2022-10-14

 

            Um adeus ao Álvaro Trigueiros. 

                                         

Uns anos mais antigo do que eu. Familiar de muitos Amigos meus e amigo de muitos outros amigos. Nunca privei muito com ele, a não ser quando a Rádio me deu essa oportunidade. De falarmos, pouco, mas sobretudo de o ouvir a cantar. Quantas vezes ao vivo, durante os convívios, festas ou bailes, nomeadamente no salão do Benfica. Álvaro Trigueiros – Sum Alvarinho no mundo artístico – era humilde mas interventivo, sociável e respeitador, como era condição geral dos «Filhos da Terra». E cantava bem, com muita energia. Para quem não entendia a Língua Forra de STP, a maioria das letras das canções não lhes tocava. Era sobretudo o ritmo e a alegria que transbordavam. Viu o seu país ser independente, como desejou, mas interventivo, respeitador e de caráter, nunca deixou de ser crítico do rumo que os novos políticos foram dando às suas Ilhas. E saiu, continuando a ser «ele» nesta terra longe, fria mas acolhedora. Danilo Salvaterra chamou-lhe hoje visionário e combatente: “Sum Alvarinho como era conhecido deixou-nos levando o sonho de algum dia ver S.Tomé e Príncipe melhor. (…) Fez da música a sua arma de combate. Uma das vozes mais criticas e visionária, irá contemplar desde às Alturas, o que seremos capazes de fazer”.

Para trás ficou o grupo «Maracujá», fundado por ele e pelos irmãos Morais [Américo e Alexandre] de Santo Amaro, tal como as canções emblemáticas “Zozé Lóvè”, “Vida D’homé Sá pintenxa” [alô meu irmão Luís Moura!] ou “Tindádji”. Lúcio Neto Amado, na sua obra «MANIFESTAÇÕES CULTURAIS SÃO-TOMENSES» cita por exemplo Albertino Bragança que recorda a rivalidade entre o Sporting Clube de São Tomé e o Sport São Tomé e Benfica, «…não só no plano desportivo como no espectro político em que cada um se situava, O Maracujá criou ainda assim um espaço próprio na música são-tomense dos finais dos anos cinquenta e na década de sessenta [século XX] através de composições que ganharam inegável popularidade na sua época».

         Conceição Lima recorda hoje por exemplo “53 ni San Tomé” e “Cacau é ouro, é prata e diamante”, mas particularmente “Sun Américo”. Para Álvaro Trigueiros, a música era, portanto, «Vida»!

         Até sempre Sum Alvarinho, receba um abraço e saiba que – tal como para mim – S. Tomé fará sempre anos, independentemente do antes e do depois.

                                              


António Bondoso

13 Outubro 2022.

https://www.youtube.com/watch?v=4GilPKDH1SA&feature=share&si=ELPmzJkDCLju2KnD5oyZMQ


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