2021-12-30


SE O NOVO ANO VIESSE DO CÉU


Foto de António Bondoso

 

Se a viragem do ano transportasse em si mesma o valor absoluto do bem-estar e da justiça, seria como que um momento perfeito da humanidade.

Contudo, é muito complicado este mundo habitado por humanos!

Desde o início dos tempos sempre a pesar a vida e a morte, matar ou morrer, viver e sobreviver, a pobreza e a riqueza, a alegria e a tristeza, o belo e o feio, o mal e o bem, a felicidade e a miséria, o poder e a submissão, o pecado e a graça, a mentira e a verdade, a dúvida e a certeza, a traição e a lealdade, o amor e ódio, o perto e o longe.

Por isso me tenho interrogado inúmeras vezes se haverá um tempo justo.

Não sei se o tempo existe nem sei se haverá tempo para isso. Uma dúvida existencial como tantas outras, uma questão filosófica talvez – ontológica certamente e quase a confundir-se com a metafísica. O tempo não é velho nem é novo – recordando o que há dias escrevi a propósito de uma ideia “abadesca” situando o paradoxo do Natal (como tempo de nascer) e da morte (igualmente tempo de nascer numa ou para outra dimensão). Neste ponto…é a Fé a sobrepor-se. Como que uma retórica de conforto em tempo de dor. Mas nestes tempos de crise – o que é realmente importante é o conforto de viver em dignidade! E essa...só será conseguida com um tempo novo.

Voltamos, portanto, à existência do tempo. E quem não se lembra daquela “ladainha” em que o tempo pergunta ao tempo quanto tempo o tempo tem…e o tempo responde ao tempo que o tempo que o tempo tem é tanto tempo…quanto tempo o tempo tem! A ser assim, penso não deixar de ser fundamental que esta asserção englobe toda e qualquer circunstância, toda e qualquer medida.  

Por isso, seja-me permitido esperar legitimamente que venha aí um tempo novo, um tempo de justiça e de felicidade. E desejar a todos que assim seja, com muita saúde para viver esse tempo – um intervalo entre a vida preenchida de altos e baixos…e essa ideia real que podemos situar entre o negro tétrico e o cinzento mais ou menos enigmático.


Postal antigo de STP - Igreja da Conceição

Pensando positivo, lá vamos a caminho do Novo Ano/Ano Novo...levados pelos ventos de uma liberdade conquistada e defendida com sacrifícios de vária ordem. E que agora clamam por mais felicidade e mais justiça.

E se…

Se o novo ano viesse do céu

Por certo seria azul

E diferente, pois então!

Para melhor

Sempre a caminho do sul

Guiado pelas estrelas

De um enorme coração.

 

Se o novo ano viesse do céu

Por certo seria azul

Tal como as águas tranquilas do rio

Ou do mar alto que sei.

Diferente e para melhor

Sempre em busca do calor

De um imaginário que é meu

Do qual gostei e que amei.

 

Se o novo ano viesse do céu

Talvez o mundo tivesse a cor dos meus olhos!

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António Bondoso

(Dez de 2017)

António Bondoso

Dezembro de 2021 – 2º Ano da Pandemia. 




 

2021-12-28

O BONÉ AMBIVALENTE...tanto pode ser o Boné do Zé, como espelhar o Zé do Boné. 

Chove...

O BONÉ AMBIVALENTE…

 

Protege do sol, aconchega no frio.

O boné ambivalente

Tanto empresta estatuto

Se feito de caxemira

Como atribui indigência

Se feito com indecência.

 

O boné ambivalente

Segue a moda dos criadores.

Usado por pensadores

Por simples trabalhadores

O boné ambivalente

Não deixa ninguém indiferente.

 

Usado por tradição

Ou até superstição

O boné ambivalente

Define com precisão

Tanto o mestre da escultura

Como a falsa assinatura.

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António Bondoso

Dezembro de 2021. 



