2013-06-21

A PROPÓSITO DA MINHA CRÓNICA DE HOJE (ESCRITA NA TERÇA-FEIRA) NO JORNAL BEIRÃO - PARA LER NO CORAÇÃO DO DISTRITO DE VISEU.


A TÁTICA DO QUADRADO...
... A Democracia, o “bacilo de Hansen” – O PROCESSO. E ainda as perguntas que nunca terão respostas.

          Perante uma “folha” em branco no ecran do computador, por vezes o cronista pode comparar-se à angústia do guarda-redes no momento do penálti. Mas de repente – se é que há repentes no hábito da escrita – dou comigo a pensar se ainda é válido o pensamento de Aristóteles: “O pressuposto da democracia é a liberdade...e o da liberdade é ser alternadamente governante e governado”. Não tendo dúvidas sobre a primeira parte da ideia, já quanto à segunda parte elas vão crescendo a olhos vistos.
          Tantos séculos depois, quantas teorias passadas ao nível da filosofia, da psicologia e da sociologia – parece, de facto, muito redutor o pressuposto da liberdade assentar apenas na condição de se ser alternadamente governante e governado. A liberdade é fundamental para a democracia, mas esta – hoje – não se esgota nos ciclos eleitorais. Para conquistar e manter a(s) liberdade(s), é preciso que os cidadãos sejam e estejam informados e esclarecidos para poderem participar nas decisões que lhes são exigidas no quotidiano. E poder, tanto quanto possível, destrinçar entre o que é informação, contrainformação e propaganda. Estamos no campo da actividade política...e esta é definida, por ex por Freitas do Amaral, como “a actividade humana, de tipo competitivo, que tem por objecto a conquista e o exercício do poder”. Pela ideologia ou por mais ou menos pragmatismo.
          É por aqui que se pode e deve perceber a atividade humana, seja no âmbito dos partidos políticos, dos sindicatos, das comissões de trabalhadores ou de moradores, das associações de estudantes ou das associações de pais. Posto isto – e não perdendo de vista a competição para a conquista e o exercício do poder – volto à greve dos professores no dia do exame de português do 12ºano, apenas para realçar o parolismo argumentativo do “comentador” Miguel Sousa Tavares, na SIC: a greve veio depois do calendário dos exames, elaborado há muito tempo. Uma evidência, claro! Tal como a evidência de, em qualquer greve no setor dos transportes, os horários das carreiras diárias da Carris, da CP, da Transtejo, da STCP, dos Metros de Lisboa ou Porto, ou da TAP já estarem definidos desde sempre. Os alunos não podem ser afetados? E os exames – não poderiam (tal como veio a acontecer) ser adiados para outro dia? Ao contrário dos alunos – que podem ver o exame remarcado para outro dia – os utentes dos transportes não podem “transferir” o seu dia de trabalho. Serão certamente penalizados se faltarem. Tal como os utentes do setor da saúde, de outro modo, estarem sujeitos a muitos perigos – inclusive à morte – dando-se o caso de uma greve de médicos e enfermeiros, mesmo prevendo aqui os chamados serviços mínimos. A vida de um cidadão valerá menos do que um exame, em suprema argumentação?
          Despindo qualquer pingo demagógico neste texto, exibindo – tal como muitos outros, inclusive governantes – apenas argumentos, contra outros provavelmente tão válidos, apetece-me citar José Goulão no Jornal de Angola de 22 de Maio: “Um país que é uma tragédia”! E mesmo sem me alongar na pobreza, na fome, no milhão e meio de desempregados, nos polícias que dormem no chão das esquadras e no valor da pensão da presidente da AR – quando o governo tem vindo a cortar e se prepara para agravar esses cortes nas pensões/reformas da maioria dos portugueses – eu digo que este país está altamente afetado pelo bacilo de Hansen, transformando-se aos poucos num imenso leprocómio sustentado e incentivado pela alta finança internacional e pelos acólitos governantes. Afetado de igual modo nos aspetos físico e mental. É um processo de morte lenta, a que eu chamo em poema de minha lavra exatamente O PROCESSO, o qual termino escrevendo – “Tudo vai morrendo por dentro e por fora/ Mas saibam os biltres.../ Que é um processo lento”! Tão lento que, inevitavelmente, os atingirá sem dúvida alguma.


O PROCESSO (A Publicar).

De um lado me chamam
Do outro me querem
No meio da vida e da morte à espreita.

Sem tempo e alento
Sem voz e sem força
Meu braço levanto
Sinal de quebranto...
Bacilo de Hansen que a idade não cura.

Tudo vai morrendo por dentro e por fora
Mas saibam os biltres...
Que é um processo lento.
=======António Bondoso (A Publicar)

António Bondoso
Jornalista e candidato a Poeta.
Junho de 2013.

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