em puro contraste com a secura da de Morro Carregado] de uma selvática vegetação luxuriante que subia numa cascata verdejante até quase ao Pico, lá no alto, embora menos visível na época das chuvas devido à densa névoa. Bem medidos, são 2024 metros desde o nível do mar [mas há quem diga 2027] e ali à volta há ainda o Pico Pequeno, com 1983 m, Ana de Chaves, com 1630, Calvário, com 1600 – antes da cadeia montanhosa se alinhar para o sul com Pirâmide, Charuto, Cabumbé e Vila Verde, culminando com o majestático cenário dos fonólitos Cão Grande, 663 m ao nível do mar [420 a partir da base] e o Cão Pequeno, apenas a 390 m de altitude e já muito perto do Ilhéu dos Cocos e da Praia de Massacavú. Ainda mais perto da costa uma referência para as Mamas de Massacavú, acima dos 300 metros.
         Não foi intencional este adianto, nem tão pouco um desvio de rota e muito menos um esquecimento dos companheiros Pantufo e Santana. Apenas um déjà vu de uma outra época que não é fácil esquecer. Atravessar de Nova Moca para Diogo Vaz ou Monte Forte, atravessar de Java para Bindá ou Santa Catarina…


António Bondoso
Jornalista

Sem trafulhice e com seriedade…vamos lá a eleições, quando tiver que ser!

Jornal Público


A LATA:

Quando António Costa falava de “surpresas desagradáveis”…eles riam-se (para não chorar) e diziam que não. A senhora loura das finanças até se deu à difícil tarefa de emitir uma nota oficial a desmentir. Mas agora nem aparece com uma simples nota pessoal para admitir a sua culpa. Apareceu um delicadinho da silva a citar o relatório da UTAO: analisando os números de Outubro (e os de Novembro?) diz a UTAO que, se houver rigor (?),…a meta pode ser alcançada! E ninguém foi capaz de perguntar ao sr delicadinho…e, então, onde esteve o rigor em Agosto, ou em Setembro, ou em Outubro, e em Novembro?
E já alguém se lembrou de endossar o relatório ao inquilino de Belém? É que, embora não governe, “ele” foi um dos principais agentes da confusão.
Que não sirva de desculpa ao novo governo! Mas que não venham agora os tradicionais profetas da desgraça – espalhados por todos os medias – dizer que a culpa foi das “esquerdas”.
E no meio da tragédia, quase o Portugalix a afundar-se, somos apanhados com a força de toda a LATA de PPC e de PP a pedir novas eleições. Sem trafulhice e com seriedade…vamos lá a eleições, quando tiver que ser!
António Bondoso

Jornalista

2015-11-21


ÁFRICA – ESQUECER E LEMBRAR!


A propósito deste evento e a convite da AICEM - Associção Para o Idioma e Culturas em Português, com sede no Porto - escrevi mais esta visão do Continente que tem muitas Áfricas no seu seio, diversidade que vai tendo o condão de nos ir surpreendendo. 

ÁFRICA – ESQUECER E LEMBRAR!

Haverá contradição? Embora possa parecer…veremos que não existe!
E a verdade é que, pela história, seremos eternamente confrontados – quer dicotomicamente, quer pela dialética – com esta questão!
Esquecer…não é matar a memória. Pelo contrário…é preciso dar vida à memória, para que não sejamos assaltados pela melancolia pesarosa ou por uma nostalgia perniciosa. É preciso perceber e aceitar os outros, aceitar a verdade dos outros e os avatares da história. 
E OUTRA COISA:- de África não nos chegam apenas “refugiados”!

Portanto…o desafio é este: Apelo para que esqueçamos os filmes idílicos sobre África. Lawrence da Arábia, África Minha, Fiel Jardineiro, Amor sem Fronteiras, por exemplo.
Esqueçamos livros como As Verdes Colinas de África, de Hemingway…Um Lugar Dentro de Nós, Adeus África, ou Uma Fazenda em África.
Hoje, na ordem do dia, está mais um livro sobre Angola:- Magnífica e Miserável, da autoria do Cientista Ricardo Soares de Oliveira, Prof em Oxford.

E é sempre bom lembrar, por exemplo – reconhecendo o sabor a sangue e a ambição desmedida – outros filmes como O Senhor das Armas, Hotel Ruanda, Diamante de Sangue ou Crianças Invisíveis.

