2023-03-28


JOSÉ CONCEIÇÃO CASINHA NOVA recorda António Aleixo. Um livro de 2020 com plena atualidade. 


Por agora, por muitos dias já antes e por tantos outros que vão seguir-se, as palavras repetidas soam a Guerra, invasão, urânio empobrecido, inflação, questões ambientais, cabaz alimentar, pobreza, solidão, terrorismo, o mundo globalizado e o multilateralismo. 


Casinha Nova, no ICP, com alguns dos seus antigos alunos em STP

E hoje é o Dia do Teatro e ontem já foi o do livro português. Repesquei então a minha leitura de um antigo meu professor de Literatura – José Conceição Casinha Nova – algarvio de Burgau (1934), Vila do Bispo, que já deu mais de meia volta ao mundo, partilhando comigo, por exemplo, memórias de São Tomé e Príncipe.

         O livro, que tem mais de cem páginas preenchidas com muitas quadras e algumas sextilhas, fala de todos aqueles temas e tem um título que obriga a um compromisso de ação e de acutilância: “Recordando o Aleixo”. 


         Sem pretender entrar por caminhos comparativos – até pela distância dos momentos e dos sinais – este livro de Casinha Nova tem igualmente alguma crítica incisiva, embora também fale de amor, da capacidade de sonhar ou de dizer o que pensa. 


Eu e o Autor no ICP, durante uma Sessão sobre STP

E apesar de ter sido escrito e publicado ainda antes da atual «guerra/invasão» da Ucrânia (Setembro de 2020 com a Arandis Editora), a leitura levou-me a pousar os olhos nesse tão antigo «urânio empobrecido» na forma de uma sextilha: “As actuais munições,/ com urânio empobrecido,/ atenuam as distinções/ entre quem vence ou é vencido:/ Matam todos por igual,/ o que é bem feito, afinal…”. O humor negro sobre a guerra neste verso final de Casinha Nova, um tema que percorre outras quadras e sextilhas de outras tantas páginas do livro, desde o «erro que foi a segunda invasão do Iraque», passando pela triste guerra israelo-árabe até à água – um recurso natural que pode vir a gerar conflitos: “ Por posse de águas potáveis,/ muita guerra vai haver,/ pois quem tem as fontes de águas/ em seu solo as quer reter…”.

         Críticas aos média, particularmente às TVs, em temas como as guerras de audiência e a publicidade: «Se algo dá a televisão/ com uma certa qualidade/ é para que o cidadão/ “engula” publicidade!...». E a qualidade dos programas na perspetiva de quem vê: “O espectador de bom gosto,/ quando vê televisão,/ sente vergonha e desgosto/ dos programas que lhe dão!...

         E a liberdade de expressão comportando a verdade e a mentira. Para quê dizer o que penso e o que sinto, interroga Casinha Nova, (…) “ Se já mentindo convenço/ melhor que quando não minto?”. E é por aí, pelo caminho dos sonhos que não mentem, que o autor vai seguindo: “Ando permanentemente/ atrás de sonhos sem fim/ e é neste sonhar assim/ que minha mente não mente…”. 


Convívio no Algarve

 José Conceição Casinha Nova, primeiro Professor e depois Escritor, sabe das dores da escrita apesar de ter publicado apenas três ou quatro títulos: “Em Portugal, um escritor,/ tem de outra profissão ter/ onde ganhe com suor/ o que não ganha a escrever…”. Mas tem escrito para recordar o seu Algarve, sobretudo Lagos e Portimão; para lembrar Timor e S. Tomé e Príncipe, sem esquecer os Açores. E para dizer também que o preocupam a «Justiça Lenta» e a «corrupção», situações que minam a Democracia. 


Imagem do «interior» do Livro

         «Recordando o Aleixo», de Casinha Nova, para não esquecermos a simplicidade da crítica mordaz. Como esta quadra sobre o teatro: “Dizia Schopenhauer/ que quem ao teatro não ia/ a toilette fazia/ sem um espelho p’ra se ver.”.

Março de 2023.

António Bondoso






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