2025-11-28

 


ANGOLA – TÃO RICA E…TANTOS POBRES, ou «Angola – como e porquê» - PARTE 1

Memórias de factos e de muitas histórias que têm marcado a existência deste grande país africano que tem a língua portuguesa como oficial.

        Angola - o processo mais complexo das independências das colónias portuguesas em África. 


Foi este tema que levei à discussão/conhecimento para a mais recente «aula» de Relações Internacionais na Universidade Sénior Rotary de Matosinhos. Precisamente no dia em que se assinalaram os 50 anos dos atos de proclamação da independência do país – um em Luanda, com o MPLA de Agostinho Neto (Rep.Pop.de Angola), outro em Nova Lisboa (hoje Huambo), com a UNITA de Jonas Savimbi (Rep. Dem. de Angola) – as versões mais conhecidas – e ainda a FNLA de Holden Roberto remetida para o Ambriz, segundo outras fontes e com menor visibilidade (Rep. Pop. e Dem. de Angola). Há igualmente quem associe UNITA e FNLA no Huambo.



Seja como for, Angola recomeçou a sua História perfeitamente dividida. O MPLA atravessou e vivia um tempo difícil com as «Revoltas Ativa e de Leste», sobressaindo as divergências com Mário Pinto de Andrade, um fundador, e com Daniel Chipenda. Este criticava o MPLA de Neto por não desejar uma aliança com a FNLA de Holden Roberto, beneficiando do apoio dos EUA e de conselheiros da ditadura Brasileira. De outro modo, a UNITA de Savimbi olhava há muito para a ajuda da África do Sul, sabendo que os cubanos já estariam, desde muito antes, a auxiliar o MPLA. Os «movimentos», quebrado o acordo de Alvor, responsáveis já por milhares de mortos e de deslocados, ainda fizeram crer que poderiam chegar a um entendimento em Nakuru – no Quénia – mas os dados da violência estavam lançados.

Sede da FNLA em Luanda

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Acresce que esses mesmos «movimentos» vinham, desde muito cedo, desautorizando e vexando os militares portugueses, sendo o clímax atingido em finais de Julho em Vila Alice. A resposta foi igualmente violenta, quebrando-se o círculo de confiança – se é que alguma vez existiu. 


Vila Alice- Luanda

De um vídeo da RTP - Memórias da Revolução

E a 11 de Novembro de 1975, depois de – na véspera – ter enviado uma mensagem de esperança aos dirigentes dos «Movimentos», o Alto-Comissário Leonel Cardoso, a bordo de um NRP, transferiu simbolicamente a soberania para o «Povo Angolano».  

Leonel Cardoso - Luanda

carlos-las-heras.blogspot.com



Almirante Leonel Cardoso
«Não saí envergonhado. Sentimento de pena pelo povo angolano»
De um vídeo da RTP - chegada do Niassa a Lisboa, com último contingente militar. 

É fundamental que o conhecimento chegue aos seniores das universidades sem fins lucrativos, pois as US representam hoje o programa de educação de adultos com mais sucesso no mundo inteiro. Em Portugal, a RUTIS – rede das US envolve quase 50 mil alunos, 300 entidades e quase 6 mil professores em regime de voluntariado.

 Sobre Angola, a maioria dos mais novos não deve saber e, muito provavelmente, a maioria dos mais idosos já deve ter esquecido. Catarse concluída ou o trauma no baú. Por outro lado, não devemos colocar de parte a possibilidade de falta de informação séria/credível ou o velho fenómeno da manipulação transformada em propaganda.

O final do processo colonial português foi, portanto, tão atribulado quanto era complexa a situação da Política Internacional. Período de «Guerra Fria» entre o Bloco de Leste e o Ocidente, crescendo da tensão entre a URSS e a RPC e, por outro lado, a «existência do suposto» Movimento dos Não Alinhados.

Por isso, como tenho repetido, as independências das ex-colónias portuguesas em África não devem ser analisadas como acontecimentos históricos isolados. Será bom perceber a conjuntura internacional da época, tal como a luta contra a ditadura do «Estado Novo», em Portugal, sabendo o desgaste de 13 anos de guerra na Guiné, em Angola e em Moçambique.




Orlando Castro e António Bondoso

Da USRM

          E foi um pouco de tudo isto – certamente com uma visão mais esclarecida – que os alunos da USRM (Universidade Sénior Rotários de Matosinhos) – escutaram na intervenção do convidado para a sessão, o jornalista Orlando Castro, nascido em Nova Lisboa em 1954, trazido pelos pais para Portugal em finais de 1975, depois de assistir à luta fratricida entre os três «Movimentos/Partidos» que haviam lutado contra o colonialismo português. Assistiu também ao início da «Ponte Aérea» a partir de Nova Lisboa (sendo Luanda o centro principal), para além de perceber o êxodo, talvez mais a «Fuga», de milhares de portugueses para o Sudoeste Africano (hoje Namíbia), território então ocupado pela África do Sul.

                                                       

Nova Lisboa - Calai
De «Angola-Vidas Quebradas» António Mateus e Clube do Autor.

 Orlando Castro ainda frequentou História, no ensino superior em Portugal, mas o seu foco foi sempre o «jornalismo», tendo vindo a colaborar nomeadamente no DN, JN e PJ. Hoje é Diretor Adjunto do jornal «Folha 8», que se publica em Angola. 



Orlando Castro
Arquivo pessoal

António Bondoso

Novembro de 2025. 
























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