Em qualquer caso…Esqueçamos África, vista pelos olhos eurocêntricos.
Seja-nos permitido, contudo, lembrar a busca do conhecimento propiciada pela era dos descobrimentos – assinalam-se por esta altura os 600 anos do início da expansão.
Podemos até lembrar Camões ou as missões científicas de Silva Porto, Hermenegildo Capelo ou Roberto Ivans uns séculos depois…
Mas esqueçamos, definitivamente, os Impérios de países europeus em África! Ou melhor, não deixemos de lembrar as atitudes menos próprias, as condutas erradas, indignas e violentas desses impérios – como a escravatura humilhante, por exemplo.
Como não devemos deixar de lembrar, por outro lado, os genocídios mais recentes do Biafra, do Ruanda ou do Darfur…

Apesar de tudo, tenhamos sempre presente figuras como Santo Agostinho, Senghor, Wangari Maathai, Lumumba, Nyerere, Eduardo Mondlane, Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Aristides Vieira, Kaunda, Kenyatta, Selassiè, Samora Machel, Desmond Tutu, Nelson Mandela…
De outro modo, não deixemos de lembrar – pelos piores motivos – nomes como Bokassa, Francisco Macias Nguema, Idi Amin Dada,   Habib Bourguiba, Sékou Touré, Mobutu, Robert Mugabe…

Fundamental é que – sabendo que esquecer não significa o mesmo que varrer para debaixo do tapete – ainda assim é bom esquecer a África da Conferência de Berlim, em 1884/1885 – na qual 14 países redesenharam o Continente onde tudo terá começado, sem ter em consideração as fronteiras linguísticas e culturais estabelecidas. Antes dessa data, 80% do continente africano era dominado por chefes tribais. Basta recordar que, em finais do séc.XVIII, a “estrutura política” variava entre reinos, impérios, cidades-Estado, e outras linhagens de clãs e aldeias, resultado de inúmeros movimentos migratórios associados à sobrevivência, à religião, à cultura, ao poder e ao comércio. Mas bastou um século para se assistir a uma notável transformação do continente, fruto de uma expansão de modernidade com base em fatores exógenos – particularmente as armas de fogo, que alteraram significativamente os conceitos de estratégia militar e de ocupação dos espaços.

E nesse período houve até um reino/império…por onde passou o navegador e explorador Sancho de Tovar (que alguns identificam mesmo como espião!)…império que floresceu entre os séculos 15 e 18 – numa região banhada pelo rio Zambeze e cujo território hoje se pode situar entre o Zimbabwe e Moçambique – o Império de Monomotapa. De tão curioso – e talvez até pelas ligações que mais tarde se verificariam a propósito do Mapa Cor-de-Rosa – seria objeto de uma obra de Ana Maria Magalhães e de Isabel Alçada “ NO CORAÇÃO DA ÁFRICA MISTERIOSA”.  
Ouro e marfim foram as riquezas que elevaram e derrubaram esse império. Como outros casos inumeráveis.
==== E ainda hoje se encontram no topo das Relações Internacionais os problemas diretamente ligados à exploração das riquezas africanas – matérias-primas de caráter vital para muitas potências. Isto, apesar de – entre os 10 países mais pobres do mundo – 9 serem africanos. E entre estes se encontrarem a Guiné-Equatorial e S. Tomé e Príncipe, países inseridos na área da lusofonia/CPLP e ambos com a palavra “PETRÓLEO” gravada na agenda mediática.
O caso é que, nos dias de hoje (pese embora o eterno acordo entre a CEE/União Europeia com os países designados como ACP), o pêndulo do relacionamento está nitidamente a desviar-se para a Ásia: - primeiro foi a China [que até criou há uma dezena de anos o Fórum de Macau para desenvolver as relações com os países «lusófonos»]…e agora, com muitos anos de atraso, está a ser a Índia a promover essa aproximação. Dois dos países BRICS a recentrar o eixo da política internacional.
==== A União Europeia, definitivamente, = com a sua atenção/preocupação mais centrada no leste europeu e no próximo e médio oriente, vai-se afastando cada vez mais da África. E não só no que diz respeito aos “refugiados” ou Migrantes, apesar da recente tentativa de perceber, para resolver, esse complexo problema. Só dinheiro para os Estados Africanos não resolverá certamente. Por isso é que Federica Mogherini, [Alta Representante da UE para a política externa] diz que “o objetivo é criar oportunidades para as pessoas, proteger a vida das pessoas, lutar contra as redes de tráfico que exploram o desespero das pessoas e fazer tudo isto em conjunto”.
Quero dizer eu…não impor, mas aceitar e adaptar regimes com a maior transparência possível e à medida de uma justiça universal, sem pretender ser donos da justiça ou de um conceito único de democracia.
==== a isto chamo COOPERAÇÃO – uma atitude para a qual é fundamental rever os atuais paradigmas. Por isso, Podemos sempre incluir aqui inúmeras ideias.
Porque não esta de Aimé Césaire?*
«Não me enterro num particularismo estreito. Mas tão pouco quero perder-me num universalismo descarnado. Há dois modos de nos perdermos: por segregação emparedada no particular ou por dissolução no 'universal'. A minha concepção do universal é a de um universal depositário de todo o particular, depositário de todos os particulares, aprofundamento e coexistência de todos os particulares.»
*-(Martinica. Político e Poeta, fundador do Movimento da Negritude)

