2016-01-12


O 66º NÃO É UM ANIVERSÁRIO QUALQUER!


VIVER É CANSATIVO!

         Assumindo a ideia de Armand Robin, segundo a qual não temos a certeza de pertencer à nossa própria vida, devo dizer que completar 66 anos de existência – para além de toda a simpatia que o número possa gerar – não deixa de ser um marco significativo de uma certa ideia de equilíbrio, físico e mental, perante as contradições e os perigos de dois tempos distintos: a juventude e a idade adulta. Viver sem rede, trabalhar no arame, assumir riscos e desafios sem pesar consequências – posso dizer terem sido circunstâncias que desenharam muitos passos do meu circuito. Quer no tempo ativo, quer no designado período de aposentação.
         E agora, completados os 66, tudo isso me subiu ao quinto andar com uma nitidez invejável – não tivesse eu clarificado recentemente no escrito EM AGOSTO…A LUZ DO TEU ROSTO [e um escritor, como diz Olivier Rolin em O MEU CHAPÉU CINZENTO, é quase inevitavelmente alguém desequilibrado], os momentos mais significativos de um percurso que me levou de Moimenta da Beira a Macau, pousando longamente a “juventude” em S. Tomé e Príncipe [onde foi marcante o ano de 1966] e a “idade adulta” no Porto [onde se desenrolou a maior parte da carreira profissional]. Expressão desse trajeto sentimental foram sem dúvida as incontáveis mensagens de felicitações que me chegaram de viva voz, por sms e por meio das redes sociais da Web, não só do Minho aos Algarves, e se estenderam igualmente a Goa, Londres, ao Canadá, Brasil e à Colômbia, morando aqui um sinal destes tempos de inquietação e de emigração quase forçada. Talvez não tenha dado resposta atempada e merecida a todos esses gestos de atenção e de carinho, pelo que o faço agora e aqui com a devida vénia. Lembrando até a graça que foi ter ouvido ao telemóvel os parabéns “cantados” – quase ao estilo dos antigos “telegramas”.
         E depois o amparo do núcleo familiar, a mulher e os filhos, o bolo especial com mensagem dedicada e a presença de um casal amigo que fez questão de estar e de partilhar esse momento particular de soprar as velas e de formular desejos. São simples os meus: saúde, paz interior, a devolução da quietude e da esperança sorridente de outros anos. O futuro é sempre incerto…e o do país não se apresenta brilhante, apesar de alguns sinais positivos. O caso é que já não é fácil acreditar em políticos e em banqueiros que nos tolheram os passos. E a campanha eleitoral que agora decorre, apesar do tino que possa aparentar, também não nos oferece tranquilidade quanto à capacidade e aos valores de todos os candidatos em presença.  
         Resta-me voltar a Olivier Rolin e aos “escritores”: o primeiro dever do escritor, antes de «contar estórias» ou de «fazer sonhar», como está de novo na moda, continua a ser o de dar um sentido mais puro às palavras da tribo. Por isso me agarro à esperança de poder contribuir…escrevendo! E vivendo…para além do cansaço!
António Bondoso
Jornalista 


António Bondoso

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