2018-02-28


Como é bom ser “reconhecido” em vida!
A propósito de ter sido o poeta convidado do Clube ASAS DE POESIA para a sessão de 24 de Fevereiro de 2018, na Biblioteca José Vieira de Carvalho, no Fórum da Maia. 




Como é bom ser “reconhecido” em vida!
Em “memória”, a homenagem não deixa de ter o seu sentido e o seu significado, sobretudo para orgulho dos familiares e amigos do peito, mas ver e sentir o seu trabalho ou a sua obra serem apreciados nesta presente caminhada terrena, é uma sensação que deixa perceber o quanto estamos de bem com a vida, mesmo tendo em conta todos os escolhos que aparecem diacronicamente “programados”.
Mas é mesmo bom ser reconhecido em vida!
Não por meio de uma comenda cada vez mais em voga; não através de um busto que faça corar o espelho; não correndo o risco de ver o nome pespegado numa laje de granito indicando o sentido de uma artéria citadina – mesmo que os dados sejam fornecidos por um GPS de última geração.
Em qualquer caso, é mesmo muito bom ser reconhecido em vida!
Sendo suspeito, talvez faça sentido dizer que – apesar de tudo – a dita “homenagem” terá sido um exagero, havendo seguramente pessoas de outro gabarito.
Direi até que é mesmo reconfortante ser reconhecido em vida!
Não pelo jornalista que fui – ainda sou, embora na «reserva» - mas pela poesia que tenho partilhado. Deixo, portanto, o meu apreço ao simpático e acolhedor, empenhado e dinâmico Clube ASAS DE POESIA, da Maia. Mensalmente há um convidado de «honra», completando-se a sessão com a evocação de um grande poeta de outros tempos. Eu tive a felicidade de poder “ser acompanhado” pela figura ilustre de uma poetisa de grande caráter e de uma dimensão intelectual ímpar: - a «desalinhada» Irene Lisboa. Deixo igualmente escrito um carinhoso agradecimento aos Amigos que puderam e quiseram estar presentes – eles sabem quem são! – particularmente aos que viajaram de longe e, sobretudo, aos que viajaram de muito longe, muito longe além dos mares, trazendo-me o assobio do «ossóbó» encantado das Ilhas do Meio do Mundo.

Não esquecendo os habituais declamadores do «Asas de Poesia» (a Manuela Carneiro, que sublimou OS PRIMEIROS BISAVÓS; a Cristina Pessoa, que tão bem soube navegar no MEU MAR…DONO DO MUNDO; a Ana Freitas, de Coruche, que entendeu de forma magnífica que A MINHA MÚSICA…É O MAR; a Dulce Morais, que adocicou UM BRASIL BRASILEIRO; o Dionísio Dinis, que disse de forma vigorosa ATROFIADO POETA…NÃO! POETA REPRIMIDO…NUNCA!; e o António Portela, que percebeu a necessidade de O RECOMEÇO), a minha gratidão estende-se ainda à Filomena Mesquita e à dinamizadora Teresa Gonçalves; e à música de Orlando Mesquita, Manuel Bastos e do Grupo de Violas e Cavaquinhos da Universidade Sénior Rotary de Matosinhos, na qual tenho a honra de colaborar. E depois declamou-se Irene Lisboa, faltando-me referir o Francisco, de Coruche, o Francisco Félix Machado, a Maria do Amparo Bondoso e o José Brites Marques Inácio. 




Todos juntos, ajudámos a integrar e a absorver o espírito poético da tarde de Sábado passado aos jovens estudantes Santomenses, no Porto, Jéssica Conceição, Vanda Almeida e Ekilson Fasbel, os quais assumiram a responsabilidade de cantar como o ossóbó dizendo o meu poema sobre S.Tomé EM TEMPOS CHAMEI-LHE MINHA: «Era ali que eu existia./E tinha pela frente o mar/ Imenso/ Com ondas de calema e tanta espuma./ Contava carneirinhos a perder de vista/ E sonhava com os mistérios do mundo:/ Que era ali, todo inteiro/ Até onde meus olhos alcançavam./ Tudaxi sá glávi…tudo kwá sá dôxi (…) Chamei-lhe minha no tempo/ Quando a hsitória me ensinou/ Era ali que eu existia/ E é ali que sempre estou./ Lá longe, desse lugar/ Onde o mundo se divide/ Chegam-me os novos sentidos/ Mas continuo a escutar/ O canto do ossóbó./ Também melodioso, um papagé repete: ainda lhe chamo minha, ainda lhe chamo minha, ainda lhe chamo minha…».
Fui parar à minha ilha de sonho através de uma janela «por onde espreito a intimidade do mundo/ Viajo supersónico/ Para além do Azul/ Quando pressiono o botão do meu rádio de pilhas».
E foi de lá que estiveram também comigo o Américo Gradíssimo e o Manuel Xavier – que me emociona sempre que falamos da ilha do Príncipe – e recebi igualmente, nesse espaço acolhedor que é a Biblioteca municipal que leva o nome de José Vieira de Carvalho, um abraço sentido do médico e grande poeta José Brites Marques Inácio.
Todos eles me ouviram dizer por exemplo que, «da inocência do pós guerra em Moimenta da Beira à infância, à adolescência, ao crescimento livre, à juventude adulta e ao casamento em STP…vai todo um mundo de contradições e de esperanças, conjugando emoções várias que, há mais ou menos 20 anos, tenho vindo a conseguir passar ao papel, sobretudo em linguagem poética. E é e foi este lastro, traduzido com simplicidade em quase 40 anos de uma profissão apaixonante na Rádio (também na TV) e na formação audiovisual – tem sido esse lastro a dar-me a oportunidade de partilhar com todos os que me vão lendo um “mar imenso de ideias, de ideais, de emoções – vividas e sentidas – de paisagens deslumbrantes”. E evitando uma difícil, objetiva e concreta definição de poesia (à qual reconheço, como Antero, a sua função social), cito apenas Mário Quintana: a poesia é para abalar, não é para embalar…e quem faz um poema abre uma janela».




António Bondoso
Jornalista
28 de Fevereiro de 2018. 





1 comentário:

Unknown disse...

Muito obrigada poeta António Bondoso!
Quem tem de agradecer é o Grupo Asas de Poesia,
pela honra de ter aceitado o nosso convite e nos premiar
com a sua presença e poesia.
Desculpe alguma falha da nossa parte.
Saudações poéticas e beijinhos para a esposa.
Pelo Grupo Asas de Poesia,
Teresa Gonçalves