2022-06-14

De Resende ao Ceará, passando por Angola, Lisboa e Macau, deixou de lutar um verdadeiro «Beirão do Douro». Deixou-nos António Correia, Poeta, Homem de Leis e Empresário.



Quando cheguei a Macau, António Correia era advogado, político (membro do Conselho Consultivo do Governo e em 1992 deputado à Assembleia Legislativa) e possuía belos «Fragmentos» de Poesia. Por isso, pela Poesia, foi um dos meus convidados para dizer e gravar alguns dos seus poemas, transmitidos posteriormente em horário nobre, logo a seguir aos principais noticiários do dia. E, a meu convite, embarcou também, em 1995, no processo de uma campanha eleitoral vista aos olhos de Eça e Ramalho, por meio de muitas «farpas» publicadas em UMA CAMPANHA ALEGRE – uma adaptação minha de alguns excertos e aos quais António Correia deu voz. 

         Presença constante em Macau, quer pela cultura, quer pela advocacia, António Correia viria no final do milénio a ser um dos fundadores de uma sociedade de advogados em Lisboa e foi Administrador Executivo da ANAM, S.A. desde Abril de 1997 a 2000, com a missão de construir o Novo Aeroporto do Funchal, missão que concluiu com êxito, tendo sido agraciado pelo Presidente da República com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito. Foi igualmente sócio fundador do Grupo Lusobrás, no Ceará, Brasil, em 2001. 



         Autor de uma vasta obra de Poesia e de reflexão, com alguns livros traduzidos em língua inglesa e em Chinês, António Correia foi um incansável lutador pelas liberdades. E lutou até ao fim da sua vida, apesar do cansaço dos últimos anos, recebendo ontem o «ponto final». Um abraço sentido a todos os Familiares, particularmente à Teresa Portela – sua mulher – aos Filhos e aos muitos Amigos espalhados pelo mundo. 



Ao lado de sua mulher Teresa Portela, quando homenageado em Coruche por UM POEMA NA VILA, dirigido por Ana Freitas. 

         Recordo talvez o seu último poema (pelo menos um dos últimos) publicado no dia 5 de Junho na sua página do «facebook» e datado da que chamava com propriedade a sua “Casa da Poesia”, em Resende:

Já amadura o trigo

e eu sonho que vou,

que vou contigo,

caminhando,

de mão na mão,

pelos caminhos

onde medra o pão.

E eis senão quando

gorjeios de passarinhos

embalam os odores

silvestres das flores

que ninguém semeou.

Brancas, rubras, amarelas,

lilases também; todas elas

formam pequenos sóis

de um diadema

que coloco em teu cabelo

com o desvelo

de te saber poema

de castos girassóis.

António Correia

Casa da Poesia

5/6/2022

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António Bondoso

14 de Junho de 2022. 









 

1 comentário:

António MR Martins disse...

Um belo texto, uma bela homenagem.