Costa de VN de Gaia

 António Bondoso

28 de Dezembro de 2021

2021-12-27


FIGURAS E ACONTECIMENTOS DE 2021 – APENAS UMA VISÃO…ou de como cada olhar tem uma alma diferente, manipulando números e situações a seu bel-prazer. 


António Guterres com Papa Francisco

Pandemia e tudo à volta.

Nova fase de alta pressão no SNS.

Inevitável dissolução da AR, depois do chumbo do OE, vítima de mais uma «coligação negativa» PSD, CDS/PP, BE, PCP.

O triste e intemporal «sebastianismo» português, que muitos tentaram colar ao Almirante Gouveia e Melo e mais uns quantos – com a sua falta de visão – insistem em oferecer de bandeja à «extrema-direita».

Perda de Desmond Tutu – o lutador sorridente na África do Sul.

Afirmação do Papa Francisco – com intervenções de longo alcance social e político.

Fenómenos sul-americanos:

Da eleição peruana de Pedro Castillo – um modesto professor primário que enfrenta as armadilhas dos tubarões da política – à nova vitória da esquerda chilena. Será que assistiremos a um novo 11 de Setembro?


Desmond Tutu

António Guterres:

Enfrentou a estupidez de Trump (ONU, OMS, Clima, erros Afeganistão, Síria, Iraque, Curdos) e depois dos dramas dos Refugiados e dos migrantes, o cenário da Pandemia do SARS-Cov2 agravou a economia, a miséria e a fome. Mas Guterres não saiu de cena e tem levado a sua luta ao extremo.

Vacinação em Portugal e suas consequências:

Ser «Grande» é ter conseguido uma taxa de vacinação fora do comum para um país com a nossa dimensão. E ainda ser solidário – nomeadamente com os povos de língua portuguesa; Ser «Grande» é ter posto o país a crescer de novo, sem o deixar “bater no fundo”, sem cortar nas reformas e subir o salário mínimo; ser «grande» é conseguir, depois da pior crise sanitária e financeira da história moderna do país, voltar a diminuir o défice e voltar a ter um excedente no terceiro trimestre de 2021; ser «Grande» é proteger a TAP quando já (quase) nada nos pertence – nem a água, nem a energia – uma parte essencial da soberania perdida.

Os média e o mau serviço que têm prestado ao país:

E vou apenas falar da manipulação vergonhosa dos números relativos à vacinação (uma leitura enviesada das percentagens da dose de “reforço”), que ainda há dias estiveram em destaque na RTP1 – o canal público que todos continuamos a sustentar e que, por isso, merecia mais seriedade e mais competência. Registo a maléfica aproximação à CMtv. Não é sério pretender comparar os valores da Áustria e de Portugal, dizendo que o país está em 11º lugar enquanto a Áustria ocupa o 1º, sem referir que – enquanto Portugal tem uma taxa de vacinação total de 88%, a Áustria apenas atinge os 71,4%. Será difícil entender a forçosa necessidade do «reforço» por parte dos austríacos? Não é de espantar, por isso, que eles tenham acelerado o reforço para os 38%, enquanto Portugal se situa nos 23,5%. É este tipo de informação enviesada que é preciso desmascarar. 


Central Termoelétrica do Pego

Agressões Climáticas:

Por mais «cimeiras» que se realizem, o drama já não vai ter solução a tempo do anúncio do chamado «ponto de não retorno». A sobrepopulação «pisou» a economia e as necessidades crescentes nas últimas décadas arrasaram com os recursos do nosso planeta. E sabe-se que «este» planeta não é infinito. Registe-se, contudo, o encerramento das centrais a carvão em Portugal.