Alguém escreveu para o Círculo de Leitores há muitos anos – e ainda hoje faz jurisprudência – que nenhuma ciência da terra nem nenhuma ciência social pode por si só captar e analisar as múltiplas transformações estruturais dos Estados, das comunidades económicas e dos blocos político-militares. A colaboração interdisciplinar é indispensável para o nosso futuro.
Sobretudo, devo acrescentar, depois da queda do Muro de Berlim, após a implosão da ex-União Soviética e da ex-Jugoslávia, e com o aprofundamento da chamada globalização, em finais dos anos de 1980.

==== e nesse sentido, não deixa de ser estranho que Portugal – 40 anos depois das independências das suas ex-colónias em África – não tenha ainda conseguido, em plenitude, dar corpo a uma relação profícua, sem traumas, sem tabus e de respeito mútuo, de forma a aprofundar e a fazer coexistir todos os “particulares” que são os países de língua oficial portuguesa.
==== tantos anos passados, e apesar da criação da CPLP em 1996, deitou-se para o caixote do lixo o chamado “espírito de Bissau” – um gesto de capital importância para o relacionamento de Portugal com os novos países saídos das ex-colónias africanas, o qual passava por uma fase dificílima. Estávamos em 1978, quando o Presidente Ramalho Eanes – recorrendo embora a uma atitude de diplomacia paralela – consegue com o Presidente Agostinho Neto um “acordo geral de cooperação nos domínios cultural, científico, técnico e económico”.
E como princípio – diria Agostinho Neto – “entendeu-se que a cooperação não significa apenas uma dádiva ou um benefício em sentido único. Ela tem um carácter recíproco, o que lhe dá o carácter novo nas relações Angola-Portugal”.
Ramalho Eanes definiria mais tarde esse espírito de Bissau – como sendo a “preocupação em aproveitar aquilo que o passado de bom nos legou, tentando acabar com preconceitos, que sempre existem quando as independências ocorrem”. Agostinho Neto, o Presidente-Poeta que o meu camarada jornalista e escritor Leonel Cosme chama de “pragmático”, agradeceu o esforço de Ramalho Eanes para esse encontro – do qual resultou um clima de amizade entre Portugal e Angola, estando “dentro da lógica dos fenómenos históricos vividos e segue a natureza do impulso humano para a coexistência”.
==== Mas infelizmente esse impulso não tem sido seguido regularmente. Ainda hoje, como é sabido, o clima do relacionamento entre os dois países tem sido sufocado por altos e baixos – mais baixos do que altos – muitas vezes traduzidos em questões mesquinhas ou oportunisticamente manipuladas.
          Sendo o capital uma entidade sem rosto, por que razão se questionam apenas (e quase sempre de forma acintosa) os investimentos angolanos em Portugal, ignorando capitais de outras proveniências?
          São evidentes as enormes diferenças entre os países do espaço lusófono. Desde logo o conceito temporal do espaço nação e do território Estado. Há já 41 anos de democracia recente em Portugal – país a caminho de 9 séculos de existência – enquanto há outros, como Angola, onde o caminho da paz ainda só completou 13 anos. O tempo da guerra, as suas causas e meandros condicionaram – não se pode negar – o normal desenvolvimento do país. E, por consequência, o seu relacionamento externo. Ainda há dias, o embaixador itinerante angolano, António Luvualu de Carvalho, referiu que “seria fantástico fazer em 13 anos o que outros fizeram em 100”!
         Quer em Portugal, quer nos Países de Língua Oficial Portuguesa, é certo que há – e sempre houve – algumas cabeças ocas. A diferença poderá estar na consolidação da cultura democrática, no nível de aceitação da liberdade de pensamento e de expressão. E definir cabeças ocas, embora seja tarefa aceitável para um jornal – não poderá segura e definitivamente ser preocupação de qualquer Órgão de Soberania. É certo que a tensão latente remonta aos tempos da independência, de Angola particularmente, e às contradições e constrangimentos em que Portugal se viu envolvido nesse período – não deixando de ser palco do experimentalismo internacionalista.
O embaixador Luvualu de Carvalho disse também que, em Portugal, há um nicho de pessoas que pensam que Angola ainda é de Portugal: - "A representatividade deste grupo não é grande, mas os meios que possuem, meios de comunicação televisiva (...) rádios, jornais e nas redes sociais claro que influencia muitas pessoas a terem uma imagem negativa em relação ao Estado angolano".
         Será neste grupo, direi eu, que devem estar inseridas algumas das tais cabeças ocas.
Portanto…foram tempos diferentes. Tal como são ainda hoje. E se é verdade que os países africanos tentaram de alguma forma assumir a luta contra ingerências pós-coloniais e adaptar-se a um mundo em transformação mais ou menos permanente, não é menos verdadeiro que essa intenção nem sempre terá sido bem sucedida.
         Falávamos de diferenças, particularmente nos aspetos culturais (onde estão incluídos os direitos humanos!), económicos e políticos.
Contudo, há uma vivência secular e uma língua transnacional comum, no rasto da qual devem ser balizados todos os caminhos do futuro. Aceitando e respeitando mutuamente as diferenças.
É pelo sonho e pela utopia que devemos ir…num caminho traduzido em ações concretas das sociedades civis dos 9 [mais as diásporas], mas sem esquecer o enquadramento fundamental das vontades políticas dos Estados-membros.
Acontece, porém, que – numa cegueira completa com os fundos comunitários – Portugal tem quase sempre preferido esquecer 600 anos do mar que lhe proporcionou autonomia e independência. E até mesmo desinvestir na língua que espalhou e tornou comum a milhões de pessoas, não só em África.
A Língua portuguesa – é hoje património comum de quase 300 milhões de pessoas. E não deixa de ser curioso assinalar pequenas vitórias, eventualmente casuísticas, em territórios não originários da Lusofonia: a Universidade da Suazilândia – incentivada pelo próprio Rei – assinou há dias um acordo com o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, para a abertura da primeira licenciatura em língua e literatura portuguesa naquele reino africano.
Ficaremos mais ricos, sem dúvida!
Mas o que enriquece o chamado espaço lusófono… não é apenas a Língua oficial. É certamente também a diversidade.
Infelizmente nós, portugueses, não herdámos dos nossos grandes exploradores, a riqueza do conhecimento das outras línguas.
Talvez não saibamos dizer duas ou três palavras em qualquer das línguas bantos, umbundo (3 a 4 milhões de pessoas nas províncias centrais de Angola)…ou quimbundo (2 a 3 milhões, na região norte e Luanda)…
Foi talvez com o Kimbundu que os portugueses mais terão convivido nos primeiros tempos da colonização.
E desse convívio, recordo, fomos assimilando apesar de tudo, alguns vocábulos.
Como cambuta (de kambuta, "baixo, baixinho"), candongueiro (de kandonga, "negócio ilegal"), moleque (de mu'leke, "menino"), muamba (de mu'hamba, "carga"), caçula (de kusula ) xingar (de kuxinga, "injuriar, descompor"), kubata – casa; (Corruptela portuguesa de Ku Dibata ), ou ainda quitanda (de kitanda, "feira, venda").

