ANGOLA
– TÃO RICA E…TANTOS POBRES, ou
COMO
E PORQUÊ – PARTE II
«Final de 1975. No último dia na
minha cidade (Nova Lisboa), cheguei ao aeroporto, fumei o último cigarro (AC) e
ouvi a última canção que estava, na altura, a ser passada no Rádio Clube do
Huambo. A canção era “If you need me”, dos After All, com a inesquecível voz de
Gerrit Trip. Foi há 50 anos»
Orlando Castro,
jornalista – 2 de Dezembro de 2025.
Foi com ele que falámos de Angola numa aula de Relações Internacionais na USRM – Universidade Sénior Rotários de Matosinhos – precisamente no dia que assinala a independência daquele país africano onde também se fala português. Orlando Castro foi um de centenas de milhar de portugueses que foram obrigados a deixar Angola. Quando chegou ao aeroporto de Nova Lisboa, já vira sair dali, em Agosto, uma das maiores colunas de deslocados – mais de duas mil viaturas, mais de 8 mil pessoas – em direção ao Sudoeste Africano, pelas «terras do fim do mundo».
“Do livro «Angola, Vidas Quebradas”
António
Mateus e Clube do Autor, 2025.
“Nessa
altura, eu senti um imenso vazio dentro de mim e uma miséria indescritível.
Tinha perdido o emprego, o carro, a minha casa e o seu recheio. E tinha-me sido
negada uma Pátria para viver”.
Um dos relatos no livro «Angola, Vidas
Quebradas”
António
Mateus e Clube do Autor, 2025.
Mas também por mar (Porto Alexandre e
Moçâmedes) para sul, alguns deram corpo à História, recebendo auxílio – quando foi
o caso (e houve vários) – das autoridades sul-africanas.
O mar igualmente a partir de Luanda, quando um grupo organizado por Joaquim de Lisboa (Joaquim da Silva Caetano Serra) conseguiu aprontar uma traineira e lançar-se ao oceano em aventura, cumprindo, ao inverso, mais ou menos a rota de Diogo Cão: 1482/86 – 1975! Vinte e quatro dias de Luanda a Olhão. Nada sabiam das artes e das manhas do mar. Mas, como escreve Fernanda Leitão no Prefácio, “…Saíram pelo mar, como pelo mar chegaram os seus antepassados, de cabeça levantada, enfrentando maus ventos e marés”.
ALGUNS TÓPICOS DA AULA:
ANGOLA
– COMO RECOMEÇAR DEPOIS DAS INDEPENDÊNCIAS E DAS GUERRAS CIVIS.
50
ANOS…OU DE COMO O TEMPO NÃO TEM CHEGADO PARA RECONCILIAÇÃO, TRABALHO SÉRIO E
AMBIÇÃO PARA O FUTURO.
São questões cujas respostas não podem ser lineares, dada a conjuntura dos «esquemas» gerados em tempo de guerras civis, desde 1975. Sobrevivência para uns, ambição desmedida para outros. Eternização no poder gera corrupção. E esta…é o maior cancro a travar o desenvolvimento.
Por outro lado, a Ordem Internacional viveu um conturbado período após a implosão da URSS, o que alterou significativamente o regime de guerra fria. Ficou latente até à recente invasão da Ucrânia pela Federação Russa. Seguiu-se a luta contra o «novo terrorismo»: de novo o Afeganistão, mais o Iraque, o Daesh e a Primavera Árabe. A transição, não muito longa, permitiu que as grandes potências se voltassem a acomodar, mas agora com a RP da China a subir patamares e a ocupar mais espaço no tabuleiro, dando um grande impulso aos BRICs, em prejuízo de muitos outros dos «não alinhados». Enquanto isso, a União Europeia e a NATO procuraram ganhar espaço a Leste, mas a ideia tem encontrado grandes obstáculos – o maior dos quais a Rússia. E agora…também dos Estados Unidos da América.
Orlando CastroNeste «quadro», Angola e muitos outros países africanos têm sentido muitas dificuldades em se afirmar no Continente como espaço de referência. Acresce a tragédia humanitária no Sudão e os conflitos na África Central. Já a Guiné-Bissau representa ora o princípio ora o termo da velha «rota do comércio» e, depois, do «narcotráfico». O «golpe» encenado recentemente em Bissau e a mala dos 5 milhões, é prova disso.