Conflitos Armados:

As “Guerras por Procuração”, que proliferaram durante a 1ª Guerra Fria, estão de novo a ganhar potencial um pouco por toda a parte, mas com especial incidência na África, na Ásia e América do Sul. Por outro lado, o Leste europeu vai estendendo a passadeira vermelha a novas oportunidades, com destaque para a Ucrânia, que – ao fazer a sua opção pró União Europeia – pretende ser muito mais do que um simples Estado-tampão entre a expansão da NATO e a contenção da Rússia. Destaque ainda para a triste realidade da Birmânia/Myanmar, que a China e a Índia não querem ver – embora por motivos diferentes – e que os EUA, em nítida fase de reagrupamento de forças pós Afeganistão e numa fase crítica de alocação de recursos para enfrentar a pandemia e a crise económica, pretendem manter em banho-maria até a um momento mais «oportuno».

O novo «centro» do mundo:

Indo-Pacífico e a posição geoestratégica da «plataforma» Australiana. Alta expetativa para observar o «cerco» ao poderio da RP da China.  


                                                                O novo «centro» do mundo

António Bondoso

Dezembro de 2021. 




 

2021-12-13

 

ALGUMAS FIGURAS DA MINHA VIDA (4)

De um episódio com Onésimo da Silveira em S. Tomé e Príncipe ao 25 de Abril em Bissau, CARLOS ALBERTO FERREIRA DIAS é já um passageiro de longo curso e é um homem apaixonado por STP – sua terra natal. Por isso se dedica há mais de 10 anos a publicar semanalmente na «Web» um pequeno mas interessante “jornal”, a que deu o título de NOTÍCIAS À TERÇA e que esta edição nos apresenta o nº600. 

Carlos Dias

Para além de um número redondo e marcante, como já tenho dito, o NT é o resultado de uma paixão profunda pelas circunstâncias da terra. Merece o meu aplauso e o meu reconhecimento, independentemente do que possa vir a acontecer no futuro. E é também nisso, disse-me, que tem pensado muito. Gostava, claro, que o jornal continuasse, diz que há pessoas competentes para dar sequência, mas…assumir essa responsabilidade exige paixão. Sem isso nada feito – acrescenta.  

         Não só por isto, mas também, CARLOS DIAS é uma das «figuras da minha vida».

         Desde que começou a trabalhar em S. Tomé aos 18 anos de idade, foi quase sempre um homem de duas ocupações, responde-me, primeiro na Administração Pública do território e depois na Rádio – como Presidente da Comissão Administrativa do Rádio Clube que, em Dezembro de 1969 [20 anos após a sua fundação], passou a fazer parte da ex- EN, o primeiro Emissor Regional do então “Ultramar”.

         E eu aparecia por lá, pelo Rádio Clube, nomeadamente uma vez por semana, quando era o tempo de gravar o programa “A Voz da Mocidade”, no qual se destacava o espaço de teatro radiofónico – iniciativa que obrigava a puxar pela imaginação. Num dado domingo do «verão» de 1967, fui à Rádio mas por outros motivos. Tinha uma conversa aprazada como Manuel Sá que, por essa altura, produzia e apresentava o “Música na Praia” aos domingos de manhã. E enquanto aguardava um pequeno «intervalo» para falarmos…surgiu a figura do Diretor Carlos Dias. Depois do cumprimento cordial e de revelar o que ali me levava…veio a «dica», meio convite, meio proposta, para aparecer “um dia destes”. E lá fui, não muito depois, para aceitar começar a trabalhar à experiência.

         Carlos Dias, passados mais de 50 anos sobre o episódio, ainda se lembra de me ver por ali, de ter falado com o Sá e, eventualmente, com o Nobre, e diz que «tinha um dedo para encontrar as pessoas certas», o que também funcionou comigo. Tinha «pinta», diz. Felizmente. Mas o mesmo aconteceria na Guiné uns anos depois, já na função de Intendente do Emissor Regional, quando foi convidado para lá ir passar uns meses. Foi e gostou, acrescenta, recordando a figura do Fernando de Sousa, que viria mais tarde a ser correspondente da SIC em Bruxelas, tal como da Rádio Macau – durante algum tempo em que eu ali chefiei a Informação.  

