2008-01-19

O REGICÍDIO, AQUILINO E O MEU LIVRO !



... DA BEIRA, PARA O MUNDO !


A efeméride está a completar 100 anos e as águas agitam-se. Um século é já muito tempo e merece realce, embora não pelos motivos que lhe querem "emprestar". Muito se vai (está) a escrever sobre o assassinato do rei Carlos e do príncipe herdeiro Luís Filipe. Há até quem se tenha posto a especular, interrogando "E se D.Carlos não tivesse sido assassinado"? - para preencher o livro "A República Nunca Existiu!". É um facto que o novo regime não começou muito bem (como poderia encontar-se melhor saída para o pântano de miséria, fome, degradação a todos os níveis na transição do século XIX para o XX?) e ainda hoje a bússola deste rectângulo tem dificuldades em consolidar o rumo. Mas não será caso para admirar e muito menos para desesperar. Passou um século, mas ainda só vamos na Terceira República, ao passo que a Monarquia esteve instalada durante oito séculos !
E o Regicídio acontece, pois era necessário tentar mudar. Alterar profundamente o regime. Infelizmente isso não foi possível, atribuindo-se agora a culpa à inércia e ao parasitarismo da nossa burguesia que, segundo José António Saraiva em "Política à Portuguesa", foi sempre uma classe incipiente e dependente do Estado - nunca se constituiu em motor, andou sempre a reboque.
Talvez nunca tenha havido em Portugal verdadeiros empresários - antes apenas comerciantes! Mas, voltando ao cerne da questão, o declínio da Monarquia assume profundidade na segunda metade do século XIX. Em 1858, com o Ultimato francês, devido ao incidente da "Barca Charles et George" - apresada em Moçambique em 1857 pelo tráfico de escravos, quando Portugal já se manifestava a favor da abolição, alinhando pelas posições inglesas. Mas à "pressão" da França sobre Portugal, a Inglaterra disse nada. E o país saíu humilhado, devolvendo a Barca e os escravos. Em 1890 foi o Ultimato inglês ! Portugal não podia cumprir a ambição de unir Angola a Moçambique por terra, pois os ingleses tinham o projecto de uma ligação entre a cidade do Cabo e o Cairo. E a velha aliança sempre se foi reescrevendo, particularmente "manchada" no sentido do Canal. Foi certamente um grande golpe na monarquia, mas não foi o último. O país entrou em manifestações e tumultos, eclodindo no Porto a primeira revolta republicana, ainda hoje lembrada, em 31 de Janeiro de 1891. Instala-se uma grave crise económica e financeira, com a desvalorização da moeda e a falência de alguns bancos. Entretanto, a dívida pública atingia somas astronómicas e Portugal não pagava os empréstimos externos. Pode ler-se na História de Portugal de José Hermano Saraiva que o governo francês ameaçou com um corte de relações e o governo alemão projectou uma demonstração naval no Tejo - discutindo os embaixadores estrangeiros a melhor forma de obrigar Portugal a pagar. E acentua-se o apetite pelos territórios de Angola e Moçambique.
O ciclo depressivo aumenta a falange do republicanismo, com base na população que abandonara o interior para se fixar nas grandes cidades do litoral. E apesar de um curto período de recuperação económica, a crise política era profunda e nem a ditadura de João Franco escapou, mantendo-se à custa de repressão e violência. E foi ele a distribuir o veneno final, fazendo constar na imprensa que a família real estava em dívida com o Estado por meio de importantes somas de dinheiro que todos os governos lhe tinham atribuído, anos a fio, como forma de "adiantamento" - por conta da dotação oficialmente estabelecida e que a Coroa considerava insuficiente ! Afonso Costa, deputado republicano, chega mesmo a pedir a prisão ou o desterro do rei. Os jornais republicanos são assaltados e instaura-se a censura. A Carbonária aparece à luz do dia e são presos Luz de Almeida, Afonso Costa, Egas Moniz, João Chagas e António José d'Almeida.
Os estudantes de Coimbra começaram com uma greve prolongada, a qual bem depressa se transformou em movimento geral contra o governo. Os republicanos eram punidos com o degredo para as colónias - decisão escorada em assinatura régia - e no dia 1 de Fevereiro de 1908 o rei Carlos e seu filho Luís eram assassinados em Lisboa. Diz José Hermano Saraiva que "...as condições políticas do regicídio nunca foram completamente esclarecidas e não faltaram especulações... as investigações tentaram relacionar os grupos anarquistas com o caso, mas sem resultado". E os autores materiais do atentado poderiam estar implicados no gorado Movimento de 28 de Janeiro, procurando - à última hora - evitar as sanções contra os políticos presos. Já antes, o clima de conspiração era latente - com a preparação de revolucionários civis, a arrecadação de armas e o fabrico de bombas. É assim que aparece o nome de Aquilino Ribeiro, ligado a uma explosão na Rua do Carrião como único sobrevivente. "Era um talentoso jovem que escrevia artigos exaltados e brilhantes no Jornal Vanguarda" - um dos visados pela repressão.
Não só ideia de João Franco, mas - porventura - inserida numa estratégia do próprio rei, que procurava afirmar a sua ambição política. Depois, a Monarquia Nova do rei Manuel não tem condições para se impor e, em 1910, é proclamada a República.