Citando
Orlando Castro e um relatório do ISCTE sobre «democracia»…EM LUANDA, MAPUTO E BISSAU A
DEMOCRACIA É UMA MIRAGEM. O Relatório alerta para retrocessos na qualidade das
democracias em alguns países lusófonos, distinguindo cinco Estados com regimes
democráticos estáveis e três (Angola, Guiné-Bissau e Moçambique) marcados por
fragilidades institucionais. Creio eu que o ISCTE não terá dedicado muita
atenção ao que se passa em STP, desde 25 de Novembro de 2022.
A situação interna angolana, de um quase eterno conflito social e político, determina e condiciona a inserção do país na complexa situação geopolítica e geoestratégica internacional – sobretudo nas relações regionais (áfrica ocidental, golfo da guiné, áfrica austral) e no sistema mais vasto que compreende os novos caminhos da chamada ordem mundial (A Ordem Tripolar, livro da investigadora Sónia Sénica): - que parceiros estratégicos?
A
Rússia, (que iniciou uma guerra com a Ucrânia e para a qual ainda não encontrou
uma saída airosa) velho aliado na luta anticolonial, não se tem mostrado capaz
económica e financeiramente de uma parceria fiável, recorrendo permanentemente
às milícias dos oligarcas na África Central. Restam a China, a União Europeia e
o Brasil, já que os EUA de Trump são uma incógnita no posicionamento
multilateral, apesar da insistência de João Lourenço.
Mas este potencial relacionamento terá eventualmente resultados negativos para Angola, enquanto o país não se fortalecer relativamente aos seus vizinhos. Uma «vizinhança ignorada» é o que lhe chama o economista Bernardo Bunga, (EM TEXTO PUBLICADO NO JORNAL O TELEGRAMA) para quem Angola não vê África como uma prioridade estratégica. Por exemplo a África do Sul, um dos vizinhos mais poderosos, e referindo apenas o caso do petróleo, entre 2009 e 2025, as exportações passaram de 1,2 mil milhões USD$ para uns modestos 146 milhões.
E
o que seria de Angola sem o petróleo de Cabinda? – um processo de autonomia
sempre reivindicada mas nunca concedida. Em novembro de 1975, ainda antes da declaração oficial
da independência de Angola do domínio colonial português, uma operação militar
secreta levada a cabo por militares do MPLA, mudou para sempre o destino de
Cabinda — um território rico em petróleo, separado geográfica e historicamente
de Angola. O plano jurídico é muito mais complexo. Essa “invasão silenciosa”
passou despercebida à maioria da «comunidade internacional», mas desencadeou
décadas de conflito, repressão, violações de direitos humanos e uma luta
contínua por autodeterminação. Compreender esta história é fundamental para
entender as tensões geopolíticas atuais.
É ainda o petróleo e
todos os desmandos à sua conta, que uma recente edição do jornal FOLHA 8
coloca em destaque. Num artigo do Diretor William Tonet (Exterminadores do
Presente assassinam o Futuro Colectivo), pode ler-se que “Textualizar
democracia e praticar autocracia, não confere o estatuto de democrata mas de
ditadura”. O MPLA de João Lourenço, calcinado no poder, expurga dos órgãos
centrais personalidades dissonantes como Higino Carneiro, Pitra Neto, Ângela
Bragança ou Paulo Kassoma, entre outros. [Retirando a escala e o tempo, podemos lembrar o trágico processo «Nito
Alves»]. E numa crítica ao que chama de obras megalómanas, Tonet escreve que “A
gamela foi a de sempre: SONANGOL para todos desvarios”. Numa frase – “O país está
dilacerado e clama por mudança, já”.
Portanto…uma questão de
regime!
Como mudar poderá ser a pergunta para um milhão e, enquanto isso, Angola
precisa de prestar atenção às relações com a poderosa RDCongo, a Nigéria mais a
norte e todo o Golfo da Guiné, sem esquecer aí o Gabão e a Guiné Equatorial.
E a cooperação reforçada entre Angola e o Brasil, também na
busca de parcerias na ONU para levar por diante a causa das «Plataformas
Continentais», processo que Portugal iniciou há alguns anos, servirá igualmente
para equilibrar a relação de forças com o Reino Unido no Atlântico Sul. Pela
figura seguinte fica-se com uma ideia clara sobre a importância
Contudo…superar os desafios internos, promover a transparência e investir na boa governança, são passos cruciais para fortalecer a posição de Angola no cenário internacional.
António Bondoso
Dezembro de 2025.











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