2025-04-29

 

“A INDEPENDÊNCIA, SENDO A MAIOR CONQUISTA DE UM POVO, NUNCA CORRESPONDE AO NOSSO SONHO.”

                                                                                                         Alda Neves da Graça do Espírito Santo

                                                                               Em ESCRAVOS DO PARAÍSO

                                                                                                                     António Bondoso – 2005

                                                                                                                       MINERVACOIMBRA



ALDA DO ESPÍRITO SANTO, poetisa e política de S. Tomé e Príncipe, está a ser homenageada no seu país do centro do mundo, numa iniciativa a que os organizadores chamaram “I CONFERÊNCIA NACIONAL SOBRE AES”, na qual participam nomes grandes das Letras como Conceição Lima e Albertino Bragança; Professores Universitários e Investigadores, entre os quais Inocência Mata, Mardginia Pinto e Carlos Neves; e outras figuras proeminentes da Sociedade São-Tomense, nomeadamente Maria do Carmo Trovoada, Alda Bandeira, Agostinho Fernandes, Filinto Costa Alegre e Guilherme Octaviano. 



          O slogan que «resume» a iniciativa tem a designação de «Venha Conhecer as Múltiplas Facetas da Matriarca da Nação». Terá sido certamente na «linha do tempo» que lhe coube viver e atuar, quer antes, quer no pós independência de STP, acompanhando os líderes nacionalistas das ex-colónias portuguesas numa «fase de aprendizagem política e académica» em Portugal, designadamente com Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade e Francisco José Tenreiro.



Aqui, com Léopold Senghor e Vasco Cabral, à direita

           Nascida a 30 de Abril de 1926, Alda do Espírito Santo passou pelas prisões da PIDE, colocou palavras, ideias e poemas na ponta da sua «baioneta» que era a caneta com que depositava as suas farpas no papel, assumiu o seu ativismo político, quer em Portugal, quer em S. Tomé e Príncipe e lutou contra o regime colonial – merecendo destaque a sua «intervenção» na ajuda ao advogado João da Palma Carlos, na sequência dos trágicos acontecimentos de Fevereiro de 1953, o «massacre» de Batepá. Por essa altura, a sua mãe Maria de Jesus foi vítima física e moral da governação de Carlos Gorgulho. Atrevo-me a atribuir a sua mãe essa designação de “Primeira Matriarca”.



Com Conceição Lima, em cima e com Inocência Mata, em baixo.

          Depois, Alda do Espírito Santo foi tudo e conquistou o direito – por dever da ação – aos títulos que lhe foram atribuindo. Por exemplo o «retrato de farol de muitas gerações», a que me referi em Escravos do Paraíso e, mais recentemente, em 2021, no livro O Meu País do Sul

 (…) E, claro, o «meu país do sul» é o chão sagrado de Alda do Espírito Santo (1926-2010), “guia” do hino da Nação e “farol” de muitas gerações que beberam a sua formação cívica e política em “ventos de loucura” que varreram as «Ilhas» na década de «cinquenta». Poetisa, Educadora e Combatente da liberdade, Alda Neves da Graça do Espírito Santo sempre se identificou – e transmitiu – com os valores da camaradagem, cumplicidade e unidade: “(...) A nossa terra é linda, amigas/ E nós queremos que ela seja grande.../ Ao longo dos tempos!.../ Mas é preciso, irmãs/ Conquistar as ilhas inteiras de lés a lés/(...) Mas é preciso conversar ao longo dos caminhos/ Tu e eu, minha irmã./ É preciso entender o nosso falar/ Juntas de mãos dadas/ Vamos fazer a nossa festa!”. (…)