         E foi na Guiné, onde se cruzou com o governador Gen. Bettencourt Rodrigues e mais tarde com o Cor. Carlos Fabião, que Carlos Dias soube e viveu o 25 de Abril de 1974. A informação do golpe militar chegou-lhe ouvindo a BBC nas instalações do Emissor Regional, onde uma RGT – Reunião Geral de Trabalhadores – confirmou a sua continuação como Intendente do ER. Foi sempre bem tratado por todos, diz-me, e «não tive qualquer problema nem com as novas “autoridades” portuguesas nem com as personalidades do PAIGC que se foram instalando. A entrega do ER ao PAIGC foi pacífica [tal como havia sido já a sua tomada por parte dos militares afetos ao MFA] e continuei, até vir embora, a dirigir os serviços». Antes do seu regresso a S. Tomé, acrescenta Carlos Dias, propôs – mais uma vez confiando no seu «dedo» – alguns militares para ficarem a “coordenar” o Emissor, em ligação com o representante do PAIGC, entre os quais o Fernando de Sousa. Essa missão na Guiné em «tempos complexos», onde também manteve excelentes relações com a comunidade Santomense ali residente, valeu-lhe um louvor, mérito que ele atribui mais uma vez aos seus colaboradores. 

Com «Mina Malé» na Rádio.

         Voltou a S. Tomé e reassumiu a «Intendência» do ER até à sua entrega ao MLSTP no dia da independência. Carlos Dias, natural de STP, não desejava sair de lá, mas acabou por haver uma conjugação de questões burocráticas, políticas e familiares que praticamente o obrigaram a ficar em Portugal, quando cá veio em serviço para «acordar com a EN o financiamento de uma parte do orçamento e, a pedido do novo Governo, mandar fazer na Imprensa Nacional os passaportes, os selos brancos e os carimbos para os serviços públicos de STP». Isso foi feito mas Carlos Dias ficou, depois de saber que não iria conseguir a “dupla cidadania” – condição que lhe permitiria permanecer no novo país sem perder o direito à «reforma» por parte do Estado português. “Julgo que não ficaram sequelas”, diz Carlos Dias, que acabaria por voltar a STP – a convite do governo do MLSTP (via embaixada) – para o funeral do seu amigo Nuno Xavier Dias: “essa sim, foi uma grande perda para S. Tomé e Príncipe”. 

Convívio da Rádio

Esta «figura da minha vida» hoje em destaque, como já ficou claro, teve sempre mais do que uma ocupação na vida pública de STP. Aos 18 anos de idade, depois dos estudos na «metrópole», foi trabalhar interinamente na Estatística. Por pouco tempo, pois havia concorrido aos quadros da Administração Civil e foi nomeado aspirante do «quadro administrativo», sendo colocado na Curadoria. Mas pertenceu igualmente à Comissão da Caixa de Previdência e foi escriturário na Junta Provincial de Emigração.

         E voltando ao «dedo da sorte» para escolher os colaboradores, Carlos Dias recorda outras situações felizes, como por exemplo a «equipa» quando foi administrador do Concelho do Príncipe, na qual estiveram o José Almeida, o Pedro Umbelina, o Pina e o Nobre de Carvalho: - “Passados 3 anos e 3 meses terminei a comissão e, nessa altura, foi-me atribuído um prémio pelo bom desempenho. O prémio chamava-se «João de Santarém e Pêro Escobar». Pensei e constatei que o mérito não foi só meu, pois muitas pessoas ajudaram e apoiaram”. 




A receber o então governador Cecílio Gonçalves nas instalações do ER da ex EN.