E se o rei Carlos não tivesse sido assassinado ?!... E se não tivesse havido as revoluções americana e francesa ? E se D.Teresa tivesse vencido o filho ? E se Nuno Álvares Pereira não se tem lembrado da "táctica do quadrado" ? E se os Filipes tivessem continuado ? E se Portugal não tem participado na Iª Guerra Mundial ? E se não tem havido a revolução bolchevique ? E se Salazar e o Estado Novo tivessem sido apenas uma miragem ? E se Aquilino Ribeiro não possuísse, de facto, um enorme talento para a escrita ? E se os seus ideiais não fossem os da liberdade e da Justiça ? Qualquer resposta, só no domínio da ficção !
Mas a obra do Mestre Aquilino Ribeiro é real, é concreta. É eterna! E para aquilo que ela representa e para as voltas que o país deu, será irrelevante o mestre ter sido acusado de anarquista, de ter pertencido à Carbonária, de ser próximo da Maçonaria. O importante é o seu legado ! " A minha obra sou eu próprio" - escreveu ele ! "Nunca soube o que era servidão aos preconceitos, ao poder, às classes, nem mesmo ao gosto do público. Se pequei, pequei por conta própria, exclusivamente. Estive também na primeira linha da barricada. O Homem de letras é um interventor no mundo, não deixando por isso de fazer arte" !
E é precisamente o carácter do Mestre, patente nas suas obras, que eu procuro seguir e realçar neste meu livro "...DA BEIRA ! Alguns Poemas e Uma Carta para Aquilino", agora editado pela "Atelier de produção editorial/Poesia" - doimpensável, V.N. de Famalicão.
Procurando chamar a atenção para a "leitura" do mestre, não me coibi - contudo - de lhe escrever e relatar como vai o mundo, particularmente como vai este país : "O país não vai bem, portanto. Os políticos são incompetentes (tal como no jornalismo, acabou-se a geração da ética - como diria o meu camarada Fernando Martins), os patrões só pensam no lucro imediato, os trabalhadores vivem ainda na esperança eterna dos direitos adquiridos - cada vez mais voláteis neste tempo de crise em que o país mergulhou na última década; os Media são a vida e normalizam a nossa existência (se a vida está nos media - disse Vasco Pulido Valente - o poder está necessariamente na fama); o Estado apresenta-se descalço e faminto! Vai daí, são sempre os mesmos a pagar a factura. O próprio coração do Estado, idealizado democrático e de direito, foi atingido pela corrupção, ao nível do pensamento e das ideias".

O LIVRO vai ser apresentado dia 2 de Fevereiro, na Biblioteca Aquilino Ribeiro, em Moimenta da Beira (pelo jornalista Francisco José Oliveira) e, no dia 16 de Fevereiro, na Casa da Beira Alta - no Porto (pelo Professor e Escritor Mário Cláudio).

NOTA :-- clique nas fotos para as ver em tamanho natural.


1 comentário:

José-Augusto de Carvalho disse...

Neste tempo cinzento, um clarão de lucidez é um privilégio.
José-Augusto de Carvalho