          (…) Para o meu livro “Escravos do Paraíso”, disse-me em 2004 que a independência, sendo a maior conquista de um povo, nunca corresponde ao nosso sonho. Por isso, dizia ser necessário que “surja uma elite intelectual que dê um impulso para resolver os problemas”. Desiludida com a política, penso ter partido com a ideia metafórica de que «mataram o rio da sua cidade», mas ficaram as palavras e as ideias. Como nesses versos do poema «Construir»: Construir sobre a fachada do luar das nossas terras/ Um mundo novo onde o amor campeia, unindo os homens/ de todas as terras/ Por sobre os recalques, os ódios e as incompreensões, / As torturas de todas as eras. (…)

A sua força está muito bem expressa neste poema que vos deixo:

CELA NON VUGU

(TEMOS QUE AVANÇAR)

 

Cinco séculos estrangeiros no solo pátrio

Regressamos do exílio da exploração

Expulsando com a força do povo

O colosso colonial e seus sequazes.

 

A máquina orquestrada do colono

Sequelas legou no palco montado

Instalado para eternizar.

 

Mas eterna na perenidade do tempo

É a alavanca do reconstruir

Desmontando tronos seculares

Injustiças cavadas nas montanhas

Levantando das ruínas dos pântanos

Um povo em marcha que avança.

 

As Ilhas do Chocolate, ali praticamente no centro do mundo, no Equador, prestam hoje e amanhã mais uma justa homenagem a Alda do Espírito Santo.

António Bondoso

29 de Abril de 2025. 






 












2025-04-14

 

 A RÁDIO TEM MUITAS VIDAS

 

Eu até costumo dizer que a Rádio ainda não morreu, apesar de tantas mortes anunciadas…ou de como há sempre alguém que faz questão de lembrar. Mesmo que se tenha «passado» para a bancada dos aposentados. 


          Cada reunião, cada encontro, cada convívio, trazem sempre algo de novo. Até pela simples razão de que nem todos participam a todo o tempo.

          Há memórias, claro, e há histórias – algumas ainda com um certo ar de frescura – e novidades sobre quem acaba de se juntar ao grupo. Desta vez rondou os sessenta. A maioria de Lisboa, alguns de Coimbra e dois do Porto. Anos de «separação» física não fazem esquecer de todo rostos de camaradas que trabalharam, de algum modo, para uma Rádio de qualidade, quer fosse na Central, no arquivo, nos programas, na informação, nos estúdios de gravação e de emissão em Lisboa, no Porto, Coimbra, Faro, Açores ou Madeira. Eu recordei, por exemplo – não levem a mal eventuais esquecimentos – o Marques Maria, o Grilo, o Guimarães, o Mendes e a filha, o Raposo, a Diná e outros que vou referir mais adiante. 


Conímbriga foi o ponto de encontro. Há ali sempre algo de novo, para mim houve, como por exemplo saber e recordar alguns símbolos das «Legiões Romanas» - nomeadamente a “cruz suástica”, já antes deles usada pelos Lusitanos, como símbolo mágico e de boa sorte. E como há tanto que se renova para o bem e para o mal. 



Mas sorte não foi, certamente, a boa sopa de peixe e o cabrito (sem língua azul) ali servidos ao almoço, bem regado com Arraiolos antes do arroz doce e do leite creme que, depois, deram lugar à «canção de Coimbra». Entre a sopa e o cabrito, lugar reservado aos brindes e à poesia, dita pelo Remígio. O Antero e o Trigueiros organizaram, em estreita ligação com a Lurdes Brandão – ainda e sempre uma alma dinâmica e dedicada às atividades da AAR – Associação de Aposentados e Reformados – da RDP.

          Um dia em beleza, apesar da manhã farrusca, que terminou com sol, antes da «Despedida» na Quinta das Lágrimas. Como escrevi em 2007, «De ti sereníssima Inês/ Só Pedro foi imortal simbiota»:

                                         SIMBIOSE DE UM AMOR ETERNO

De ti saudosa Inês

Senti o aroma de um furtivo beijo

Há séculos por quem ama desejado.

De ti, saudosa Inês

Anseio pela vida que roubaram. (…)



          Um abraço a todos e votos de saúde para nos voltarmos a encontrar por aí.

António Bondoso

Abril de 2025.