         E quando esteve na Curadoria [Curadoria Geral dos Serviçais e Indígenas, mais tarde Repartição Provincial do Trabalho, Previdência e Segurança Social], uma das suas funções era «encaminhar para as roças inscritas os trabalhadores acabados de chegar de Cabo Verde». E entre os 600 ou 700 chegados naquele dia, recorda Carlos Dias, “vinha um jovem com uma deficiência motora, coxeava muito, o que me levou a falar com ele para ver que tipo de trabalho poderia fazer. O jovem era brilhante. Como poderia estar ali entre aqueles tantos trabalhadores rurais? Já não foi para a Roça – embora fosse obrigatório ser-lhe atribuída uma – e ficou a trabalhar no Sindicato. Era nem mais nem menos o Onésimo da Silveira que, depois da independência de Cabo Verde, foi autarca, deputado e diplomata, para além de escritor/Poeta”.

António Bondoso

Dezembro de 2021. 



2021-12-09

O «espírito» do Natal subvertido…ou de como se «vende» a ilusão.

É triste saber do Natal. Desse Natal que nos é apresentado pela publicidade televisiva. É triste saber do negócio. E saber que há tantos a participar nele. E saber que ele se expande com indiferença. É a pior face de uma época que vamos vivendo sem questionar o «desvio» e sem atender às consequências. Por isso, dei forma a palavras e ideias simples que vos deixo: 


Foto de António Bondoso

Se o Natal vier

Como é suposto

Que demore meses a moldar

E a modelar

A forma de um rosto

De uma alma sofrida.

 

E será Natal sempre que a água correr

E será Natal sempre que o Sol aquecer

E será Natal sempre numa noite clara

E com as estrelas a brilhar.

E será Natal sempre que um homem pensar

[isto sou eu em delírio]

No seu vizinho do lado

Nas crianças sem brincar a céu aberto

Teimando ainda e sempre um seu sorriso

Meio aberto

Sabendo que não há chaminé

Nos campos ali ao pé.

 

Mas será sempre Natal

Como é suposto.

Mesmo sabendo que tantos de nós

Nem sequer terão à mesa uma filhós…

…que desgosto!


Foto de José Guilherme Pontes

António Bondoso

Dezembro de 2021. 
 

2021-11-27

S. TOMÉ E PRÍNCIPE TEM HISTÓRIA.

SOBRETUDO A DESCONSTRUÇÃO DOS MITOS…ou uma forma didática e pedagógica de apresentar um livro da e sobre a HISTÓRIA DE S. TOMÉ E PRÍNCIPE

Capa

Foi o desafio que motivou Armindo Silvestre de Ceita do Espírito Santo, uma vez que – segundo o autor – “não existia um livro de história de STP, sendo este o primeiro. O que havia, e há, são uns poucos livros que abordam  matérias de história de STP (alguns com profundidade) que, de resto, por serem obras académicas, são praticamente inacessíveis aos estudantes e interessados no conhecimento da história de STP.” Por isso, diz-me, o livro tem uma narrativa diferente da que se encontra habitualmente em outras obras. 


Foto da Web - Tela Non

Sabemos, por outro lado, que uma «História» nunca é definitiva, sobretudo a dos países e do seu relacionamento. Por muito que as «fontes» permaneçam, há sempre a tentação de uma nova leitura. Mas Armindo Espírito Santo disse a este blogue «Palavras Em Viagem» que a sua “linha de investigação não se afasta da linha conhecida, sobretudo da portuguesa. Há certamente algumas opiniões diferentes, uma visão do economista sobre a história, mas isso não significa uma linha de investigação diferente em busca de novas verdades. Por outro lado, o livro baseou-se, essencialmente, nas fontes já conhecidas. Introduz alguns elementos novos (poucos) como é o caso da cobra preta que novos avanços científicos recentes (2017) demonstram que é nativa, e não introduzida pelos portugueses, como se argumentava. Por outro lado, discute a questão das crianças judias, sobretudo as causas da morte de um elevado número em tão pouco tempo.” A investigação, reforça Armindo Espírito Santo, “levou-me sobretudo à desconstrução dos mitos; às causas das mortes das crianças judias; aos motivos dos vários conflitos de toda a ordem, que nada têm a ver com os atuais conflitos”.


