A
MODA DAS ALDEIAS…ou a subjetividade das mais bonitas.
Eu, por exemplo, gosto
muito de Paçô ou de Baldos, no concelho de Moimenta da Beira.
É
comum dizer-se hoje que vivemos numa aldeia
global, mas a verdade é que – para além de todas as autoestradas da
informação e da onda incessante de novas tecnologias que nos oferecem o planeta
ao simples gesto de um clique – há sempre comunidades a descobrir. Algumas que
se mantiveram esquecidas por motivos diversos, outras que foram sendo
abandonadas pelos efeitos migratórios. Mais umas quantas, felizmente,
descobertas em tempos recentes, despertaram o interesse de gente empenhada e
motivada. Preservar um modo de vida com a qualidade impossível nas grandes
metrópoles…
Já referi comunidades mas há quem lhes
chame povoados, pequenos povoados, aldeolas, povoações rurais ou pequenas
povoações de organização simples e sem autonomia administrativa.
Pois é destas localidades que muito se
tem falado nas últimas semanas, particularmente a propósito da “eleição” das 7
mais, a sair de um lote de 49 selecionadas, e que serão anunciadas a 3 de
Setembro. Não questiono métodos nem princípios…mas, como disse, gosto
particularmente de Paçô e de Baldos, em Moimenta da Beira. Não é que
essas tenham uma particularidade específica, mas simplesmente por uma questão
de proximidade. E também pela história que as rodeia se tivermos em conta por
exemplo Lamego e S. João de Tarouca. Baldos,
porque os meus olhos a fixam sempre que paro por estas Terras do Demo de Aquilino Ribeiro; Paçô, porque por ali passo para aqui chegar…e até pela lembrança
que me traz o habitual cumprimento dos habitantes da Ilha do Príncipe – lá
longe no Golfo da Guiné, no meio do mundo, talvez com uma explicação idêntica à
que se atribui ao Passô/Paçô daqui da Beira Alta. Passou por aqui o Bispo?
Passou. E de Passô ou a Paçô foi apenas um passar. Também na ilha do Príncipe
as pessoas se cumprimentam quando passam.
Excerto de OS OITO CONCELHOS DE MOIMENTA DA BEIRA
A. Bento da Guia
Quanto
a Baldos, como disse, é lá que se
fixa o meu olhar quando – sentado na varanda – aprecio a paisagem imensa do espaço
a que chamei a Terra das três montanhas, as quais não me deixam ver o Távora a
correr para o Douro. E foi durante a construção da barragem no Távora nos anos
de 1960 [Vilar de seu nome foi inaugurada em 1965] que Baldos também serviu de base
logística – nomeadamente colocando a sua Escola ao serviço dos filhos dos
trabalhadores no empreendimento. E depois há aquela nota de Monsenhor Bento da
Guia, em Os Oito Concelhos de Moimenta da
Beira [3ªedição, Agosto de 2001], sobre os tempos da reconquista de terras
aos mouros onde se empenharam os chamados “presores godos”. Citando o Elucidário de Santa Rosa Viterbo, Bento
da Guia recorda que esses presores “criaram vilas rurais, vilares e casais que
deles receberam os nomes, como Leomil, Baldos,
Alvite, Toitam, Mileu, Segões, Sever e Ariz”.
Ant. Bondoso
Não
é que estas aldeias tenham mais ou menos encanto do que outras agora mais
nomeadas. Mas têm certamente uma história que eu não pretendo deixar passar em
claro, destacando referências bibliográficas de muita valia. E, por outro lado,
há até palavras a que emprestei alguma poesia não faz muito tempo:
FONTES
DE LUZ…
Baldos
tem vinte luzes
Em
perfeita noite de verão.
Conversam
com as estrelas
Para
confessar a paixão:
De
brilhar olhando o vale
De
luzir aquém dos montes
De
queimar todas as fontes
Que
incendeiam o coração!
As
vinte luzes de Baldos
Projetam
no meu olhar constelações
De
tantos astros suspensos
Que
o meu espírito inquieto
Viaja
como se fora intruso
Nas
asas cintilantes de um minúsculo avião.
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Ant. Bondoso
Agosto
de 2016.
António Bondoso
Jornalista
Agosto de 2017.