2022-11-07

De súbito…veio-me à ideia de que havia lido, algures, um «Poema» datado de 7 de Novembro. Não há muito, claro, pois a memória está ainda fresca. E o livro à mão, sem esforço. É que o dito tem sido um dos mais recentes na mesinha de cabeceira. O poema tem por título “O Velho calhambeque” e faz parte de «Chuva de Prata», que a poetisa santomense Alda Barros fez publicar na Chiado Editora em 2019. 


Alda Barros 

         Depois de conferida a ideia, lembrei-me igualmente de que estamos quase a assinalar a data da independência de Angola. É com poesia, portanto, por ela e através dela, que desta vez abordo o tema. Pelo menos uma aproximação. De Angola e do «espaço lusófono», como veremos. E justifico de forma simples por dois ou três motivos: embora Alda Barros tenha nascido em S. Tomé e Príncipe, também viveu e estudou em Luanda – Jornalismo e Relações Internacionais. Uma compatibilidade interessante do ponto de vista profissional e académico. Alda Barros, recordo, fez parte de um grupo de jovens jornalistas que fundou em STP o jornal “Revolução” – o primeiro do novo país independente. Depois, Luanda de novo, onde iniciou a sua carreira profissional no PNUD das Nações Unidas. Ainda outros «postos» da ONU, quer em Timor-Leste, quer na Guiné-Bissau, com uma breve passagem pelo Burundi. Uma outra razão – e já com o livro como objeto – tem a ver com o «prefácio», da autoria do angolano Lopito Feijó, e que ele intitulou como segue: “ALDA BARROS: PARA UMA OUTRA DISTENDIDA PROPOSTA POÉTICA LUSÓFONA”. Pela sua leitura da obra, Lopito Feijó destaca “Alguma guineensidade. Patente angolanidade e até algo de moçambicanidade mas, acima de tudo a visível santomensidade (…). A autora condensa aqui vários motivos de identidade comum a todas as culturas e povos dos países cultores da língua portuguesa”. De facto, o livro viaja por tudo isto e, embora os poemas não precisem de ser explicados – Almada Negreiros diz mesmo que a Poesia não aceita intermediários, é direta – a autora achou por bem colocar algumas notas nas páginas iniciais. Não tanto para falar dos poemas, mas sobretudo para evidenciar a felicidade que se tem quando beneficiamos de um tempinho para amar, escrever, inventar ou até reinventar um espaço temporal que nos dê prazer. Por isso as palavras que, “vindas do coração e ditas com alma nunca nos causam arrependimentos”, e por isso as histórias contadas. Neste caso, em forma de poemas. 



         E é assim que “O Velho calhambeque” nos traz à memória os musseques de Luanda, onde a sobrevivência é difícil, mesmo com uma caneca de «nguem-nguenha»; ou “Um pesadelo bom” nos fala do sonho de uma refeição quente, de muito amor e do cheiro forte da «kissângua de milho».

         Este meu texto, que não pretende ser uma recensão – longe disso – significa apenas felicitar Alda Barros pela sua obra em crescimento e agradecer a frescura do seu sentir em Chuva de Prata. Obrigado Alda Barros pelo seu «Grito» em Santa Catarina; grato Alda Barros por nos trazer a memória da Trindade e do baú onde moram segredos; obrigado pelos «descaminhos» onde nos diz que o poema é penumbra, encanto, mas também suor e pudor; grato por nos oferecer ainda «Beijos trocados no carnaval» em Quifindá. 


Apresentação do livro na sede da UCCLA

         Quem quiser perceber tudo isto, nada como adquirir “Chuva de Prata”. Chiado, 2019.

António Bondoso

Jornalista e Mestre em Relações Internacionais. Poeta nos «intervalos».

Moimenta da Beira, 7 de Novembro de 2022.   














 

1 comentário:

Anónimo disse...

Não imaginam, quão lisonjeada me sinto, neste enorme cálculo de palavras feito de forma cuidada pelo Jornalista, escritor, compatriota e amigo, António Bondoso, na descrição dos poemas contidos do meu segundo livro de poesias com o título - Chuva de Prata (2019).

Admiro e agradeço desde já o António Bondoso pela forma descontraída e profunda como conseguiu retratar o conteúdo de cada um dos poemas feitos com dedicação e enorme ternura. O meu muito obrigada por este valente "esticão", que me consola pelo sentido de solidariedade retratada no mesmo mas que infelizmente quase em extinção nos nossos dias. Pude contar com a mesma pela parte dos Escritores Lopito Feijó, Luís Rosa Lopes e agora do António Bondoso.

Bem hajam os que têm sempre uma mão disponivel para quem dela precise, pois todos precisamos uns dos outros! Um grande abraço poético a todos!

Alda Barros
10/11/2022