Contracapa

  O autor desta «História de S. Tomé e Príncipe», que é investigador do Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento (CEsA/ISEG-UL) e presentemente investiga história, cultura e economia de STP, do passado ao momento atual, acrescenta que o seu trabalho foi realizado de forma autónoma, sem ajudas de qualquer organismo público ou privado – quer em Portugal, quer em STP.

Apesar disso, destaca que este livro é o primeiro de três que espera publicar sobre história, economia, cultura e demografia (sobretudo a evolução da população)  de STP. O próximo pretende cobrir o período compreendido entre meados do século XIX a Dezembro de 1974 (fim do regime colonial - 2ª colonização). O último estender-se-á até à atualidade e vai do período de transição política até aos nossos dias.


Da Web - Programa Nós Por Lá

A apresentação desta “História de S. Tomé e Príncipe” vai estar a cargo do historiador português Arlindo Caldeira, consensualmente considerado nos meios académicos como aquele que melhor conhece a História do período moderno de STP, entre os séculos XV e XVIII.

O evento vai decorrer no dia 29 do corrente, 2ª feira, pelas 18h00, no auditório da UCCLA em Lisboa – sito na Av. Da Índia, nº110. 


Convite

António Bondoso

Novembro de 2021. 









 

2021-11-22


FELIZ ANIVERSÁRIO…ou de como há “Homens e Dias Imperfeitos”.

Há entre nós um dito popular, aplicado a situações diversas, que enfatiza o facto de que “não importa como começa, mas sim como acaba”. 



Foto de António Bondoso

No caso da celebração de um aniversário há, contudo, pelo menos uma variante. Como começa é, de facto, uma circunstância – Ortega Y Gasset – mas enquanto não termina, e desejamos todos que acabe o mais tardiamente possível, o importante é o «durante». Dia após dia, mês após mês, ano após ano, e pelos vários quadrantes da nossa existência, vamos construindo a identidade, o caráter e definindo os nossos grupos «familiar» e de «amigos». A convivência, os acasos e a forma de ser de cada um determinam os processos.

Nem tudo é perfeito, claro, mas o que importa é o que somos e como somos. Um forte abraço a todos quantos vão tentando e celebrando.

António Bondoso

Nov. 2021. 



Foto de António Bondoso

HOMENS E DIAS IMPERFEITOS

 

Sei que chegaram

E foram ficando

Sei que partiram

E foram morrendo

Sei que choraram

E foram perdendo

Memória antiga de dor e maldade

Saudade aberta de chagas e beijos.

 

Sei que sentiram

E não perceberam

Sei que mentiram

E não revelaram

Sei que tentaram

E não conseguiram

Dar todo o sentido à forma de ser

Um mito em busca de nos conhecer.

 

Sei que falaram

E não decidiram

Sei que fugiram

E não rejeitaram

Sei que amaram

E não perdoaram

Passar a barreira de todos os perigos

Ir longe demais e perder o cais.

 

Sei

Sei que matámos

E que fomos mortos

Absurda ignorância de negados

Na pele e na alma

A origem da vida

Das nossas vidas

E dos meus mitos rasgados.

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António Bondoso

Outubro de 2021. 



Foto de António Bondoso


António Bondoso 

Novembro de 2021



 

2021-11-13


ALGUMAS FIGURAS DA MINHA VIDA (2)

«As “utopias” estão tatuadas em meu pensamento, em minha carne, pela palavra e pelo gesto». Assim vos apresento MARIA REGINA FERNANDES CORREIA, natural de Viseu, embarcada aos 8 meses para Angola, de onde voltaria ainda criança para estudar e crescer…depois Professora em várias latitudes e Poetisa – “Não fosse a palavra e/ todos os gestos a que/ amor dá alma se/ perderiam/ irremediavelmente no/ coração da/ desesperança”.[1]


