2020-07-30


DA «CONJUGAÇÃO DE MAPAS» À GEOGRAFIA DO DISCURSO…sente-se nesta obra “definitiva” de Regina Correia quase que uma rutura com a convencional estrutura poética – embora mantendo e elevando uma linguagem depurada, aturadamente pensada, sentida no íntimo de cada memória e de cada mensagem. Uma Poesia rica, capaz de resistir ao desenraizamento de «Pátrias» e de «Amores» que nunca morrem. 


         Para alimentar o seu «eu», neste belo quadro de «geografias sentimentais» como diria Aquilino, a autora busca ontologicamente cada segmento dos silêncios e das imagens que lhe foram escapando fio por fio, segundo a segundo, “numa cantilena onde cabe o universo”. Por isso, Regina se diz “face da moeda e seu reverso”.
         Outros amigos, apropriadamente mais seus do que meus, como que abriram o livro – em jeito de preâmbulos – à procura dos espaços, dos lugares e das escalas dos «mapas conjugados» da autora. E o que escreveram, foi o resultado de uma leitura atenta e de um conhecimento que ultrapassa o silêncio das palavras. Dessas leituras fixei a síntese do Filinto – o livro lembra-lhe uma concha; a profundidade de Luísa Fresta – o tempo não começa nem acaba em nós; e a sinceridade – comum a todos –de Isabel L. Pascoal: “Não sei falar deste livro. Talvez porque este livro não quer que se fale dele. Não quer ser banalizado”.
         Sinceramente…também eu não sei falar deste livro. Mas, para que não possa ser banalizado, é preciso falar e escrever sobre ele. Também por isso, é fundamental falar e escrever sobre a autora. Que eu conheci numa «ilha», em boa hora e sobre o mar imenso, e a quem fiquei «ligado» por uma empatia de alguns mapas sobrepostos. À Regina Correia sou devedor de uma amizade que me engrandece. E se…
        
NÃO FOSSE A PALAVRA
Não fosse a palavra e
todos os gestos a que 
amor dá alma se
perderiam irremediavelmente no
coração da
desesperança.


Parabéns Editorial Novembro, parabéns Regina. Definitivamente…deves continuar a escrever! Para bem da literatura em língua portuguesa e como contribuição decisiva para a sanidade mental dos leitores. Estamos juntos!
António Bondoso
Jornalista
Julho de 2020


NOTAS BIOBIBLIOGRÁFICAS: Maria Regina Fernandes Correia (Viseu, 1951), é licenciada em Filologia Germânica (1979), pela Faculdade de Letras de Lisboa. Foi professora do ensino secundário em Angola (1973- 1975) e em Portugal (1975-1980; 2007/08) e docente de Língua e Cultura Portuguesas em Estugarda (1980-1984) e em Hamburgo (1993-2007; 2008/09), onde desenvolveu e participou em projetos de divulgação da Literatura e da Cultura Lusófonas. Desde 2009, em Portugal, tem participado (em) e coordenado recitais de poesia e outros eventos culturais, sobretudo junto de instituições cabo-verdianas. Autora de vários prefácios e recensões públicas de livros, venceu o prémio “Melhor Poeta do Ano de 2018”, pela Editora ZL (Brasil), que publicou as micronarrativas Sírio (2014) e Conga (2015). É autora de três livros publicados pela Universitária Editora: Uma Borboleta na Cidade (2000) - ficção; Noite Andarilha (1999) – poesia; Os Enteados de Deus (1990) – ficção (Prémio Revelação de Ficção da Cidade do Montijo/APE); e do livro Sou Mercúrio, Já Fui Água, © Ben do Rosário com reedição de Noite Andarilha, pela Alphabetum Editora (2012). Desde 2013, tem publicado textos poéticos na RUA-L (Revista da Universidade de Aveiro – Letras). É membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE). Luso-angolana (viveu em Angola, desde os 8 meses de idade), participou na primeira Reunião Multipartidária de Angola, em 1992.

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