E a propósito de Kitanda, e estando nós em Novembro, como não recordar este poema de Agostinho Neto “Meia-Noite na Quitanda”:
Cem réis de jindungo
Sá Domingas.

O sol
entrega Sá Domingas à lua
nas quitandas dos musseques

E a quitandeira esperando

Cinquenta réis de tomate
três tostões de castanha-de-caju
um doce de coco
Sá Domingas

Ela vende na quitanda à meia-noite
que o filho
está na estrada
precisa de cem réis para pagar o imposto

O sol deixa Sá Domingas
na quitanda
e ela deixa o luar

Um tostão
dois tostões
três tostões
que o coração de Sá Domingas
sofre mais ainda do que o corpo na quitanda.
Há sempre qualquer coisa de novo em África e uma aptidão constante para surpreender – diz o historiador Elikya M’Bokolo – ciente de que há muitas Áfricas.
            Apesar de tudo, esperemos poder continuar a ser surpreendidos.

-TENHAMOS FÉ NUM PORTUGAL RENOVADO…
-CONTINUEMOS A ACREDITAR NA GUINÉ-BISSAU…
-REFORCEMOS O PRAGMATISMO DE CABO VERDE
-TENHAMOS ESPERANÇA NO “RIO DOS BONS SINAIS” EM MOÇAMBIQUE…
-NÃO REGATEEMOS ESFORÇOS RELATIVAMENTE A STP
-OLHEMOS CONVICTAMENTE PARA ANGOLA … com Kizola (Amor) e com Kidielela (Esperança).
-Mungu ue! (até amanhã) 
-Mungu uenu! (até amanhã a vocês!) 

Muito Obrigado.
Maia, 19 de Novembro de 2015. 
António Bondoso.

António Bondoso