Apresentação de Conjugação de Mapas na UCCLA

         E foi pela palavra e pela Língua que nos conhecemos na Madeira há uns anos, no âmbito da I Semana Cultural das “CPLP Multilingual Schools” e I Festival “Sons da Lusofonia. Depois, Regina Correia esteve comigo na Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto a apresentar o meu AROMAS DE LIBERDADE(s); levou-me à Associação dos Antigos Alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde, em Lisboa e falou do meu livro EM AGOSTO…A LUZ DO TEU ROSTO; e mais recentemente acompanhou-me na apresentação de O MEU PAÍS DO SUL dizendo Poesia de consagrados Poetas Santomenses – nomeadamente de Francisco José Tenreiro.

O Ensino, a Língua, a Escrita, as Viagens, os Lugares fazem de REGINA CORREIA…uma cidadã do mundo: de Viseu a Angola, da Madeira a Estugarda e Hamburgo, de Lisboa a Cabo Verde. A honra de a ter conhecido e de com ela ir privando como Amiga, levaram-me a considerá-la como uma das «Figuras da Minha Vida». Daí, este pequeno bate-papo, por escrito, tradução muito clara de outras conversas.



Apresentação Aromas de Liberdade(s)-AJHLP

*** Deve ser um coração muito partido, o teu. QUE FATORES mais contribuíram para isso? Viagens “forçadas/inesperadas”, inquietação, sensibilidade…ou as «maldades» do ser humano?

- Hoje, o coração, apesar dos descaminhos no cruzamento de mapas, está “inteiro”, no que tem que ver com o apaziguamento interior, pela consciência mais objectiva do mundo. Durante a infância e parte da adolescência, sim, meu coração foi de facto, muito partido, em termos de fragmentação do eu, já que as andanças de então, a que chamo “desviagens” foram forçadas, “maldades” de meus pais que me enviaram, sozinha, com seis anos e meio, sem conhecer vivalma, dos matos angolanos para os matos de Viseu. E a “lucidez do vazio” instalou-se quase definitivamente em mim. Naturalmente, também a inquietação assente em estranheza, em ausência(s), em silêncio(s). A minha escrita nasce da necessidade de iluminação da memória nas sombras que alimentam a solidão e a saudade.

 *** De todos os lugares de “afetos” (pois houve alguns seguramente) …em qual é que te sentes capaz de juntar os pedaços…ir reconstruindo o “puzzle” da tua vida?

- Apesar de me ver em modo de “represa”, não concebo a vida sem correntezas. Há três rios que me atravessam a alma – o Kuanza, o Tejo e o Elba. Escrevi em “Sou Mercúrio, Já Fui Água” (2012) que “Há sempre um rio // serpenteando por entre a // difusa luz da fuga e o //alongado // tornear de cada // regresso”, porque “sou um animal de margens”. Quando retomo minha “cartografia identitária”, por diversas e inesperadas (muitas) circunstâncias da via-sacra, é no Tejo que encontro o fio sólido para cerzir minha manta de retalhos. Lisboa é o lugar de intersecção, vaso comunicante entre todas as ilhas do labirinto em que o meu futuro enraizou, desde os oito meses de idade (aliás, mesmo antes de nascer). O lugar do “eterno retorno” – “Cobriu-se o Tejo de esquivas barcas. Regresso? // Ou partida para a vertigem da jornada?” (Conjugação de Mapas, p.25)



*** REGINA CORREIA…professora, mulher de cultura e de culturas, a língua, a literatura, prémios…Escrever, pensar, analisar escritores, dizer Poesia com excelência. És um «ser» completo?

- Nunca poderia considerar-me um ser completo, não acredito que tal sentimento habite alguém. Doutro modo, o que nos ficaria para preencher na viagem até ao último cais? Sou mesmo muito incompleta, como ser humano ou “animal de cultura”. E toma-me uma asa triste de mágoa.

