“A
INDEPENDÊNCIA, SENDO A MAIOR CONQUISTA DE UM POVO, NUNCA CORRESPONDE AO NOSSO
SONHO.”
Alda Neves da Graça do Espírito Santo
Em
ESCRAVOS DO PARAÍSO
António Bondoso – 2005
MINERVACOIMBRA
ALDA DO ESPÍRITO SANTO, poetisa e política de S. Tomé e Príncipe, está a ser homenageada no seu país do centro do mundo, numa iniciativa a que os organizadores chamaram “I CONFERÊNCIA NACIONAL SOBRE AES”, na qual participam nomes grandes das Letras como Conceição Lima e Albertino Bragança; Professores Universitários e Investigadores, entre os quais Inocência Mata, Mardginia Pinto e Carlos Neves; e outras figuras proeminentes da Sociedade São-Tomense, nomeadamente Maria do Carmo Trovoada, Alda Bandeira, Agostinho Fernandes, Filinto Costa Alegre e Guilherme Octaviano.
O slogan que «resume» a iniciativa tem a designação de «Venha Conhecer as Múltiplas Facetas da Matriarca da Nação». Terá sido certamente na «linha do tempo» que lhe coube viver e atuar, quer antes, quer no pós independência de STP, acompanhando os líderes nacionalistas das ex-colónias portuguesas numa «fase de aprendizagem política e académica» em Portugal, designadamente com Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade e Francisco José Tenreiro.
Depois, Alda do Espírito Santo foi tudo e conquistou o direito – por dever da ação – aos títulos que lhe foram atribuindo. Por exemplo o «retrato de farol de muitas gerações», a que me referi em Escravos do Paraíso e, mais recentemente, em 2021, no livro O Meu País do Sul:
(…) Para o meu
livro “Escravos do Paraíso”, disse-me em 2004 que a independência, sendo a
maior conquista de um povo, nunca corresponde ao nosso sonho. Por isso, dizia
ser necessário que “surja uma elite intelectual que dê um impulso para resolver
os problemas”. Desiludida com a política, penso ter partido com a ideia metafórica de
que «mataram o rio da sua cidade», mas ficaram as palavras e as ideias. Como
nesses versos do poema «Construir»: Construir sobre a fachada do luar das nossas terras/ Um mundo novo onde
o amor campeia, unindo os homens/ de todas as terras/ Por sobre os recalques,
os ódios e as incompreensões, / As
torturas de todas as eras. (…)
A sua força está muito
bem expressa neste poema que vos deixo:
CELA NON VUGU
(TEMOS
QUE AVANÇAR)
Cinco
séculos estrangeiros no solo pátrio
Regressamos
do exílio da exploração
Expulsando
com a força do povo
O
colosso colonial e seus sequazes.
A
máquina orquestrada do colono
Sequelas
legou no palco montado
Instalado
para eternizar.
Mas
eterna na perenidade do tempo
É
a alavanca do reconstruir
Desmontando
tronos seculares
Injustiças
cavadas nas montanhas
Levantando
das ruínas dos pântanos
Um
povo em marcha que avança.
As Ilhas do Chocolate,
ali praticamente no centro do mundo, no Equador, prestam hoje e amanhã mais uma
justa homenagem a Alda do Espírito Santo.
António Bondoso
29 de Abril de 2025.