*** …O que faz ainda falta?

- Como ser humano, como mulher, quanta frustração, tão ínfima tem sido minha parcela de desempenho na construção de um mundo melhor. Como se tudo me tivesse ficado por fazer, relativamente a toda a espécie de discriminação, seja de racismo primário, pela cor da pele, seja discriminação de género ou a exploração de uns pelos outros. E no que toca ao campo literário, então aí desapareço completamente na “poeira estelar”. De mão dada com as limitações em que me reconheço, vou caminhando na certeza de que nada sou e nada sei, face à imensidão.


Semana CPLP - Madeira

*** Continuas a correr atrás de utopias?

- As “utopias” estão tatuadas em meu pensamento, em minha carne, pela palavra e pelo gesto. Talvez tenham desbotado, pelos desencantos que a engrenagem político temporal foi teimando em instalar nas linhas de acção sonhadas pela “conjugação de mapas”. Mas nada as consegue apagar, de vez. Restar-me-ia o suicídio.

*** A «conjugação dos teus mapas» é a “utopia maior”? Todo o Universo…ou apenas o da «Língua Portuguesa»?

- Sem dúvida. Esta minha “conjugação de mapas” persegue o sonho de um reino do HUMANO, verdadeiramente universal, usando a língua portuguesa como arma. A propósito, a professora Anabela Almeida escreveu “O princípio deste livro é o Lugar, o espaço de pertença de todos e cada um, não importa a sua situação geográfica, política, social, económica, religiosa. As fronteiras não existem na Conjugação dos Mapas”. Apoiando-me na “Parte” tento chegar ao “Todo”. “E das empenas do retraimento versos // e lendas prometendo-me outras bandeiras // numa cantilena onde cabe o universo”. (Conjugação de Mapas, p.26)


Apresentação EM AGOSTO - na  AA Alunos ES Cabo Verde, em Lisboa

*** Quando se fala em conceitos de Lusofonia, Espaço Lusófono, Língua Portuguesa…sentes ser parte de qual? Ou vives e sentes «à margem»?

- À partida, sinto-me mais “confortável” no espaço conceptual de língua portuguesa. Afinal, tendo em conta, embora, todos os quês de dominação e de mal-entendidos, é Portugal a base espácio-temporal, histórica, sociocultural para o estabelecimento desta língua nos diferentes continentes. Procurando eu viver numa ponte de entendimento entre “todos os mapas”, doem-me as dores dos que são ou se sentem discriminados. Como gostaria de poder situar-me “à margem” de melindres que atacam uns e outros! “Ninguém // determina // a pátria onde // sou. Reconheço-me na // conjugação de mapas que a // Língua vem tricotando // retalho a retalho // como se um manto de // luz // abrisse todas as portas // diante da // orfandade (...)” (Conjugação de Mapas, p.49)

*** Em qualquer caso, nunca é uma posição cómoda?

De facto, a posição é muitas vezes incómoda, quando nos movimentamos no âmbito destes conceitos, já que há países de língua oficial portuguesa, cujos povos possuem uma “língua mãe” nacional, como nos casos dos “crioulos” de Cabo Verde, da Guiné-Bissau e de S. Tomé e Príncipe, por exemplo. Por outro lado, dado o número avultado de línguas nacionais, a língua portuguesa funcionará como língua de unidade na comunicação entre as diferentes etnias, para as nações angolana e moçambicana. E refiro-me só aos PALOP. Teríamos de pensar no Brasil ou em Timor-Leste. Neste sentido, tendo a alinhar pelo pensamento daqueles que defendem o conceito de “lusografia” versus o de “lusofonia”.


Madeira - Conversa a três, com Joaquim Arena e A. Bondoso

*** Muito grato Regina Correia. Mais dias Felizes.

António Bondoso.

Novembro de 2021.

[1] - Conjugação de Mapas, 2ª edição, 2020. Editorial Novembro. Premiado com o «Troféu Literatura Clarice Lispector 2021.